FOLHA
DE LONDRINA, Domingo, 15 de Fevereiro de 2015 –
Ano 66 – Edição 20.112. CADERNO ESPECIAL CORNÉLIO PROCÓPIO
77 ANOS. Pagina
12
Abaixo o texto original e a versão resumida (imagem) que foi publicada pelo jornal
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Cornélio Procópio: origens históricas
Prof. Me. Roberto Bondarik
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
bondarik@utfpr.edu.br / profbondarik@gmail.com
Quando o Coronel Cornélio Procópio de Araújo Carvalho faleceu em 22 de outubro de 1909 talvez ele nunca imaginasse que seu nome fosse batizar um município com quase cinquenta mil habitantes no Norte Pioneiro do Paraná. Uma terra que nunca conheceu e muito menos foi proprietário. Cornélio Procópio nasceu em 06 de janeiro de 1857e Aiuruoca no Sul de Minas Gerais, foi fazendeiro e comerciante, encontra-se sepultado no Cemitério da Consolação em São Paulo. A história da cidade e município que leva seu nome possui raízes cravadas no tempo, seus registros remontam ao século XIX e são dignas de nota.
A região do sertão do Rio
Congonhas foi mapeada e explorada em 1846 por Joaquim Francisco Lopes e John
Henry Elliot, sertanistas sob as ordens do Barão de Antonina que era um
fazendeiro dos Campos Gerais e dono de tropas de mulas. Buscavam eles os Campos
do Paiquerê e uma rota para o Mato Grosso. Os dois exploradores firmaram
naquele ano a “Posse do Congonhas” ou Fazenda Congonhas em nome do Barão. Foram
eles que deram nome a esse rio em virtude da erva-mate (congonha) que havia em
suas nascentes. Ela abrangia todas as terras em ambas as margens desde sua
nascente até a foz no Rio Tibagi, englobava toda a bacia hidrográfica do
Congonhas. Não consta que essas terras
foram colonizadas ou subdivididas naquele tempo. Em 1891 os herdeiros do Barão
venderam grande parte de suas terras à Ildefonso Mendes de Sá. Nesta época os
limites da Fazenda Congonhas são apontados nos mapas que mostram os lotes da
Colônia Militar do Jatahy (Jataizinho). Olegário Rodrigues de Macedo e José
Marcondes de Albuquerque compram a fazenda em 1893. Em 1900 Olegário tornou-se
o único proprietário até vende-la à José Pedro da Silva Carvalho. Mesmo com
tantos donos se revezando acredita-se que não houve ocupação efetiva das terras
da Fazenda Congonhas. Situação que mudaria a partir da década de 1920.
A chegada da ferrovia a
Ourinhos-SP em 1908 mudaram as perspectivas econômicas do Norte do Paraná.
Surgiu um projeto de construção de uma estrada de ferro ligando Ourinhos até
Assunção, capital do Paraguai, passando por Guaira. Em 1920 um grupo de
empresários recebeu a concessão para a construção dessa ferrovia, faziam parte
dele: Antonio Barbosa Ferraz e seus filhos Leovegildo e Braulio, Willie da Fonseca
Brabazon Davis e Manoel da Silveira Corrêa. Receberam exclusividade da
exploração, isenção para importação de equipamentos e componentes além de uma
compensação de 28:800$000 (vinte e oito contos e oitocentos mil-reis) em terras
ou o equivalente a 3.600 hectares por quilometro de estrada construída e em
funcionamento. Em 1924 o primeiro trecho até Cambará ficou pronto mas por ali
ficou até que empresários britânicos da Paraná Plantations adquirissem o
controle da Ferrovia São Paulo – Paraná e a prolongassem até as terras da sua
Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), de Londrina em diante. Construída
pela empresa MacDonald, Gibbs & Co, de Londres a ferrovia atingiu Andirá em
abril de 1930, Bandeirantes em Julho, Santa Mariana no Km 107 e Cornélio Procópio
tiveram suas estações entregues em 1º de dezembro de 1930. Em 1931 chegariam às
margens do Tibagi em Jataizinho e em 1934 com a conclusão da ponte ferroviário
sobre esse rio seguiriam os trilhos pelo Norte do Paraná até ultrapassar
Londrina.
O projeto da ferrovia e o seu
traçado eram de conhecimento de muitos, aos ingleses interessava à estrada de
ferro, cuja expertise dominavam, e as terras da CTNP. Por onde os trilhos
passassem a possibilidade de valorização das terras era muito grande e isto
atraiu a atenção de investidores paulistas que adquiriram as antigas posses e
fazendas ainda de mata fechada pelo caminho. Assim Francisco da Cunha
Junqueira, também fazendeiro e empresário em São Paulo adquiriu em 1923, terras
da Fazenda Laranjinha, dando origem a gleba do mesmo nome. Eram terras por onde
passaria a ferrovia e se estendiam das margens do Rio Laranjinha até o serro
divisor de águas da bacia desse rio com o Congonhas. Cunha Junqueira era genro
e ao mesmo tempo sobrinho de Cornélio Procópio e em suas terras projetou dois
núcleos urbanos Santa Mariana, nome em homenagem a sua esposa e Cornélio
Procópio em honra a seu falecido sogro. O projeto das duas futuras cidades já
existia em 1924.
O envolvimento de Cunha Junqueira
com o Partido Democrático de São Paulo, a Revolução de 1930, sua participação
como Secretário da Agricultura e envolvimento com Revolução Constitucionalista
de 1932 fizeram com que ele fosse exilado do Brasil. Sua esposa vendeu as
terras e os projetos de colonização da Gleba Laranjinha para Francisco Moreira
da Costa e Antônio Paiva Junior da Colonizadora Paiva & Moreira. Esta
empresa que iria efetivamente conduzir a venda dos lotes urbanos e rurais das
duas cidades e promover a sua colonização.
A outra parte do território do
que hoje é Cornélio Procópio, a Fazenda Congonhas, foi adquirida em 1923 por
Antônio Barbosa Ferraz e seus filhos da Companhia Agrícola Barbosa, de Cambará.
Comprada de José Pedro da Silva Carvalho, a Fazendo Congonhas teve a sua posse
contestada por herdeiros do Barão de Antonina em um processo judicial demorado
mas ao final vencido pela Cia Barbosa que teve como advogado Francisco Morato.
Os Barbosa possuíam influência junto ao Governo do Paraná, sendo que Bráulio
Barboza Ferraz era prefeito de Cambará quando o Estado financiou e a prefeitura
de Cambará construiu uma rodovia carroçável desde aquela cidade até Jataizinho,
concluída em 1929. Foram construídas pontes com base de pedra e concreto sobre
os rios das Cinzas e Congonhas, passando próximo a Carvalhopolis (Abatiá) e
Santa Amélia, cruzava o rio Laranjinha e seguia pelo bairro Igarapava já em
terras procopenses e atingia a Gleba Congonhas próximo à Casa João Paulo II já
nos limites urbanos atuais de Cornélio Procópio. Em algum lugar ali foi erguido
do “Armazém Velho” onde um representante da Cia Barbosa levava os compradores
até seus lotes adquiridos. Às margens da rodovia e no centro da gleba foi
planejado e instalado o centro urbano de Congonhas, o primeiro a ser levantado
no que é hoje o município recebendo compradores desde a conclusão da estrada. A
ferrovia chegaria a Congonhas em 1931.
As duas glebas, Congonhas e
Laranjinha, deram origem ao Município de Cornélio Procópio, suas terras se
limitavam no que hoje é a cidade sendo que cerca da metade da área urbana
pertencia a cada uma delas. Sem a ferrovia e sem os investidores que
vislumbraram possibilidades de negócio na região com certeza iria demorar um
pouco mais para que o Norte do Paraná se integrasse de forma produtiva, gerando
riquezas, ao Brasil.
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