sábado, 14 de dezembro de 2019

História do Norte Pioneiro do Paraná - origens


História do Norte Pioneiro do Paraná - Origens

Prof. Roberto Bondarik, Dr.
Palestrante, Docente e Pesquisador
 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio


Este texto surgiu de uma entrevista que dei à Mariana Tomeli, jornalista, que elaborou o “Anuário Estatístico do Norte Pioneiro do Paraná”, lançado neste fim do ano de 2019.
  
1 – O início da colonização
Há que primeiro, delimitarmos geograficamente essa vasta região denominada Norte Pioneiro do Paraná. Ao Norte e ao Leste as divisas com o Estado de São Paulo, com os rios Paranapanema e Itararé, respectivamente, ao Oeste o rio Tibagi e ao sul os serros onde nascem os rios das Cinzas, Laranjinha, Jacaré e Congonhas. O Norte Pioneiro é formado pelas bacias hidrográficas destes rios, uma região cujo clima foi suportado pelo café, em seu apogeu. A Região já foi chamada, no século XIX de “Valuto”, em referência às terras devolutas ou públicas ali existentes, “Panema” em referência ao rio e Ramal do Paranapanema devido a construção da ferrovia entre Jaguariaíva e Jacarezinho.
            A ocupação em definitivo da região deu-se a partir de meados do século XIX, porém antes disso bandeirantes paulistas, com certeza a exploraram ou em busca de ouro, pedras preciosas ou indígenas para o trabalho cativo (escravidão). Padres jesuítas também, nos séculos XVI e XVII devem ter feito por ai suas andanças com o desejo de salvar as almas dos gentios que ela habitavam.
Nelson Tomazi, sociólogo, destaca que povos indígenas, em especial os Xetá e o Kaingang já habitavam o Norte Pioneiro desde pelo menos sete mil anos atrás, conforme achados de restos de cerâmica, utensílios de pedra e urnas funerárias. Desta forma nem a terra era vazia e muito menos a mata era virgem quando foi ocupada e colonizada por paranaenses, paulistas e mineiros.

2 – O Processo de Ocupação
 O processo de ocupação da Região deu-se por várias frentes bastantes distintas, separadas e em momentos distintos da história. Posso destacar alguns acontecimentos que tiveram repercussão e influenciaram a ocupação da região, a partir de São José da Boa Vista, São Jeronimo da Serra e Jacarezinho.
            O primeiro deles ocorre entre os anos de 1842-43, quando são lançadas as bases do Patrimônio de São José do Cristianismo, mesmo com sua fundação oficial registrada como sendo 1848, foi sede de distrito e comarca. Estabelecido na confluência do Ribeirão da Pescaria com o Rio Itararé, a localidade foi fundada pela ação de Domiciano Corrêa Machado, tropeiro, oriundo de Minas Gerais. É possível que outros mineiros, envolvidos com a Revolução Liberal de 1842 e temendo pela repressão, o tenham acompanhado. A localidade prosperou e serviu de apoio aos colonizadores mineiros e paulistas que por ali passavam para adentrar em direção aos sertões do Rio das Cinzas e do Rio Laranjinha. Conforme Ruy C. Wachowicz que o estabelecimento das posses e seu desenvolvimento eram difíceis e custosos para serem conduzidos. Logo em 1853 fundam São José da Boa Vista. Outro mineiro importante foi o major Thomaz Pereira de Sousa, que em 1867 lançou as bases de Thomazina, acompanhado de mais de duzentas pessoas. Também outro acontecimento nacional pode ter influenciado essa migração, a Guerra com o Paraguai e o decorrente recrutamento de soldados e os impostos para a sua manutenção. Até o final do século XIX a abertura de posses e fazendas é uma atividade muito custosa, apenas os fazendeiros mais abastados conseguiam manter-se na região. Os meios de transporte eram limitados, as estradas rudimentares, a produção era para a subsistência, havendo alguma criação de suínos, o plantio e o beneficiamento do tabaco para ser vendido às outras regiões. Desta frente mineira surgiram localidades como Siqueira Campos, Wenceslau Braz e diversos distritos. Na confluência do Itararé com o Paranapanema, registra-se nesta época a residência de Maria Ferreira em local onde se desenvolve um porto fluvial, área de entrada para a atual Ribeirão Claro.
            Outra frente de ocupação teve início quando João da Silva Machado, Barão de Antonina, também tropeiro, resolveu investir no estabelecimento de uma rota terrestre e fluvial que ligasse o litoral do Paraná até Cuiabá, no Mato Grosso. Foram empreendidas inúmeras expedições de exploração por toda a bacia dos rios Itararé, Tibagi, Paranapanema e Ivai. Destaca-se a ação do cartógrafo norte-americano John Henry Elliot que mapeou toda a região. Foi estabelecida uma estrada entre a cidade de Tibagi e a Colônia Militar do Jatahy (Jataizinho) que foi estabelecida em 1855. Surge também neste processo São Jerônimo da Serrra onde se destacava a presença de índios no aldeamento que ai estabelecido. As expedições do Barão tomaram posse de importantes áreas, em geral campos abertos: Santa Barbara, a bacia do Rio Congonhas. Nesta se constituiu a fazenda do mesmo nome, terras onde se formaria parte de Cornélio Procópio. Até a chegada da ferrovia em Jataizinho em 1931 não haveria maior desenvolvimento nesta frente.
            Em Jacarezinho, a partir de 1888, registra-se as presenças de Severo Batista e Antonio Alcântara da Fonseca Guimarães, que chegou a localidade a frente, também, de um grande número de pessoas. Após uma disputa pela posse das áreas Jacarezinho se desenvolve com o nome de Nova Alcântara e Ourinho. Em 1895 foi feita uma picada ligando o povoado até Thomazina, assim se ocupou Santo Antonio da Platina e deu-se origem a dois povoados: Sapé e Barra Grande, atual Guapirama. Esta ligação, chamada depois de estrada velha, foi marcante na história pouco lembrada, porque por ela o Norte Pioneiro começou a tornar-se paranaense de fato. Em 1903 foi aberta uma estrada pelo engenheiro Carlos Boromei, fazendeiro em Jacarezinho, ligando o município até Colônia Mineira (Siqueira Campos). A falta de povoações e abrigos neste trecho levou ao abandono desta rota que seria aproveitada em parte para a construção do Ramal do Paranapanema entre 1912 e 1930, ligando Jaguariaiva a Jacarezinho.
Na passagem para o século XX, toda a região explorava, de forma intensa, a criação de suinos para a produção de banha, um sistema chamado de safra. Na ausência de boas estradas para escoar a produção agrícola, optou-se por criar os animais soltos no meio da plantação quando estive pronta. Havia safra com mais de cinco mil animais que do sertão de Thomazina, Curiuva, Jundiai do Sul, Ribeirão do Pinhal, Jacarezinho, eram tropeados até cidades de São Paulo onde eram embarcados em trens até o mercado consumidor.
            A chegada da Ferrovia Sorocabana em Ourinhos-SP, em 1908 fez mudar o perfil econômico da região. A fertilidade da terra atraiu cafeicultores de São Paulo e Minas Gerais, um novo tipo de colonizador de perfil mais empresarial, com recursos financeiros a disposição. Neste momento ganha impulso Cambará, ocupada desde 1904 por Alexandre Dutra, a partir de 1910 começa a atuar o empresário e investidor que de fato deu um perfil capitalista à ocupação do Norte Pioneiro: Antonio Barbosa Ferraz Junior. Com seus filhos ele constituiu a Companhia Agrícola Barbosa, que impulsionou a cafeicultura, construiu a Ferrovia São Paulo – Paraná que chegou a Cambará em 1924. Também atraiu os investidores britânicos da Paraná Plantations que assumiram a ferrovia, estabeleceram a Companhia de Terras Norte do Paraná e colonizaram Londrina e Maringá. A CIA Barbosa adquiriu a Fazenda Congonhas, fomentou a criação de localidades como Cornélio Procópio e Congonhas, ainda em 1924. A ferrovia, nas duas regiões, instalou a indústria madeireira, alavancou mais ainda a produção de suínos e incentivou a cafeicultura.

3 – A economia inicial
Inicialmente a produção de suínos ou safra até o fechamento do Frigorifico Matarazzo em Jaguariaiva na década de 1940. Com a ferrovia ganhou corpo a extração e o beneficiamento de madeira. Ibaiti, Siqueira Campos e Figueira tiveram na extração de carvão mineral alguns bons momentos econômicos. Depois a cafeicultura reinou absoluta até ser erradicada completamente em 1975 produzindo um imenso êxodo rural na região.

4 – Nomes de destaque no processo de ocupação do Norte Pioneiro do Paraná
Domiciano Corrêa Machado – São José do Cristianismo;
Major Tomas Pereira de Souza – Thomazina;
João da Silva Machado – Barão de Antonina;
John Henry Elliot – Cartógrafo;
Antonio Alcântara da Fonseca Guimarães – Jacarezinho;
Antonio Barbosa Ferraz Junior – Empresário de Cambará.

5 – A Geologia da Região
Ao dividirmos a região em três partes, a partir das nascentes dos seus grandes rios, as duas primeiras são formadas por sedimentos paleozoicos. Sua formação data de um período entre 570 e 245 milhões de anos. O terço superior, a partir da Serra da Esperança, é formado pelos derrames basálticos mesozoicos, de 230 a 65 milhões de anos, em outras palavras trata-se da área com terra roxa.

6 – Utilização do solo
Sua fertilidade originalmente era imensa, hoje em virtude dos recursos tecnológicos torna-se indiscutível. Talvez alguns aspectos ligados ao clima ou microclima indiquem uma ou outra cultura mais adequada a cada lugar.

7 – Recursos hidricos
Existem rios com grande fluxo de água, porém devido a ser uma região de planalto, os cursos são acidentados o que impediu a navegação.
De uma forma geral a região é bem servida por cursos de água.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Os Dados são o Novo Petróleo?

Os dados são o novo Petróleo?
Prof. Roberto Bondarik, Dr.

Palestrante, Docente e Pesquisador da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio

            A atual Revolução Tecnológica, baseada na computação e no desenvolvimento exponencial dos sistemas de comunicação, da Internet e da economia digital, fez surgir a crença de que os dados seriam o novo petróleo, uma nova fonte de riqueza a ser explorada. O petróleo é uma fonte de energia que movimentou o mundo desde a Segunda Revolução Industrial (1870-1969) ou Revolução 2.0, moldando o atual nível de desenvolvimento humano, o motor a explosão revolucionou a mobilidade de pessoas e produtos, aqueceu as pessoas, movimentou a indústria, gerou eletricidade, aumentou a produção agrícola, fez surgir novos materiais, etc. Também poluiu o ar, as águas, basta ver o que a carga de óleo de um navio quando lançada ao mar é capaz de fazer com a vida marinha e também com a humana. O tratamento indevido dos dados pode poluir nosso ambiente, causar danos individuais, coletivos ou sociais, transformar nossos hábitos para o bem ou para o mal.


A indústria do Petróleo transformou a produção, a economia, a sociedade e a cultura do século XX
(Fonte: Revista Scientific American, Capa, 1906-12-16)
            O uso da internet possibilitou uma fonte quase que inesgotável de dados, pessoais ou de grupos em potencial, advindos do uso de navegadores, buscadores, provedores, e-commerce, e-mail's, redes sociais etc. Serviços que aparentemente gratuito coletam e selecionam os dados de seus usuários de forma aberta ou velada e, com certeza para poderem negociá-los ou fazer uso na alavancagem de seus produtos ou serviços. Vale uma máxima já comum: "se você está usando um produto na internet e não está pagando por ele, fique atento, o produto pode ser você mesmo!".

Dados são o novo Petróleo(Fonte: Gravura de David Parkins, disponível em < https://iamahmedkhalifa.com/blog/becoming-gdpr-compliant/> acesso em 12 de dezembro de 2019)
O dado como fonte de riqueza depende não apenas da sua captação, mas também das habilidades necessárias ao seu tratamento. O perfilamento individual ou coletivo, depende do nível de preparação analistas cujos conhecimentos já assimilados poderão dar ou não valor as dado coletado, dando-lhe o devido tratamento, análise, extraindo-lhes informação que será aplicada no atendimento de necessidades já identificadas. Quer seja a identificação de consumidores em potencial para um determinado produto, direcionando assim uma propaganda específica ou, ainda, pessoas que por seus hábitos, cultura demonstrada e outras expressões, estejam mais propícios a receber a mensagem de determinado candidato em uma eleição. Hábitos de consumo que podem ser potencializados, pensamentos e comportamentos que podem singularizar grupos e dar-lhes ou sugerir objetivos. O advento da tecnologia 5G pelos sistemas de telefonia móvel, com leilões previstos para 2020 no Brasil, permitirão equipamentos de transmissão vinte vezes mais velozes, permitindo a coleta de dados e sua transformação em informação em tempo quase real. Será produzido um conhecimento tamanho que poderão ser utilizados na melhoria da produção, circulação e consumo de novo produtos, novos processos. A capacidade educacional do Brasil deverá ser exigida ao máximo, tornando necessária a capacitação e qualificação de profissionais que possam atual neste cenário novo, desde a escola até a gondola do supermercado, atingindo todos os setores da economia.
Se o processo de obtenção de dados pode ocorrer de forma clara, espontânea ou mesmo veladamente, a sua utilização deve respeitar alguns princípios, tornados oficiais no Brasil pela promulgação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a Lei nº 13.709/2018 que terá seu vigor a partir de Agosto de 2020. A Lei estabelece que o tratamento de dados por meio eletrônico ou analógico, ocorrerá com o consentimento do seu titular, no cumprimento da lei,  de obrigações legal ou contratual e em proteção à vida. Esse consentimento pode ser incluído no "li e concordo com estes termos", um clique em muitos sites. Por tratamento entenda-se todas as possibilidades que envolvam o uso de dados, a lei estabelece que que esse processo deve ser pautado pela boa fé, dentro dos limites da finalidade do uso, sua adequação, necessidade e segurança. Quem a desrespeitar poderá pagar multas de até dois por cento do faturamento do grupo a quem pertencer a empresa e de até R$ 50 milhões por infração.
            Em tempos de conexão tão elevada à Web, com a possibilidade de isso se torne cada vez mais comum e rápido, cabe a cada um de nós, usuários, tomarmos o devido cuidado para não sermos negociados tão facilmente como um novo produto. Evitar a manipulação de dados e a desinformação é nossa obrigação como cidadãos de uma democracia.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

COLONIA MINEIRA (SIQUEIRA CAMPOS - PARANÁ): alguns acontecimentos de abril de 1930.

Apontamentos Históricos da Colônia Mineira e Siqueira Campos no Norte Pioneiro do Estado do Paraná

Prof. Roberto Bondarik, Dr.
bondarik@utfpr.edu.br
bondarik@outlook.com

Tendo pesquisado sobre os acontecimentos relacionados à Revolução de 1930 no Norte Pioneiro Paraná, chamado aquele tempo de "Ramal Ferroviário do Paraná". Chama a atenção o desenvolvimento socio-econômico da região nos momentos proximos ao confronto bélico que se fez sentir em Affonso Camargo (atual Joaquim Távora-Pr) e em Quatiguá. A então Colônia Mineira (atual Siqueira Campos) teve um papel importante na preparação da Revolução e nos acontecimentos decorrentes de sua efetivação.

Não tenho conhecimento sobre se exatamente, na história da cidade de Siqueira Campos se mantem registros sobre o que se passou ali em abril de 1930, fatos publicados no jornal "O Estado de São Paulo" edição de 18 de abril de 1930, página 20. Sessão denominada "Notícias do Paraná", destacava em especial a reinauguração do serviço de iluminação da Companhia de Luz e Força Sul-Paulista e o estabelcimento do serviço telefonico na cidade em conexão com Itaporanga, Estado de São Paulo.

Assim, transcrevo o que foi publicado pelo jornal, considerando-o um ipontante documento para a história da Colônia Mineira e para a História de Siqueira Campos, importante também para a compreenssão do Norte Pioneiro do Paraná àquele tempo. Infelizmente não á referencia a respeito de quem fosse o correspondente do Jornal na cidade:

(Segue a transcrição - conforme ortografia da época)
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COLÔNIA MINEIRA - 10 (Do nosso correspondente) - Esteve nesta cidade, há poucos dias, o dr. Joaquim Mario de Sousa Meirelles, gerente da empresa de força e luz Sul-Paulista que veiu afim de assistir a ligação dos fios da illuminação e dos telephones, que vem de Itaporanga.
Esse melhoramento é devido ao actual prefeito municipal, coronel José Innocencio dos Santos, que entrou em novo accordo com aquella empresa, pois a administração municipal passada, apoderan-se da usina, nos privou da illuminação electrica, durante um anno e meio.

SEMANA SANTA
Durante as festas religiosas da semana santa serão inaugurados tres sinos na egreja matriz local, adquiridos por subscrição pública e graças aos esforços do nosso vigário que angariou os donativos.

TIRO DE GUERRA 676
Procedentes de Curitiba aqui chegaram os officiaes do Exercito que procederão aos exames dos reservistas do Tiro de Guerra 676.

NOTICIAS DIVERSAS
Regressou de sua fazenda em Laranjinha, o coronel José Innocencio dos Santos, prefeito municipal.
- Seguiu para Itararé o sr. Lourenço Dias Tati.
- Esteve aqui o sr. Luis Guimarães, procedente de Curitiba.
- A prefeitura municipal vae arborisar a praça dr. Eurides Cunha.

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Comentários:

Compreende-se da leitura e análise deste breve documento histórico (jornais são fontes históricas) que havia uma certa depedencia e ligação forte de Siqueira Campos com Itaporanga no Estado de São Paulo. A conexão telefonica da cidade deu-se com aquela e a Companhia de Força e Luz Sul-Paulista era quem fornecia energia eletrica. Os serviços basicos de infraestrutura foram objeto de disputa entre grupos politicos locais.
Destaca-se a inauguração dos tres sinos da Igreja Matriz local, comprados com dinheiro arrecadado pelo padre junto a população da cidade. Estes sinos devem ser os mesmos que ainda hoje são utilizados na Igreja.
Havia um Tiro de Guerra na cidade e que formava atiradores e reservistas para o Exercito Brasileiro.
Havia uma ligação entre Siqueira Campos, seus habitantes e a colonização do sertão do Rio Laranjinha.


quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Origens Históricas de Quatiguá - Estado do Paraná


História de Quatiguá: origens e formação da cidade

Prof. Roberto Bondarik, Dr.


            Segundo consta nos registros históricos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Quatiguá foi fundada em 1903 pelo sertanista Orlando Ferreira de Paiva. Sendo ele o primeiro a edificar uma casa no local onde hoje é a cidade. Não existem em documentos ou outras fontes, maiores menções a esse fundador, também não há registros sobre as motivações que o levaram a escolher esse local para habitar. A tradição histórica local tende a confirmar essa informação.
            Ao que tudo indica, essa edificação deve ter sido feita quando da abertura da “Estrada do Borromei”, construída a partir de Jacarezinho em direção à Colônia Mineira (atual Siqueira Campos), passando por Tomazina e, finalmente atingindo os Campos de Piraí do Sul e algum ponto da Ferrovia São Paulo – Rio Grande do Sul. O responsável pela execução da obra foi o engenheiro Carlos Borromei, italiano de nascimento e funcionário da Secretaria de Estado da Viação e Obras Públicas, ao final ele próprio acabou residindo em Jacarezinho após adquirir ali uma fazenda e tornar-se também produtor de café.

“Do senhor engenheiro Carlos Borromei, communicou-se que nesta data foi encarregado da direção da construção da estrada que do Jacarezinho, vae ao Pirahy (...)” (Fonte: Jornal “A REPÚBLICA”, Curitiba, 06 de Maio de 1903, p.01)

Estrada do Borromei
Fonte: detalhe de mapa do Estado de São Paulo editado em 1912 e disponivel no Arquivo Público daquele Estado

            A estrada foi construída nas terras altas do divisor de águas entre as bacias hidrográficas dos rios Jacaré e das Cinzas, medida que evitava a travessia por dentro de cursos d’água ou a construção e a manutenção de pontes. O objetivo era facilitar o escoamento da produção de café do entorno de Jacarezinho que, aquele tempo tinha apenas uma trilha de tropas que a ligava a Santo Antonio da Platina e consequentemente ao restante do Paraná. A iniciativa também visava atrair a incipiente produção agrícola do Norte do Paraná para Curitiba e os gêneros exportáveis para o Porto de Paranaguá. A estrada cortava uma região sem povoados e escassamente povoada, em especial o trecho de pouco mais de oitenta quilômetros entre Jacarezinho e Colônia Mineira. Sua abertura significaria a integração econômica do Norte do Estado com o restante do Paraná e até seus portos, visando o comercio internacional, dando importância financeira e valor às terras, sua produção e riqueza a seus habitantes. Gastava-se mais no transporte dos produtos do que com a sua obtenção:

O nosso commercio se acha mais ou menos paralysado, e não fora essa crise que tomo a Esphinge da Mythologia, assolará o nosso pobre Brazil até que tenhamos um novo Edipo que decifre o seu enigma, e esta localidade já andaria muito longe na senda do progresso. Elementos tem de sobra à começar pela pujança do seu solo secundada hoje pela nova estrada de rodagem mandada construir pelo benemérito dr. Governador do Estado, auxiliado pelo distincto engenheiro dr. Candido de Abreu.
Antes de se começar a construção o preço da arroba de café para conduzir em tropa, até o Pirahy, era de quatro mil reis e até de quatro mil e quinhentos reis!
Hoje, 2 annos, apezar de não estar ainda prompta a estrada, paga-se somente mil e seiscentos reis. A diferença já é grande e maior será quando a estrada varar para o campo recebendo directamente o viandante que dará graças aos céus por não ter mais que subir ou descer as alterosas serras da Natureza, Colônia Mineira e Jaboticabal. A construção, a cargo do não menos distincto engenheiro dr. Carlos Borromei, acha-se já na Colônia Mineira com 82 kilometros, com picadão, se acha a 12 kilometros além da Colônia, em demanda do Campo onde sahirá talvez com pouco mais de 30 kilometros.
O encurtamento da distância entre o Jacaresinho e o Campo sendo notório, além da magnifica topografia do terreno percorrido, é claro e fora de dúvida que esta estrada será para esta zona um extraordinário benefício.
Que se recolham, pois, os despeitados que querem fazer crer o contrário; e o tempo melhor dirá de que lado está a razão (DIÁRIO DA TARDE, 24 JUL. 1903, p.01).

            A estrada foi construída a mando do Governo do Estado do Paraná, ao custo total de 200:000$000 (duzentos contos de réis). Sua construção deve ter demandado pelo menos uns dois anos inteiros e seus idealizadores enfrentaram oposição daqueles que achavam melhor investir na chamada “Estrada Velha”, aberta pela Câmara de Vereadores de Thomazina e que ligava a aquela cidade ao povoado de Santo Antonio da Platina, seguindo próxima ao Rio das Cinzas, passando pelos atuais Distrito do Sapé, pelo patrimônio da Barra Grande, que aquele tempo existia na foz do Ribeirão com esse nome. Localidade transferida a posteriori para a atual Guapirama. Ao que consta os núcleos urbanos ao longo desse caminho dariam maior segurança aos viajantes até atingirem Jacarezinho, por tempos chamada de Ourinho. A falta d’agua no traçado da Estrada do Borromei era um argumento forte, porém era rebatido pelos seus defensores como podemos ver:

Continuando a occuparmo-nos da nova estrada de rodagem entre o Jararesinho e Pirahy, precisamos salientar a abundância d’agua que se encontra em seu percurso.
É um facto cuja contestação só pode ser feita por má fé e crida por quem indiferente aos progressos do nosso Estado não procura indagar da verdade e se deixa impressionar pelo que primeiro se lhe informa, sahindo logo a pregar que esta estrada é um monstrengo!
Não é tal: é um elemento de progresso desta zona, é a communicação melhor que temos para aqui ser mais curta, é a mais suave por ter melhor topografa, pois não tem rampas de mais de 10 graus, a declividade permitida em estradas de rodagem; é finalmente a mais commoda porque os córregos que dão de beber aos animais são mais próximos uns dos outros. E senão vejamos. A partir da villa do Jacaresinho no kilometro 8 se encontra o rio Jacaresinho; no kilometro 15 o córrego da Capivara com bom volume d’agua e que passa por dentro de uma fazenda; no kilometro 20 há um morador, no fundo de cuja casa passa um córrego chamado do “Pinto”; no kilometro 24 há também um córrego, onde já os tropeiros fazem pouso; no kilometro 26 há um pequeno córrego, no kilometro 29 – Pedra Branca há um morador e rancho para tropeiros; no kilometro 32 há um pequeno córrego; finalmente nos quilômetros 36, 41, 42, 49, 57, 60, 61 e 64 há agua e em quase todos tem moradores já; dai por diante entramos na fazenda da Colônia Mineira, onde de meia em meia légua, no máximo, se encontram moradores e também pastos para os animais até o kilometro 82 na sede da Colônia.
Como se vê a maior distância que se caminha sem água é de 8 kilometros.
Ora, se tanta água não se tinha necessidade, pois quantos e quantos córregos passam os animais sem beber água mesmo no verão.
Em quase todos esses córregos acham-se signaes de pouso das tropas. Capim não falta, porque o constructor da estrada com inteligência o semeou em toda a margem para o duplo fim de apascentar os animaes das tropas e evitar que o matto viceje, prejudicando o trânsito e o seccammento do terreno, o que é natural em terras fortes como em geral são as desta zona.
O mesmo já não se pode dizer em relação às outras estradas por onde se chega a caminhar até 3 léguas sem se encontrar uma gotta d’agua, como acontece na estrada de Thomazina, pela Serra da Natureza, e mesmo por S. José da Boa Vista há pontos seccos de quase duas léguas.
Pelo celebre picadão entre Thomazina e S. Antonio da Platina, nem por experiencia, afim de conhecer é detestável, aconselhamos a que passem por lá passem. Tem trechos longos também sem água e é de princípio a fim, em todos os tempos, um atoleiro medonho. A nova estrada não demorará muito a ser transitada por carroças, pois já se acham promptas algumas pontes, e uma vez entregue de todo a esse trânsito, veremos a nossa zona prosperar, e muito, porque só nos estão faltando os meios fáceis de transporte para o que se produz.
Por enquanto os transportes absorvem os produtos das vendas e por isso o retrahimento é grande. A exportação dos nossos gêneros para fora do Estado, pelos seus portos, é o nosso Ideal.
Torna-se, porém, necessário para essa realização, que depois da estrada tenhamos o abaixamento das tarifas nas estradas de Ferro. Isso se dará? Esperemos, contando com os esforços do actual governo do Estado, que tudo tem procurado fazer a bem da nossa prosperidade, e com a influência do nosso ilustres chefe dr. Vicente Machado, junto ao União (DIÁRIO DA TARDE, 29 out. 1903, p.02).


Detalhe da Estrada do Borromei entre Jacarezinho e Colonia Mineira (atual Siqueira Campos Paraná), grafado erroneamente como Colônia Militar

           A fertilidade do solo, o crescimento rápido da mata derrubada em seu longo trajeto, a falta de manutenção aliada ao sertão inóspito e quase desabitado, fizeram com que em poucos anos a estrada fosse abandonada a sua própria sorte:

Não sabemos qual a razão de achar-se abandonada e coberta de matto a estrada de rodagem que da Colônia Mineira vai a Ourinhos e na qual o governo gastou 200:000$000. Devido o estado em que se acha essa estrada. Estafeta do Correio, que de Thomazina ia para Ourinhos, passando pela Colônia Mineira, vê-se obrigado chegar a esta, voltar a Thomazina para dahi seguir a Ourinhos pela estrada velha. Pedimos ao exmo. Sr. Dr. Governador do Estado, lançar as suas vistas para essa importante via de communicação, presentemente abandonada por falta de roçadas na extensão de 82 kilometros. Há quem se proponha a fazer esse serviço por 2:000$000, deixando livre trânsito para cargueiros (DIÁRIO DA TARDE, 13 nov. 1905, p.01).

            Foi ao logo do traçado dessa estrada do Borromei, ou em suas proximidades que Quatiguá foi fundada, inicialmente como dois pequenos povoados: Barra Grande e Chapada. Nome das duas grandes glebas que, subdivididas, deram origem ao Município. Uma vez unificados com a chegada do Ramal Ferroviário do Paranapanema em 1919, o povoado de Quatiguá tirou o seu nome do serro próximo: Serro do Quatigual. Esse nome já figurava nos documentos que, em 1890, determinavam os limites do Distrito e do Termo de Jacarezinho. Assim a cidade cresceu, em meio a mata, a beira das encostas da serra, nos campos, os cafezais que surgiram. Em 1924 já despertava a atenção:

Quatiguá era, até bem pouco, o último ponto da via férrea. É um logar bonito, erguido no meio de matta expessa onde se encontram as madeiras mais raras. Metade do povoado pertence à Colônia Mineira e a outra metade é da jurisdicção platina.
Um bom hotel, modesto, mas limpo e commodo, atende a freguesia que ahi aporta, com a mesma solicitude de uma casa de família, gentil em obsequiar os hospedes (MARTINS, 1924, parte III, p.01).

            A Estrada do Borromei não se manteve, mas seu traçado conhecido, usado como trilha ou picada, serviu de base para a construção da Ferrovia que desde Jaguariaiva iria atingir Ourinhos em São Paulo. Também uma nova estrada de rodagem foi aberta ao lado da ferrovia:

Nas paradas obrigatórias, o major Infante Vieira mostrava-nos o serviço que fizera, abrindo aquelle caminho onde ainda se percebiam vestígios da antiga picada Borromei que em tempos fora feita para ligar o sertão Norte a Thomazina (MARTINS, 1924, parte VI, p.01).


 Novas histórias antigas virão.

 Referências:

PELO ESTADO: Pirahy. Diário da Tarde, Curitiba-PR, p.01, 13 nov. 1906;
PELO ESTADO: Jacaresinho. Diário da Tarde, Curitiba-Pr, p.01, 24 jul. 1903;
PELO ESTADO: Jacaresinho. Diário da Tarde, Curitiba-Pr, p.02, 29 out. 1903;
A REPÚBLICA, Curitiba, 06 de Maio de 1903, p.01;
MARTINS, Romário. Sertão em Flor: o Paraná Cafeeiro – parte III. O Dia, Curitiba-PR, pp.01 e 08, 21 jun. 1924;
MARTINS, Romário. Sertão em Flor: o Paraná Cafeeiro – parte VI. O Dia, Curitiba-PR, pp.01 e 08, 26 jun. 1924;
TOMAZI, Nelson Dácio. Norte do Paraná: histórias e fantasmagorias. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 2000;
WACHOWICZ, Ruy Chistowam. Norte Velho, Norte Pioneiro, Curitiba: Gráfica Vicentina, 1987;
______. História do Paraná. 6ª ed. Curitiba: Gráfica Vicentina, 1988;



sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Automovel Elétrico

No final do século XIX os automóveis elétricos eram a grande aposta da incipiente indústria. Não havia ainda uma ideia do veículo como um objeto de consumo de massa, acessível e de grande alcance como automóvel acabou se tornando.
Henry Ford foi um dos que deixaram a propulsão elétrica de lado em investiu no uso do motor a explosão, movido a gasolina. A industria automobilistica porporcionou o consumo necessário à industria do petróleo, ambos os segmentos foram predominantes na economia do século XX e, ainda hoje, no século XXI.
Capa da Revista Scientific American, 13 de mao de 1899

Anuncio veiculo de propulsão elétrica - Revista Scientific American, 13 de mao de 1899


O motor elétrico foi inventado pelo físico britânico Michael Faraday, em 1822, quando ele estudava a relação existente entre eletricidade e magnetismo.



domingo, 4 de agosto de 2019

SOCIEDADE 4.0 A Uberização do Consumo e da Cultura

Apresentação utilizada na palestra ministrada na "Tarde Cultural", realizada no auditório da INFRAERO, no Aeroporto de Londrina, Estado do Paraná, em 03 de Agosto de 2019.

Arquivo disponível em PDF no link abaixo (basta clicar no nome):

Apresentação - "Sociedade 4.0 - A Uberização do Consumo e da Cultura"