terça-feira, 19 de setembro de 2023

O Centenário da Estação Quatiguá no Ramal Ferroviário do Paranapanema (1923-2023)

 Produzi este texto a pedido do JR Diário, versa sobre os cem anos de inauguração da Estação Ferroviária de Quatiguá, ocorrido em 13 de Maio de 2023.

Matéria disponivel no site do JR Diário, no seguinte endereço eletrônico : < https://www.jrdiario.com.br/ver_noticia.php?id=57417 >

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O Centenário da Estação Quatiguá no Ramal Ferroviário do Paranapanema (1923-2023)

Prof. Roberto Bondarik - Doutor

Docente e Pesquisador da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio


A fotografia, datada de janeiro de 1923, está um tanto que desgastada devido aos seus cem anos de existência, mas permite identificar a estrutura da estação Quatiguá sendo construida logo atrás do grupo de pessoas que posaram alinhadas sobre uma prancha de carga ferroviária, a reboque de uma locomotiva. Chama a atenção o grande número de crianças presentes, talvez filhos dos operários que plantavam os trilhos do Ramal Ferroviário do Paranapanema que se estendia desde Jaguariaíva , cortando o incipiente Norte Pioneiro do Paraná. Ao fundo uma exuberante mata, com árvores frondosas no que seria depois de alguns anos a área urbana de Quatiguá. Com certeza é o mais antigo registro fotográfico conhecido da Estação e de Quatiguá.


Inaugurada oficialmente, com a presença de autoridades do Governo do Estado e da própria Ferrovia, em 13 de Maio de 1923, a Estação Quatiguá deu nome ao local onde, bem próximas haviam dois pequenos aglomerados de casas, Jaboticabal e Chapada, cada um como ponto de entrada nas terras das duas grandes fazendas ou glebas, homônimas, em franco processo de loteamento. Alavancada pela chegada do Ramal do Paranapanema, possibilitando o mais moderno e eficaz meio de transporte de cargas e pessoas daquele tempo, a venda de terras nessas glebas intensificou-se com a chegada de pioneiros vindos desde São Paulo, Minas Gerais, do Paraná Tradicional e mesmo estrangeiros recém chegados.


Página do Jornal Commercio do Paraná, noticiando a inauguração da Estação Quatiguá e publicando a Ata de Inauguração com todos os registros

O nome Quatiguá, dado a Estação Férrea, derivou da “Serra do Quatigual”, maior elevação próxima dali, logo acima da nascente do Ribeirão das Perobas ou Peroba. Do seu topo podem ser observados o Vale do Rio das Cinzas até o Pico Agudo e mais além, a bacia do Rio Jacarezinho também é visível até os contrafortes das Serras da Pedra Branca e da Figueira, lá no Joá com seu conjunto de três grandes elevações. Quatigual é denominação para o coletivo de “quatiguás”, fruto do quatiguazeiro, imagina-se que havia muito dessa planta por alí.

O local da Estação foi escolhido por ser uma grande área parcialmente plana e capaz de abrigar, além dela, o pátio de manobras, a linha secundário, o troco virador de locomotivas, um armazém de boa capacidade, pocilgas e rampas de embarque de suínos oriundos das safras desenvolvidas em toda a região. Os serros, entre os quais se destacava o do Quatigual, obrigaram a ferrovia a ser construida com um longo aclive, uma inclinação que exigia das composições que estas fossem tracionadas por locomotivas mais potentes que as usuais, quando fosse necessário. As “marias-fumaça” mais fortes ficavam estacionadas em Quatiguá onde substituíam as máquinas menores que comumente faziam o trecho até Melo Peixoto e Ourinhos, já no Estado de São Paulo.

Desde pelo menos o ano de 1903 constava que havia ocupação e colonização de sua área urbana, segundo registros, naquele ano João Ferreira de Paiva ali se estabeleceu, provavelmente motivado pela abertura da estrada carroçável ligando Jacarezinho até Colônia Mineira. Com cerca de 82 quilometros, a estrada seguia mais ou menos o traçado da ferrovia construida 20 anos depois, desviando da atual Joaquim Távora, seguindo pela atual divisa daquele município com Quatiguá, seguia pela Vila Rural, Colônia Varsóvia até o sopé da Serra da Pedra Branca. Chamada de “Estrada Nova”, foi aberta a mando do Governo do Estado do Paraná, construida pelo engenheiro italiano Carlos Boromei, dai o nome que também recebeu, “Estrada do Boromei”, denominou também algumas da regiões por onde passava, como o “Quarenta” em Joaquim Távora e, “Vinte e Cinco” em Quatiguá, respectivamente nos quilometros 40 e 25 da estrada, contados a partir da cidade de Siqueira Campos. A chegada da Ferrovia Sorocabana em Ourinhos, a falta de manutenção, o vigor do crescimento da vegetação, longos trechos sem fontes de água, a falta de habitantes e o sertão inóspito levaram ao abandono dessa estrada, como um meio de comunicação perene, em favor da “Estrada Velha”, aberta no século XIX, ligando Tomazina, Sapé, Barra Grande ou Barra Velha, Santo Antonio da Platina até Jacarezinho.

Somente com o estabelecimento da Ferrovia em 1923, que a ocupação ganharia maior força e vigor no que viria a ser Quatiguá. A estação iria fomentar o crescimento populacional, o desbravamento do sertão e a produção agrícola e pecuária com vistas ao mercado consumidor dos grandes centros. Produzia-se suínos pelo sistema de safras, plantava-se tabaco, algodão, café, batata e gêneros de subsistência.

O Ramal do Paranapanema, começou a tomar forma a com a edição em 07 de março de 1901, do Decreto nº 3.947, pelo Governo Federal. O documento autorizou a ligação ferroviária entre as estradas de ferro “São Paulo - Rio Grande” e “Sorocabana”, esta via se estenderia de Jaguariaíva, no Paraná, até Salto Grande, em São Paulo, passando por Jacarezinho e cortando o Norte Pioneiro. A construção do Ramal foi iniciada em 1912, partindo de Jaguariaíva e levaria 18 anos até atingir Jacarezinho em 1930 e mais algum tempo até chegar a Melo Peixoto. Houve falta de empenho do Governo Federal em concluir a construção ou mesmo em pressionar a Companhia dona da Ferrovia para o seu término. A eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), provocou a falta de trilhos, material rodante e equipamentos, materiais de construção, explosivos para a detonação de rochas no leito da estrada em construção, etc. Essa carência de produtos importados, iria predominar pelo menos até 1920, quando houve a normalização do abastecimento. As obras foram executadas pela “Companhia Brasileira Industrial e Construtora”. Mesmo com os problemas verificados os trilhos chegaram a Calógeras em 1918 e, a Wenceslau Braz no ano seguinte. Em 1919 o Ramal atingiu Barbosas e Colônia Mineira que deveria ter sido, não fosse o projeto original alterado, a estação final do trajeto construido. Em 1922 teve inicio a construção do Ramal do Rio do Peixe ligando Wenceslau Braz até Ibaiti e Figueira.

Em 13 de maio de 1923, um domingo, foi inaugurada a Estação Quatiguá e o trecho entre ela e a de Colônia Mineira (Siqueira Campos). Diversas autoridades federais da área de transportes, do Governo do Estado do Paraná, engenheiros, administradores da Ferrovia São Paulo - Rio Grande e, também o Reitor da Universidade do Paraná Victor do Amaral, em sua maioria vindos desde Curitiba em um trem especial.


Inauguração da Estação Ferroviária em 13 de maio de 1923


O povoado herdou o nome da Estação e cresceu no seu entorno e do grande terreno retangular pertencente à Ferrovia, com o seu arruamento traçado a partir dele. Já em 1923 foi instalada uma escola primária “mixta”, conforme os termos da época, para atender meninos e meninas. Romário Martins, historiador paranaense de destaque, passou por Quatiguá em 1924 e registrou o funcionamento de um hotel familiar, deixou também um jocoso comentário de que o povoado, se tivesse algum progresso, ele iria levar muito tempo.

Em 1930 a Estação Quatiguá foi disputada por revolucionários, vindos do Rio Grande do Sul, e tropas paulistas, da Força Pública ou Policia Militar em sua maioria. Um combate travado em dois dias, 12 e 13 de outubro daquele ano, que contou com uso de artilharia com oito canhões, muitas metralhadoras pesadas, inclusive com duas delas instaladas em uma plataforma construida no telhado da Estação. Os gaúchos venceram a batalha, ganharam a guerra, derrubaram o Presidente da República e alçaram Getúlio Vargas ao poder por mais de 15 anos.

A ferrovia sempre necessitou de pessoal qualificado e especializado para as suas múltiplas funções, quer fossem administrativas ou diretamente operacionais. De uma forma geral, naqueles povoados incipientes e que se tornariam cidades, sedes de municípios e de comarcas, a elite intelectual e educada destes locais era formada pelo professor regente da escola primária, o farmacêutico que muitas vezes atuava como medico, o dentista prático, logicamente o padre quando o havia, o tenente do Regimento de Segurança e, indelevelmente, os funcionários lotados na Estação Férrea e o seu Chefe, o mais qualificado de todos. O pessoal ferroviário englobava desde o Chefe da Estação, o telegrafista, eletricistas, ferreiros, soldadores, mecânicos, eletricistas, operários, maquinistas, foguistas, guarda-chaves, sinaleiros, manobristas, ensacadores, etc. O primeiro prefeito de Quatiguá, Orlando Athayde Bittencourt, consta ter sido ferroviário.

A “Ferrovia São Paulo - Rio Grande” operou o Ramal do Paranapanema até o ano de 1942 quando foi substituída pela “Rede de Viação Paraná - Santa Catarina” que, em 1957 foi emcampada pela “Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima”. Essa Companhia desde a sua criação deixava claro que seu objetivo era o transporte de cargas e não de passageiros, desta forma a Estação Quatiguá deixou de operar com passageiros no ano de 1979. A Rede Ferroviária Federal teve as suas funções assumidas, em 1997, pela empresa América Latina Logistica (ALL). Em 2001 a ALL suspendeu o tráfego de comboios de carga pelo Ramal do Paranapanema, já praticamente descaracterizado e abandonado, quase sem edificações.

A Estação Férrea de Quatiguá foi demolida no ano de 1985, operários da Prefeitura do Município foram incumbidos disso, muitas das suas tábuas foram usadas usadas para fazer as caixas e formas para receber o concreto na construção da Estação Rodoviária da cidade. O armazem da Ferrovia, edificado em alvenaria, foi demolido na década seguinte, nada mais dele restando. A rede elétrica e telegráfica que acompanhava a ferrovia, com postes feitos de trilhos, foi saqueada.

São cem anos de história em Quatiguá, lembrar e recorda-la é preciso!

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Soluções tecnológicas para a agricultura brasileira em tempos de Guerra

 Soluções tecnológicas para a agricultura brasileira em tempos de Guerra

Roberto Bondarik

bondarik@utfpr.edu.br

Professor Titular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio

 

            Os problemas decorrentes de uma guerra acabam acelerando o desenvolvimento tecnológico e a aplicação das suas soluções, com inovações e sua difusão. Uma longa lista enumera esses produtos, processos e sistemas que até são comuns em nosso cotidiano, entre eles: forno de micro-ondas; produção em massa de antibióticos; computadores e internet; o café solúvel, difundido durante a Guerra Civil norte-americana; a margarina que substituiu a manteiga; o serviço de ambulâncias, surgido na Espanha em 1487, inspirando sistemas como o SAMU; etc. A recente guerra na Ucrânia, decorrente da sua invasão pela Rússia, fez aflorar a busca por soluções tecnológicas para os problemas que dela advém, inclusive para o Brasil.

            Aquela região do Leste Europeu fornece produtos importantes para o nosso País, em destaque os componentes para os fertilizantes utilizados pela agricultura (nitrogênio, fósforo e potássio), e o trigo essencial para o pão nosso de cada dia. Projetos para identificação e exploração das jazidas de potássio voltaram a ser discutidos, quanto aos outros dois componentes principais dos fertilizantes industriais, a solução está vindo dos tubos de ensaio, microscópios, das observações, dos insights e dedicação de pesquisadores brasileiros, em especial da Embrapa.

            Londrina possui um centro de pesquisas da Embrapa, dedicado ao estudo da soja, onde trabalha a Drª Mariângela Hungria, listada entre cem maiores pesquisadores do mundo conforme noticiado pela Folha de Londrina, em 07 de Maio de 2021,  e que publicou uma entrevista com ela. Mariângela Hungria desenvolveu um estudo com bactérias que auxiliam e aumentam a fixação de nitrogênio em plantas e no solo, resultando em um inoculante que utilizado promove a redução dos custos de produção. Esta solução já está sendo comercializada e passou a ser utilizada por inúmeros agricultores. A pesquisadora listou as dificuldades que encontrou para desenvolver o trabalho, desde o descaso até a falta de investimentos governamentais, essenciais, porque as pesquisas longas, não atraem o interesse da iniciativa privada.

A solução para o fósforo demorou vinte anos. Boa parte do fósforo não absorvida pelas plantas, permanecendo inerte no solo, um valor estimado em 2019, em cerca de 40 bilhões de dólares, algo como 200 bilhões de reais. Coube à Embrapa Milho e Sorgo desenvolver uma solução com base no uso de duas bactérias, uma que libera o fósforo do solo e outra que permite a sua absorção e utilização pelas plantas. O inoculante resultante do trabalho, que está sendo comercializado, após duas décadas, comprova a necessidade de investimentos governamentais em pesquisa na área. Se a produção agrícola é essencial para economia brasileira, os investimentos em pesquisa no setor deveriam ser considerados estratégicos e tratados como tal pelo governo e pela sociedade. Importar tecnologia pronta tem se mostrado mais cara e menos eficaz do que se imagina.

Por fim, a falta do trigo ucraniano fez despertar o interesse de produtores por variedades deste cereal adaptadas ao clima mais quente que o Sul do Brasil, área do seu maior cultivo. Novamente a Embrapa Trigo, do Rio Grande do Sul, desenvolveu cultivares de trigo para o cerrado brasileiro e que agora, em virtude da guerra, ganham relevância econômica, podendo o Brasil passar a produzir boa parte do que consome e substituir as importações hoje encarecidas.

Infelizmente a guerra pode mostrar o trabalho hercúleo que pesquisadores, sem verbas e recursos, desenvolveram com seus trabalhos. É muito gratificante termos no Norte do Paraná cientistas como Mariângela Hungria e centros como a Embrapa que demonstram a importância da ciência e da formação de cientistas para o desenvolvimento de nossa sociedade.

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Invasão russa da Ucrânia, a Primeira Guerra Mundial Conectada

Texto a respeito da Guerra na Ucrânia, decorrente da invasão daquele país pela Federação Russa (Rússia), em especial as suas relações com Rede Mundial de Computadores (Internet).

O artigo foi publicado no jornal "Folha de Londrina" em em sua edição relativa aos dias 07 e 08 de Maio de 2022, a imagem da publicação está disponível ao final da página.

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Invasão russa da Ucrânia, a Primeira Guerra Mundial Conectada

Roberto Bondarik

bondarik@outlook.com

Professor Titular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio

 

            Em 24 de fevereiro, quando a Rússia atacou a Ucrânia, iniciou-se o mais grave conflito bélico na Europa desde que a Alemanha nazista invadiu a Polônia em 1939, passando pelas guerras balcânicas da década de 1990. O conflito atual se apresenta como uma Guerra Mundial Conectada (Word War Wired), onde a luta é localizada mas o seu acompanhamento, repercussão e consequências tem sido mundiais.

A internet permite que se acompanhe em tempo real, ataques, enfrentamentos, fugas, situações de desespero e demais ações da guerra, um conteúdo produzido por combatentes ou moradores das áreas do conflito. Como um reflexo de nosso tempo de extrema interação nas mídias sociais, muita informação descontextualizada ou mentirosa, também tem sido distribuída e compartilhada.

            A guerra começou antes do avanço das tropas, quando os serviços públicos ucranianos, seus sistemas de comunicação, bancário, de energia etc., sofreram ataques cibernéticos que afetaram o seu funcionamento, tornando-os lentos ou desligando-os. O uso da Tecnologia da Informação não é novidade ali naquela região, hackers russos, sejam civis ou militares, foram acusados de intervenção em diversos momentos como a eleição de Donald Trump nos EUA, o plebiscito do Brexit, que resultou na retirada da Grã-Bretanha da União Europeia. Os ucranianos fornecem serviços paras Big Techs do Vale do Silício e pelo menos para cem, das quinhentas maiores empresas mundiais listadas pela revista Fortune. Estima-se em mais de duzentos mil os ucranianos, altamente qualificados, que trabalham no setor de T.I. internacional, um serviço que, aliás, deve estar sofrendo os efeitos da guerra.

            No início, o serviço de mapas do Google apontou, nas estradas ucranianas, onde ocorriam congestionamentos provocados pelos tanques e comboios russos, fornecendo importantes informações para aqueles que os precisassem evitar e para os outros que desejavam combatê-los. O uso dos diversos recursos dessa empresa devem de fato ter tido efeitos práticos nos combates porque, pressionada, ela chegou a anunciar que limitaria o seu na Ucrânia, a Rússia também ameaçou impedir o acesso ao Google em seu território acusando-o de permitir a divulgação de fatos e dados distorcidos sobre a sua atuação no conflito. Porém os mapas do Google atualizados e outras imagens obtidas por meio de satélites comerciais, permitiram que segredos militares russos, envolvendo a movimentação das suas tropas fossem revelados e utilizados pelos ucranianos.

            A guerra tem sido acompanhada e combatida literalmente na palma da mão, os smartphones são a mais prática conexão de uma pessoa com a internet. Os ucranianos têm feito uso do reconhecimento fácil dos soldados russos mortos ou capturados, o que lhes permite identificar quem são, acessar suas redes sociais, seus dados pessoais e, principalmente localizar suas mães para enviar-lhes imagens dos seus filhos e da sua situação. Divulgaram-se também vídeos curtos de mães russas lamentando a morte de seus filhos paraquedistas em combate. A veracidade daquilo que é mostrado nas redes como acontecimentos da guerra, tem sido demostrada ou desmentida pela ação de internautas que, como espiões mesmo que amadores, tem divulgado o resultado de suas descobertas, análises e conclusões por meio especialmente do Twitter. O acesso à internet nos locais onde a infraestrutura de comunicação foi destruída, teve uma ajuda substancial da empresa Star Link, de Elon Musk, que enviou equipamentos que permitem a conexão direta com sua rede de satélites.

Se a internet não consegue ainda acabar com a guerra, permite ao menos acompanhar seu desenrolar, construindo e descontruindo narrativas. Que a tecnologia permita reconstruir e manter uma convivência pacífica entre os povos e suas nações.






 

sábado, 21 de maio de 2022

Just in Time Global, a arrumação econômica da Covid-19

 Texto a respeito das consequências da Covid-19, em especial aquelas que afetam as cadeias de suprimento (componentes) para a indústria em diversos países.

O artigo foi publicado no jornal "Folha de Londrina" em 27 de Abril de 2022, a imagem da publicação está disponível ao final da página.

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Just in Time Global, a arrumação econômica da Covid-19

Roberto Bondarik

bondarik@utfpr.edu.br 

bondarik@outlook.com

Professor Titular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio

 

            O sistema Toyota de produção, pensado por Taiichi Ohno, na década de 1950, a partir de observações nos supermercados norte-americanos, onde os clientes levavam consigo uma lista com os itens e quantidades que necessitavam comprar, particularidade que fez surgir na mente de Ohno o princípio do kanban, essência do just in time, em que a indústria solicitava a entrega de componentes aos seus fornecedores apenas quando eles seriam utilizados na produção, eliminando grandes estoques, capitais e mão de obra para a sua formação e manuseio. A difusão desta filosofia de produção contribuiu com a redução dos custos, com a produtividade, maior variedade de produtos, menores preços e maior consumo.

            O processo de globalização econômica, da década de 1990, expandiu as cadeias de fornecedores em escala mundial. As facilidades nos transportes aéreo e marítimo, rápido manuseio e desembaraço de cargas, tornaram o just in time planetário. Os baixos custos, as grandes escalas e volumes de produção constante melhoria na qualidade e na evolução tecnológica das suas fábricas, tornaram a China o fornecedor por excelência da indústria mundial. A dependência de componentes chineses cresceu exponencialmente neste século, com indústrias tradicionais se estabelecendo naquele país, baixando custos, ampliando a dependência dos mercados produtivo e consumidor mundial em relação ao que acontece com e na China. O just in time globalizou-se e passou a falar mandarim, mesmo se comunicando em inglês. A pandemia de Covid-19 colocou tudo isso em xeque.

            Não se sabe ao certo ainda que animal contaminou os primeiros doentes que desenvolveram a Covid-19, os primeiros casos foram confirmados em dezembro de 2020, em um mercado de alimentos em Wuhan, capital da província chinesa de Hubei, A cidade, com 11 milhões de habitantes, às margens do rio Yangtzé e do eixo ferroviário Pequim-Hong Kong, é um centro da indústria automotiva, com forte presença mundial, também é importante polo de pesquisa, desenvolvimento e fabricação de veículos elétricos. Colocada em lockdown em 23 de janeiro de 2020, teve bloqueio de rodovias, suspensão de trens e de voos. Em poucos dias outras cidades e províncias também foram fechadas, atingindo bem mais de 54 por cento do produto interno bruto da china. Portos foram fechados, fábricas paralisadas e o transporte bloqueado. Antes que a Covid-19 se espalhasse pelo mundo, o just in time globalizado foi vitimado com a com a falta de suprimentos e componentes para a produção industrial.

            O desenvolvimento de vacinas e sua aplicação na população mundial, fizeram os números de mortes e de casos graves reduzirem ao ponto de ensaiar-se uma retomada da produção industrial em escala global, inclusive na China que manteve uma política sanitária rígida. Novos problemas surgiram e prejudicaram o just in time global, faltaram contêineres e navios de carga solta foram usados, dificultando o rápido manuseio das cargas, atrasando cronogramas. Novos surtos recentes da doença na China levaram a novos lockdowns, principalmente em Xangai, isolando cidades e fábricas que, mesmo mantendo seus operários isolados, se viram sem motoristas de caminhão, operadores de carga em portos etc. A falta de componentes que provoca o fechamento de fábricas, mesmo no Brasil, até que ocorra uma normalidade no fornecimento ou que se encontrem, localmente novos fornecedores, uma tendencia forte.

            A pandemia de Covid-19, está provocando uma reordenação das cadeias produtivas mundiais, com reflexos na retomada da produção em nível nacional, com vantagens locais. Pode ser que emerja uma nova economia, que nos beneficie mais, com novos arranjos produtivos, desse caos e medo ao qual sobrevivemos após mais de dois anos.


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terça-feira, 3 de agosto de 2021

A Copa América no Brasil da Pandemia

 Artigo produzido em 02 de julho de 2021.

A Copa América no Brasil da Pandemia


Prof. Roberto Bondarik, Dr.
bondarik@outlook.com 
Professor Titular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio

 

            Anunciada de surpresa, a Copa América a ser disputada no Brasil, suscita ponderações sobre eventos esportivos internacionais no Brasil. Em tempos normais, dado os números de público, publicidade e valores sobre seus direitos de transmissão, pode ser classificada como um megaevento esportivo. Ao que pese serem organizados por entidades privadas, como FIFA e seus associados, o COI, faz-se necessário o apoio de Estados organizados afim de garantir a realização de um megaevento esportivo. Segurança para delegações, equipes e visitantes, o acesso a meios de comunicação, transporte eficaz, proteção legal aos contratos e as marcas dos parceiros comerciais associados aos organizadores, são ações essenciais que somente podem ser oferecidas por um Estado e seu sistema legal.

            Se aos organizadores, patrocinadores, televisões e outros meios de transmissão, objetiva um retorno financeiro da sua participação em uma megaevento esportivo, fator que atrai também as equipes que disputam troféus, medalhas, prêmios e remunerações, também os Governos buscam um retorno que justifique sua participação. São inúmeros os benefícios ou legados materiais e simbólicos que podem decorrer de um megaevento.

Como legado material podemos elencar os investimentos em infraestrutura de transporte, comunicação e energia, equipamentos esportivos, mobilidade urbana e, novos aparelhos e roteiros turísticos. O legado simbólico ou intangível aufere-se da visibilidade internacional que os países-sede dessas competições conseguem obter, mostrando sua capacidade de organização, condução, economia ou realizações políticas e sociais: em 1964 o Japão mostrou, com a organização dos Jogos Olímpicos de Verão, os efeitos de seu soerguimento e superação da destruição impingida pela Segunda Guerra Mundial; igualmente ocorreu com a Alemanha em 1972 com as Olímpiadas e, em 1974 com a Copa do Mundo FIFA; em 2006, com a Copa do Mundo a Alemanha mostrou como estava perfeitamente integrada após o processo de reunificação de sua parte Ocidental com a Oriental; em 2010, a África do Sul, apresentou-se ao mundo como uma nação que havia se conciliado racialmente e superado o regime do Apartheid e; o Brasil que, com uma serie de megaeventos esportivos desejava mostrar-se democraticamente organizado, economicamente desenvolvido, moderno, capaz e confiável para receber investimentos internacionais e capaz de produzir legados materiais.

            O Brasil teve, em um período de uma década, cerca de seis megaeventos esportivos, quase todos sediados no Rio de Janeiro: Jogos Pan-Americanos em 2007; Jogos Mundiais Militares em 2011; Copa das Confederações em 2013; Copa do Mundo FIFA em 2014; Olímpiadas e Paraolimpíadas em 2016. O legado desses jogos todos foi pífio, a exemplo do que pode ser auferido a respeito da Copa do Mundo de 2014, mesmo após uma preparação de aproximadamente oito anos. Destaque-se que a escolha de um pais ou cidade-sede é fruto de um longo processo de escolha onde diversos candidatos são testados quanto as suas capacidades econômicas, culturais e políticas de cada um.

            O anuncio intempestivo da Copa América no Brasil frustra, em larga escala, todo o processo de sua organização como megaevento : a ausência de torcida, aliada a limitação das viagens internacionais, impede a atração de turistas e consequentemente dos seus gastos; a ausência de planejamento e antecedência, pode não dar o retorno financeiro imaginado pelos patrocinadores, detentores de marcas vinculas à competição e mesmo aos detentores dos direitos de transmissão; as cidades, governos estaduais e federal, apesar da sua colaboração com segurança, eventuais garantias legais aos organizadores, não poderão colher legados dos seus investimentos. O legado intangível, em virtude dos números da Covid-19 no Brasil, pode transmitir uma imagem de irresponsabilidade dos governantes e organizadores, mesmo ocorrendo competições assemelhadas no País e no Continente.

            Os megaeventos esportivos são momentos e espaços de congraçamento entre povos e nações, de celebração da organização e da capacidade de um povo ou nação. Perguntamos assim: qual será o legado simbólico e material da realização de uma Copa América, na atual conjuntura de pandemia, no Brasil? Há o que celebrar?

domingo, 28 de junho de 2020

Expedicionário Eurides Fernandes do Nascimento - Soldado do Exercito Brasileiro, natural de Quatiguá-Pr

Hoje fico contente de duas formas que na verdade são uma apenas, como historiador do Paraná e como quatiguaense. A memória de um quatiguaense já famoso de nome e sobre quem já falei aqui no bolg anteriormente, foi em partes resgatada com muito carinho zelo e profissionalismo que eu desejo compartilhar.

A historiadora Isabelle Muraro, com dedicação profissional e afinco, procurou na história de sua familia os dados e as lembranças de seu tio-avô Eurides Fernandes do Nascimento e com carinho carinho entrevistou, gravou e editou um importante depoimento da única irmã viva que ele ainda possui.

Eurides pertenceu ao 6º Regimento de Infantaria de Caçapava, incorporado a Divisão da Força Expedicionária Brasileira e ao Quinto exercito Norte-Americano. Pereceu em combate em 09 de novembro de 1944, com certeza sob o bombardeio do exercito Alemão diante de Torre de Nerone na Itália.

Assistam portanto a mais essa recuperação da memória histórica de Quatiguá, neste pedaço do Norte Pioneiro do Paraná.

"Por mais terras que eu percorra ..."

Expedicionário Sd. Eurides Fernandes do Nascimento: memórias e acervo documental


terça-feira, 23 de junho de 2020

Como os EUA ajudaram a desenvolver a Blitzkrieg alemã

Entendemos tecnologia como um pacote de informações obtido das mais diferentes formas, maneiras e condições. A Alemanha, quando iniciou a Segunda Guerra Mundial, invadindo a Polônia e depois a França de forma muito rápida, fez o Mundo conhecer a sua tática da Britzkrieg ou "Guerra Relampago". Avançava rapidamente lançando mão de blindados, veiculos de transporte, bombardeio aéreo, lançamento de paraquedistas, mobilização da produção industrial para a guerra, etc. 
A capacidade alemã, apesar da truculência e do horror nazistas, foi admirada e considerada origeinal. Os norte-americanos logo viram que aquilo que os militares alemães conceberam nada mais era do a sua propria tecnologia copiada, adaptada e assimiliada.
Este artigo publicado na "Reader's Digest" de agosto de 1940 explicita bem isso:

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The Reader’s Digest – August 1940 – Volume 37, nº 220, p.117.

Como os EUA ajudaram a desenvolver a Blitzkrieg alemã

Condensado de “The United States News”
(Tradução e adaptação Prof. Roberto Bondarik, Dr.)

            O gênio criativo norte-americano contribuiu significativamente para o sucesso da blitzkrieg (guerra-relâmpago) alemã. Os Departamentos de Guerra e da Marinha dos Estados Unidos da América relutam em admitir que desdenharam e deixaram enterrados em seus arquivos armas e conceitos de guerra que foram considerados valiosos pela Alemanha. O registro disso já é suficiente para falar por si.

            O conceito da organização da blitzkrieg é uma adaptação moderna das táticas de utilizadas pela cavalaria confederada durante a Guerra Civil norte-americana (1861-1865). A ideia de substituir o uso de cavalos por divisões mecanizadas e aviões também é norte-americana.

            Em abril de 1930, o Major-General J.K. Parsons, então no posto de coronel, enviou um relatório ao Departamento de Guerra recomendando que o Exercito dos Estados Unidos da América fosse organizado em seis divisões mecanizadas com 486 tanques cada uma. O relatório foi anotado e o Exercito dos EUA possui apenas uma brigada mecanizada. As divisões Panzer da Alemanha, devastadoras, seguem o plano de Parsons, mesmo nos mais mínimos detalhes organizacionais e administrativos.

            O General de Brigada William Mitchell foi um dos primeiros estrategistas militares a perceber o uso do avião em uma guerra. Ele foi submetido a julgamento por uma corte marcial e não viveu o suficiente para poder ver as forças militares alemãs seguirem os seus conselhos e usarem a aviação como uma poderosa força ofensiva.

            Foram os norte-americanos quem, em 1918, começaram a fazer uso de blindagem para proteger os pilotos nos aviões, seus artilheiros, observadores e os tanques de combustivel. Os alemães, em 1939, aperfeiçoaram tanto essa tecnica que deixaram os Aliados impressionados, deixando todos os aviões de combate dos EUA obsoletos e ultrapassados.

            A mobilização industrial, é o terceiro elemento importante na estratégia alemã. Também ela foi modelada a partir de um Plano do Departamento de Guerra dos EUA, que foi observado e estudado por militares alemães em visita ao país há vários anos.

            O uso de tropas paraquedistas foi criado, inicialmente, vez pelo Exercito dos EUA. O Sargento-Mestre E.H. Nichols, do Corpo Aéreo, desenvolveu a tecnica para lançar soldados paraquedistas, armas, munições e suprimentos por meio de um avião de transportes. Em uma demonstração em Brooks Field, Texas, tres soldados saltaram de um avião e em 20 segundos depois de atingirem o solo, começaram a disparar as tres metralhadoras lançadas junto com eles.

            O tanque (veiculo de combate blindado) era uma invenção britânica, mas a novidade das altas velocidades desenvolvidas pelos blindados alemães só foi possivel graças as esteiras (lagartas) de Christy. Esta invenção de um norte-americano, teria sido supostamente recusada por Washington.

            Cópias de patentes de produtos e processos norte-americanos até o presente momento foram facilmente obtidas por qualquer um, individuo ou potencia estrangeira, em nosso Escritório de Patentes. Apenas em tempo e de guerra e, somente por proclamação presidencial, as patentes podem ser mantidas em segredo. Mas agora, finalmente estamos mudando a lei, para que patentes que auxiliem à defesa nacional sejam retidas e mantidas em segredo quando da sua publicação.

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quinta-feira, 11 de junho de 2020

Cornélio Procópio - do Sertão à Ferrovia


Cornélio Procópio: do Sertão à Ferrovia

Prof. Roberto Bondarik, Dr.
bondarik@outlook.com 

            Escrever a respeito da formação histórica do Município de Cornélio Procópio significa tratar da ocupação e colonização no Norte do Paraná, consolidada na primeira metade do século XX. Movimento acelerado pela presença do capital financeiro britânico e a influência da Ferrovia São Paulo-Paraná. Estudar a história de Cornélio Procópio é considerar as relações que se estabeleceram entre estas companhias colonizadoras, esta ferrovia e o município (BRASIL, 1988).
            O objetivo deste trabalho é discorrer a respeito de alguns dos registros históricos referentes à formação de Cornélio Procópio. Um estudo que se pautará pela apresentação e discussão de alguns acontecimentos registrados desde a década de 1840 até o ano de 1930, quando é inaugurada a estação ferroviária.

I – Os princípios da ocupação
            No período entre 1840 e 1916, o Governo, seja provincial ou Imperial, se declara apenas como preocupado com os destinos do Norte do Paraná e com aquilo que na região acontecia. Destaque-se que até 1853 o Paraná fazia parte da Província de São Paulo, como a sua Quinta Comarca (TOMAZI, 2000). Neste longo período a economia paranaense centrava-se na criação de gado nos Campos Gerais, na condução das tropas de muares que desde o Rio Grande do Sul até Sorocaba e na extração da erva-mate (WACHOWICZ, 1987, 1988).
            Àquele tempo, em 1840, a Província do Mato Grosso tinha a mais difícil comunicação física com o Rio de Janeiro, capital do Império. Era preciso deslocar-se por mar até Buenos Aires na Argentina, subir os rios Paraná e Paraguai até Assunção chegando ao Mato Grosso. Nesta conjuntura surgiu o Barão de Antonina: João da Silva Machado. Fazendeiro, comerciante, dono de tropas de carga, era também um dos principais políticos engajados na emancipação da Quinta Comarca, transformada em Província do Paraná em 1853 (MÜLLER, 1956; WACHOWICZ, 1987, 1988; BRASIL, 1988; TOMAZI, 2000). O objetivo do Barão era identificar novas rotas, viáveis, ligando os portos do litoral do Paraná até Mato Grosso. Assim ele patrocinou diversas expedições exploratórias que esquadrejaram o Norte do Paraná e o Mato Grosso do Sul. Os líderes das expedições eram: John Henry Elliot, cartógrafo, nascido em Filadélfia, nos Estados Unidos da América em 1809, e que aos dezesseis anos chegou ao Brasil a bordo da fragata Cyane e; Joaquim Francisco Lopes, sertanista, alcunhado “Sertanejo” (ELLIOT, 1870; WACHOWICZ, 1987, 1988; TOMAZI, 2000).
Em 1846 os dois exploradores mapearam o curso do rio Tibagi, explorando seu sertão. Esta expedição foi bem documentada de forma que podemos saber o que foi encontrado na região, habitada àquela época por índios nômades e no século XVII pontilhada por reduções espanholas (MÜLLER, 1956; WACHOWICZ, 1988). Eles buscavam um certo ponto da Serra do Apucarana para que, a partir de seu topo, pudessem observar o Norte do Paraná e o vale do rio Ivaí, que já conheciam. A Serra do Apucarana fazia presente do imaginário brasileiro, para os nativos era um local paradisíaco, para os bandeirantes paulistas era a terra de riquezas imaginárias (ELLIOT, 1870; WACHOWICZ, 1987). Hoje ela possui diversos nomes: Esperança, Cadeado, Santa Maria, etc. Encontrado o mirante almejado Elliot e Lopes puderam vislumbrar os sertões do Tibagi, Ivaí e Paranapanema, com as suas matas de então, alguns campos e os cursos d’água, puderam escolher quais rotas deveriam seguir. A descrição que o cartógrafo faz da paisagem avistada, ainda hoje emociona por sua beleza poética (foi mantida a ortografia daquele período):
A serra em cima é um taboleiro de trezentos e tantos passos de comprido, e quase outros tantos de largura: tem pouca vegetação, e aqui e alli se viam grandes e isoladas pedras de todos os tamanhos e formas. Por causa de estarem queimando os campos, tanto em Curitiba como em Guarapuava, a atmosphera estava esfumaçada de tal maneira, que não foi possível distinguir cousa alguma na distância de duas léguas em torno (...) Quatro dias consecutivos subimos áquelle lugar, mas sempre com os mesmos desapontamentos: vimos então que era preciso esperar a chuva, e por não estar parados determinamos de subir a ponta de uma cordilheira que ficava a oeste distante duas léguas, a qual estorvava nossas vistas para aquelle lado. Seguimos por pinhaes e terras montuosas de mato bom; no terceiro dia chegamos ao lugar determinado, d’onde vimos a aberta do rio Ivahy, distante seis ou sete léguas a oeste; porém a chuva que logo cahiu em grande abundância vedou-nos de fazer mais observações (...) O tempo melhorou; eu e o Sr. Lopes tornamos pela quinta vez a subir a serra, não havendo nem camarada nem índio que quizesse acompanhar-nos. O dia estava bello, a atmosphera limpa, e fomos amplamente compensados de todas as nossas fadigas no instante em que chegamos ao cume. Que lindo e magestoso quadro! O mais bello céo do universo brilhava sobre nossas abeças, e estendidos como um mappa a nossos pés víamos rolar caudalosos rios, atravessando as mais pittorescas e magníficas florestas do Brasil. Eminência encantadora, eu d`aqui mesmo ainda te saúdo! Perto de nós, concavidades saturnaes e montanhas atiradas sobre montanhas mostravam que alguma erupção vulcânica tivera lugar alli, e no meio de todo este chão a Apucarana levantava sua alva e descalvada cabeça, olhando com tranquilidade as fórmas fantásticas que as convulsões da natureza tinham accumulado em derredor de si. O Tibagy (ELLIOT, 1870, p.154).

Mapa da estrada para o Mato Grosso, mostrando desde a Fazenda Fortaleza em Tibagi, até a Colônia Militar do Jatahy , atual Jataizinho. Mapa elaborado por John Henry eliott em 1870 (Fonte: Arquivo Nacional - Rio de Janeiro)

O registro daquele momento foi perpetuado com uma inscrição, em uma pedra feita, feita naquele local pelos dois exploradores: “JHE – JFL – 1846” (WACHOWICZ, 1987, 1988). Marco que está ainda hoje em seu local original, um serro agora denominado Pedra Branca, no município de Ortigueira. Elevação que pode ser avistada a partir da Rodovia do Café, possuindo em seu cume uma estação de telecomunicações e telefonia, com acesso restrito.
            Rumo ao Norte, os exploradores adentraram os campos nativos do atual São Jerônimo da Serra, aposseados em nome do Barão de Antonina:
São Jerônimo da Serra (...) estrategicamente situado na orla da escarpa, constituía ponto de parada obrigatória para os viajantes, derivando disso seu primeiro fator de desenvolvimento. Esses centros de povoamento, postos avançados de colonização num sertão ainda não desbravado, mantiveram-se como pequenos povoados até esse século [XX], quando, sob o impulso da colonização moderna, começaram a se desenvolver (MÜLLER, 1957, p.71).

Foram identificadas as nascentes do rio que chamaram Congonhas ou “das Congonhas”, por possuir, em sua nascente, muita erva-mate (ELLIOT, 1870). Mapearam seu traçado e sua bacia tomando posse de parte considerável dela para o Barão de Antonina. Surgiu assim a “Fazenda Congonhas” acompanhando as margens desse rio por uma considerável extensão, abrangendo parte do território atual de Cornélio Procópio e do Distrito de Congonhas (BRASIL, 1988; WACHOWICZ, 1987, 1988).

Mapa da Fazenda Congonhas, desenhado por John Henry Eliott,  em 1861(Fonte: Arquivo do Exercito - Rio de Janeiro)
Em 1891 os herdeiros do Barão de Antonina venderam suas terras, ou parte delas, desocupadas em sua grande extensão para Ildefonso Mendes de Sá (BRASIL, 1988). A área da Fazenda Congonhas é comprovada também pelos mapas que mostram os limites da Colônia Militar do Jatahy naquela época (WACHOWICZ, 1987). A Fazenda Congonhas foi comprada em 1893 por Olegário Rodrigues de Macedo e José Marcondes de Albuquerque. No ano de 1900. Olegário tornou-se o único proprietário da Fazenda ao comprar a parte de seu sócio. Em 1902, mudou novamente de dono, sendo comprada por José Pedro da Silva Carvalho (BRASIL, 1988). Acreditamos ser difícil que algum deles tenha se fixado nestas terras ou produzido sua ocupação. Era muito comum àquele tempo que fazendeiros e investidores de Minas Gerais e de São Paulo comprassem terras, e em grande extensão, no Norte do Paraná. A falta de estradas e outros meios de transporte tornavam os preços mais baixos e atrativos, estas fazendas cujos direitos eram garantidos pelos documentos de posse eram mantidas por meio de documentos, recibos e escrituras, com certeza não eram ocupadas por seus donos legais ou seus prepostos (WACHOWICZ, 1987; TOMAZI, 2000). Em 1923 as terras, ou parcela significativa delas, passaram a pertencer a Companhia Agrícola Barbosa (BRASIL, 1988).

II – A fase modernizadora
            Um mapa desenhado por John Henry Elliot, em 1870, depositado no Arquivo Nacional no Rio de Janeiro, representa detalhadamente as antigas posses do Barão de Antonina entre as atuais cidades de Tibagi e Jataizinho. São destacadas as estradas, os lugares de pouso para os viajantes, moradias e rios. A bacia do Congonhas é bem detalhada, porém há apenas o traço aproximado do seria o “Rio do Peixe” que sabemos ser o rio Laranjinha e do Rio das Cinzas. As terras ao leste do Congonhas são marcadas com a denominação de devolutas ou nacionais, como possuidoras de mata fechada. Seriam estas terras devolutas, o alvo de um novo surto de apropriação a partir do inicio do século XX (WACHOWICZ, 1988; TOMAZI, 2000). Cabe especial destaque a este termo, “terras devolutas”, tão comum ao inicio histórico da maioria das localidades do Norte do Paraná e à abertura dos seus sertões:
O atributivo “devolutas” tem sua origem na palavra latina “devolutu” – particípio do verbo “devolverre”, com a tradução literal despenhar, afastar-se, precipitar. Daí o termo “devoluto” adquire o sentido de devolvido, adquirido por devolução, vago, desocupado, empregando-se tal expressão, em linguagem técnica de direito, para indicar terras que se se isolam do patrimônio das entidades vinculadas ao poder público por não se constituírem objeto de destinação especifica dos mesmos e nem serem utilizadas por qualquer das entidades estatais, pertencendo, todavia, ao domínio público, fazendo parte das comumentes denominadas terras públicas. São, pois, bens públicos patrimoniais sem utilização pelo poder público (PENÇO, 1994, p.35).

            Até 1916, o Governo do Paraná apenas se preocupava com as terras do Norte do Paraná, mas não intervia diretamente em sua exploração. Neste momento a perspectiva dos governantes mudou sensivelmente em relação à região. A perda em definitivo da região do Contestado, em disputa com Santa Catarina, tirou dos empresários paranaenses a possibilidade de explorar aquela região rica em madeira e mate (WACHOWICZ, 1987, 1988). Os olhos de Curitiba voltaram-se para o Norte do Estado e seu potencial extrativista (madeira), imobiliário (comercialização das áreas rurais e urbanas) e infraestrutura (construção de pontes, estradas e da ferrovia), conforme destacam Wachowicz (1988) e Tomazi (2000). Datam deste período as primeiras leis com o objetivo de organizar a colonização do Norte, chamando para o Governo do Estado, a tarefa de conduzir ou autorizar os investimentos públicos ou privados:
(...) através da Lei Estadual 1.642 de 05 de abril de 1916, há uma interferência direta do poder público, fazendo com que as terras devolutas pudessem ser ocupadas de modo mais rápido, através de concessões governamentais a empresas particulares. Além disso, os trabalhadores nacionais passaram a ter as mesmas oportunidades que os estrangeiros de ter acesso à terra no Paraná (TOMAZI, 2000, p.159).

            As empresas colonizadoras poderiam subdividir e comercializar livremente as glebas que adquirissem do Governo, devendo antes dota-las de uma infraestrutura de transportes e condições para a sobrevivência que fossem mesmo que as mínimas (TOMAZI, 2000). A ocupação da região compreendida entre os rios Itararé e Tibagi foi decorrente da expansão dos cafeicultores paulistas que em seu Estado estavam avançando em direção ao Oeste em busca de novas terras. O vale do Rio Paranapanema foi em suas duas margens, a paulista e a paranaense, um alvo natural dessa expansão (PENÇO, 1994). A construção da “Estrada de Ferro Sorocabana” contribuiu para atrair e canalizar os resultados econômicos da região norte-paranaense para os mercados de São Paulo (WACHOWICZ, 1987; TOMAZI, 2000). A dita ferrovia atingiu Ourinhos, na divisa dos Estados em 1908, fato que foi suficiente para que a ocupação fosse sendo impulsionada a frente através do Paranapanema:
(...) à São Paulo é que coube avançar da sua fronteira com os trilhos de uma estrada de ferro e atrair para a sua orbita econômica essa fertilíssima região. Aliás, a magra torrente do Paranapanema não marca mais do que um limite político. Dum lado como do outro a geologia é a mesma. O mesmo solo roxo, que fez do café uma riqueza. O mesmo clima sadio que tornou possível a fixação do homem de todos os quadrantes na gleba bandeirante (BASTOS, 1935, p.04).

Foi desta forma considerado natural que os investidores, a partir do Estado vizinho, se dirigissem ao Paraná, seja para produzir ou especular com as terras rurais ou urbanas. Curitiba era o destino apenas daqueles que desejavam obter uma autorização especial ou cuidar de interesses pessoais e legais junto ao Governo do Estado do Paraná (WACHOWICZ, 1987; BRASIL, 1988). O café despontaria no Norte como uma nova alternativa econômica ao Estado e a região se revelaria aos paranaenses que até então o ignoravam e nem mesmo o consideravam parte do seu território:
Sacudidos desse quase torpor de indiferentismo com que julgamos a extensíssima região do Norte, cuja existência apenas se caracterizava pelo município de Jacarezinho [1900], perdido nos confins de São Paulo, completamente desligado da parte sul que constitui na verdade o Estado do Paraná, desde os seus primórdios. De Jacarezinho apenas se conhecia o nome, e uma vaga noticia de terras cafeeiras quando alguém dos seus moradores, políticos, lavradores, ou negociantes de terra, aportava à Curitiba, apregoando as virtudes daquela região, que o Curitibano ouvia indiferentemente, ao redor da mesa do café ou chupando um cigarro durante um demorado “footing” da rua 15 de novembro, lembrando-se que fora da herva-matte, do pinho [Araucária], dos campos de Guarapuava e dos diamantes do Tibagi, nada mais poderia existir de bom neste abençoado recanto sulino (MARTINS, 19 jun 1924, p.01).

            Apesar do fluxo e das promessas da agricultura, a região não era objeto dos investimentos governamentais. O estado de abandono do Norte do Paraná e a indiferença de que era alvo nas regiões mais antigas de seu território chegaram a ser destacadas por Romário Martins:
Completamente abandonada, pois, estava aquela região a ponto de a não considerarmos, por hábito, como nossa – uma espécie de Ilha da Trindade [no Oceano Atlântico] que sabemos existir, mas que pouca nos importa a sua existência longe da costa, em mar alto, sem viva alma, como um rochedo batido pelas ondas, cuja razão de ser seja talvez a de marcar uma elevação perigosa à rota dos navegantes. Mas o que é certo é que se a fama da terras desse Norte [do Paraná] não alcançou crentes dentro do Estado, despertou cobiças lá fora, em São Paulo e Minas Gerais, principalmente, e uma verdadeira romaria de agricultores sertanistas ai aportou de tempos em tempos, para explorar a nova Canaã prometida (MARTINS, 19 jun 1924, p.01).

            O cultivo do café que fez atrair grandes investidores que abriram fazendas em meio a mata fechada e, no maior momento desta fase, atraiu o interesse do capital britânico que aqui foi aplicado (TOMAZI, 2000). Cornélio Procópio, como contemporaneamente a conhecemos, está vinculada historicamente a esse processo.

III – Companhia Agrícola Barbosa, Ferrovia São Paulo-Paraná e Companhia de Terras Norte do Paraná

            Deixando de lado a formação histórica de cidades como Ribeirão Claro, Jacarezinho, Santo Antonio da Platina e outras mais ao sul da região, iremos centrar as atenções a partir da Cambará, pois foi dali que partiram aqueles que deram inicio a ocupação efetiva de Cornélio Procópio nos anos 1920 e 1930 (BRASIL, 1988; DIAS, 2000). De Cambará partiu a ferrovia que atingiu esta cidade em 1930 e foi dali que vieram os funcionários e os proprietários da Companhia Agrícola Barbosa que efetivamente foram os responsáveis pela abertura da primeira estrada de rodagem ligando esta cidade até os limites de São Paulo (WACHOWICZ, 1987; BRASIL, 1988; DIAS, 2000).
            A Companhia Agrícola Barbosa, criada por Antonio Barbosa Ferraz Jr, adquiriu em 1910, uma considerável extensão de terras próximas a atual cidade de Cambará (WACHOWICZ, 1987, 1988; DIAS, 2000). Com o crescimento da lavoura e consequentemente da produção de café na região, já eram 1.215 estabelecimentos agrícolas produtores em 1924, não sendo mais possível transportar a safra apenas em carroças, carros de boi ou tropas de muares até o Paranapanema e Ourinhos. Dada a necessidade logística, ganhou corpo junto ao Governo do Paraná, a ideia da construção de um ramal férreo que ligando o Norte do Paraná à Sorocabana:
A questão dos “caminhos”, sejam rodovias ou ferrovias, sempre foi uma tônica nos discursos governistas do Paraná. Havia vários projetos e alguns em andamento. Neste sentido havia um projeto desde o tempo do Império, estender a via férrea de Ourinhos até as margens do Paranapanema e fazer a continuidade da mesma pelo interior do Paraná em direção à Cambará projetando-se até Jataí e daí até as barrancas do rio Paraná, em Guaíra (TOMAZI, 2000, p.166).

            Com o intuito de ao menos construírem a ferrovia de Ourinhos até Cambará, fazendeiros e investidores paulistas, liderados por Antonio Barbosa Ferraz e seus filhos, organizaram em 1920 a “Estrada de Ferro Noroeste do Paraná”. O Governo do Paraná foi convencido e permitiu o empreendimento:
(...) em Agosto de 1920, conseguiram, graças à clarividência e patriotismo do atual presidente do Estado do Paraná, a concessão da atual Estrada de Ferro Noroeste do Paraná, cujo traçado foi sempre negado pelo governos anteriores, com fundamento de que foge ao plano geral de viação férrea do Estado, pelo qual todas as estradas de ferro devem convergir para o porto de Paranaguá ou para o Antonina (O ESTADO DE SÃO PAULO, 16 jan. 1924, p.03).

            O projeto da ferrovia era ousado, seu objetivo era ligar por trilhos e trens o Porto de Santos até Assunção, no Paraguai:
(...) partindo da mencionada estação Ourinhos, se, depois de atravessar os rios Paranapanema, Cinza, Laranjinha e Tibagi, prosseguir em demandado grande rio Paraná – mar interno do Brasil – abaixo do Salto de Guaíra – a maior força hidráulica do mundo – será inteiramente o visado pelo nosso eminente estadista dr. Cincinato Braga, para a ligação ferroviária Santos-Assunção (O ESTADO DE SÃO PAULO, 16 jan. 1924, p.03).

            Um projeto considerado tão importante do ponto de vista geopolítico e econômico que, décadas depois, em 1956, ainda era acalentado pelas autoridades brasileiras:
Quanto à Estrada de Ferro [São Paulo-Paraná], deverá com uma alteração de rumo para SW, continuar seu traçado até Guaíra, atravessando os rios Ivaí e Piquirí, estabelecendo conexão com a rede ferroviária paraguaia: Santos e Assunção focarão ligados, assim, via Norte do Paraná (MÜLLER, 1956, p.79).

            Parece-nos claro hoje que o objetivo desta companhia era atrair investidores de maior vulto para a efetivação de seu projeto: construir a ferrovia e atingir o Paraguai. Em 1924 esteve no Brasil a “Missão Montagu”, formada por financistas, empresários e especialistas britânicos. Eles vieram analisar a capacidade de endividamento e liquidez financeira do Governo Brasileiro (ABREU, 1974). Fazia parte dela Simon Joseph Frazer ou “Lord Lovat”, agrônomo de formação, que procurou áreas em que pudessem empreender, em larga escala, o plantio de algodão, ele representava também os interesses da “Sudan Cotton Syndicate” (MÜLLER, 1956; WACHOWICZ, 1987, 1988; BRASIL, 1988; TOMAZI, 2000).
Das observações de Lord Lovat resultou a decisão dos britânicos em investirem no Brasil. Assim surgiu em 25 de Abril de 1925 a “Brazil Plantations Syndicate Limited”, que comprou fazendas em Birigui e Salto Grande. Voltando seus interesses para o Norte do Paraná, onde haviam terras devoluta e outras à venda, criaram ainda em 1925 a “Paraná Plantations Limited”, com sede em Londres onde captaria recursos e a “Companhia de Terras Norte do Paraná” (CTNP), com sede em São Paulo, para aplicar e gerir os recursos aplicados e seus resultados (TOMAZI, 2000). A CTNP adquiriu entre os anos de 1925 e 1927 mais de 515 mil alqueires paulistas no Norte do Paraná, à oeste do rio Tibagi, uma área de quase um milhão, duzentos e cinquenta mil hectares (WACHOWICZ, 1987, 1988).
            Devido a considerável distância entre as terras do Norte do Paraná do litoral e de um porto, os britânicos assumiram como principais investidores a “Estrada de Ferro Noroeste do Paraná” e a rebatizaram de “Ferrovia São Paulo – Paraná em junho de 1928 (MÜLLER, 1956; WACHOWICZ, 1987; TOMAZI, 2000). Os negócios envolvendo as terras não se desenvolveriam sem um meio de transporte eficaz como a ferrovia: “... enquanto a colonização garantia fretes à ferrovia, esta assegurava o fluxo contínuo de colonizadores para as frentes pioneiras” (MÜLLER, 1956, p.77).
Os investimentos na ferrovia foram rápidos, ainda em 1928 a ponte sobre o Paranapanema foi reconstruída em aço, novos equipamentos e componentes adquiridos, conforme se apresentou em uma Assembleia de Acionistas da Paraná Plantations. Ocasião em que listaram as necessidades de, com a ferrovia, facilitar as relações políticas e comerciais entre o Brasil e o Paraguai e, a sensível diminuição do tempo de viagem deste país até a Europa em cerca de dez dias. Atingir o litoral do Pacífico era um objetivo declarado também. Um novo leque de negócios se abriria aos investidores britânicos (WILEMAN’S BRAZILIANS REWIEN, 14 jun. 1928).
            Muito cedo os britânicos se convenceram de que o cultivo de algodão, no Norte do Paraná, em escala de produção economicamente viável, não seria possível. O ganho financeiro com a produção de café é bastante superior aquele que era proporcionado pelo algodão. Nova assembleia da Paraná Plantations decide por adotar outras oportunidades de negócio que pudessem surgir, em especial a venda direta de terras e a exploração da ferrovia, tentando levar seus trilhos até o Paraguai, obtendo uma ligação entre os Oceanos Atlântico e Pacífico (WILEMAN’S BRAZILIANS REWIEN, 16 ago. 1928). A ferrovia avançou pelo Norte do Paraná, atingindo Construída pela empresa MacDonald, Gibbs & Co, de Londres a ferrovia atingiu Andirá em abril de 1930, Bandeirantes em Julho, Santa Mariana no Km 107 e Cornélio Procópio tiveram suas estações entregues em 1º de dezembro de 1930. Em 1931 chegariam às margens do Tibagi em Jataizinho e em 1934 com a conclusão da ponte ferroviário sobre esse rio seguiriam os trilhos pelo Norte do Paraná até ultrapassar Londrina (BRASIL, 1988; WACHOWICZ, 1987, 1988; DIAS, 2000; TOMAZI, 2000).
Com a chegada da ferrovia até Cornélio Procópio, a área da futura cidade começou a ser ampliada, sabe-se que pelo menos desde 1924 casas ali eram construídas e terrenos comprados ou vendidos (VILLAS BOAS NETO, 2015). A área rural também passou a receber intenso fluxo de pessoas. A propaganda efetuada pela CTNP auxiliou indiretamente a venda das terras em Cornélio Procópio.
            A ocupação específica do Município de Cornélio Procópio a partir do estabelecimento de sua estação ferroviária, a ação das companhias colonizadoras nesta área, serão objeto de apresentação, análise e discussão em trabalhos futuros, seja neste blog ou publicações ligadas  a instituições de ensino/pesquisa ou  outros meios de divulgação.

Referências:

ABREU, Marcelo Paiva. A Missão Niemayer. In: Revista de Administração de Empresas, Rio de Janeiro, v.14, n.04, jul-ago. 1974, p. 07-28. Disponível em < http://dx.doi.org/10.1590/S0034-75901974000400001 > Acesso em 15 fev. 2019.
BRASIL, Átila Silveira. Das origens e da Emancipação do Município [de Cornélio Procópio]. s.n.t. [1988];
DIAS, Paulo Ribeiro. Cornélio Procópio: a história em prosa e verso. Londrina: Gráfica e Editora Modelo, 2000;
ELLIOT, John Henry. Itinerário das viagens exploradoras empreendidas pelo Sr. Barão de antonina para descobrir uma via de communicação entre o porto da Villa de Antonina e o Baixo-Paraguay na Provìncia de Mato-Grosso: feitas nos annos de 1844 a 1847 pelo sertanista Sr Joaquim Francisco Lopes e descriptas pelo Sr João Henrique Eliott. In: Revista de História e Geografia, Rio de Janeiro, Primeiro Trimestre de 1848, 2ª ed. p.153-177;
MARTINS, Romário. Sertão em Flor: o Paraná cafeeiro, parte I. Jornal O Dia, Curitiba, p. 01-08, 19 jun 1924;
MÜLLER, Nice Lecocq. Contribuição ao estudo do Norte do Paraná. In: Boletim Paulista de Geografia, n.22, 1956, p.55-97. Disponível em < http://www.agb.org.br/publicacoes/index.php/boletim-paulista/article/view/1305/1144 > Acesso em 15 fev. 2019;
NOVA ESTRADA DE FERRO. O Estado de São Paulo, p.03, 16 jan. 1924;
PENÇO, Célia de Carvalho Ferreira. A “evaporação” das terras devolutas no Vale do Paranapanema no Estado de São Paulo. São Paulo: HVF Representações, 1994;
TOMAZI, Nelson Dácio. Norte do Paraná: histórias e fantasmagorias. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 2000;
VILLAS BOAS NETO, Antonio. Memórias, Simplesmente Memórias: cinco décadas da imprensa procopense. Londrina: Midiograf, 2015;
WACHOWICZ, Ruy Chistowam. Norte Velho, Norte Pioneiro, Curitiba: Gráfica Vicentina, 1987;
______. História do Paraná. 6ª ed. Curitiba: Gráfica Vicentina, 1988;
WILEMAN’S BRAZILIANS REVIEW. Report & Meetings of Companies: Paraná Plantations. Rio de Janeiro, 14 jun. 1928, p. 764-766;
______. Report & Meetings of Companies: Paraná Plantations. Rio de Janeiro, 14 jun. 1928, .1050-1052;