Texto a respeito da Guerra na Ucrânia, decorrente da invasão daquele país pela Federação Russa (Rússia), em especial as suas relações com Rede Mundial de Computadores (Internet).
O artigo foi publicado no jornal "Folha de Londrina" em em sua edição relativa aos dias 07 e 08 de Maio de 2022, a imagem da publicação está disponível ao final da página.
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Invasão russa da Ucrânia, a Primeira
Guerra Mundial Conectada
Roberto Bondarik
bondarik@outlook.com
Professor Titular
da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio
Em 24 de fevereiro, quando a Rússia
atacou a Ucrânia, iniciou-se o mais grave conflito bélico na Europa desde que a
Alemanha nazista invadiu a Polônia em 1939, passando pelas guerras balcânicas
da década de 1990. O conflito atual se apresenta como uma Guerra Mundial
Conectada (Word War Wired), onde a luta é localizada mas o seu
acompanhamento, repercussão e consequências tem sido mundiais.
A internet permite que se acompanhe em
tempo real, ataques, enfrentamentos, fugas, situações de desespero e demais
ações da guerra, um conteúdo produzido por combatentes ou moradores das áreas do
conflito. Como um reflexo de nosso tempo de extrema interação nas mídias
sociais, muita informação descontextualizada ou mentirosa, também tem sido
distribuída e compartilhada.
A guerra começou antes do avanço das
tropas, quando os serviços públicos ucranianos, seus sistemas de comunicação, bancário,
de energia etc., sofreram ataques cibernéticos que afetaram o seu
funcionamento, tornando-os lentos ou desligando-os. O uso da Tecnologia da
Informação não é novidade ali naquela região, hackers russos, sejam civis ou militares,
foram acusados de intervenção em diversos momentos como a eleição de Donald
Trump nos EUA, o plebiscito do Brexit, que resultou na retirada da Grã-Bretanha
da União Europeia. Os ucranianos fornecem serviços paras Big Techs do Vale do
Silício e pelo menos para cem, das quinhentas maiores empresas mundiais
listadas pela revista Fortune. Estima-se em mais de duzentos mil os ucranianos,
altamente qualificados, que trabalham no setor de T.I. internacional, um
serviço que, aliás, deve estar sofrendo os efeitos da guerra.
No início, o serviço de mapas do
Google apontou, nas estradas ucranianas, onde ocorriam congestionamentos
provocados pelos tanques e comboios russos, fornecendo importantes informações
para aqueles que os precisassem evitar e para os outros que desejavam combatê-los.
O uso dos diversos recursos dessa empresa devem de fato ter tido efeitos
práticos nos combates porque, pressionada, ela chegou a anunciar que limitaria
o seu na Ucrânia, a Rússia também ameaçou impedir o acesso ao Google em seu
território acusando-o de permitir a divulgação de fatos e dados distorcidos
sobre a sua atuação no conflito. Porém os mapas do Google atualizados e outras
imagens obtidas por meio de satélites comerciais, permitiram que segredos
militares russos, envolvendo a movimentação das suas tropas fossem revelados e
utilizados pelos ucranianos.
A guerra tem sido acompanhada e combatida
literalmente na palma da mão, os smartphones são a mais prática conexão de uma
pessoa com a internet. Os ucranianos têm feito uso do reconhecimento fácil dos
soldados russos mortos ou capturados, o que lhes permite identificar quem são,
acessar suas redes sociais, seus dados pessoais e, principalmente localizar
suas mães para enviar-lhes imagens dos seus filhos e da sua situação.
Divulgaram-se também vídeos curtos de mães russas lamentando a morte de seus
filhos paraquedistas em combate. A veracidade daquilo que é mostrado nas redes
como acontecimentos da guerra, tem sido demostrada ou desmentida pela ação de
internautas que, como espiões mesmo que amadores, tem divulgado o resultado de
suas descobertas, análises e conclusões por meio especialmente do Twitter. O
acesso à internet nos locais onde a infraestrutura de comunicação foi
destruída, teve uma ajuda substancial da empresa Star Link, de Elon Musk, que enviou
equipamentos que permitem a conexão direta com sua rede de satélites.
Se a internet não consegue ainda acabar com a guerra, permite ao menos acompanhar seu desenrolar, construindo e descontruindo narrativas. Que a tecnologia permita reconstruir e manter uma convivência pacífica entre os povos e suas nações.
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