Prof. Me. Roberto
Bondarik
Docente e Pesquisador
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Campus Cornélio Procópio
Entre
3 e 24 de outubro de 1930 uma Revolução a partir do Rio Grande do Sul, Paraíba
e Minas Gerais encerraria a República Velha no Brasil e colocaria Getúlio
Vargas no poder. Surgida da revolta com a manipulação da eleição presidencial que
derrotou Vargas, a Revolução foi potencializada pelo assassinato do seu
candidato a vice, João Pessoa. O Paraná e o seu Norte Pioneiro foram essenciais
para o sucesso do movimento.
A
Brigada Militar e voluntários avançaram pela Ferrovia São Paulo-Rio Grande
controlando-a até Porto União e União da Vitória em 4 de outubro. No mesmo dia em
Ponta Grossa o governo local foi assumido por Alcebíades Miranda, comandante do
13ºRI que se rebelou. Ponta Grossa e sua posição estratégica representou metade
da vitória da Revolução que avançou rumo a São Paulo.
Em
Jaguariaíva no final do dia 3, rebeldes tentaram tomar a prefeitura e a sede da
Policia, conforme o planejado deveriam controlar a ferrovia até a chegada dos
gaúchos. Eles haviam tomado Barra Bonita (Ibaiti), Tomazina e Wenceslau Braz
seus líderes eram Paulo Chueire da Colônia Mineira (Siqueira Campos) e o Major
Infante Vieira. Estavam em preparação desde março de 1930. Gustavo Lessa,
médico em Jacarezinho, Barbosa Ferraz em Cambará, os fazendeiros e engenheiros
Moreira Lima em Ribeirão Claro e Coriolano de Lima em Santo Antônio da Platina
já haviam atuado na campanha da Aliança Liberal de Getúlio Vargas. A eleição em
Ribeirão Claro havia sido um show de arbitrariedades, prisão de opositores às
véspera da votação controlada pela polícia, ocupação militar da cidade, etc.
Em
Curitiba o Exército e a Policia Militar aderiram a Revolução na madrugada de 5
de outubro. O Presidente do Paraná, Afonso Camargo fugiu para São Paulo, deixando
dez meses de atraso no pagamento de professores e policiais. O General Tourinho
assumiu o Governo do Estado.
Castro
no dia 7, sede do 5º Regimento de Cavalaria que fiel ao Governo Federal retirou-se
para São Paulo, foi ocupada pelo Capitão Airton Playsant do 13ºRI que tomou
Jaguariaíva e seguiu para Sengés. O esquadrão de cavalaria da Brigada Militar do
tenente Trajano Marinho com seus duzentos homens rumou para o Norte Pioneiro,
controlando Siqueira Campos dia 9 e na Estação Afonso Camargo (Joaquim Távora)
no dia 10 enfrentaram e venceram uma companhia da Força Pública.
Recuado
para a Estação Quatiguá o Esquadrão Marinho foi atacado dia 11. Em 12 de
outubro as seis da manhã foram reforçados pelo chegada do 1ºBC do Destacamento do
Coronel Alcides Etchegoyen, composto por tropas regulares do Exército e Brigada
Militar, de grande poder ofensivo, com nove canhões trazidos desde Cruz Alta. Transportado
por oito composições, tinha inicialmente 2.014 homens.
O
Governo Federal concentrou tropas em Itararé e Ourinhos, eram do Exército e da
Força Pública. Ocuparam Cambará, Ribeirão Claro, Santo Antônio da Platina e
Carlópolis com objetivo de cortar a ferrovia em Jaguariaíva. A censura à
imprensa e as informações pelo Governo Federal fizeram os soldados pensarem combater
bandoleiros comunistas e não militares rebelados. Para tomar Quatiguá mandaram
a Força Pública, o 4ºRI do Exército, sediado na Vila Quitaúna de Osasco-SP e
legionários civis do Deputado Ataliba Leonel, eram mais de 1.800 homens. O
ataque começou ao final do dia 12, a chuva torrencial e a escuridão da noite
permitiram a chegada do Coronel Etchegoyen com reforços. Na alvorada do dia 13,
quase dois mil gaúchos, apoiados pela artilharia, avançaram sobre os paulistas fazendo-os
recuar em desordem. A falta de cavalos impediu a perseguição aos legalistas que
abandonaram o Paraná destruindo barcos, e todas as pontes sobre o Paranapanema.
Morreram muitos soldados de ambos os lados. Os rebeldes controlaram a região e quando
iriam invadir São Paulo com destino a Bauru, o Sul de Minas e o Rio de Janeiro,
Washington Luiz foi deposto e a Revolução declarada vitoriosa.
Em
Sengés a partir do dia 14 houve a concentração de tropas rebeldes. Na Fazenda
Morungava houveram combates, com duelos de artilharia. Bombardeio aéreo pela
Força Pública paulista sobre Jaguariaíva e Sengés. A maior batalha da América
do Sul em Itararé-SSP não ocorreu, já era 24 de outubro e a República Velha
chegou ao fim.
O
Paraná por sua posição geográfica, a ferrovia que o cortava e pela ação pronta
de seus cidadãos foi fundamental para a transformação que o Brasil esperava
naquele momento. A ação rápida dos paranaenses foi como um lava-jato limpando
caminho para a mudança, a esperança e a construção de um Brasil novo.
2 comentários:
Ótimo texto, Professor Roberto!!! Fui seu aluno em meados de 1996. Desde então, posso dizer, cultivei especial gosto pela história/estória em geral... após sair de Cornélio Procópio, talvez por saudosismo, passei a buscar fontes/informações sobre o norte pioneiro...Feliz em descobrir esta Fonte!!! Ab, Vinicius Villas Bôas
Ótima narrativa. Combina com a que meu pai e minha mãe faziam. Ele, na época era Agente da Estação de Sengés. Impediu que os do governo dinamitassem a ponte, com a sugestão de que por certo iriam prosseguir para o Sul e como fariam para receber suprimentos etc ? Não dinamitaram, tempo depois chegou o Capitão Ayrton Plaisant do 13RI de Ponta Grossa.
Minha mãe grávida teve que retirar-se à pé para Castro com outras pessoas. Então ela contava que vinha o aviãozinho paulista e os retirantes corriam para o mato (a linha férrea era o único caminho naquela época). Até que num trecho de campo, veio aviãozinho de novo dando razantes. Ela pediu que o guarda-chaves (que guiava os retirantes), estendesse um pano branco qualquer da toruxa de roupas dela. Na pressa ele pegou uma peça intima. O avião somente balançou as asas e foi-se embora. Ficaram todos aliviados. Depois ela soube que a "pilota" era D.Anésia, uma das poucas ou quem sabe a única do Brasil. Essa retirada grávida lhe valeu varizes nas pernas que permaneceram até seu falecimento em 1982. Meu irmão nasceu no dia 26/10/1930.
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