sábado, 23 de dezembro de 2006

O COMBATE EM QUATIGUÁ


Relatos sobre os combates aqui ocorridos em 1930 fazem parte do cotidiano de Quatiguá. Porém, os conhecimentos sobre os acontecimentos em si, apresentavam-se muito fragmentados e estão sendo lentamente esquecidos e modificados. Em 1984, a TV Coroados (Globo/RPC) de Londrina entrevistou moradores que testemunharam os combates ou os vivenciaram, o jornal Folha de Londrina fez trabalho semelhante. Estes foram trabalhos significativos, porém ficaram se restringiram ao fato de que “Gaúchos e Paulistas” aqui lutaram, sem se preocupar em apontam quem e quando combateram.
Em pesquisas recentes, encontrei maiores informações e inclusive imagens da época que indicam as forças que se enfrentaram em Quatiguá. As forças revolucionárias (gaúchos) eram compostas principalmente por soldados do exercito provenientes do Rio Grande do Sul, das cidades de Santa Maria (7º Regimento de Infantaria), Pelotas (9º Batalhão de Caçadores) e Cruz Alta (8º Regimento de Infantaria e 6º Regimento de Artilharia Montada). Havia ainda soldados da Policia do Paraná além de voluntários. As forças revolucionarias eram agrupadas em um destacamento comandado pelo Coronel Alcides Gonçalves Etchegoyen e formavam uma frente de combate que ia desde Jaguariaíva até diante de Ourinhos. As tropas que defendiam a então legalidade (paulistas), eram constituídas por soldados vindos de Quitaúna em Osasco, São Paulo (4° Regimento de Infantaria), reforçados por membros da Policia Paulista (Força Pública), seus comandantes eram o Coronel José Sandoval de Figueiredo e o Major Agnelo.
Os gaúchos chegaram em Quatiguá no dia 12 de outubro as seis e meia da manhã. Encontraram aqui uma guarnição da Policia do Paraná que havia trocado tiros com a legalidade próxima a Carlópolis. Uma patrulha montada foi enviada até Affonso Camargo (Joaquim Távora) para averiguar se ali havia chegado mesmo uma força paulista com mais de 80 caminhões, ela retornou por volta das 16horas, sob tiros da legalidade que já promovia e estava cercando a estação de trem de Quatiguá. A tropa revolucionária resistiu até as 22 horas quando os combates cessaram. Na madrugada de 13 de outubro o Coronel Etchegoyen trouxe reforços e artilharia, perfazendo mais de 1.800 homens e os preparou para o combate. Seu posto de comando era a estação ferroviária, onde foram instaladas metralhadoras pesadas. Os paulistas foram reforçados também e somaram mais de 1.200 homens em armas.
Às 5 horas da manhã do dia13 os combates recomeçaram, auxiliados pela artilharia do 6º RAM, os gaúchos avançaram sobre as trincheiras paulistas, fazendo-os recuar e fugir em debandada pouco depois das nove da manhã. A retirada teria sido desordenada sendo que muito material foi abandonado pra trás. Os gaúchos capturaram 300 fuzis, 80.000 projeteis, 22 caminhões, 7 automóveis, cavalos e muares além de muito material de campanha (remédios e alimentos). Foram feitos 185 prisioneiros paulistas, sendo 4 oficiais da Força Pública Paulista e 1 do Exercito. Todos foram levados para Ponta Grossa onde ficaram detidos.
Entre os mortos podemos apontar alguns homens jovens e já esquecidos, Malaquias Conceição, gaúcho de Alegrete, Latino Magalhães Bravo, voluntário vindo de Ponta Grossa, o Tenente Ivo Sampaio Ribeiro, cujo nome batizou uma rua da cidade. Entre os paulistas ainda não possuo dados mais detalhados. A sua lembrança se apaga da mesma forma como se apagaram os sinais da luta. Alguns ainda são lembrados, a “Cruz do Tenente”, onde uma senhora sempre vinha fazer visitas, colocar flores, velas e rezar. Quem seria ela, uma incógnita, esposa, noiva ou mãe?. O monumento da Praça, onde estão pelo menos seis ossadas retiradas dos cafezais.
O combate de Quatiguá foi o maior da Revolução, pelo numero de baixas, mais de 500 do lado da legalidade, pelo numero de soldados envolvidos e por ser a primeira luta. Não sei ainda, onde estão os relatórios paulistas e a maior parte dos gaúchos. Resgatar nossa história tem sido uma tarefa gratificante agradável, espero continuar com esse trabalho e vê-lo frutificar.

sexta-feira, 14 de abril de 2006

FORMAÇÃO HISTÓRICA DO NORTE PIONEIRO DO PARANÁ

Região de Cornélio Procópio.

Professor Roberto Bondarik

1. A Ocupação do Norte do Paraná:

Nas primeiras décadas do século XX, alguns fazendeiros paulistas e mineiros desejavam novas e férteis terras, para ampliarem suas propriedades. O Norte do Paraná surgiu como um rico filão a ser explorado, e abrandaria com sua terra vermelha, ou “rossa” como diziam os italianos, as mais diversas necessidades. Para viabilizar economicamente a exploração da região, como por exemplo a abertura de estradas, foi necessário muito capital.

Os capitais para os investimentos necessários aforam conseguidos em bancos estrangeiros, principalmente ingleses e também através do fracionamento das terras que haviam sobrado, após é lógico as melhores terem sido separadas. A área fracionada foi posteriormente vendida a colonos paulistas, mineiros e imigrantes, todos havidos por terra e pelos lucros provenientes do café, enormes desde que o “Convênio de Taubaté”, firmado em 26 de fevereiro de 1906, definiu as bases do que se chamaria política de valorização do café, e oficializou a intervenção estatal para proteger o comércio e a elevação dos preços do produto;

Este Convênio também limitava o plantio de novos cafezais nos Estados de São Paulo Minas e Rio de Janeiro, deixando livre para o plantio de novas lavouras, regiões ainda não desbravadas como o Norte do Paraná

Embora, saibamos que a colonização do Norte do Paraná, e o surgimento de suas mais importantes cidades, como Londrina e Maringá, tenha sido realizada em marcha ritmada e constante, ditada pela expansão do café, este produto não foi a única, nem a primeira atividade econômica a ser explorada na região.

Importante atividade foi também a criação de suínos, principalmente na região conhecida como Norte Velho , entre Ribeirão Claro e São José da Boa Vista. Essa criação era feita com base no sistema de safras, ou seja os porcos eram criados soltos em meio a plantação já em fase de colheita. Aquelas que praticavam essa atividade eram chamados de safristas.

Os safristas, por suas atividades necessitarem sempre de terras férteis e isoladas, agiram como novos bandeirantes, e legítimos desbravadores da região, para os futuros plantadores de café, a alternativa econômica seguida por muitos dos safristas após a decadência econômica de suas atividades.

A partir de 1920, o grupo econômico liderado pelo paulista Antônio Barbosa Ferraz, que já possuía cerca de um milhão de pés de café em Cambará, resolveu iniciar a construção de uma estrada de ferro, que a partir de um ramal da Ferrovia Sorocabana em Ourinhos -SP, passaria pelo Norte do Paraná, e atravessando fronteira atingiria o Paraguai. Esta ferrovia trouxe novo alento a colonização. Chegaram compradores, que se tornaram os novos proprietários, também trabalhadores que desprovidos de capital e de crédito vendiam sua força de trabalho nesta que era para a época, a nova fronteira agrícola brasileira. Eram principalmente da região norte do Estado de Minas Gerais e do Nordeste.

É importante destacar que projeto semelhante, envolvendo ferrovia, já havia sido elaborado e apresentado pelo Barão de Mauá, ainda no século XIX, a empresários e investidores ingleses. Coincidentemente, essa ferrovia acabou sendo comprada e construída por ingleses.

2. Km 125!

Uma pergunta pode povoar a mente dos menos avisados: "Que Km 125"? ... Da ferrovia podemos responder com toda a segurança!

A cidade de Cornélio Procópio surgiu e desenvolveu-se as margens da Ferrovia São Paulo/Paraná Ferrovia esta também detentora de interessante história que se confunde ou funde-se com a própria história do Norte do Paraná.

Projetada e iniciada nos anos de 1920, a "Ferrovia São Paulo/Paraná", fazia parte de um projeto de capitalistas de São Paulo, visando um objetivo maior de atrair para aquele Estado toda a produção de café que já se iniciava no Norte do Paraná, e também toda produção agrícola que porventura surgisse na região.

A ferrovia não se limitaria apenas ao Norte do Paraná, uma vez que cortaria todo o Estado de forma diagonal até Guaíra, as margens do Rio Paraná. Vale salientar que seu início é na cidade de Ourinhos (SP), como um ramal da ferrovia denominada Sorocabana. De acordo com os projetos e idéias originais, de Guaíra a ferrovia se prolongaria até Assunção, capital do Paraguai. Era como dissemos um projeto grandioso, e também caro e dispendioso. Vencer o sertão não era o principal problema, mas sim convencer investidores e angariar capitais.

Para a construção da ferrovia, havia necessidade de autorização ou concessão do Governo Federal, fator que não era problema, pois o mesmo era influenciado por São Paulo e Minas Gerais, dentro daquilo que se convencionou chamar "política do café com leite".

Quem obteve a concessão foi o grupo econômico liderado por Antônio Barbosa Ferraz, que fez construir o primeiro trecho da ferrovia ligando Ourinhos a Cambará, até uma importante fazenda do grupo. Devido a falta de capitais a construção ficou estacionada nessa localidade por um bom tempo.

A solução para a construção viria através da venda das ações da ferrovia para empresários ingleses, atraídos pela fertilidade e disponibilidades das terras no Norte do Paraná. Diga-se de passagem a possibilidade de bons lucros foi o melhor argumento.

3. Cornélio Procópio: origens do município.

A Cidade de Cornélio Procópio, e consequentemente o município, foram fundados em terras que pertenciam a Francisco da Cunha Junqueira, inseridas em uma gleba denominada Fazenda Laranjinha. Junqueira comprou essas terras em 1923. Era comum que fazendeiros paulistas e mineiros comprassem terras nessa região, quer fosse para projetos de loteamentos e colonização, quer fossem para esperar a valorização destas glebas para posterior venda a terceiros.

Francisco Junqueira era um político paulista, e como tal envolveu-se na Revolução Constitucionalista de 1932, ao lado de seu Estado. Como foram derrotados, Francisco Junqueira acabou sendo deportado pelo Governo de Getúlio Vargas para Portugal. Em dificuldades financeiras, vendeu suas terras aqui no Paraná para a empresa de loteamentos formadas pelo Coronel Francisco Moreira da Costa e Antônio de Paiva. Antes porém. Junqueira planejou o parcelamento das propriedades de deixou planejados dois núcleos urbanos, denominados Santa Mariana em homenagem a sua esposa, Mariana e Cornélio Procópio em homenagem a seu sogro.

No intervalo entre a venda das terras por Junqueira e a posse da empresa Paiva & Moreira, algumas ruas começaram a ser ocupadas sem obedecer qualquer planejamento, ou seja algumas construções rústicas começaram a ser erguidas, fugindo ao padrão urbanístico previamente estabelecido. Os novos proprietários reordenaram a ocupação urbana e com a chegada de Ferrovia a cidade passou a crescer e a desenvolver-se. Vale a oportunidade para lembrar que os primeiros lotes urbanos foram vendidos em torno da Praça Brasil, sendo que ali na esquina da Rua Quintino Bocaiúva e Av. XV de Novembro, encontra-se o marco inicial da cidade.

A população inicial, era originária principalmente de São Paulo e Minas Gerais. Os primeiros colonizadores e desbravadores eram atraídos principalmente pela fertilidade da terra, tida como umas das melhores do Brasil. Essa fertilidade era propagada em diversas regiões. Fato interessante dos primeiros tempos de Cornélio Procópio, foi a "propaganda enganosa", se é que podemos dizer, realizada pelos ingleses, que eram donos da Ferrovia São Paulo/Paraná e das terras a oeste do Rio Tibagi, onde desenvolveu-se a cidade de Londrina. Em seus panfletos de propaganda, os ingleses constantemente aumentavam a altitude de suas terras e baixavam a das terras vizinhas de seus concorrentes. Isso se dava pelo fato de que as terras aqui da região eram procuradas para o plantio de café, cuja geada, pior inimigo, ocorre mais forte em terras baixas.

Cornélio Procópio cresceu rapidamente, dependendo administrativamente de Bandeirantes. No ano de 1938, portanto a 62 anos, uma comissão formada por moradores resolveu pleitear a emancipação política e a criação de um novo município. Faziam parte dessa comissão entre outros: José Paiva, Oscar Dantas e Américo Ugorini, que utilizando-se de um documento onde se colocavam os motivos da criação do Município, elaborado por Benjamin Soto Maior, que era administrador da Cia Barbosa, foram a Curitiba ter uma audiência com o Interventor (Governador) do Estado naquela época, Manoel Ribas.

Portando credenciais e cartas fornecidas pelas Empresas Matarazzo de São Paulo, que possuíam uma Fazenda na região, e uma carta pessoal de apresentação da própria filha de Manoel Ribas, a comissão foi recebida e expôs seus motivos e intenções.

Desta maneira, o Município de Cornélio Procópio acabou sendo criado pelo decreto nº 6.212, de 18 de janeiro de 1938, sendo que a implantação do Município deu-se dia 15 de fevereiro daquele mesmo ano, mais ainda, no mesmo oportunidade, Manoel Ribas transferiu a sede da Comarca de Jataizinho para o novo município. Cornélio Procópio de simples povoado passou a sede de Município e sede de Comarca, tudo no mesmo dia.

Desde sua emancipação política Cornélio Procópio vem crescendo e se destacando no cenário regional, como o demonstra o fato de ser sede dos núcleos regionais de diversas secretarias estaduais, como a da Educação, da Agricultura, do Trabalho, da Saúde, bem como de serviços e agências também estaduais e federais.

4. Curdos no Norte do Paraná !

A História do Norte do Paraná, é cheia de curiosidades, algumas até esquecidas, ou pouco lembradas. Fato interessante foi o da tentativa inglesa de fixar povos curdos aqui na região. Os mesmos curdos que até hoje lutam para se tornar independentes da Turquia e do Iraque, cujo líder acabou preso recentemente provocando protestos desse povo por toda a Europa.

Na mesma época em que o grupo inglês liderado por Lord Lovat adquiria terras no Norte do Paraná, companhias inglesas descobriam petróleo no norte do Iraque. Esse pais era à época uma possessão britânica, e a região em questão habitada pelos curdos que eram um povo belicoso, guerreiro e inquieto que não aceitavam o domínio inglês, nem a exploração estrangeira das suas terras. Portanto para explorar o petróleo, havia necessidade de remoção dos curdos para outra região.

Para resolver o problema, o Príncipe de Gales, que era um dos acionistas da Companhia de Terras Norte do Paraná, e Lord Lovat ofereceram em 1933, de forma sigilosa, suas terras no Norte do Paraná à Liga das Nações, em forma de arrendamento. Atitude que logo seria também apoiada secretamente pelo governo brasileiro, chefiado à época por Getúlio Vargas, uma vez que o Brasil esta endividado com Bancos Ingleses.

No ano seguinte, 1934, o assunto foi parar nos jornais. Uma forte campanha contraria a essa imigração foi desencadeada pela imprensa curitibana, sindicatos, associações de operários, entidades de profissionais liberais pressionavam o governo de Getúlio Vargas, para que voltasse atrás. Houveram reações de intelectuais, principalmente a Ordem dos Advogados do Paraná, e também de alguns professores da Universidade do Paraná.

Os motivos alegados ou as idéias básicas utilizadas na “Campanha contra a imigração dos assírios”, eram os mais variados iam desde ataques ao imperialismo britânico até a manifestações do mais puro racismo

O governo brasileiro que através do Ministério das relações exteriores já havia dado seu aval para a imigração acabou por voltar atrás diante de tanta pressão. A própria Cia de Terras Norte do Paraná, desistiu do negócio, sob as alegações de que a localização daquela gente no coração de suas terras viria desvalorizar o restante da propriedade, mais de 400.000 alqueires.

Diante da situação de extrema pressão em que se encontrava, e com a possibilidade real de uma grande desvalorização financeira de seu projeto, a Cia de Terras Norte do Paraná retornou a seus antigos objetivos, ou seja, a venda de terras:

Quanto aos curdos, encontram-se ainda hoje sem o domínio efetivo de suas terras, divididos entre a Turquia o Iraque e a ex-União Soviética, sem poder constituir um Estado livre.

A Companhia de Terras Norte do Paraná, passou então a vender em regime de pequenas propriedades, os 13.166 quilômetros quadrados de terras que haviam sido adquiridas de particulares, grileiros e posseiros e do próprio patrimônio do Estado do Paraná, as chamadas “Terras Devolutas”.



sábado, 7 de janeiro de 2006

Cultura Material

TEXTO 03:

CULTURA MATERIAL

O estudo da cultura material esteve inicialmente relacionado com a arqueologia e foi fundamental para desvendar o passado mais remoto, no qual as fontes escritas eram limitadas e fáceis de se perderem e se deteriorarem. Já há certo tempo à cultura material tornou-se importante campo de trabalho do historiador.

Leia o texto a seguir, que comenta a noção de cultura material, depois responda às questões propostas:

“(...) A noção de cultura material surgiu nas ciências humanas e em particular na história a seguir à formação da antropologia e da arqueologia e à influência do materialismo histórico. Marca distância em relação ao conceito de cultura, chamando atenção para os aspectos não simbólicos das atividades produtivas dos homens, para os produtos e os utensílios bem como para os diversos tipos de técnica (vestuário, habitação, agricultura, alimentação, cultivo, cozinha, domesticação, fogo, indústria, pesos e medidas), enfim para os materiais e os objetos concretos da vida das sociedades. O estudo da cultura material privilegia as massas em prejuízo das individualidades e das elites; dedica-se aos fatos repetidos, não ao acontecimento, não se ocupa de superestruturas, mas de infra-estruturas (...) O homem também faz parte da cultura material: o seu corpo, enquanto transmissor de signos, é igualmente importante para recompor o quadro geral de uma cultura ou civilização, tal como partindo de farrapos e moedas se pode delinear a cidade, a indústria e o comércio ou a troca, o tipo de consumo das várias classes da população. No entanto, os objetos materiais trazem consigo outras maracás inerentes às artes, ao direito , à religião, ao parentesco (...)”.

(PESEZ, Jean Marie. In: Enciclopédia Einaudi. Imprensa Nacional – Casa da Moeda. Portugal, 1989, p.26, 46-7. Também é possível encontrar esse texto em: J. Le Goff (Org). A História Nova. São Paulo: Martins, 1993. p.178-213.)

Questões:

1. Para quais objetos de estudos a noção de cultura material chama a atenção?

2. Com as investigações em torno desses objetos, que setores da vida humana o estudo da cultura material privilegia?

3. Você diria que o estudo da cultura material está mais voltado para a reconstrução dos “grandes acontecimentos” e para as pessoas “mais importantes” ou para a vida e o dia-a-dia do ser humano comum? Por quê?

4. Muito embora a designação geral de cultura material seja razoavelmente clara, como se pode perceber pelas questões anteriores, podemos afirmar que ela possui uma definição precisa?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Exercicio de Compreensão Histórica

TEXTO 02:

EXERCÍCIO BÁSICO PARA A COMPREENSÃO HISTÓRICA

Este roteiro de estudos tem por objetivo facilitar a analise dos fatos e demonstrar ao mesmo tempo, a importância de entender um assunto com lógica de raciocínio, pois só assim será possível uma análise mais crítica e dialética da História, onde os fenômenos possam ser entendidos com mais lucidez desde suas origens até suas conseqüências.

O roteiro proposto é formado apenas por cinco itens, que servem para análise dos mais diversos temas, ou seja, através de uma mesma linha de raciocínio pode-se analisar tanto uma aula sobre Reforma Religiosa, como outra sobre Revolução Francesa. Os itens do roteiro são os seguintes:


1- TEMPO / ESPAÇO;

2- CONTEXTO HISTÓRICO;

3- ANTECEDENTES;

4- O EVENTO;

5- DESDOBRAMENTOS (CONSEQÜÊNCIAS).


1. A primeira preocupação quando analisamos um acontecimento, é situa-lo no tempo e no espaço, condição elementar para compreensão de qualquer fato histórico e para criar o hábito na utilização de mapas (noção de espaço) e outras ilustrações, auxiliares na caracterização de uma certa época (noção de tempo).

2. O segundo passo é analisar o contexto histórico, isto é, a realidade histórica que cerca o fato em questão. É o ponto mais importante do roteiro, pois desmistifica a História factual, mostrando ao aluno que não existem fatos isolados e que todo acontecimento deve ser entendido à luz da realidade que o cerca. A análise do contexto permite também que o aluno relacione outros acontecimentos inseridos na mesma realidade.

3. Na análise do próprio contexto encontramos os antecedentes (terceiro passo de nosso roteiro), onde perceberemos os fatores estruturais e conjunturais, além de seus determinantes mais específicos e até acontecimentos sem muita importância estrutural, mas que catalisam o processo em direção ao evento estudado.

4. Após os antecedentes, analisaremos o fato, o evento propriamente dito, através de suas características e seu significado histórico.

5. Com a preocupação de estabelecer uma relação com um próximo evento, vamos conhecer os desdobramentos onde estabeleceremos um gancho para analisar um próximo assunto, utilizando o mesmo roteiro de análise, ou seja:

EXEMPLOS:

Exemplificaremos o roteiro, supondo o estudo da Primeira Guerra Mundial:

A) ESPAÇO/TEMPO:

· Europa: início do século XX

B) CONTEXTO HISTÓRICO:

· Neocolonialismo

· Política de Alianças

· Paz Armada

C) ANTECEDENTES:

· Disputa de mercados neocolonialista

· Divergências político-econômicas e revanchismos

· Nacionalismos e antagonismos entre os impérios

· O assassinato de Francisco Ferdinando

D) A GUERRA:

· O início

· Blocos militares em conflito

· Etapas

· O ano de 1917

· O término do conflito

E) DESDOBRAMENTOS:

· Tratado de Versalhes

· Fim da hegemonia européia

· Desintegração dos impérios

· Novas nações

· EUA como potência hegemônica

· Liga das Nações

· Revanchismo alemão

· Fortalecimento do nacionalismo (nazifascismo)

Como já foi observado, quando analisamos os desdobramentos, já introduzimos o próximo assunto (no caso abaixo o nazifascismo), analisando-o através do mesmo roteiro:

A) ESPAÇO / TEMPO:

· Europa (Itália/Alemanha): anos 1920 e 1930

B) CONTEXTO HISTÓRICO:

· Crise das democracias liberais na Europa

· Superprodução nos EUA e crise de 1929

· Isolamento e crescimento da URSS

C) ANTECEDENTES:

· Crise européia no pós-guerra, agravada na Alemanha pelas imposições do Tratado de Versalhes

· Crescimento dos grupos políticos de esquerda

· Greve Geral convocada na Itália por anarquistas e socialistas

· Crescimento nazista nas eleições de 1932

D) DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS:

· Movimento político-ideológico antidemocrático que governou países europeus no “entre-guerras”

· O totalitarismo; o nacionalismo; o anticomunismo; o antiliberalismo; o militarismo; o expansionismo; o corporativismo fascista; o anti-semitismo nazista.

E) DESDOBRAMENTOS:

· Recuperação econômica alemã com obras públicas e indústria bélica

· Militarismo expansionista

· Segunda Guerra Mundial

Ao estudarmos a Segunda Guerra Mundial com o roteiro já conhecido, chegaremos aos Desdobramentos, que introduz o contexto da “Guerra Fria” (desenvolvimento, apogeu e crise), direcionando para nova ordem pós-socialismo até os dias atuais.

Este texto foi elaborado tendo como base o documento "Dicas para o Vestibular", copiado em 12 de Dezembro de 2002 do seguinte endereço: http://www.historianet.com.br/main/conteudos.asp?conteudo=452

História - Definições e Conceitos

TEXTO 01:
A palavra “História”
Os gregos foram os primeiros a utilizá-la: histor, originalmente, significava aquele que apreende pelo olhar, aquele que sabe, o testemunho, aquele que testemunhou com seus próprios olhos os acontecimentos, e “História” (his + oren) significava apreender pelo olhar aquilo que se sucede dinamicamente, ou seja, testemunhar os acontecimentos, a realidade.
Quando Heródoto, deu o título de Histórias ao resultado de suas pesquisas acerca da Guerras Greco-Pérsicas, o termo assumiu o sentido particular de busca de busca do conhecimento das coisas humanas, de saber histórico.
Esta evolução parece estar terminada na época de Políbio, no século II a.C. Com a reserva de que, como saber histórico daqueles tempos não conhecia o rigor atualmente exigido, associando-se ainda as fábulas e as lendas aos fatos precisos, a palavra empregada para designar o saber histórico significava: narrativa.
Como já vimos a palavra “História” originou-se do grego “istria e passou através do latim, para grande parte dos idiomas modernos significando não só o estudo e a exposição dos fatos do passado da humanidade mas também os próprios fatos. A palavra “História”, é, modernamente, empregada em dois sentidos distintos: subjetivo e objetivo. Quando falamos em “História” como estudo, conhecimento ou exposição dos fatos do passado humano, estamos usando o termo no sentido subjetivo. neste sentido é que podemos dizer: “A História do Brasil é fácil”. Quando porém, empregamos a palavra “História” para designar os fatos do passado da, estamos fazendo uso do vocábulo em seu sentido objetivo, isto é, estamos pensando no objeto dos estudos históricos, que são os próprios acontecimentos.
Ainda hoje a palavra história é polissêmica, tendo três sentidos básicos ao se referir:
1. Aos fatos e aos processos reais ocorridos no espaço e no tempo.
2. À ciência ou à disciplina científica que estuda os fatos e processos, e cujos especialistas são historiadores.
3. Ao conjunto das obras que narram os fatos e os processos e são resultado do trabalho dos historiadores.
2. Definição de História
Após os comentários sobre a palavra “História” e sobre as grandes etapas percorridas pela historiografia, procuremos definir a História de acordo com a acepção cientifica que modernamente se atribui ao vocábulo. As definições dão muitas vezes margem a dúvidas e a infindas e estéreis discussões. Foge a finalidade deste trabalho fazer dissertações eruditas sobre o assunto. Vejamos a título de exemplo algumas definições de História:
  • A História é a ciência dos atos humanos do passado e dos vários fatores que nele influíram, vistos na sua sucessão temporal”.
  • A ciência histórica estuda e expõe os fatos do desenvolvimento do homem nas suas manifestações (singulares, típicas e coletivas) como ser social no tempo e no espaço”.
  • A História é o conhecimento do passado humano”.
Como vemos, vale aqui o famoso provérbio; “... Quot capita, tot sententiae! ...”. Quantas cabeças tantas sentenças!
Sem maiores pretensões, vamos apresentar e comentar uma singela definição que ao menos implicitamente, contem os elementos indispensáveis para que todos os tenham uma exata compreensão do que se deva entender modernamente por História:
Exposição verídica dos principais acontecimentos do passado da Humanidade, considerados em suas causas e conseqüências”.
Comentemos brevemente essa definição:
  • Exposição: a exposição supõe evidentemente um trabalho criterioso de investigação e, claro está o conhecimento do resultado dessa investigação;
  • Verídica: significa que a exposição histórica deve fundamentar-se em fontes fidedignas;
  • Principais acontecimentos: só interessam ao historiador os acontecimentos que tiveram certa repercussão social, (como, v.g., o assassinato de Júlio César) ou que em seu conjunto, servem para caracterizar uma sociedade, uma época, um estilo de vida, etc. (como, v.g., a maneira de vestir, os aspectos da vida cotidiana, etc);
  • Passado da Humanidade: o objeto próprio da História são os atos praticados, no passado, pelo homem como animal racional. o passado pode ser remoto ou próximo; no ultimo caso é objeto da chamada história Contemporânea. Veremos, mais adiante, a importância do papel do ser humano na História bem como a utilidade do conhecimento do passado;
  • Considerados em suas causas e conseqüências: a História é ciência não só porque a exposição histórica supõe uma série de pesquisas de caráter científico mas também porque obedece ao princípio eminentemente científico de indagar das causas e das conseqüências dos acontecimentos, mostrando o encadeamento dos mesmos através dos séculos.

"SE ESTE TEXTO SOBRE O CONCEITO E A DEFINIÇÃO DE HISTÓRIA LHE FOI ÚTIL ENVIE UM E-MAIL PARA bondarik@utfpr.edu.br "