domingo, 22 de julho de 2007

FOTOS DE QUATIGUÁ - 2006 E 2007

Estou publicando algumas fotos de Quatiguá.
Foram tiradas por mim em 2006 e 2007 para ilustrar e auxiliar na compreensão da pesquisa que realizo.

Vista da estrada velha para Siqueira Campos ...
Vista da Serra com a cidade ao fundo

Em frente a Prefeitura (Avenida Dr. João Pessoa) com a Serra ao fundo.

Eu acho que o canhão ficou posicionado bem próximo desta posição e local em que a foto foi tirada.

sábado, 21 de julho de 2007

UM OBJETO E UMA HISTÓRIA


Um objeto apenas, quando possuimos conhecimento histórico, passa a ter um valor extraordinário e nos faz viajar por outros tempos, outras terras, outros cenários.
Tirei esta foto em 2007, quando iniciava a pesquisa sobre o Combate de Quatiguá.
É um monumento que se encontra logo na entrada do Quartel do 13º BIB, do Exército em Ponta Grossa.
Um coturno preservado que nos pergunta se sabemos por onde ele andou. O minimo que alguem que colocou sua vida a disposição da Pátria e da Sociedade pede é que nos lembremos dele.
Este coturno e seu dono passaram pela Itália combatendo o Nazismo e o Fascismo, lutando pela liberdade em um sacrificio que não pode ser deixado no esquecimento.
Parabéns ao idealizador deste monumento.

MUSEU PARANAENSE

Em Curitiba, no Palácio São Francisco (prox. Largo da Ordem) funciona o MUSEU PARANAENSE, estive lá esta semana. Como não se pode tirar fotos, vale a pena visita-lo mesmo que seja virtualmente. É um grande acervo histórico sobre o Paraná.
http://www.pr.gov.br/museupr/galeria.shtml

Visitem ...

LOCAL, OU UM DOS LOCAIS DO COMBATE


Acredito que neste lugar (em frente ao Asilo) ainda estejam enterrados alguns dos soldados paulistas mortos no Combate de Quatiguá. Seriam eles vitimados no contra-ataque das forças gauchas na manhã do dia 13 de outubro de 1930. Imaginei a hipótese de que este local tenha sido alvejado diretamente por metralhadoras pesadas que estavam instaladas no telhado da Estação Ferroviária e em um morro proximo (ainda não sei qual é) conforme um mapa do combate que encontrei em um arquivo de Curitiba.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

INICIO DA REVOLUÇÃO DE 1930 EM PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL

Como todos sabem a Revolução de 1930 teve seu inicio no Rio grande do Sul, reproduzo aqui um texto que esta no site http://www.brasilescola.com/historiab/3-outubro.htm que mostra de maneira clara o que houve naquele dia em Porto Alegre.
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3 de Outubro em Porto Alegre

O Grande Hotel, em Porto Alegre, transformara-se no quartel-general dos revolucionários, onde Oswaldo Aranha coordenava as ligações. "Olha, o doente piorou muito; seu estado é grave, exige intervenção cirúrgica que vai ser praticada logo à tarde", era a senha transmitida pelo telefone, normalmente com voz feminina
Às 14 horas do dia 3 de outubro, os colégios suspenderam as aulas, com recomendação para que os alunos se recolhessem às suas casas. O comércio cerrara as portas. Parecia que a população adivinhava o que se ia passar.
Um radiograma transmitido para o General Gil Antônio Dias de Almeida, Comandante da 3ª Região Militar, informava que o edifício dos Correios fora ocupado por civis armados, às 17 horas. As comunicações começaram a entrar no ritmo frenético que antecede as grandes convulsões sociais. O General Gil alertou o 8º Regimento de Infantaria, de Passo Fundo, e procurou contactar o General João Simplício Carvalho, Secretário da Fazenda, e Getúlio Vargas.
Novos radiogramas chegados ao Comando da 3ª Região Militar, provindos das guarnições de Bagé, Alegrete e Passo Fundo, revelavam indícios de levante armado iminente. Getúlio, Presidente do Estado, laconicamente transmitiu ao Comandante da 3ª Região Militar por intermédio de um oficial, a mensagem: "Diga ao general que as providências serão tomadas".
Às 17:25 horas ocorreu uma primeira ação contra o Quartel-General da 3ª Região Militar. Seu objetivo era capturar o general. A hora foi estudada com cuidado. O quartel-general tinha uma guarda reduzida e a maioria dos oficiais e praças já havia saído, por término do expediente.
Inicialmente, 50 homens da Guarda Civil simularam a rotineira passagem pelo portão. Seguiu-se o grupo de choque que se encarregou das sentinelas. Oswaldo Aranha, Flores da Cunha e o Capitão Agenor Barcelos Feio dirigiram as ações. O sucesso do ataque deveu-se ao perfeito planejamento. Nos edifícios vizinhos havia metralhadoras instaladas para bater o prédio do quartel-general. A pretexto de conserto nos encanamentos, abriram-se valas nas ruas Riachuelo e Canabarro, nas proximidades do quartel-general, que foram ocupadas por combatentes disfarçados de operários. Vários soldados da guarda, solidários com o movimento, além de deixarem seus postos retiraram os percursores das armas.
O General Gil foi preso. Um ataque comandado por Elpídio Marins forçou a rendição do Arsenal de Guerra. Exatamente às 17:30 horas subiu do Morro do Menino Deus o foguete que anunciava a deflagração do movimento revolucionário. Desde setembro a guarnição de Porto Alegre dispunha de reforços – eram o 8º e o 9º Batalhão de Caçadores, comandados, respectivamente, pelo Tenente-Coronel Galdino Esteves e pelo Coronel Toledo Bordini, e também uma seção de artilharia. O efetivo da tropa era de 1.500 homens, o que preocupava os revolucionários. O primeiro aderiu e o segundo ofereceu resistência, mas foi logo dominado e preso com alguns de seus oficiais.
O 4º Esquadrão, depois de pequena resistência, rendeu-se; alguém na unidade retirara os percursores das armas de fogo. A 2ª Companhia de Estabelecimentos, depois de intensa reação, cedeu, o mesmo ocorrendo com o Contingente da Carta Geral 43. O 7º Batalhão de Caçadores, comandado pelo Coronel Benedito Marques da Silva Acavan, cunhado do General Flores da Cunha, estava reduzido de um terço de seu efetivo, pois cerca de 200 homens desertaram. Somente três metralhadoras dispunham de percursores. Mas só pela manhã do dia 4 aceitava os termos apresentados por Goes Monteiro.
As ações em Porto Alegre resultaram em 19 mortos e quase 100 feridos.
O 8º Regimento de Infantaria (Passo Fundo) do Coronel Estêvão Leitão de Carvalho fora cercado pelos revolucionários e resistiu durante algum tempo. Outras unidades no Estado aderiram.

domingo, 8 de julho de 2007

A BATALHA DE ITARARÉ

A Batalha de Itararé acabou entrando para a a história como a "Batalha Que Não Houve!!!". Exageros a parte pode-se afirmar que houve combates importantes naquele outubro de 1930 que fizeram parte de um conjunto ao qual a batalha final pela cidade de Itararé, em São Paulo se insere. O combate decisivo foi evitado pela decisão do Coronel Paes de Andrade que resolveu parlamentar com o General Miguel Costa, comandante revolucionário. Ocorreram combates em Quatiguá, Capela da Ribeira e na Fazenda Morungava. Em todos são registrados mortos.
Negar os combates em 1930 na divisa entre São Paulo e Paraná, é a negar a existencia da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder, e deve ser esse o intento da negação.

Uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo em 11 de julho de 1999 lança novas luzes sobre esse acontecimento. Reportagem de José Maria Tomazella

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Ossadas de Itararé podem mudar história de batalhas

Restos de soldados gaúchos mortos em combate mostrariam que cidade resistiu em 30 e 32.


ITARARÉ - O fotógrafo Gustavo Jansson, de 81 anos, guarda com cuidado, no meio de milhares de negativos e fotos, aquela que julga ser a prova de que a história foi injusta com Itararé, a 320 quilômetros de São Paulo, nas Revoluções de 1930 e 32. A foto mostra restos mortais de soldados gaúchos sendo retirados das sepulturas, em 1934, para o traslado para o Sul. É a prova de que Itararé resistiu aos invasores, segundo ele. A cidade ficou conhecida pela "luta que não houve" e pelas duas rendições às tropas gaúchas sob o comando de Getúlio Vargas.
Em 1930, pela história oficial, a batalha decisiva, anunciada com estardalhaço, não ocorreu e as tropas revolucionárias entraram em Itararé sem disparar um tiro. Dois anos depois, no mesmo lugar, os constitucionalistas amargaram nova derrota para as forças federais.
"Nossa cidade entrou para a história pelas portas do fundo e virou motivo de piada", diz o escritor da terra José Maria Silva, em seu livro As Batalhas de Itararé, editado em 1997.
A foto do arquivo de Jansson, filho de Claro Jansson, que fotografou as duas revoluções, fazem parte de uma campanha dos moradores de Itararé para contar sua versão das batalhas. O jornalista e pesquisador Hélio Porto identificou as ossadas recolhidas no cemitério local como de soldados do 8º Regimento de Passo Fundo (RS), mortos em 32.
No dia 18 de julho daquele ano, Vargas entrava vitorioso na cidade. "Mas a história não fala das baixas gaúchas e do sofrimento da nossa população naqueles dias de guerra, tanto que o armistício foi recebido com festa."
Túmulos - Em outro livro que será lançado no mês que vem, Memórias de Itararé - Revoluções de 30 e 32, as gêmeas Terezinha de Jesus Mello Martins e Maria Aparecida Silva Mello revelam a existência de quatro sepulturas de soldados gaúchos, mortos em combate na Revolução de 30, no local conhecido como Passo do Cypriano, na fazenda da família.
Os túmulos foram preservados pelo avô das gêmeas e os ossos não foram retirados. "Nas revoluções houve combate e mortes dos dois lados", diz Terezinha.
As irmãs contam que nasceram sob o tiroteio de 14 de outubro de 1930, data da chamada "batalha que não houve". Relatam histórias que ouviram de seus pais e avós, depoimentos de ex-combatentes vivos, como Valdomiro Marques e Manoel Luciano de Mello. Contam que os moradores tinham de entregar as casas para o aquartelamento dos soldados. Jansson, com 15 anos na época, ajudava o pai a fotografar.
"Eu ficava num abrigo construído embaixo da casa." Na Revolução de 32, segundo ele, soldados gaúchos foram mortos na Fazenda Morungava, usada como quartel pelas tropas federais. A vala onde estariam de 40 a 50 corpos foi localizada este mês pelo tenente Hélio Tenório dos Santos, da Sociedade Veteranos de 32. Ele espera confirmação do achado para comunicar o fato ao governo gaúcho.
Conforme Jansson, os soldados da Força Pública de Itararé mostraram mais coragem que o Batalhão Universitário Paulista (BUP), da capital. "Quando Vargas ordenou o ataque à cidade, eles gritaram em francês `salve-se quem puder' e bateram em retirada, mas os soldados ficaram na trincheira e resistiram até o fim."
Tabu - A repercussão que as duas derrotas tiveram no resto do País transformaram as revoluções em tabu em Itararé. "Até 1968, as rádios locais não tocavam músicas gaúchas e só nos últimos anos o Dia do Soldado Constitucionalista passou a ser lembrado", contou Porto. As trincheiras e os restos da batalha não foram preservados. Uma casa atingida por um tiro de canhão foi demolida.
Há cinco anos, o ex-vereador Marcos Tadeu Soares, assessor técnico da prefeitura, sugeriu a construção de um monumento ao soldado constitucionalista e enfrentou resistência. Mas a aceitação da obra foi o sinal verde para o projeto de resgate da memória das revoluções na cidade.
Este ano, 60 professores participaram de um curso de capacitação com duração de 12 horas, dado pelo tenente Santos. "Por meio desses profissionais, vamos tentar fazer os jovens e crianças entenderem melhor a nossa história."

quarta-feira, 4 de julho de 2007

A INDUSTRIALIZAÇÃO DA ERVA-MATE E SUAS CONSEQÜÊNCIAS PARA O ESTADO DO PARANÁ

[Continuação do texto anterior - 3 de 3]
A modernização definitiva da indústria da erva-mate deu-se pela ação do engenheiro Francisco Camargo Pinto, que devido as suas habilidades mecânicas estudou no Arsenal da Marinha de Guerra e especializou-se na Inglaterra e Alemanha. A sua ação e percepção inovadora transformou os engenhos rústicos em indústria de beneficiamento da erva-mate.
De volta ao Brasil, a partir de 1878, Francisco Camargo Pinto, dedicou-se a aperfeiçoar e a desenvolver máquinas destinadas ao trabalho de beneficiamento da erva-mate. Ele foi responsável pela instalação do “Engenho Tibagy”, pertencente a Ildefonso Pereira Correia, que ficou conhecido como Barão do Cerro Azul, onde pode ser promovida uma verdadeira revolução nos equipamentos e no processo de produção deste. Segundo Wachowicz (1988), as instalações do “Engenho Tibagy" foram transformadas de engenho para indústria, no exato sentido que a palavra transmite. Suas principais inovações foram:

a) Esmagador ondulatório;
b) Separadores por ventilação;
c) Torrador mecânico;
d) Elevadores e transformadores helicoidais, etc.

Costa (1995) contradiz Wachowicz ao chamar o estabelecimento de “Fábrica Tibagy”, e fazer uso da expressão indústria, denominação que pode ser julgada mais condizente com a natureza produtiva do negócio. Porém destaca o aspecto inovador do empreendimento:

Depois da abertura da Estrada da Graciosa e quando se iniciou a construção da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá transferiu a sua indústria ervateira para Curitiba. Construiu no Bairro do Batel, em 1878, a Fábrica Tibagy que ficou assinalada na história da economia ervateira pelas grandes inovações tecnológicas da época para o preparo da erva-mate, mediante a introdução do motor a vapor, trituradores, peneiras e compressores mecânicos.” (COSTA, 1995, p. 65-66)
A mecanização da produção levou, como dissemos, a uma transformação referente ao aspecto do trabalho. A escravidão foi substituída pelo trabalho assalariado. A complexidade decorrente da continua industrialização passou a exigir cada vez mais um trabalhador alfabetizado, conforme afirmado por Wachowicz (1988). Assim escolas tiveram de ser implantadas, foi incentivada a educação da população para satisfazer a essa necessidade da indústria.

“(...) As transformações da indústria do mate, ocorridas durante a segunda metade do século XIX, as inovações técnicas e o predomínio do trabalho livre são marcas importantes do progresso dessa produção (...)”. (SANTOS, 2001, p.52)

O processo de modernização e criação da indústria da erva-mate resultou em uma série de mudanças produtivas e sociais. A primeira inovação decorrente desse processo foi a constatação de eram necessários melhores meios de transporte entre o planalto de Curitiba e o Litoral. Feito inicialmente por tropas de muares, percorria-se os caminhos e as trilhas da Serra do Mar. A Serra era o maior obstáculo para uma melhoria efetiva do transporte e do aumento da produção e produtividade da erva-mate. O transporte por meio das tropas de muares possuía um elevado grau de dificuldade, percebida por Auguste Saint-Hilaire, viajante e naturalista francês que percorreu os Campos Gerais, Curitiba e o Litoral por volta de 1820. Ele foi o primeiro a realizar uma descrição cientifica da erva-mate (Ilex Paraguaiensis) e também testemunhou as dificuldades dos caminhos e trilhas da Serra do Mar:

A pior parte do caminho é onde começa a descida, e que tem nome de encadeado. O declive é abrupto demais, os ramos das árvores se estendem por sobre o caminho, escavado na montanha, tornando-o muito sombrio, e o chão é formado de pedras grandes e escorregadias, o que as vezes obriga as mulas a acelerarem o passo. Eu não me cansava de admirar a habilidade desses animais para se safar de situações difíceis. Eles são treinados inicialmente para fazerem a travessia da serra sem nenhuma carga no lombo, em seguida levando apenas a cangalha e, finalmente transportando a carga.” (SAINT-HILAIRE, 1995, p.139)

Os problemas decorrentes dos transportes foram resolvido quando teve inicio em 1855 a construção da Estrada da Graciosa e sua posterior conclusão em 1873. Essa estrada possibilitou a utilização de carroções, mesmo assim a demanda por transporte não era satisfatoriamente atendida. A ferrovia que solucionou definitivamente a questão da demanda, atravessando a Serra do Mar, por sua vez foi construída entre os anos de 1880 e 1885 constituindo-se em um grande feito de engenharia para os recursos tecnológicos da época. Conforme já evidenciado, a construção destas vias de transporte favoreceu o desenvolvimento de Curitiba.
Com as facilidades dos transportes, engenhos começaram a ser implantados na região de Curitiba e acabaram por modificar a estrutura econômica da região. Segundo Santos (2001), o deslocamento de engenhos do litoral em direção a Curitiba e a construção de novos estabelecimentos, demonstram esse novo clima econômico vivenciado na segunda metade do século XIX.
O número de engenhos que existiram no Paraná no século XIX, pode ser constatado pela analise de alguns autores que registraram esses dados: Pasinato (2003, p.9) coloca que “(...) em 1835, a região de Morretes e Paranaguá apresentava cerca de 20 fábricas de soque (...)”; Wachowicz (1988, p.128) afirma que “(...) em 1853, possuía o Paraná 90 engenhos de beneficiamento do mate (...)”; Oliveira (2001, p.27) evidencia que “(...) Por ocasião da Emancipação Política da Província do Paraná [1853] encontravam-se em Morretes 47 engenhos de erva-mate e em Curitiba, 29 (...)”.
A indústria do mate fez com que ocorresse um considerável incremento e também o crescimento nas atividades dedicadas a lhe servirem de assessório e a lhe dar suporte operacional. Os serviços de manutenção dos engenhos, a embalagem e o conseqüente transporte da erva-mate, exigiam as atividades de diversas empresas e profissionais em variados setores e atividades. Por exemplo: metalurgia, serrarias, marcenaria e gráfica, conforme demonstrado por Oliveira (2001).
Concentradas principalmente em Curitiba e região, essas empresas dedicadas a apoiar a produção de erva-mate, foram beneficiadas por este impulso extraordinário que atingiu todo o conjunto da economia paranaense. Ainda segundo Oliveira (2001) enquanto as exportações de erva-mate se mantiveram, essas empresas também se mantiveram em ascensão, pelo menos até que tivesse a crise econômica internacional de 1929.
A industrialização da erva-mate provocou uma melhoria constante em sua qualidade, o que favoreceu o aumento das vendas e a conquista de novos mercados. Iniciou-se um ciclo virtuoso na economia paranaense. A principal conseqüência econômica disso tudo, segundo Santos (2001) foi a inserção definitiva do Paraná no mercado internacional. Isto pode ser evidenciado pelo grande número de navios estrangeiros que passaram a atracar no Porto de Paranaguá para praticar o comercio e transportar a erva-mate para os mercados consumidores.

Os engenhos de erva-mate e a iniciação do processo de industrialização do Paraná

[Continuação do texto anterior - 2 de 3]


A Carta Régia de 1722, conforme Santos (2001) determinava que fosse permitido aos habitantes do sul do Brasil que estabelecessem relações comerciais com a Colônia do Sacramento (Uruguai) e consequentemente Buenos Aires. Outros produtos também poderiam ser exportados pelo Porto de Paranaguá. Na pratica isso representava o fim do monopólio comercial português na região e do exclusivo colonial.
A independência das colônias espanholas da região do Rio da Prata, a abertura dos portos brasileiros em 1808 e a assinatura do “Alvará de 1º de Abril de 1808”, permitindo a abertura de manufaturas e a atividade industrial no Brasil daria impulso às melhorias nas atividades relacionadas à erva-mate. A economia paranaense sofreria profundas mudanças e passaria a se dedicar à exportação.
A exportação de erva-mate se tornou possível e economicamente viável graças ao surgimento de inúmeros moinhos que funcionavam no litoral e também no planalto de Curitiba. O primeiro desses engenhos foi montado pelo espanhol Francisco Alzagarray, que chegou a Paranaguá em 1820, conforme exposto por Wachowicz (1988). Vários outros espanhóis seguiram seu exemplo e se instalaram na região.
Movidos inicialmente por rodas d’água, os engenhos atuavam como moinhos, refinando a erva-mate inicialmente preparada nos ervais. Neles era empregada mão-de-obra escrava e também livre e assalariada. Os escravos eram utilizados principalmente nos engenhos de soque da erva, de acordo com Santos (1995). Porém conforme os engenhos forma sendo mecanizados e dotados de maior aparato tecnológico, os motores a vapor são exemplos disso, a mão-de-obra cativa foi gradativamente diminuída. Para o trabalho no engenho exigia-se uma qualificação e habilidades cada vez mais especiais, bem como uma motivação que a escravidão não proporcionava. Essa mudança foi possível com o aumento da imigração européia percebida no Estado a partir da segunda metade do século XIX. Destaque-se que o uso do motor a vapor livrou os engenhos da necessidade de busca de fontes d’água com capacidade hidráulica para fazê-los funcionar.



“(...) num engenho de mate empregava-se mão-de-obra livre e escrava (...) quase tudo obedecia ao trabalho manual e eram pagas aos trabalhadores livres, diárias a partir de 2$000, sendo que um maquinista não ganhava mais de 100$000 por mês. De maneira geral, o engenho a vapor socava 40 cestos de erva por dia, ao passo que o movido à água ia pouco além de 30”. (SANTOS, 2001, p.51)

A Erva-Mate na economia do Paraná.

Escrevi este texto em 2006 e ele versa sobre a erva-mate e sua importancia para o desenvolvimento economico e industrial do Estado do Paraná nos séculos XIX e XX. Como este blog destina-se a História do Paraná acho oportuno publicar aqui algumas partes deste artigo. Uma versão dele foi apresentada no ADM-2006 da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Pode ser que ele seja útil para as questões sobre História do Paraná nos exames vestibulares do Estado.
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Origens do consumo e da produção de erva-mate
[Texto 01 de 03]

De acordo com Costa (1995) o perfume que pode ser considerado como característico do Paraná Tradicional é o aroma exalado pela erva-mate. Seria muito difícil considera como exagero a afirmação de que o ciclo representado pela erva-mate na História do Paraná, revestiu-se de uma importância bastante elevada. Esse ciclo conviveu com outro também importante que foi o do gado e do tropeirismo, vivenciado nos Campos Gerais.
A erva-mate é uma arvore nativa das florestas paranaenses, chamada em outros tempos de Congonha, a erva-mate (Ilex paraguariensis) é consumida pelos indígenas paranaenses e do Sul, em forma de “chimarrão” desde um período bem anterior à chegada dos brancos europeus. Conforme Gomes (1953) os índios a chamavam de “caa”, e os espanhóis já a conheciam quando fundaram as cidades guairenses de Ciudad Real Del Guairá e Vila Rica do Espírito Santo, ambas em território atualmente paranaense.

O uso do mate é conhecido desde as chegadas dos colonizadores no Brasil e no Paraguai. As primeiras notícias concretas datam de 1541. os documentos falam de uma bebida usada pelos nativos na região do Guairá, como verdadeiro vício. (...) o hábito se generalizou desde o peru ao Rio da Prata.” (COSTA, 1995, p. 35)


A difusão do consumo da erva-mate, em forma de chimarrão pela região platina, ainda segundo Costa, deve-se a uma série de fatores, sendo que alguns podem ser apontados:


a) Necessidade de melhorar o sabor da água salobra (salgada) misturando-a com folhas da erva;
b) Ausência de outras culturas alimentares para atender o vaqueiro ou boiadeiro em longas caminhadas;
c) Pouca disponibilidade de alimentos, o consumo da erva-mate elimina a sensação de fome, devido aos seus nutrientes.


Os padres jesuítas das reduções espanholas do Guairá chamavam-na de “erva do diabo”, conforme Wachowicz (1988), devido ao fato de que os índios atribuíam-lhe influências consideráveis sobre as suas emoções inclusive sobre aspectos sexuais (erotismo e virilidade). É certo que os jesuítas espanhóis acabaram por proibir seu consumo por um considerável tempo. Porém a interdição religiosa não foi suficiente para diminuir o consumo e arrefecer os hábitos já seculares da população. O consumo da erva-mate, a exemplo do tabaco, foi um habito indígena que passou a fazer parte da rotina dos brancos, portugueses e espanhóis, conquistadores. Não havia casas de espanhóis nem ranchos de índios onde não fosse bebida. Os bandeirantes levaram seu consumo aos portugueses, o chimarrão tornou-se por tempos também, um hábito paulista. Há que se lembrar que o Paraná fez parte da Província de São Paulo até 1853. Paranaenses dos três planaltos aprenderam a fazer uso do chimarrão. Seu consumo hoje é considerável em diversos paises na região do Rio da Prata, Argentina, Paraguai, Uruguai, Brasil (consumo de diversas formas) e também Chile e Bolívia.
De acordo com Costa (1985) os ervais se estendem pelo Estado até o Rio Paraná, penetrando no Mato Grosso do Sul. Adentra por santa Catarina, sempre longe do litoral, atinge a região de serras no Rio Grande do Sul. Estende-se ainda pela Argentina e Paraguai.
A região do alto Paraná foi a primeira a produzir e negociar com a erva-mate, em especial devido à facilidade do transporte pelos rios Paraná, Paraguai e Prata. Devido à instabilidade política nessa região produtora, os consumidores começaram a se voltar para o atual Estado do Paraná e Santa Catarina. Os ervais nativos dessas regiões passaram a suprir as necessidades de consumo que existiam na Argentina, Uruguai e Chile, sendo que a extração ocorria já no Paraná desde o século XVIII, quando o governo português demonstrou seu interesse por essa atividade econômica.
A extração das folhas de erva-mate, não era muito complexa, porem exigia trabalho sistemático e pontual dentro da mata:


O corte ou poda das erveiras é feito manualmente com facão ou foice. Existem arvores com mais de doze metros de altura. Geralmente o corte é realizado por homens, sendo que mulheres e crianças ficam reunindo os galhos cortados em feixes que serão levados para a operação do sapeco. O corte mutila, mas não prejudica a árvore que levará de até cinco anos para se regenerar e sofrer novo processo de corte. O sapeco é feito sobre fogo, a ação rápida das labaredas faz com que as folhas percam parte de sua umidade, evitando que ela escureça e adquira um sabor desagradável. Após isso a erva é submetida a uma secagem que dura de dez a doze horas, em instalações de calor intenso, como um forno e sem contato com a fumaça. Terminada a secagem, a erva é triturada e fragmentada, depois peneirada. A atividade do produtor local termina com o peneiramento da erva-mate, que assim se constitui na matéria-prima para os engenhos de beneficiamento”. (COSTA, 1995, p. 26-27).


O inicio das atividades industriais no Paraná será justamente com o beneficiamento desta erva-mate extraída e preparada nos ervais, nos engenhos que começaram a funcionar no século XIX.
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Bibliografia:


COSTA, Samuel Guimarães da. A Erva-Mate. Curitiba: Farol do Saber, 1995;
GOMES, Raul. Aspectos Gerais e Econômicos do Paraná. In: Guia Globo Paraná de Importação e Exportação (1953-1954). Porto Alegre: Clarim, 1953, p.103-206;
OLIVEIRA, Dennilson de. Urbanização e Industrialização no Paraná. Curitiba: SEED, 2001;
PASINATO, Raquel. Aspectos Etnoentomológicos, Socioeconômicos e Ecológicos Relacionados à Cultura da Erva-Mate (Ilex Paraguariensis) no Municipio de Salto do Lontra, Paraná. 112 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia de Agrossistemas). Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiros - Piracicaba, Universidade de São Paulo, 2003;
SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem Pela Comarca de Curitiba. Curitiba: Fundação Cultural, 1995;
SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. História da Alimentação no Paraná. Curitiba: Fundação Cultural, 1995;
_____________________ . Vida Material, Vida Ecconômica. Curitiba: SEED, 2001;
SIMONSEN, Roberto C. História Econômica do Brasil (1500/1820), São Paulo: Companhia Editora Nacional, 3ª edição, 1957 ;
WACHOWICZ, Ruy Chistowam. História do Paraná, Curitiba: Gráfica Vicentina, 6ª edição, 1988.

domingo, 1 de julho de 2007

Norte Pioneiro - Primeira Santa da Igreja Ortodoxa na América Latina

O Norte Pioneiro não foi somente colonizado por paulistas e mineiros além de outros membros de outras diversas origens. A exemplo da colônia japonesa presente em diversas cidades. Colônias organizadas de europeus foram constituidas na região, exemplo disso é o Município de Joaquim Távora onde existe uma presença forte de ucranianos, poloneses, sérvios, letos e outros eslavos. Na Colônia São Miguel, de ucranianos, em 1986 ocorreu uma tragédia em que a escola rural do lugar foi consumida por um incendio em que pereceram a Professora Maria Aparecida Beruski e oito de seus alunos, outros foram salvos pela ação dela, que é aqui contada em reportagem publicada pela FOLHA DE LONDRINA, neste domingo 1º de Julho de 2007, com fotos de Evaldo Monteiro e reportagem de Wilhan Santin.
Fico contente que o sacrificio desta mestra seja lembrado e refenrenciado, e também por ter indicado ao reporter a existencia da Colônia e em especial da Capela de São Nicolau, embrião de tão bela reportagem e informação.


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IGREJA ORTODOXA - Paranaense pode ser 1 santa da América Latina (Wilhan Santin - Folha de Londrina 01 de Julho de 2007)

Chamada de “a mártir de Joaquim Távora”, a professora Maria Aparecida Beruski morreu em 1986, junto com oito crianças, na escolinha onde lecionava

''Esta é uma história que faz arder meu coração''. É assim que a professora Maria Miskalo responde quando questionada sobre a sua sobrinha, a também professora Maria Aparecida Beruski, que morreu em 1986, junto com oito crianças da escolinha onde lecionava, na Colônia São Miguel, em Joaquim Távora.
A tragédia foi manchete da FOLHA de 5 de abril daquele ano, o dia seguinte ao acidente, e ganhou destaque na imprensa nacional. O fogo começou com a explosão de um botijão de gás, que era utilizado em um fogareiro, posicionado na única porta da escola, onde a própria professora fazia a sopa para o lanche das crianças.
''A escola era como se fosse um salão. De repente, o botijão explodiu e as chamas se espalharam muito rapidamente. O calor era insuportável. Eu era um garoto muito ligeiro e consegui sair por uma pequena janela. Já do lado de fora, puxei outros colegas. Mas, infelizmente, não foram todos que conseguiram fugir'', relembra o agricultor Celso Leonel Carvalho. Na época, ele tinha 12 anos e foi a primeira das cinco crianças que conseguiram se salvar. Hoje, ele trabalha em uma propriedade rural, que fica a poucos metros de onde era a escola e guarda na memória as tristes cenas do acidente.
O clima foi de comoção na cidade de Joaquim Távora durante um bom tempo após a tragédia. Porém, para a família da professora morta, que deve se tornar uma santa da igreja ortodoxa, a emoção fala mais alto até hoje, tanto que a sua mãe, Ana Miskalo Beruski, não faz qualquer comentário sobre o assunto.
''Ela tinha 27 anos. Era uma pessoa muito bondosa. Amava seus alunos. Já faz algum tempo, mas para nós parece que a tragédia aconteceu ontem. Minha sobrinha deu a vida por seus alunos. Vendo o prédio pegar fogo, ela preferiu ficar com as crianças, ajudando a salvar algumas, do que fugir das chamas. É uma mártir, mas agora o nosso bispo quer canonizá-la'', comemora Maria Miskalo.
Porém, quando a pergunta é sobre os milagres que já podem ter sido realizados por intermédio de sua sobrinha, a professora prefere ser comedida.
''Temos notícias de diversas pessoas que dizem ter recebido graças. Acredito que ela pode ter realizado milagres, mas tudo isso está mexendo demais com a nossa família, prefiro não dizer muito'', sintetiza.
De acordo com o bispo da Igreja Ortodoxa Ucraniana no Brasil, Dom Jeremias Ferens, a intenção é canonizar a mártir de Joaquim Távora o mais breve possível. ''Na Igreja Ortodoxa não existe a beatificação, o que acelera o processo para proclamar alguém como santo. Temos certeza de que a Maria Aparecida será a primeira santa ortodoxa da América Latina. Para isso, precisamos comprovar a existência de pelo menos dois milagres. Porém, já temos mais do que isso'', diz, entusiasmado.
Segundo o bispo, os casos mais excepcionais de milagres atribuídos à professora paranaense são de uma pessoa curada de alergia e de uma criança que tomou querosene por engano e escapou da morte. Ele relata ainda que um dossiê com todo o histórico da candidata à santa já está praticamente pronto e, após ser discutido no 11º Concílio da Igreja Ortodoxa Ucraniana da América do Sul, que acontecerá em setembro, deve ser enviado para a Metropolia dos Estados Unidos. De lá, o processo segue para o patriarcado da Igreja Ortodoxa, na Turquia. A resposta final pode demorar de um a três anos.