História do Norte Pioneiro do Paraná - Origens
Prof.
Roberto Bondarik, Dr.
Palestrante, Docente e Pesquisador
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio
Este texto surgiu
de uma entrevista que dei à Mariana Tomeli, jornalista, que elaborou o “Anuário
Estatístico do Norte Pioneiro do Paraná”, lançado neste fim do ano de 2019.
1
– O início da colonização
Há
que primeiro, delimitarmos geograficamente essa vasta região denominada Norte
Pioneiro do Paraná. Ao Norte e ao Leste as divisas com o Estado de São Paulo,
com os rios Paranapanema e Itararé, respectivamente, ao Oeste o rio Tibagi e ao
sul os serros onde nascem os rios das Cinzas, Laranjinha, Jacaré e Congonhas. O
Norte Pioneiro é formado pelas bacias hidrográficas destes rios, uma região
cujo clima foi suportado pelo café, em seu apogeu. A
Região já foi chamada, no século XIX de “Valuto”, em referência às terras
devolutas ou públicas ali existentes, “Panema” em referência ao rio e Ramal do
Paranapanema devido a construção da ferrovia entre Jaguariaíva e Jacarezinho.
A ocupação em definitivo da região deu-se a partir de meados do século XIX, porém antes disso bandeirantes paulistas, com certeza a exploraram ou em busca de ouro, pedras preciosas ou indígenas para o trabalho cativo (escravidão). Padres jesuítas também, nos séculos XVI e XVII devem ter feito por ai suas andanças com o desejo de salvar as almas dos gentios que ela habitavam.
A ocupação em definitivo da região deu-se a partir de meados do século XIX, porém antes disso bandeirantes paulistas, com certeza a exploraram ou em busca de ouro, pedras preciosas ou indígenas para o trabalho cativo (escravidão). Padres jesuítas também, nos séculos XVI e XVII devem ter feito por ai suas andanças com o desejo de salvar as almas dos gentios que ela habitavam.
Nelson
Tomazi, sociólogo, destaca que povos indígenas, em especial os Xetá e o
Kaingang já habitavam o Norte Pioneiro desde pelo menos sete mil anos atrás,
conforme achados de restos de cerâmica, utensílios de pedra e urnas funerárias.
Desta forma nem a terra era vazia e muito menos a mata era virgem quando foi
ocupada e colonizada por paranaenses, paulistas e mineiros.
2
– O Processo de Ocupação
O primeiro deles ocorre entre os anos de 1842-43, quando são lançadas as bases do Patrimônio de São José do Cristianismo, mesmo com sua fundação oficial registrada como sendo 1848, foi sede de distrito e comarca. Estabelecido na confluência do Ribeirão da Pescaria com o Rio Itararé, a localidade foi fundada pela ação de Domiciano Corrêa Machado, tropeiro, oriundo de Minas Gerais. É possível que outros mineiros, envolvidos com a Revolução Liberal de 1842 e temendo pela repressão, o tenham acompanhado. A localidade prosperou e serviu de apoio aos colonizadores mineiros e paulistas que por ali passavam para adentrar em direção aos sertões do Rio das Cinzas e do Rio Laranjinha. Conforme Ruy C. Wachowicz que o estabelecimento das posses e seu desenvolvimento eram difíceis e custosos para serem conduzidos. Logo em 1853 fundam São José da Boa Vista. Outro mineiro importante foi o major Thomaz Pereira de Sousa, que em 1867 lançou as bases de Thomazina, acompanhado de mais de duzentas pessoas. Também outro acontecimento nacional pode ter influenciado essa migração, a Guerra com o Paraguai e o decorrente recrutamento de soldados e os impostos para a sua manutenção. Até o final do século XIX a abertura de posses e fazendas é uma atividade muito custosa, apenas os fazendeiros mais abastados conseguiam manter-se na região. Os meios de transporte eram limitados, as estradas rudimentares, a produção era para a subsistência, havendo alguma criação de suínos, o plantio e o beneficiamento do tabaco para ser vendido às outras regiões. Desta frente mineira surgiram localidades como Siqueira Campos, Wenceslau Braz e diversos distritos. Na confluência do Itararé com o Paranapanema, registra-se nesta época a residência de Maria Ferreira em local onde se desenvolve um porto fluvial, área de entrada para a atual Ribeirão Claro.
Outra frente de ocupação teve início
quando João da Silva Machado, Barão de Antonina, também tropeiro, resolveu
investir no estabelecimento de uma rota terrestre e fluvial que ligasse o
litoral do Paraná até Cuiabá, no Mato Grosso. Foram empreendidas inúmeras
expedições de exploração por toda a bacia dos rios Itararé, Tibagi,
Paranapanema e Ivai. Destaca-se a ação do cartógrafo norte-americano John Henry
Elliot que mapeou toda a região. Foi estabelecida uma estrada entre a cidade de
Tibagi e a Colônia Militar do Jatahy (Jataizinho) que foi estabelecida em 1855.
Surge também neste processo São Jerônimo da Serrra onde se destacava a presença
de índios no aldeamento que ai estabelecido. As expedições do Barão tomaram
posse de importantes áreas, em geral campos abertos: Santa Barbara, a bacia do
Rio Congonhas. Nesta se constituiu a fazenda do mesmo nome, terras onde se
formaria parte de Cornélio Procópio. Até a chegada da ferrovia em Jataizinho em
1931 não haveria maior desenvolvimento nesta frente.
Em Jacarezinho, a partir de 1888,
registra-se as presenças de Severo Batista e Antonio Alcântara da Fonseca
Guimarães, que chegou a localidade a frente, também, de um grande número de
pessoas. Após uma disputa pela posse das áreas Jacarezinho se desenvolve com o
nome de Nova Alcântara e Ourinho. Em 1895 foi feita uma picada ligando o
povoado até Thomazina, assim se ocupou Santo Antonio da Platina e deu-se origem
a dois povoados: Sapé e Barra Grande, atual Guapirama. Esta ligação, chamada
depois de estrada velha, foi marcante na história pouco lembrada, porque por
ela o Norte Pioneiro começou a tornar-se paranaense de fato. Em 1903 foi aberta
uma estrada pelo engenheiro Carlos Boromei, fazendeiro em Jacarezinho, ligando
o município até Colônia Mineira (Siqueira Campos). A falta de povoações e
abrigos neste trecho levou ao abandono desta rota que seria aproveitada em
parte para a construção do Ramal do Paranapanema entre 1912 e 1930, ligando
Jaguariaiva a Jacarezinho.
Na
passagem para o século XX, toda a região explorava, de forma intensa, a criação
de suinos para a produção de banha, um sistema chamado de safra. Na ausência de
boas estradas para escoar a produção agrícola, optou-se por criar os animais
soltos no meio da plantação quando estive pronta. Havia safra com mais de cinco
mil animais que do sertão de Thomazina, Curiuva, Jundiai do Sul, Ribeirão do
Pinhal, Jacarezinho, eram tropeados até cidades de São Paulo onde eram
embarcados em trens até o mercado consumidor.
A chegada da Ferrovia Sorocabana em
Ourinhos-SP, em 1908 fez mudar o perfil econômico da região. A fertilidade da
terra atraiu cafeicultores de São Paulo e Minas Gerais, um novo tipo de
colonizador de perfil mais empresarial, com recursos financeiros a disposição.
Neste momento ganha impulso Cambará, ocupada desde 1904 por Alexandre Dutra, a
partir de 1910 começa a atuar o empresário e investidor que de fato deu um
perfil capitalista à ocupação do Norte Pioneiro: Antonio Barbosa Ferraz Junior.
Com seus filhos ele constituiu a Companhia Agrícola Barbosa, que impulsionou a cafeicultura,
construiu a Ferrovia São Paulo – Paraná que chegou a Cambará em 1924. Também
atraiu os investidores britânicos da Paraná Plantations que assumiram a
ferrovia, estabeleceram a Companhia de Terras Norte do Paraná e colonizaram
Londrina e Maringá. A CIA Barbosa adquiriu a Fazenda Congonhas, fomentou a
criação de localidades como Cornélio Procópio e Congonhas, ainda em 1924. A
ferrovia, nas duas regiões, instalou a indústria madeireira, alavancou mais
ainda a produção de suínos e incentivou a cafeicultura.
3
– A economia inicial
Inicialmente a produção de suínos ou
safra até o fechamento do Frigorifico Matarazzo em Jaguariaiva na década de
1940. Com a ferrovia ganhou corpo a extração e o beneficiamento de madeira.
Ibaiti, Siqueira Campos e Figueira tiveram na extração de carvão mineral alguns
bons momentos econômicos. Depois a cafeicultura reinou absoluta até ser
erradicada completamente em 1975 produzindo um imenso êxodo rural na região.
4
– Nomes de destaque no processo de ocupação do Norte Pioneiro do Paraná
Domiciano
Corrêa Machado – São José do Cristianismo;
Major
Tomas Pereira de Souza – Thomazina;
João
da Silva Machado – Barão de Antonina;
John
Henry Elliot – Cartógrafo;
Antonio
Alcântara da Fonseca Guimarães – Jacarezinho;
Antonio
Barbosa Ferraz Junior – Empresário de Cambará.
5
– A Geologia da Região
Ao dividirmos a região em três
partes, a partir das nascentes dos seus grandes rios, as duas primeiras são
formadas por sedimentos paleozoicos. Sua formação data de um período entre 570
e 245 milhões de anos. O terço superior, a partir da Serra da Esperança, é
formado pelos derrames basálticos mesozoicos, de 230 a 65 milhões de anos, em
outras palavras trata-se da área com terra roxa.
6
– Utilização do solo
Sua fertilidade originalmente era
imensa, hoje em virtude dos recursos tecnológicos torna-se indiscutível. Talvez
alguns aspectos ligados ao clima ou microclima indiquem uma ou outra cultura
mais adequada a cada lugar.
7
– Recursos hidricos
Existem
rios com grande fluxo de água, porém devido a ser uma região de planalto, os
cursos são acidentados o que impediu a navegação.
De
uma forma geral a região é bem servida por cursos de água.
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