Soluções tecnológicas para a agricultura brasileira em tempos de Guerra
Roberto
Bondarik
Professor Titular da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio
Os
problemas decorrentes de uma guerra acabam acelerando o desenvolvimento
tecnológico e a aplicação das suas soluções, com inovações e sua difusão. Uma
longa lista enumera esses produtos, processos e sistemas que até são comuns em
nosso cotidiano, entre eles: forno de micro-ondas; produção em massa de
antibióticos; computadores e internet; o café solúvel, difundido durante a
Guerra Civil norte-americana; a margarina que substituiu a manteiga; o serviço
de ambulâncias, surgido na Espanha em 1487, inspirando sistemas como o SAMU;
etc. A recente guerra na Ucrânia, decorrente da sua invasão pela Rússia, fez
aflorar a busca por soluções tecnológicas para os problemas que dela advém, inclusive
para o Brasil.
Aquela
região do Leste Europeu fornece produtos importantes para o nosso País, em
destaque os componentes para os fertilizantes utilizados pela agricultura
(nitrogênio, fósforo e potássio), e o trigo essencial para o pão nosso de cada
dia. Projetos para identificação e exploração das jazidas de potássio voltaram
a ser discutidos, quanto aos outros dois componentes principais dos
fertilizantes industriais, a solução está vindo dos tubos de ensaio,
microscópios, das observações, dos insights e dedicação de pesquisadores
brasileiros, em especial da Embrapa.
Londrina
possui um centro de pesquisas da Embrapa, dedicado ao estudo da soja, onde
trabalha a Drª Mariângela Hungria, listada entre cem maiores pesquisadores do
mundo conforme noticiado pela Folha de Londrina, em 07 de Maio de 2021, e que publicou uma entrevista com
ela. Mariângela Hungria desenvolveu um estudo com bactérias que auxiliam e aumentam
a fixação de nitrogênio em plantas e no solo, resultando em um inoculante que
utilizado promove a redução dos custos de produção. Esta solução já está sendo
comercializada e passou a ser utilizada por inúmeros agricultores. A
pesquisadora listou as dificuldades que encontrou para desenvolver o trabalho, desde
o descaso até a falta de investimentos governamentais, essenciais, porque as
pesquisas longas, não atraem o interesse da iniciativa privada.
A solução para o fósforo
demorou vinte anos. Boa parte do fósforo não absorvida pelas plantas,
permanecendo inerte no solo, um valor estimado em 2019, em cerca de 40 bilhões
de dólares, algo como 200 bilhões de reais. Coube à Embrapa Milho e Sorgo
desenvolver uma solução com base no uso de duas bactérias, uma que libera o
fósforo do solo e outra que permite a sua absorção e utilização pelas plantas.
O inoculante resultante do trabalho, que está sendo comercializado, após duas
décadas, comprova a necessidade de investimentos governamentais em pesquisa na
área. Se a produção agrícola é essencial para economia brasileira, os
investimentos em pesquisa no setor deveriam ser considerados estratégicos e
tratados como tal pelo governo e pela sociedade. Importar tecnologia pronta tem
se mostrado mais cara e menos eficaz do que se imagina.
Por fim, a falta do trigo
ucraniano fez despertar o interesse de produtores por variedades deste cereal
adaptadas ao clima mais quente que o Sul do Brasil, área do seu maior cultivo.
Novamente a Embrapa Trigo, do Rio Grande do Sul, desenvolveu cultivares de
trigo para o cerrado brasileiro e que agora, em virtude da guerra, ganham
relevância econômica, podendo o Brasil passar a produzir boa parte do que
consome e substituir as importações hoje encarecidas.
Infelizmente a guerra pode
mostrar o trabalho hercúleo que pesquisadores, sem verbas e recursos,
desenvolveram com seus trabalhos. É muito gratificante termos no Norte do
Paraná cientistas como Mariângela Hungria e centros como a Embrapa que
demonstram a importância da ciência e da formação de cientistas para o
desenvolvimento de nossa sociedade.