sábado, 14 de dezembro de 2019

História do Norte Pioneiro do Paraná - origens


História do Norte Pioneiro do Paraná - Origens

Prof. Roberto Bondarik, Dr.
Palestrante, Docente e Pesquisador
 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio


Este texto surgiu de uma entrevista que dei à Mariana Tomeli, jornalista, que elaborou o “Anuário Estatístico do Norte Pioneiro do Paraná”, lançado neste fim do ano de 2019.
  
1 – O início da colonização
Há que primeiro, delimitarmos geograficamente essa vasta região denominada Norte Pioneiro do Paraná. Ao Norte e ao Leste as divisas com o Estado de São Paulo, com os rios Paranapanema e Itararé, respectivamente, ao Oeste o rio Tibagi e ao sul os serros onde nascem os rios das Cinzas, Laranjinha, Jacaré e Congonhas. O Norte Pioneiro é formado pelas bacias hidrográficas destes rios, uma região cujo clima foi suportado pelo café, em seu apogeu. A Região já foi chamada, no século XIX de “Valuto”, em referência às terras devolutas ou públicas ali existentes, “Panema” em referência ao rio e Ramal do Paranapanema devido a construção da ferrovia entre Jaguariaíva e Jacarezinho.
            A ocupação em definitivo da região deu-se a partir de meados do século XIX, porém antes disso bandeirantes paulistas, com certeza a exploraram ou em busca de ouro, pedras preciosas ou indígenas para o trabalho cativo (escravidão). Padres jesuítas também, nos séculos XVI e XVII devem ter feito por ai suas andanças com o desejo de salvar as almas dos gentios que ela habitavam.
Nelson Tomazi, sociólogo, destaca que povos indígenas, em especial os Xetá e o Kaingang já habitavam o Norte Pioneiro desde pelo menos sete mil anos atrás, conforme achados de restos de cerâmica, utensílios de pedra e urnas funerárias. Desta forma nem a terra era vazia e muito menos a mata era virgem quando foi ocupada e colonizada por paranaenses, paulistas e mineiros.

2 – O Processo de Ocupação
 O processo de ocupação da Região deu-se por várias frentes bastantes distintas, separadas e em momentos distintos da história. Posso destacar alguns acontecimentos que tiveram repercussão e influenciaram a ocupação da região, a partir de São José da Boa Vista, São Jeronimo da Serra e Jacarezinho.
            O primeiro deles ocorre entre os anos de 1842-43, quando são lançadas as bases do Patrimônio de São José do Cristianismo, mesmo com sua fundação oficial registrada como sendo 1848, foi sede de distrito e comarca. Estabelecido na confluência do Ribeirão da Pescaria com o Rio Itararé, a localidade foi fundada pela ação de Domiciano Corrêa Machado, tropeiro, oriundo de Minas Gerais. É possível que outros mineiros, envolvidos com a Revolução Liberal de 1842 e temendo pela repressão, o tenham acompanhado. A localidade prosperou e serviu de apoio aos colonizadores mineiros e paulistas que por ali passavam para adentrar em direção aos sertões do Rio das Cinzas e do Rio Laranjinha. Conforme Ruy C. Wachowicz que o estabelecimento das posses e seu desenvolvimento eram difíceis e custosos para serem conduzidos. Logo em 1853 fundam São José da Boa Vista. Outro mineiro importante foi o major Thomaz Pereira de Sousa, que em 1867 lançou as bases de Thomazina, acompanhado de mais de duzentas pessoas. Também outro acontecimento nacional pode ter influenciado essa migração, a Guerra com o Paraguai e o decorrente recrutamento de soldados e os impostos para a sua manutenção. Até o final do século XIX a abertura de posses e fazendas é uma atividade muito custosa, apenas os fazendeiros mais abastados conseguiam manter-se na região. Os meios de transporte eram limitados, as estradas rudimentares, a produção era para a subsistência, havendo alguma criação de suínos, o plantio e o beneficiamento do tabaco para ser vendido às outras regiões. Desta frente mineira surgiram localidades como Siqueira Campos, Wenceslau Braz e diversos distritos. Na confluência do Itararé com o Paranapanema, registra-se nesta época a residência de Maria Ferreira em local onde se desenvolve um porto fluvial, área de entrada para a atual Ribeirão Claro.
            Outra frente de ocupação teve início quando João da Silva Machado, Barão de Antonina, também tropeiro, resolveu investir no estabelecimento de uma rota terrestre e fluvial que ligasse o litoral do Paraná até Cuiabá, no Mato Grosso. Foram empreendidas inúmeras expedições de exploração por toda a bacia dos rios Itararé, Tibagi, Paranapanema e Ivai. Destaca-se a ação do cartógrafo norte-americano John Henry Elliot que mapeou toda a região. Foi estabelecida uma estrada entre a cidade de Tibagi e a Colônia Militar do Jatahy (Jataizinho) que foi estabelecida em 1855. Surge também neste processo São Jerônimo da Serrra onde se destacava a presença de índios no aldeamento que ai estabelecido. As expedições do Barão tomaram posse de importantes áreas, em geral campos abertos: Santa Barbara, a bacia do Rio Congonhas. Nesta se constituiu a fazenda do mesmo nome, terras onde se formaria parte de Cornélio Procópio. Até a chegada da ferrovia em Jataizinho em 1931 não haveria maior desenvolvimento nesta frente.
            Em Jacarezinho, a partir de 1888, registra-se as presenças de Severo Batista e Antonio Alcântara da Fonseca Guimarães, que chegou a localidade a frente, também, de um grande número de pessoas. Após uma disputa pela posse das áreas Jacarezinho se desenvolve com o nome de Nova Alcântara e Ourinho. Em 1895 foi feita uma picada ligando o povoado até Thomazina, assim se ocupou Santo Antonio da Platina e deu-se origem a dois povoados: Sapé e Barra Grande, atual Guapirama. Esta ligação, chamada depois de estrada velha, foi marcante na história pouco lembrada, porque por ela o Norte Pioneiro começou a tornar-se paranaense de fato. Em 1903 foi aberta uma estrada pelo engenheiro Carlos Boromei, fazendeiro em Jacarezinho, ligando o município até Colônia Mineira (Siqueira Campos). A falta de povoações e abrigos neste trecho levou ao abandono desta rota que seria aproveitada em parte para a construção do Ramal do Paranapanema entre 1912 e 1930, ligando Jaguariaiva a Jacarezinho.
Na passagem para o século XX, toda a região explorava, de forma intensa, a criação de suinos para a produção de banha, um sistema chamado de safra. Na ausência de boas estradas para escoar a produção agrícola, optou-se por criar os animais soltos no meio da plantação quando estive pronta. Havia safra com mais de cinco mil animais que do sertão de Thomazina, Curiuva, Jundiai do Sul, Ribeirão do Pinhal, Jacarezinho, eram tropeados até cidades de São Paulo onde eram embarcados em trens até o mercado consumidor.
            A chegada da Ferrovia Sorocabana em Ourinhos-SP, em 1908 fez mudar o perfil econômico da região. A fertilidade da terra atraiu cafeicultores de São Paulo e Minas Gerais, um novo tipo de colonizador de perfil mais empresarial, com recursos financeiros a disposição. Neste momento ganha impulso Cambará, ocupada desde 1904 por Alexandre Dutra, a partir de 1910 começa a atuar o empresário e investidor que de fato deu um perfil capitalista à ocupação do Norte Pioneiro: Antonio Barbosa Ferraz Junior. Com seus filhos ele constituiu a Companhia Agrícola Barbosa, que impulsionou a cafeicultura, construiu a Ferrovia São Paulo – Paraná que chegou a Cambará em 1924. Também atraiu os investidores britânicos da Paraná Plantations que assumiram a ferrovia, estabeleceram a Companhia de Terras Norte do Paraná e colonizaram Londrina e Maringá. A CIA Barbosa adquiriu a Fazenda Congonhas, fomentou a criação de localidades como Cornélio Procópio e Congonhas, ainda em 1924. A ferrovia, nas duas regiões, instalou a indústria madeireira, alavancou mais ainda a produção de suínos e incentivou a cafeicultura.

3 – A economia inicial
Inicialmente a produção de suínos ou safra até o fechamento do Frigorifico Matarazzo em Jaguariaiva na década de 1940. Com a ferrovia ganhou corpo a extração e o beneficiamento de madeira. Ibaiti, Siqueira Campos e Figueira tiveram na extração de carvão mineral alguns bons momentos econômicos. Depois a cafeicultura reinou absoluta até ser erradicada completamente em 1975 produzindo um imenso êxodo rural na região.

4 – Nomes de destaque no processo de ocupação do Norte Pioneiro do Paraná
Domiciano Corrêa Machado – São José do Cristianismo;
Major Tomas Pereira de Souza – Thomazina;
João da Silva Machado – Barão de Antonina;
John Henry Elliot – Cartógrafo;
Antonio Alcântara da Fonseca Guimarães – Jacarezinho;
Antonio Barbosa Ferraz Junior – Empresário de Cambará.

5 – A Geologia da Região
Ao dividirmos a região em três partes, a partir das nascentes dos seus grandes rios, as duas primeiras são formadas por sedimentos paleozoicos. Sua formação data de um período entre 570 e 245 milhões de anos. O terço superior, a partir da Serra da Esperança, é formado pelos derrames basálticos mesozoicos, de 230 a 65 milhões de anos, em outras palavras trata-se da área com terra roxa.

6 – Utilização do solo
Sua fertilidade originalmente era imensa, hoje em virtude dos recursos tecnológicos torna-se indiscutível. Talvez alguns aspectos ligados ao clima ou microclima indiquem uma ou outra cultura mais adequada a cada lugar.

7 – Recursos hidricos
Existem rios com grande fluxo de água, porém devido a ser uma região de planalto, os cursos são acidentados o que impediu a navegação.
De uma forma geral a região é bem servida por cursos de água.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Os Dados são o Novo Petróleo?

Os dados são o novo Petróleo?
Prof. Roberto Bondarik, Dr.

Palestrante, Docente e Pesquisador da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio

            A atual Revolução Tecnológica, baseada na computação e no desenvolvimento exponencial dos sistemas de comunicação, da Internet e da economia digital, fez surgir a crença de que os dados seriam o novo petróleo, uma nova fonte de riqueza a ser explorada. O petróleo é uma fonte de energia que movimentou o mundo desde a Segunda Revolução Industrial (1870-1969) ou Revolução 2.0, moldando o atual nível de desenvolvimento humano, o motor a explosão revolucionou a mobilidade de pessoas e produtos, aqueceu as pessoas, movimentou a indústria, gerou eletricidade, aumentou a produção agrícola, fez surgir novos materiais, etc. Também poluiu o ar, as águas, basta ver o que a carga de óleo de um navio quando lançada ao mar é capaz de fazer com a vida marinha e também com a humana. O tratamento indevido dos dados pode poluir nosso ambiente, causar danos individuais, coletivos ou sociais, transformar nossos hábitos para o bem ou para o mal.


A indústria do Petróleo transformou a produção, a economia, a sociedade e a cultura do século XX
(Fonte: Revista Scientific American, Capa, 1906-12-16)
            O uso da internet possibilitou uma fonte quase que inesgotável de dados, pessoais ou de grupos em potencial, advindos do uso de navegadores, buscadores, provedores, e-commerce, e-mail's, redes sociais etc. Serviços que aparentemente gratuito coletam e selecionam os dados de seus usuários de forma aberta ou velada e, com certeza para poderem negociá-los ou fazer uso na alavancagem de seus produtos ou serviços. Vale uma máxima já comum: "se você está usando um produto na internet e não está pagando por ele, fique atento, o produto pode ser você mesmo!".

Dados são o novo Petróleo(Fonte: Gravura de David Parkins, disponível em < https://iamahmedkhalifa.com/blog/becoming-gdpr-compliant/> acesso em 12 de dezembro de 2019)
O dado como fonte de riqueza depende não apenas da sua captação, mas também das habilidades necessárias ao seu tratamento. O perfilamento individual ou coletivo, depende do nível de preparação analistas cujos conhecimentos já assimilados poderão dar ou não valor as dado coletado, dando-lhe o devido tratamento, análise, extraindo-lhes informação que será aplicada no atendimento de necessidades já identificadas. Quer seja a identificação de consumidores em potencial para um determinado produto, direcionando assim uma propaganda específica ou, ainda, pessoas que por seus hábitos, cultura demonstrada e outras expressões, estejam mais propícios a receber a mensagem de determinado candidato em uma eleição. Hábitos de consumo que podem ser potencializados, pensamentos e comportamentos que podem singularizar grupos e dar-lhes ou sugerir objetivos. O advento da tecnologia 5G pelos sistemas de telefonia móvel, com leilões previstos para 2020 no Brasil, permitirão equipamentos de transmissão vinte vezes mais velozes, permitindo a coleta de dados e sua transformação em informação em tempo quase real. Será produzido um conhecimento tamanho que poderão ser utilizados na melhoria da produção, circulação e consumo de novo produtos, novos processos. A capacidade educacional do Brasil deverá ser exigida ao máximo, tornando necessária a capacitação e qualificação de profissionais que possam atual neste cenário novo, desde a escola até a gondola do supermercado, atingindo todos os setores da economia.
Se o processo de obtenção de dados pode ocorrer de forma clara, espontânea ou mesmo veladamente, a sua utilização deve respeitar alguns princípios, tornados oficiais no Brasil pela promulgação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a Lei nº 13.709/2018 que terá seu vigor a partir de Agosto de 2020. A Lei estabelece que o tratamento de dados por meio eletrônico ou analógico, ocorrerá com o consentimento do seu titular, no cumprimento da lei,  de obrigações legal ou contratual e em proteção à vida. Esse consentimento pode ser incluído no "li e concordo com estes termos", um clique em muitos sites. Por tratamento entenda-se todas as possibilidades que envolvam o uso de dados, a lei estabelece que que esse processo deve ser pautado pela boa fé, dentro dos limites da finalidade do uso, sua adequação, necessidade e segurança. Quem a desrespeitar poderá pagar multas de até dois por cento do faturamento do grupo a quem pertencer a empresa e de até R$ 50 milhões por infração.
            Em tempos de conexão tão elevada à Web, com a possibilidade de isso se torne cada vez mais comum e rápido, cabe a cada um de nós, usuários, tomarmos o devido cuidado para não sermos negociados tão facilmente como um novo produto. Evitar a manipulação de dados e a desinformação é nossa obrigação como cidadãos de uma democracia.