quarta-feira, 11 de novembro de 2009

História no Fundo do Rio e no Fundo do Baú

Em 16 de Agosto a FOLHA DE LONDRINA publicou reportagem sobre o resgate de alguns barcos naufragados no Rio Paraná durante a ação tenentista no Oeste do Estado durante os anos de 1924 e 1925. Foi uma reportagem muito salutar e que me fez reler alguns documentos e livros sobre esse conjunto de acontecimentos tão poucos conhecidos e discutidos dentro da história da historiografia paranaense e também brasileira. Uma breve pesquisa que me obriga agora a tecer algumas considerações.
A denominação “Tenentes” era genérica, e por ela ficaram conhecidos os oficiais de baixa patente do Exercito e da Força Pública de São Paulo que se rebelaram contra o presidente da República Arthur Bernardes. Durante quase dez anos o Brasil foi agitado por revoltas e lutas em que os tenentes se envolveram, desde o episódio dos 18 do Forte de Copacabana em 1922, até a Revolução de 1930 e a Revolução Paulista de 1932.
A relação dos Tenentes com o Oeste do Paraná teve inicio após a sua retirada já como revolucionários e que se encontravam em luta contra as forças da Governo Federal em São Paulo durante o mês de Julho de 1924. Neste mês a capital paulista foi cenário de uma violenta guerra urbana, cargas de infantaria, duelos de artilharia, bombardeios aéreos que mataram civis e militares, como não poderia deixar de ser, um imenso numero de refugiados civis viram-se obrigados a fugir para Sorocaba e Campinas principalmente.
A Revolução de 1924 em São Paulo representa toda uma conjuntura de lutas que depõe contra a tradição de que nossa evolução histórica, em especial no século XX foi pacifica e cordata. Diante da oposição governista que estava levando à destruição eminente da cidade, o General Isidoro Dias Lopes, líder desta Revolução, resolveu movimentar as suas forças para o interior de São Paulo.
Os revolucionários se retiraram pelas ferrovias em direção ao Oeste Paulista e a Mato Grosso, mas fracassam na invasão daquele Estado e resolvem então descer o Rio Paraná até Guaira e Foz do Iguaçu, onde pretender instalar o seu “Estado Livre do Sul” e aguardar reforços de revolucionários gaúchos que seriam liderados por Luis Carlos Prestes. Assim foi feito e a Coluna Paulista da Revolução se estabeleceu na região.
Para garantir o avanço dos gaúchos que se viram obrigados à atravessar o Oeste Catarinense praticamente sem estradas e a pé pelo meio da mata fechada, os revolucionários da Coluna Paulista empreenderam vários combates. Posso afirmar que, ao contrario do relatado na reportagem, Joaquim Távora não participou dos combates de Catanduvas, na Serra de Medeiros, onde lutaram principalmente rebeldes da Força Pública de São Paulo contra as tropas do General Candido Rondon.
Na luta verificada em Catanduvas, destacou-se o tenente revolucionário, oficial da Força Pública de São Paulo, João Cabanas e neste local um memorial comemorativo esta para ser edificado. Joaquim Távora morreu em 19 de julho de 1924 e foi sepultado no Cemitério de Santana em São Paulo após ser ferido em combate de rua. Quem combateu no Oeste paranaense foi Juarez Távora, seu irmão, que conseguiu grande reputação como líder tenentista. É o próprio Juarez quem relata isso em suas memórias (“Juarez Távora: Uma Vida e Muitas Lutas” – Editora José Olympio). Joaquim Távora teve seu nome ligado definitivamente ao Paraná, quando atribuído a então localidade de Affonso Camargo, nome do então Presidente do Estado do Paraná em 1930 e que possuia nesta localidade uma serraria. Outro tenente revolucionário morto em 1930 teve seu nome ligado a mesma região, Siqueira Campos, líder dos “Dezoito do Forte de Copacabana” em 1922, batizando a antiga Colônia Mineira, hoje ambos são município vizinhos no Norte Pioneiro.
O combate em Catanduvas durou quase seis meses e precisou de todo o esforço do governo para derrotar os rebeldes, quando isso ocorreu dizia-se que a principal praça forte da Revolução havia caído. Domingos Meirelles relata isso em “As Noites das Grandes Fogueiras”. Prestes demorou três meses para chegar ao Paraná, a luta na região estava perdida já, porém os revolucionários não se consideravam derrotados. Retiram-se para o Paraguai e retornaram a Mato Grosso iniciando a Coluna Prestes-Miguel Costa que percorreu o Brasil lutando e divulgando a idéia da Revolução.
Curiosamente há a menção também sobre um Major Dilermando que não é outro senão Dilermando de Assis, quando cadete do Exercito ele teve um caso com a esposa de Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”. Quando o escritor foi tirar satisfações foi morto por Dilermando em um tiroteio, história fatídica contada em livro e na minissérie “Desejo”, da Rede Globo. A curiosidade sobre tal fato reside no centenário da morte de Euclides da Cunha, lembrado naquele final de semana em que a FOLHA apontou a atuação de Dilermando no Oeste do Paraná. Conforme Juarez Távora, este oficial foi obrigado a retirar-se de Guairá quando foi atacado por elementos da Coluna Revolucionária.
O Paraná sempre possuiu papel importante na história do Brasil, curiosamente um papel violento e pouco conhecido por sua população. Aos episódios de 1924-25 no Oeste do Paraná e em Catanduvas, soma-se ainda o Cerco da Lapa em 1894, a ocupação de Curitiba e Ponta Grossa pelos Federalistas, o assassínio covarde do Barão do Cerro Azul, primeiro paranaense agraciado com o título de herói nacional. Aliás foi o Barão o iniciador da moderna indústria paranaense.
Tivemos ainda a Guerra do Contestado, nosso Canudos particular. As ações da Revolução de 1930 merecem especial destaque pois se o Paraná não aderisse a mesma, a história do Brasil poderia ser outra diferente e mais sangrenta ainda. Em 1930 tivemos outros combates violentos em Quatiguá, Sengés e Vale da Ribeira.
Há muitas histórias ainda no fundo dos rios e dentro dos baús da memória para serem estudadas e contadas.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

DOS APRENDIZES E ARTIFICES À UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA DO PARANÁ - CEM ANOS DE EDUCAÇÃO

Escrevi este texto para lembrar os Cem Anos da Criação da Escola de Aprendizes e Artifices do Paraná, ocorrida em 1909. Esta escola evoluiu e deixou de lado seu foco inicial, a educação de meninos pobres e abandonados, transformando-se na UTFPR em 2005. Esta é minha contribuição a esta lembrança.

(Prof.Msc. Roberto Bondarik)

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A UTFPR talvez seja no Brasil o exemplo único de uma Universidade que possui em sua história a atuação em todos os graus e níveis de ensino, do fundamental ao doutorado. Sua trajetória essencialmente ligada ao ensino profissionalizante foi uma constante evolução na qualidade de seus préstimos, centrados no ensino público e com qualidade ela chega, como instituição, ao seu primeiro centenário, comemorado em conjunto com o Sistema Federal de Educação Profissional. Sua trajetória inicia-se em 23 de setembro de 1909, quando da criação da Escola de Aprendizes e Artífices em Curitiba. Escolas homônimas e congêneres foram instaladas em cada uma das outras 19 capitais estaduais pelo Brasil.

O objetivo desta escola em Curitiba era ensinar ofícios profissionais a crianças e jovens pobres, órfãos e até abandonados que viviam pelas ruas em situação que hoje chamaríamos de risco, mendigando e submetidos às necessidades da delinqüência. Os ofícios ensinados eram tipicamente urbanos, adequados às necessidades de mercado daquele tempo, voltados ao setor de prestação de serviços e também da incipiente indústria paranaense, ligada a erva-mate, madeira e suas atividades acessórias. Ministravam-se cursos de Alfaiataria, Serralheria, Marcenaria, Selaria, Pintura Ornamental e Sapataria, ofícios ensinados por mestres que eram práticos em suas atividades, detentores de uma formação muito simples, porém empírica. As oficinas procuravam replicar aquelas que existiam no mercado, era um aprendizado na pratica e a produção daí resultante quando vendida, reforçava o caixa e as finanças da Escola. Haviam ainda disciplinas de Instrução Elementar e Desenho Básico. O Governo do Estado auxiliava a incipiente Escola com professoras que em conjunto com o primeiro diretor, Paulo Ildefonso d` Assunção, trabalhavam com a alfabetização dos alunos. A Escola foi se consolidando mesmo com problemas crônicos como a falta de instalações adequadas e permanentes, a falta de preparação formal dos mestres e professores e a desistência de muitos alunos aos quais se oferecia alimentação para incentivar a permanência. Chegou a ser temporariamente fechada por epidemias que atingiam Curitiba, a exemplo da recente gripe H1N1 (Gripe Suína), como em 1917 quando uma epidemia de tifo provocou a morte de muitos alunos e mesmo de professores. Com o tempo a qualidade de seu trabalho foi se assentando em terreno fértil e capaz, como demonstram os seis prêmios recebidos por seus trabalhos apresentados na Exposição Internacional de Turim na Itália no ano de 1911.

Em 1937 passou a denominar-se Liceu Industrial de Curitiba, materializando a preocupação governamental do Estado Novo em proceder à mudança do perfil econômico do Brasil. Em 1942 o nome é novamente alterado, desta feita para Escola Técnica de Curitiba que passou no ano seguinte a ofertar cursos de Construção de Máquinas e Motores, Edificações, Desenho Técnico e Decoração de Interiores. O nome foi alterado para Escola Técnica Federal do Paraná em 1959. Aos poucos ocorre o estabelecimento do ensino de nível médio. Em 1978 o Governo Federal transforma a Escola Técnica em Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, com a sigla CEFET-PR que o tornaria nacionalmente conhecido. Passam a ser oferecidos cursos superiores, sendo os de Engenharia Industrial Elétrica e Tecnologia da Construção Civil, os pioneiros. Abriu-se caminho para a pós-graduação em nível de especialização, mestrado e doutorado.

As décadas de 1970 e 1980 foram marcantes social e economicamente para o Paraná, foi nesse período que a cafeicultura foi totalmente erradicada pela Geada Negra de 1975, provocando um êxodo ímpar em tempos de paz no Ocidente. Contingentes populacionais imensos deixaram a zona rural do Norte do Estado e passaram a buscar novos horizontes em outras regiões ou em grandes cidades. Curitiba passou a crescer de maneira intensa e a sua Cidade Industrial foi implantada gerando novas demandas urbanas, sociais e econômicas. Foi nesse contexto que de crise e transformações profundas que o CEFET-PR se consolidou.

Em 1986 a primeira expansão do CEFET-PR que passa a constituir uma rede pelo Estado. Os primeiros projetos de novas unidades em Cornélio Procópio e Medianeira são aprovados ainda naquele ano. Seguiram-se outras em Pato Branco, Ponta Grossa e Campo Mourão. Há que se destacar nesse processo o engajamento dessas localidades e o compromisso de suas prefeituras, vereadores e comunidade organizada em procurar prover as necessidades iniciais dessas unidades, acreditando na possibilidade de transformação de suas realidades por meio da educação e da qualificação profissional. Estas unidades entraram em funcionamento a partir do início da década de 1990. A transformação em Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a primeira desse gênero a funcionar no Brasil, ocorreu em 07 de Outubro de 2005. Novos Campi foram instalados em Apucarana, Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Londrina, e Toledo, perfazendo onze localidades que ofertam cursos voltados ao atendimento de seus diversos arranjos produtivos.

Em seu centenário a UTFPR apresenta os seguintes números: Pós-Graduação, 2 doutorados, 9 mestrados e 60 especializações; Graduação, 28 cursos de Tecnologia, 22 cursos de Engenharia, 7 bacharelados, 4 licenciaturas e 2 bacharelados/licenciaturas; Nível Médio: 17 cursos Técnicos Integrados (três na modalidade de Educação de Jovens e Adultos - Proeja) e 1 curso Técnico Subseqüente. Sua comunidade interna evolve 1.393 professores (602 mestres e 340 doutores), 647 técnicos-administrativos e 16.019 alunos matriculados.

Sabemos que o desenvolvimento econômico depende de inúmeros fatores quer sejam políticos, sociais e culturais. A UTFPR insere-se no contexto do desenvolvimento paranaense como um elemento estrutural que procura por meio do ensino, da pesquisa e da extensão contribuir com a melhoria da qualidade do trabalho, da produção e consequentemente das condições de vida da população. Cabe a Universidade Tecnológica, a exemplo das demais existentes no Estado, auxiliar e potencializar as oportunidades percebidas nesta terra quer seja no presente, quer seja ao longo do caminho de mais um século de trabalho que se arvora em sua história. Uma missão a ser cumprida com o compromisso de evolução e progresso que pode ser identificado nesse seu primeiro centenário de dedicação e trabalho. Parabéns UTFPR e seus servidores e alunos atuais, passados e futuros, parabéns Paraná.


domingo, 13 de setembro de 2009

História Trazida a Tona ...

A FOLHA DE LONDRINA publicou esta reportagem no dia 16 de Agosto de 2009. Achei-a muito importante pois de certa forma remete ao tema que tenho pesquisado em meu trabalho. TRata de barcos retirados do fundo do Rio Paraná e que teria sido afundados durante as lutas ali ocorridas em 1924-1925 entre os revolucionarios que fariam a "Grande Marcha" liderados por Miguel Costa e tropas que defendiam a Legalidade da Republica Velha. Estou preparando um texto para enviar ao jornal quando for possível.

sábado, 12 de setembro de 2009

O COMBATE DE QUATIGUÁ

Apresentei este artigo no IV Congresso Internacional de História no dia 10 de Setembro de 2009.
Este Congresso foi promovido pela Universidade Estadual de Maringá.
Foi a primeira vez que se apresentou um artigo completo sobre o Combate de Quatiguá em um evento cientifico.
O artigo pode ser visualizado e impresso diretamente dos Anais do congresso pelo endereço < http://www.pph.uem.br/cih/anais/trabalhos/630.pdf >

Segue abaixo, na integra, o artigo como foi exposto:-------------------------------------------------
CONFRONTOS ARMADOS DA REVOLUÇÃO DE 1930 NO PARANÁ: O COMBATE DE QUATIGUÁ
Professor Me. Roberto Bondarik
bondarik@utfpr.edu.br


Docente da Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR)
Docente do Quadro Próprio do Magistério da Secretaria de Estado da Educação (SEED)
(Colégio Estadual “Cristo Rei” Ensino Normal – Cornélio Procópio - Paraná)
Resumo: O presente artigo objetiva apresentar aspectos conjunturais da Revolução de 1930 no Estado do Paraná e em seu Norte Pioneiro, especificamente dos combates ocorridos em 12 e 13 de outubro daquele ano em Quatiguá e ao longo do Ramal Ferroviário do Paranapanema. Através da análise historiográfica, documental e memorialista, identificou-se que em 1930 o Paraná, economicamente em crise, ressentia-se da influência paulista em sua região norte. A adesão paranaense à revolução liderada por Getúlio Vargas a partir do Rio Grande do Sul foi rápida e decisiva. Em poucos dias os revolucionários ocuparam todo o Estado levando o conflito até as divisas com São Paulo. Com a reação legalista da União e governo paulista que enviou tropas ao território paranaense os confrontos armados ocorreram e o Combate de Quatiguá foi dos mais decisivos para a Revolução, nele lutaram tropas revolucionárias gauchas do Exercito e Brigada Militar contra tropas legalistas do Exercito e Força Pública de São Paulo. Constatou-se que não foi apenas um recontro, constituindo-se em uma luta violenta, organizada, evolvendo centenas de soldados de cada um dos lados e contando com artilharia. As tropas gauchas, vencedoras do embate, eram experientes, oriundas de um ciclo de revoltas regionais da década de 1920, alguns dos seus comandantes haviam participado da Coluna Prestes e do Movimento Tenentista e da Guerra do Contestado. Os gaúchos capturaram armas, caminhões, automóveis e material de campanha demonstrando a determinação em impedir a posse de Julio Prestes, eleito Presidente da República com o apoio oligárquico. A partir desta luta os defensores da legalidade colocaram-se em posição defensiva abrindo espaço para que se negociasse o fim da República Velha no Brasil e a ascensão Getúlio Vagas ao poder.
Palavras Chaves: Revolução de 1930; Combate de Quatiguá; História do Paraná.
1 – INTRODUÇÃO
O Estado do Paraná foi o cenário onde se decidiu o destino da Revolução de Outubro de 1930 com a concentração em seu território das principais forças rebeldes que pressionaram o Estado de São Paulo e o Governo Federal do Presidente Washington Luís. O chefe da Revolução, Getulio Vargas deslocou-se do Rio Grande do Sul e agua7rdou no Paraná, próximo das tropas, o desfecho do movimento que afinal sagrou-se vitorioso.
Considerado um território estratégico para o sucesso ou a contenção de uma rebelião iniciada no Rio Grande do Sul, o Estado do Paraná foi palco de diversos combates durante a Revolução de 1930. Iniciado este movimento tropas gaúchas avançaram rapidamente pela Ferrovia São Paulo – Rio Grande e dominaram em Santa Catarina todo o território do antigo Contestado parando em Porto União. As tropas do Exercito e da Policia do Paraná aderiram à Revolução e se aproximaram das divisas com São Paulo, que permaneceu fiel ao Governo Federal até o fim. Revolucionários gaúchos e paranaenses ocuparam posições em diversos pontos do Estado e desta movimentação resultaram alguns combates que se destacaram: Capela da Ribeira, Fazenda Morungava (Sengés-Pr / Itararé-Sp) e Quatiguá, no Norte Pioneiro.
Expor e analisar a conjuntura factual do Combate de Quatiguá, ocorrido nos dias 12 e 13 de Outubro de 1930 é o objetivo principal deste artigo. Opuseram-se nesta luta os “Paulistas”, formados pela Força Pública de São Paulo e destacamentos do Exercito que ainda eram fiéis a legalidade e os “Gaúchos”, revoltosos formados elementos da Brigada Militar do Rio Grande do Sul e tropas regulares do Exercito que haviam se rebelado naquele Estado. A ênfase dada aos aspectos factuais neste trabalho justifica-se pela forma como a memória sobre este evento foi recuperada. As informações que permitiram a sua reconstituição foram coletadas em diversas fontes que incluíram livros, relatórios militares, jornais de época, revistas, relatos biográficos e memorialistas entre outras tantas. O resultado aqui obtido perpassa uma visão conjuntural que permite imaginar este e outros acontecimentos vivenciados no Brasil naquele momento conturbado, vinculados ao movimento revolucionário-militar de 1930 sendo possível destacar o preparo e a motivação dos revoltosos.
2 – A REVOLUÇÃO DE 1930
O movimento revolucionário de outubro de 1930 consolidou-se a partir do rompimento político entre as oligarquias paulista e mineira, cujo acordo fundamentava-se no poderio econômico de São Paulo e grandiosidade do colégio eleitoral mineiro. Desde fins do século XIX, com a consolidação da República, um acordo tácito entre os governantes destes dois estados garantia a alternância de ambos na Presidência da Republica, uma pratica denominada “Política do Café-Com-Leite”, efetivada pelo “Pacto de Ouro Fino” acordado em 1913. A crise econômica de 1929, atingindo a economia cafeeira, espalhou seus efeitos no Brasil.
A crise atinge o Brasil em um momento político delicado, quando se realizavam os procedimentos para a escolha do sucessor do Presidente da República, Washington Luiz. Conforme os princípios da política do café-com-leite, o grupo a quem caberia indicar o próximo presidente seria a oligarquia mineira, seu candidato era o presidente de Minas Gerais, Antonio Carlos de Andrada. Alegando a necessidade de continuar com sua política econômica e visando a recuperação financeira do país, Washington Luiz indicou como candidato oficial a sucessão o presidente do Estado de São Paulo, Júlio Prestes. Contra ele colocou-se pela oposição a Aliança Liberal através da candidatura de Getúlio Vargas para Presidente da República e de João Pessoa para vice. Os liberais colocavam-se contra o “coronelismo” e o “voto de cabresto”, defendiam a implantação do voto secreto, a modernização da sociedade e a dinamização da economia brasileira.
A Aliança Liberal acabou sendo derrotada nas eleições de 1930, à exceção dos estados que a apoiavam: Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul.
Na Republica Velha, as opções para os candidatos derrotados eram amargas: reconhecer a vitória do adversário, contentando-se com uma fatia menor no bolo do poder, ou continuar na oposição, arrostando uma perseguição implacável. Em 1930, porém, os derrotados controlavam três governos estaduais. Era menos que o suficiente para eleger um presidente, porém mais que mera influência civil (CALDEIRA, 1997, p.259).
A partir de maio de 1930 organiza-se um movimento conspiratório com o objetivo de impedir a posse de Júlio Prestes. Os tenentes que haviam participado das rebeliões militares da década de 1920 foram contatados e muitos aceitaram aderir e auxiliar na condução do movimento. A Revolução teve seu inicio em 03 de outubro de 1930, uma sexta feira, com movimentos sincronizados que foram levados a efeito no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Paraíba. As 17h30m deste dia revolucionários comandados por Oswaldo Aranha e Góes Monteiro, tomam o Quartel General do Exercito em Porto Alegre, prendendo o comandante da Região Militar, General Gil de Almeida. Os rebeldes e tomam, com poucas exceções, os quartéis e guarnições do Exercito em todo o Estado. Iniciava-se de maneira prática o movimento que alçaria Getúlio Dorneles Vargas à Presidência da República no Brasil por quinze anos.
3 - O PARANÁ NO CAMINHO DA REVOLUÇÃO
Com o Rio Grande do Sul sob controle, os revolucionários precisavam atravessar quatro estados (Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro) até a capital da República. Não dispondo do apoio da Marinha de Guerra, o único caminho era pela Ferrovia São Paulo – Rio Grande. Por esta via, ainda no dia 03 de outubro, horas antes dos eventos em Porto Alegre, forças rebeldes seguiram pelo interior de Santa Catarina, com o objetivo de chegar rapidamente até Porto União, na divisa com o Paraná. O domínio desta ferrovia garantiu aos revolucionários o controle sobre a antiga área do Contestado, preservando a segurança e o deslocamento das suas tropas com seus suprimentos que deveriam fluir por esta única via.
Quando as forças revolucionárias chegam a Porto União, o Batalhão de Caçadores vindo de Joinville e ai estacionado já havia se rebelado e aderido à Revolução. Neste mesmo dia, 04 de outubro, o 13º Regimento de Infantaria também se rebelou e assumiu o controle sobre a cidade de Ponta Grossa. Em Curitiba o Major Plínio Tourinho, em acordo com os gaúchos, conduziu um conjunto de ações que levou a adesão da guarnição federal, da Policia Militar e do Corpo de Bombeiros. O Presidente do Estado, Affonso Camargo, sem apoio militar, retirou-se para Paranaguá e daí para São Paulo. Desta forma em 05 de Outubro Curitiba encontrava-se sob um governo revolucionário, seu chefe era o General da Reserva Mário Tourinho (irmão do Major Plínio):
A adesão do Paraná foi quase a vitória da Revolução. Pela sua situação geográfica e pela unidade de vistas do povo e da guarnição militar do Exercito, o seu concurso à causa foi dos mais inestimáveis. Após a vitória da manhã de 05 de outubro [de 1930] às 13 horas desse dia, entrei em franca ligação pelo telégrafo com o chefe da revolução, dr. Getúlio Vargas, dando-lhe conta das ocorrências mais importantes e das medidas tomadas para garantia do movimento revolucionário. Dele recebi o primeiro telegrama, que dizia: “Porto Alegre, 5 – Major Tourinho. Curitiba. Paraná. Bravo! Bravo! Marcho com o Rio Grande ao vosso encontro. Vamos todos. Exercito e povo. Abraços. Getúlio Vargas” (TOURINHO, 1983, p.83).
Com a adesão paranaense, as tropas gaúchas avançam pelo estado e chegam a Ponta Grossa. O 5º Regimento de Cavalaria Divisionária, sediado em Castro permaneceu fiel a Legalidade quando realizou seu recuo em direção a São Paulo destruiu trechos da ferrovia e danificou pontes. Em Itararé-SP, junto a divisa com o Paraná, foram organizadas forças para impedir o avanço revolucionário e as primeiras forças rebeldes que seguem naquela direção eram formadas pelo 13º Regimento de Infantaria e pela Policia Militar do Paraná. Os rebeldes paranaenses foram seguidos pelos gaúchos que em Jaguariaíva adentraram pelo Ramal Ferroviário do Paranapanema, atingindo sem dificuldades o Norte Pioneiro do Paraná.
A 07 [de outubro] chegava a Ponta Grossa a ponta da vanguarda de Miguel Costa, que seguiu immediatamente para Castro, depois que seu commandante conferenciou comigo. Era esse comandante o Capitão [Trajano] Marinho. A gauchada estava sequiosa para combater e não admittia que tivesse seguido na frente um batalhão do 13º R.I. Eram trezentos homens bem fardados e bem armados (MIRANDA, 1933, p.95-96).
Outras forças seguiram de Curitiba para o Vale da Ribeira onde ocorreram também combates.
[...] houve um impasse militar na fronteira com São Paulo [e Paraná], perto da cidade de Itararé. A batalha ai travada teve características aparentemente modernas, com trincheiras em toda a frente de combate, arame farpado, ninhos de metralhadoras e artilharia (YONG, 1979, p.26).
Tomavam forma rapidamente as três frentes de luta entre os rebeldes revolucionários e as forças defensoras da legalidade formadas por unidades do Exercito sediadas em São Paulo e Rio de Janeiro e pela Força Pública Paulista. As frentes de combate eram Vale da Ribeira, Sengés-Itararé e Norte Pioneiro e Norte Pioneiro.
4 - O NORTE PIONEIRO E O COMBATE DE QUATIGUÁ
Conhecido à época apenas como “Ramal Ferroviário do Paranapanema”, o Norte Pioneiro Paranaense possuía uma grande importância dentro do contexto do avanço da Revolução sobre o Estado de São Paulo. Coube a tropas vindas diretamente do Rio Grande do Sul assegurar o seu controle. No dia 08 de outubro, contando com apoio local, um comboio ferroviário transportando um esquadrão da Brigada Militar chega até Colônia Mineira, atual Siqueira Campos e daí seguindo até Affonso Camargo, atual Joaquim Távora, nos dias seguintes. Eram conforme relatado por Miranda (1933) cerca de trezentos homens fardados e bem armados.
[...] seguindo para Porto União, de onde marchamos na segunda composição para a Colônia Mineira, onde junto com o Cap. Marinho empossamos as autoridades ficando nossa composição em Colônia Mineira e seguindo a primeira para Affonso Camargo sob o comando do Cap. Marinho (PRADO, 1931, p. 258).
O Esquadrão Marinho foi a primeira força gaúcha que se aproximou da divisa de São Paulo. Pelo Norte Pioneiro poderiam chegar por via férrea até diante de Ourinhos-SP, poderiam atravessar o Rio Paranapanema pela Ponte Pênsil “Manuel Alves de Lima”, em Ribeirão Claro ou transpor o Rio Itararé em Porto Maria Ferreira ou em Carlópolis, adentrando assim ao Estado de São Paulo.
Foram os primeiros combatentes revolucionários que se aproximaram da fronteira. Por isto, os que primeiro se mediram com os que desceram de São Paulo. Atingindo a estação férrea de Jaguariaíva, onde a estrada se bifurca, deixaram a direção de Itararé para a direita e rumaram para Colônia Mineira [Siqueira Campos-PR], à esquerda. Atingiram-na sem tropeço. E não perderam tempo (LEITE, 1931, p.151).
Os revolucionários possuíam como um dos seus objetivos, partindo do Norte do Paraná, a cidade de Bauru cujo controle efetivo dividiria o Estado de São Paulo em duas partes. De Bauru poderiam fazer a junção com as tropas mineiras e através de Minas Gerais e atingirem a cidade do Rio de Janeiro. O Estado de São Paulo, sua capital e o Vale do Paraíba ficariam assim isolados e obrigados a aceitar a vitória da Revolução. Paulo Nogueira Filho (1958) faz menção a esse plano que seria efetivado em caso de maior resistência paulista em Itararé.
Fui ao vagão do Estado-Maior, onde encontrei de plantão o seu subchefe, Newton Estilac Leal, também meu bom amigo. Sobre a mesa havia um mapa de São Paulo, indicando uma flecha encarnada o caminho de Bauru. Estratégia à vista: cortar o Estado de São Paulo em dois. Tudo estudado em suas minúcias (NOGUEIRA FILHO, 1958, p.527).
Os rebeldes não se contiveram em Siqueira Campos, seguiram daí, pela ferrovia rumo ao norte:
Continuaram avançando, sempre pela via férrea. Transpuseram a estação Catiguá [Quatiguá-PR] e prosseguiram para Affonso Camargo [atual Joaquim Távora-PR]. Afinal aqui [...] tiveram contato com os primeiros adversários (LEITE, 1931, p.151).
A força legalista que os gaúchos enfrentaram em Joaquim Távora e posteriormente em Quatiguá, era composta por elementos do Exercito vindos de Quitaúna, da Força Pública Paulista reforçados pelos alunos da Academia dessa força. Haviam ainda diversos voluntários civis recrutados por Ataliba Leonel, deputado federal e chefe político do interior de São Paulo. Diante da oposição encontrada o Esquadrão Marinho recuou para Quatiguá onde esperou reforços, era o dia 11 de outubro. Este combate inicial foi noticiado em São Paulo, no dia seguinte como uma grande vitória da forças da Legalidade:
O Esquadrão Marinho aguardou a chegada “Destacamento Etchegoyen”, comandado pelo Coronel Alcides Gonçalves Etchegoyen, no amanhecer de 12 de outubro. Esse oficial rebelde havia participado do planejamento da Revolução em Mato Grosso, de onde retornou para atuar no grupo de comando a mesma em Porto Alegre.
Naquele grupo, entre outros, figuravam Osvaldo Aranha, Pedro Aurélio de Góes Monteiro, Miguel Costa, Virgilio de Melo Franco, João Alberto Lins de Barros, Newton Stilac Leal, [os irmãos] Alcides e Nelson Etchegoyen, Amaral Peixoto, Hercolino Cascardo, Pinheiro de Andrade, Cícero Góis Monteiro, Ricardo Holl, Mauricio Cardoso, Adalberto Corrêa e Luís Aranha. Entre os demais núcleos da “Coluna-Mestra da Revolução” destacavam-se os de Assis Brasil, João Neves, Raul Pila, Lindolfo Collor, Flôres da Cunha e Batista Luzardo. Em plano mais distante, vários líderes militares e civis, também de prestigio. Dominando soberanamente esses conjuntos de chefes, líderes, grupos e núcleos, investido oficialmente das funções de “Chefe Supremo da revolução”, o Dr. Getúlio Dornelles Vargas imperava (NOGUEIRA FILHO, 1958, p.511).
O Destacamento Etchegoyen era predominantemente gaúcho, como o restante das forças do General Miguel Costa. As forças de Etchegoyen eram formadas por grupos de diversas unidades sediadas no Rio Grande do Sul.
Duas colunas paulistas avançaram pelo Norte Pioneiro do Paraná, a primeira era liderada pelo coronel Sandoval, comandante da Academia da Força Pública de São Paulo e havia partido de Ourinhos, a segunda era conduzida pelo Major Agnello de Souza, oficial do Exercito e avançando desde Piraju-SP, passou por Fartura e Carlópolis. O objetivo destas forças era chegar até Colônia Mineira, controlando o Ramal do Paranapanema e fechar caminho aos revoltosos. A partir daí poderiam auxiliar no contra-ataque legalista na frente de combate Sengés-Itararé. Conforme Aureliano Leite (1931) a coluna Sandoval, antes do choque com as forças gauchas, eliminou diversos núcleos revolucionários organizados por politicos ligados ao Partido Democrático Paulista, aliados de Getúlio: em Cambará e Santo Antonio da Platina.
Estes, passando por Cambará e Platina, já tinham esmagado os núcleos revolucionários locais, improvisados pelos paulistas Coriolano de Lima, Bráulio Barbosa e outros elementos democráticos. (LEITE, 1931,p.)
Devido a chegada das tropas e a possibilidade do combate, a população local se retirou buscando abrigo na área rural em locais melhor protegidos. O depoimento de Jorge Luna, antigo morador de Quatiguá, em 1984, faz referência a essa fuga:
A Revolução de 30 começou no dia 3 de outubro, calculando Jorge Luna que as tropas permaneceram cinco dias em Quatiguá e que os choques se verificaram entre os dias 11 e 13. Porém, a população começou a se retirar do patrimônio ao perceber a chegada dos gaúchos, dos quatro ou cinco comerciantes, apenas dois permaneceram, José Simeão Rodrigues [...] e Silvio Zanini, “os demais se retiraram para os sítios e fazendas”. Porém, aqueles que permaneceram em suas casas não foram molestados por qualquer das tropas, conquanto as “requisições” nas casas comerciais, principalmente as abandonadas, fossem feitas a grosso. Naquele tempo. Quatiguá [...] era apenas um patrimônio dividido em duas zonas, uma conhecida por Barra Grande e outra por Chapada. (FOLHA DE LONDRINA, 1984, p.24)
Para colher informações sobre o efetivo adversário e o sentido de seu avanço, se vinham para a Estação Quatiguá ou se via Pinhal seguiam diretamente para a Colônia Mineira, foi formada uma patrulha de cavalaria. O piquete comandado pelo Tenente Waldomiro Remião foi averiguar as cercanias de Affonso Camargo e observar o deslocamento das tropas paulistas na estrada de Pinhal procurando a força que havia empenhado combate com o Esquadrão Marinho. Os revolucionários não esperavam combates no dia 12 em Quatiguá por não conhecerem ainda o real efetivo da força paulista e por não saberem também que eles estavam tomando posições nos arredores da localidade. Sua intenção era atacar e tomar a Estação Quatiguá, garantindo assim a retaguarda para avançar sobre a Colônia Mineira. Os gaúchos foram pegos de surpresa como comprova o relato de Vanderley Véras:
De súbito, pelas 16h.30m. mais ou menos, ouvimos alguns estampidos nos arredores. Era a patrulha de reconhecimento que tiroteava com avançadas do inimigo. Em seguida entra a galope villa a dentro, o piquete do tenente Remião, declarando que o inimigo se approximava. O major Alcides de Araújo, momentos antes mandara que três pelotões da Carta Geral tomassem posição nos arredores do povoado, afim de evitar surpresas. O resto do pessoal descançava, emquanto outros churrasqueavam na maior camaradagem. [...] O capitão Frederico Guilherme Klumb, commandante da companhia de metralhadoras pesadas, dava instruções ao pessoal e experimentava também uma burrada chucra que devia conduzir as metralhadoras. A situação era, pois apparentemente de calma. Não esperávamos combate. (VERAS, 1933, p.237)
O combate transcorreu por parte da noite do dia 12 ainda. Ambos os contendores receberam reforços e foi se desenhando aquele que seria um dos mais violentos combates da Revolução de 1930, superior mesmo aos da frente de Sengés.
O tiroteio cerrou nas suas linhas. Era formidável a sua potencia de fogo! As suas metralhadoras pesadas em rajadas successivas metralhavam o pequeno lugarejo, completamente aberto, constituído de poucas casas, distanciadas umas das outras. Os nossos pelotões que estavam na frente respondem ao fogo dos sitiantes com um desassombro admirável, embora conscientes da superioridade numérica do inimigo, o qual se atira com ímpeto contra os referidos pelotões. Os pseudo-legalistas soffrem baixas nas suas investidas emquanto que os três pelotões que eram commandados pelos valorosos companheiros 2º tenentes Cecílio Cora Morossoli, João Tavares Barbosa e pelo malogrado Ivo Sampaio Ribeiro, honrando as tradições bellicosas do Rio Grande, assaltados pelo enthusiasmo da nossa causa e pelo ardor da lucta que se esboçava, resistem galhardamente, heroicamente, ao choque do adversário, dando assim tempo que o resto da nossa força tomasse posições (VERAS, 1933, p. 238)
O posicionamento das forças dava a Estação Férrea de Quatiguá uma situação dominante, os paulistas posicionavam em forma de meia lua com a Estação e os gaúchos ao centro. Nesta edificação foi instalado o Posto de Comando do Destacamento, que contava agora com a participação de seu comandante na condução da luta e em seu telhado foi colocada uma seção de metralhadoras pesadas
Felizmente corre célere pelas nossas linhas a noticia de que o bravo coronel Alcides Etchegoyen, commandante da Columna, chegava de Colônia Mineira, trazendo reforços: o 1º batalhão do 7º R.I. sob o comando do valoroso tenente-coronel Nestor José da Silva Soares. Realmente o coronel Alcides Etchegoyen, acompanhado pelo chefe de seu Estado-Maior, major Stoll Nogueira e dos officiaes 2º tenentes Lauro Villeroy França, Dyonisio Ferreira Marques e Caio Rodrigues Leopoldo, que vieram de trem, avançando cautelosamente, luzes apagadas, com observadores na machina e elle próprio sobre os carros, desembarcou um kilometro antes da estação Quatiguá, avançando com a 2ª companhia do 1º batalha do 7º R.I. atravez da linha férrea, afim de entrar em ligação com a nossa tropa, o que aliaz conseguiu, chegando á estação férrea, onde fora instalado o P.C. do 1º B.C. Passou a noite toda tomando providencias, desenvolvendo uma actividade digna de nota, localisando as diversas sub-unidades e escolhendo as posições para a companhia de metralhadoras pesadas (VÉRAS, 1933, p. 240)
O relatório de Nelson Etchegoyen que era o comandante da artilharia rebelde completa as informações sobre o combate que transcorreu até as nove horas da manhã de 13 de outubro.
Às 2 horas tivemos ordem de seguirmos imediatamente para Quatiguá a fim de reforçarmos o restante do [1º] Destacamento, que seria atacado por forças paulistas, que durante toda a noite recebiam reforços, procurando envolver a estação, onde se achava tropa amiga; seguimos e apenas desembarcamos a nossa última peça de artilharia foi desencadeado violento ataque com tropas regulares da Força Pública Paulista. Nesse combate nossas tropas, fiéis às tradições de bravura dos seus antepassados, se portou com extraordinário heroísmo e sangue frio, derrotando de modo absoluto e formal, o inimigo [...] (ETCHEGOYEN, 1931).
A tropa legalista retirou-se, após ser derrotada, em direção à divisa de São Paulo. O relatório do Coronel Alcides Etchegoyen, levando-se em conta a sua visão particular dos acontecimentos, resume as condições da retirada dos legalistas.
O seu dispositivo esfrangalhou-se, o pânico se manifestou em suas fileiras, veiu a desordem e a confusão. A ninguém mais seria dado conter aquella tropa cheia de terror, cujo pensamento único era fugir e cuja fuga era cortada pelo fogo das nossas metralhadoras pesadas que a fusilava em massa. As populações das cidades e villas, ao longo da via férrea Quatiguá - Jacaresinho, são testemunhas do estado de desmantello e desmoralisação das tropas adversárias em fuga, as quaes tomadas de pavor e viajando em caminhões incendiavam, com auxilio de gazolina, as pontes e pontilhões ao longo da estrada, afim de evitar a perseguição de nossa tropa e destruindo a dinamite de uma maneira bárbara as pontes lançadas sobre o Paranapanema e incendiando todas as balsas, botes e canoas existentes nos diversos passos daquele rio, abandonando em definitivo naquella região, o Estado do Paraná (VÉRAS, 1933, p. 243).
Os legalistas destruíram as pontes sobre o Rio Paranapanema, a ponte ferroviária da Viação São Paulo-Paraná que ligava a Ferrovia Sorocabana também ao Ramal do Paranapanema, a ponte pênsil rodoviária (Ponte Pênsil Manoel Alves de Lima) em Ribeirão Claro foi também destruída com dinamite. O intento legalista era impedir o avanço gaúcho sobre São Paulo.
A importância desse combate travado em Quatiguá foi registrada pelo Cônsul Geral dos Estados Unidos da América em São Paulo, que em telegrama datado do dia 18 de outubro alertou o Secretario de Estado daquele país sobre os resultados desse combate e o desenrolar da Revolução.
Coluna governista avançando de Ourinhos seriamente derrotada há poucos dias atrás. Governo agora na defensiva. Estrada de ferro São Paulo-Paraná transportando bens requisitados e todas as pontes destruídas pelo governo. Toda a estrada de ferro São Paulo-Rio Grande do Sul cooperando com revolucionários (YOUNG, 1979, p.27).
Encerrado a situação em Quatiguá os rebeldes ocuparam a região dando combate aos remanescentes legalistas. Em 15 de outubro exploram Carlópolis, cidade que ocupam em definitivo no dia seguinte. Em 19 de outubro chegam Ribeirão Claro e Jacarezinho onde dão posse a novas autoridades municipais.
Em Carlópolis os militares gaúchos exploraram as margens do Rio Itararé até o Porto Maria Ferreira. Construiram barcas para a travessia do rio. Porém era o dia 24 de outubro, e no Rio de Janeiro os Generais e Almirantes em um Golpe de Estado depõem e prendem o presidente Washington Luiz alegando evitar maior derramamento de sangue. Após negociações estava vencida a Revolução de 1930.
5 - CONCLUSÃO
A derrota diante das tropas revolucionarias em São Paulo fez ver aos Generais que se rebelaram em 24 de outubro no Rio de Janeiro, e também ao Governo Federal que estavam diante de uma Revolução diferentes das outras que se haviam iniciado no Rio Grande do Sul. Ao contrário da Guerra dos Farrapos que ficou restrita à aquele Estado e à Santa Catarina e a Revolução Federalista que não teve forças para transpor o Paraná, os revolucionários de 1930 estavam apenas aguardando o momento propicio para marchar sobre São Paulo e atingir o Rio de Janeiro. O Combate de Quatiguá demonstrou a capacidade de logística de transporte e operacional de combate dos rebeldes, monstrou sua organização e a disciplina de suas tropas, além de sua determinação em vencer pelas armas os seus opositores.
No Combate de Quatiguá forjou-se a perspectiva de vitória pelas armas da Revolução chefiada por Getulio Vargas, a partir de então as estruturas da Republica Velha no Brasil estavam condenadas. As forças da legalidade apesar da resistência prometida em Itararé colocavam-se na defensiva. Em termos políticos e culturais o 13 de Outubro de 1930 em Quatiguá marcou o alvorecer de um novo Brasil, que se não mais justo, foi mais moderno, urbano e industrial. A Revolução faria sentir seus efeitos nos anos seguintes

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E FONTES

AINDA O COMBATE DE QUATIGUÁ. Gazeta do Povo. 23 de Outubro de 1930 – Nº 4.178 – Ano XI – p.01;
CALDEIRA, Jorge. Viagem Pela História do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997;
DONATO, Hernâni. Dicionário das Batalhas Brasileiras. São Paulo: Ibrasa, 1987;
ETCHEGOYEN, Nelson. Relatório de Combate do 6º R.A.M no Norte do Paraná. Cruz Alta: Boletins do 6º Regimento de Artilharia Montada , 1931.
LEITE, Aureliano. Memórias de um revolucionário: A Revolução de 1930, Pródromos e conseqüências. lª edição. s/l. 1931.
MIRANDA, Alcebíades. Justitia Vanum Verbum: Episódios da Revolução de 1930. São Paulo: (S.D.T.) 1933;
NOGUEIRA FILHO, Paulo. Ideais e Lutas de um Burguês Progressista: o Partido Democrático de São Paulo e a Revolução de 1930. São Paulo: Anhambi, 1958;
PAULISTAS E GAÚCHOS LUTARAM EM QUATIGUÁ. Jornal Folha de Londrina, Caderno 2 – Sexta-feira, 06 de Abril de 1984, p.24
PRADO, Hermínio. “Acção da Legião Garibaldi do Commando do General Elisiário Paim Filho”. In: Revolução de 1930: Imagens e Documentos, Revista do Globo – Edição Especial, Fevereiro de 1931, Porto Alegre: Barcellos, Bertaso & CIA, p. 257-261;
TOURINHO, Plínio. Depoimento. In: Cinqüentenário da Revolução de Trinta no Paraná. 2ª Ed. Curitiba: Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, 1980, p.78-83;
VERÁS, Wanderley. O Combate de Quatiguá. In: MIRANDA, Alcebíades. Justitia Vanum Verbum: Episódios da Revolução de 1930. São Paulo: (S.D.T.) 1933, p.236-244;
YOUNG, Jordan. “Aspectos Militares da Revolução de 1930. In: FIGUEIREDO, Eurico (Org). Os Militares e a Revolução de 30. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p.15-35;

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Acordo Brasil - Estado do Vaticano

Gostei deste artigo do Carlos Alberto di Franco e que foi publicado hoje (07/09/2009) pelo Jornal "O ESTADO DE SÃO PAULO", é um assunto interessante para se pensar a realidade do Brasil e de seu povo, apesar das tentativas de grupos exóticos em querer modificar tudo. Esta disponivel no endereço: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090907/not_imp430601,0.php

Radiografia de um acordo

- Carlos Alberto di Franco -

O Brasil, não obstante o empenho dos paladinos da luta de classes, é um país tolerante. A miscigenação, traço característico da nossa cultura secular, é um fato, independentemente de questionamentos artificiais dos que querem reduzir a beleza humana do multicolorido racial ao artificialismo de uma pátria em preto e branco. Na religião, igualmente, o Brasil tem sido um modelo de convivência e tolerância. Ao contrário de muitas regiões do mundo, marcadas pelo fanatismo e pelo sectarismo religioso, o Brasil é um sugestivo caso de relação independente e harmoniosa entre religião e Estado.
Foi o que se viu recentemente, quando a Câmara dos Deputados aprovou o acordo entre o Brasil e a Santa Sé, que agora vai para o Senado Federal, como último passo para a sanção presidencial. O conteúdo desse instrumento jurídico firmado por dois Estados soberanos é, estou convencido, um bom exemplo de como se pode, numa sociedade pluralista, harmonizar a laicidade do Estado e a liberdade religiosa.
Naturalmente, nem todos veem dessa forma. Respeito as opiniões contrárias. Parece-me que seria interessante analisar brevemente alguns pontos desse acordo, mostrando que está claramente inserido na nossa tradição de respeito à diversidade.
Em primeiro lugar, o acordo não cria nenhum tipo de privilégio para a Igreja Católica. A leitura dos 20 artigos do tratado, que recomendo a todos ( http://www2.mre.gov.br/dai/b_santa_04.htm ), evidencia que o tom é reconhecer - e reafirmar - disposições que já estavam presentes de forma esparsa em nosso ordenamento jurídico. Por exemplo, o artigo 15 do tratado dispõe: "Às pessoas jurídicas eclesiásticas, assim como ao patrimônio, renda e serviços relacionados com as suas finalidades essenciais, é reconhecida a garantia de imunidade tributária referente aos impostos, em conformidade com a Constituição brasileira." Trata-se de um reconhecimento daquilo que a Constituição já estabelecia, ao definir as limitações ao poder de tributar, sublinhando que "é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre templos de qualquer culto" (artigo 150, VI, b). Reconhece-se que a liberdade religiosa é um direito fundamental, não podendo o Estado dificultar o seu exercício por meio da tributação, como também ocorre, por exemplo, em relação aos partidos políticos ou às entidades sindicais.
O tratamento dado pelo acordo ao ensino religioso sofreu algumas críticas, na suposição de que feriria o caráter laico do Estado brasileiro. Tal visão, no entanto, não reflete a postura da Constituição brasileira, que estabelece que "o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental" (artigo 210, § 1º). O caráter laico do Estado está assegurado ao se definir que a matrícula é facultativa: o ensino religioso não é imposto a ninguém. O acordo reconhece a matrícula facultativa e vai além, ao estabelecer explicitamente que o ensino religioso não se refere apenas à religião católica, mas também às outras confissões religiosas (artigo 11, § 1º).
Outro exemplo de saudável laicidade, que distingue o âmbito político-jurídico e o religioso, é o reconhecimento da natureza religiosa do vínculo dos ministros ordenados ou fiéis consagrados com as suas respectivas instituições religiosas e dioceses, não gerando, "por si mesmo, vínculo empregatício" (artigo 16 do acordo). Não se trata de eximir a Igreja Católica das obrigações trabalhistas, já que, por exemplo, um religioso poderá ter direitos trabalhistas perante a sua ordem ou congregação, mas não os terá em razão do vínculo religioso, assumido livremente por motivos espirituais, e não profissionais, mas por uma situação que gere esses direitos, de acordo com a lei brasileira. Situação similar ocorre entre dois cônjuges: pode haver vínculo trabalhista entre os dois, por razões profissionais, mas isso não significa entender que o vínculo oriundo do pacto matrimonial seja de natureza trabalhista ou que gere, por si mesmo, direitos trabalhistas.
O Brasil e a Santa Sé, no mencionado acordo, também "reconhecem que o patrimônio histórico, artístico e cultural da Igreja Católica, assim como os documentos custodiados nos seus arquivos e bibliotecas constituem parte relevante do patrimônio cultural brasileiro" (artigo 6º). Esse aspecto não enseja novidade a nenhum brasileiro. Basta citar, por exemplo, o Pátio do Colégio, em São Paulo, os Mosteiros de São Bento do Rio de Janeiro e de São Paulo, a Igreja e o Convento de São Francisco em Salvador, o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo (MG), onde se encontram diversas esculturas do Aleijadinho e que é reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco. O Estado brasileiro não pode ser indiferente a esse patrimônio, já que seria desprezar a nossa própria História. Não se trata de afirmar que a religião católica é mais importante que as outras, mas simplesmente de reconhecer que o nosso passado está intimamente ligado à Igreja Católica e que é um bem para o Brasil a preservação desse patrimônio histórico-cultural.
O acordo não se refere às verdades religiosas nem tem a menor pretensão de abordar o tema da "verdade", mas vem consolidar, num único instrumento, o estatuto jurídico da Igreja Católica, à qual pertencem 74% dos brasileiros (segundo dados da Fundação Getúlio Vargas). Um Estado laico pede transparência, reconhecimento das lícitas realidades sociais, respeito à liberdade religiosa. Nesse sentido, o acordo é um bom passo, dentro da nossa tradição de convivência pacífica e harmoniosa.

Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, é diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br) e da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com) E-mail: difranco@iics.org.br

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

História Militar: Fontes e Discussões

Dia 25 de Agosto de 2009, não por um acaso dia do soldado, foi publicado pelo jornal GAZETA DO POVO, um artigo da Professora Carmen Lúcia Rigoni, versando sobre a utilização de diários escritos por soldados como fontes para o estudo da história da Força Expedicionária Brasileira na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Mais que uma discussão sobre fontes históricas, esse artigo versa sobre a visão ideológica que conduz muitos historiadores, acadêmicos e professores universitários que no final irão formam os professores de História que atuarão nos Ensinos Medio e Fundamental no Brasil. Carmen Lúcia Rigoni toca no assunto do desprezo que esses historiadores dedicam a tudo que diz respeito ao Exercito, seus símbolos e representantes, resbalando inclusive nos valores cívicos e relativos à pátria que essa instituição cultua. A FEB é muito pouco citada nos livros de História, sendo que muitas vezes os professores lançam dúvidas sobre a sua atuação, e esta ação desdenhosa e preconceituosa foi formada nos bancos escolares da Universidade . O desprezo pelas Forças Armadas é ampliado quando estendido à valorização dos símbolos nacionais e a u sentimento que podemos chamar simplesmente de patriotismo que é fomentado no seio destas forças. Esse desdem trasformou-se em desprezo pelo próprio Brasil, e prejudica seu desenvolvimento presente e futuro, porém vamos ao artigo de Carmen Lúcia Rigoni, publicado na GAZETA DO POVO de 25 de Agosto de 2009. O texto original do jornal esta disponível neste endereço < http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=918001&tit=Diarios-de-guerra-fontes-da-historia >
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Diários de guerra, fontes da história

- Professora Carmen Lúcia Rigoni -

A participação brasileira na Segun da Guerra Mundial, combatendo nos campos da Itália entre 1944 e 1945, constituiu a maior experiência do Exército Brasileiro em nossa contemporaneidade. Mas poucos são os estudiosos que têm se debruçado sobre o verdadeiro universo da Força Expedicioná ria Brasileira (FEB). Fala-se de uma guerra que se desenrolou fora do país, da qual os mais velhos já não se lembram mais e que é totalmente desconhecida pelos mais jovens, uma vez que a FEB não está nos livros didáticos e parte dos estudiosos demonstra reticência em relação à pesquisa feita entre os historiadores militares. Também colaboram para esse esquecimento a posição política de muitos, além da arraigada disposição dos historiadores profissionais em não discutir temas militares, fruto das relações conturbadas entre o meio estudantil e o regime militar implantado em 1964.

Os diários de guerra dos soldados brasileiros foram, durante muito tempo, considerados ufanistas demais e, por isso, deixados de lado pelos pesquisadores. Mas uma leitura mais atenta pode ser reveladora sobre a história nacional, a declaração de guerra aos países do Eixo em 1942, a convocação dos soldados e o embarque para a Itália. Nessa visão, os diários podem se tornar fontes primeiras, pois estão longe da descrição fria do relatório meramente técnico, mostrando o cotidiano da guerra, o espírito de companheirismo, a visão do soldado sobre as patrulhas que partiam para o front, além da fragilidade ao sair pelos campos minados, no enfrentamento a um inimigo aguerrido e experiente em diversas frentes, seja no Norte da África ou na Rússia.

Em seus testemunhos, os soldados brasileiros registraram momentos de grandiosidade na guerra, especialmente pelo atendimento às populações italianas que a tropa ia encontrando pelo caminho, alimentando velhos, mulheres e crianças. Os expedicionários prestaram socorro médico aos menos assistidos, numa verdadeira ação humanitária, tão pouco praticada por outros exércitos. A vivência com a população rendeu diversos casamentos entre brasileiros e italianas, bem como laços de amizade que jamais foram esquecidos.

Na polifonia de vozes que se intercruzaram no cotidiano, mais as ações pela militarização dos jovens e a formação cívica dos cidadãos, buscaram os veteranos da FEB expressar em seus escritos um momento vivido.

Mas não é apenas o momento da guerra que está presente nesses diários; o perfil dos velhos guerreiros denota uma preocupação sobre os acontecimentos que afetam o país. O espírito cívico prevalece nas posturas e nos comentários, com grande preocupação pela cidadania. Pelos diários percebe-se uma crítica contundente, não somente ao comando, mas à ditadura imposta pelo Estado Novo e a censura do Departamento de Imprensa e Propaganda de Getúlio Vargas. Muitos se questionavam, pois combatiam no exterior por uma liberdade que não encontravam em seu próprio país.

Na onda que varre a memória do nosso país, buscaram os veteranos da FEB registrar suas memórias em busca de um sentido histórico, mostrando à juventude de hoje os ideais de ontem, expressos nos relatos dos acontecimentos, em uma missão que eles dizem ser permanente. Des cor tinam-se nos diários de guerra dos soldados brasileiros que combateram na Itália retalhos de histórias, fragmentos da me mória, na voz dos atores que ajudaram a engendrar suas histórias. São conexões da memória pública, abalizada pela me mória individual e coletiva, herdadas ou construídas pela memória nacional, que oferecem aos pesquisadores uma inesgotável fonte para a compreensão da história recente brasileira.




sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Museu Histórico de Siqueira Campos - Paraná

Em Siqueira Campos, a antiga Colônia Mineira do Norte Pioneiro do Paraná, esta instalado o Museu Histórico com um acervo consideravel e importante a disposição dos visitantes.
Destaco especialmente a reconstituição de uma morada dos antigos tempos da colonização da região onde é possivel mergulhar no ambiente do inicio da cidade.
Existem ainda obras de arte e muito boa conversa sobre a história da cidade, da região, do Paraná e porque não dizer de Minas Gerais.
Abaixo o folder do Museu Histórico de Siqueira Campos (Clique na imagem para ampliar):





















sábado, 25 de julho de 2009

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Crise Econômica e Otimismo ...

Estamos vivendo uma crise econômica muito preocupante, porém o fator psicológico é essencial para a sua superação. Li este texto na contra-capa da revista Super-Interessante na década de 1990. Não encontrei a revista original, mas encontrei o texto na internet e o reproduzo em sua totalidade.
Trata-se de uma proclamção ao trabalho, força de vontade e dedicação para a superação de qualquer crise. A economia de mercado irá superar esse momento como já superou outros tantos momentos criticos.
O original deste texto foi publicado em 24 de fevereiro de 1958 em um anúncio da Quaker State Metais Co. Em novembro de 1990 foi divulgado pela agência ELLCE, de São Paulo.
Vamos a mensagem que é muito estimulante:
NÃO DEIXE QUE LHE TIREM ATÉ O SEU CACHORRO QUENTE
"Um homem vivia na beira da estrada e vendia cachorros-quentes. Não tinha rádio e, por deficiência de vista, não podia ler jornais, mas, em compensação, vendia bons cachorros-quentes. Colocou um cartaz na beira da estrada, anunciando a mercadoria, e ficou por ali, gritando quando alguém passava: Olha o cachorro-quente especial!

E as pessoas compravam. Com isso, aumentou os pedidos de pão e salsichas, e acabou construindo uma boa mercearia.

Então, mandou buscar o filho, que estudava na universidade, para ajudá-lo a tocar o negócio, e alguma coisa aconteceu.

O filho veio e disse: Papai, o senhor não tem ouvido rádio? Não tem lido jornais?

Há uma crise muito séria, e a situação internacional é perigosíssima!

Diante disso, o pai pensou: Meu filho estudou na universidade! Ouve rádio e lê jornais, portanto deve saber o que está dizendo!

E então reduziu os pedidos de pão e salsichas, tirou o cartaz da beira da estrada, e não ficou por ali, apregoando os seus cachorro-quentes.
As vendas caíram do dia para a noite, e ele disse ao filho, convencido: Você tinha razão, meu filho, a crise é muito séria!"

Conclusão:
Informação é tudo, sensatez é um pouco mais.

Abraços


quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Museu do Expedicionário em Curitiba (Parte Externa)

Dias atrás passei por Curitiba e tive tempo de tirar algumas fotos do Museu do Expedicionário daquela cidade. Fotografei, por falta de tempo, apenas a parte externa que por sí já chama muito a atenção. Este museu é um bomlocal para se visitar quando estiverem na capital paranaense. Hoje postarei as fotos e posteriormente colocarei um comentario sobre cada uma delas.
O importante, além do proprio prédio do Museu e que iremos destacar nesta sequencia de fotos são o avião usado na Segunda Guerra Mundial pela FAB e o canhão alemão capturado pela FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Campanha da Itália.
Fachada do Museu do Expedicionário, destaque para as estatuas no topo do predio representando soldados brasileiros em luta na Itália em algumas situações, inclusive com um soldado ferido.

Canhão alemão capturado pela FEB durante a Segunda Guerra Mundial
Placa com a informações sobre as origens do canhão alemão capturado

Estatuas no topo da fachada do Museu

Fachada do Museu, antiga Casa do Expedicionário construida para servir de apoio aos diversos expedicionários residentes no Estado do Paraná ou em trânsito por Curitiba.


Avião de caça norte-americano utilizado pela Força Aérea Brasileira durante a Campanha da Itália