sexta-feira, 14 de setembro de 2007

TERRA DOCE DE QUATIGUÁ

Este texto foi publicado no jornal "O Estado do Paraná", um jornal curitibano portanto, no dia 09 de setembro de 2007. Escrito por Dante Mendonça, diz o autor que não é nascido em Quatiguá, nem por ai viveu, mas que sua historia lhe foi contada por um amigo quatiguaense. Achei interessante reproduzi-la aqui. Quem desejar ler no original pode entrar no endereço http://www.parana-online.com.br/noticias/index.php?op=ver&ano=temp&id=303704&caderno=3 porém deverá se cadastrar para poder ver.
Bem ai vai uma doce história de Quatiguá:
Terra doce de Quatiguá
Dante Mendonça [09/09/2007]

Quatiguá, pequena cidade de 8 mil habitantes do Norte Pioneiro do Paraná, é uma terra doce. Assim esperam os degustadores do bom café ao redor do mundo. Em busca de raras rubiáceas, importadores de finos grãos constataram que a região produz um tipo especial de café, com característica única: o sabor - digamos para o leigo - adocicado.
Sonhar com a recuperação econômica do Norte Pioneiro é preciso, mesmo sendo de gosto acre a estagnação que há tantos anos vem abatendo as esperanças das novas gerações. Sonhar é preciso, recordar também é preciso. Especialmente se as recordações trazem bons humores ao espírito, com histórias como a protagonizada pelo médico Delcino Tavares, ex-secretário da Saúde do governo Alvaro Dias e ainda hoje residente em Quatiguá.
Nunca foram diagnosticadas as causas da implicância do farmacêutico Miguelão com o homem que cuidava da saúde de todos os paranaenses. Com chuva ou sol, Dr. Delcino saía do consultório e fazia o caminho de casa, passando em frente à farmácia do Miguelão. Era um trajeto pontual, que o farmacêutico usava como relógio. Passava Delcino, cinco minutos depois Miguelão cerrava a porta de aço do estabelecimento.
Até que certa feita Miguelão esqueceu de juntar uma caixa vazia de Sadol na calçada em frente. Mais pontual que representante farmacêutico, Dr. Delcino passou na calçada e -pimba! - chutou a caixa de papelão, que foi cair no meio da rua.
No dia seguinte, no mesmo horário e mesmo local, Miguelão ajeitou outra bola para o Delcino chutar. Desta vez era uma caixa de óleo de fígado de bacalhau. Dr. Delcino, mais pontual que horário de missa -pimba! - a caixa de Emulsão Scott voou longe.
E assim passaram-se os dias em Quatiguá: num dia, Dr. Delcino chutava uma caixa vazia de Melhoral, outro dia de Sonrisal, se não fosse uma caixa de Sal de Fruta Eno ou Pomada Minâncora. Os chutes certeiros de Dr. Delcino estavam famosos na praça - os sorrateiros marcavam encontro pra assistir ao goleador -quando o farmacêutico Miguelão resolveu encerrar o cotejo, com três tijolos dentro de uma caixa de Vic Vaporub.
“No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho” - Carlos Drummond de Andrade é o poeta mais lembrado de Quatiguá.
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Quando o prefeito Epifânio Mocelin lançou o nome de Lourival Gouveia para a sucessão, tinha certa dúvida quanto à performance do candidato. Lourival bem que gostava da política, mas tremia feito vara verde quando precisava subir no palanque para discursar. Palanque era modo de dizer, no Norte Pioneiro não se fazia comício sem carroceria de caminhão.
No comício final, não houve jeito e maneira de fazer Lourival Gouveia subir na carroceria de um Scania-Vabis, mesmo com o Epifânio empurrando.
- Sobe, Gouveia! Sobe e fala do ‘pogresso’ de Quatiguá!
Tropicando, subiu enfim Lourival Gouveia no Scania-Vabis, não sem antes concordar com o argumento final de Epifânio: uma garrafa de Tatuzinho.
- Povo umirde e bão de Quatiguá! Antes do Epifânio, nessa cidade não passava nem carroça! Hoje passa até avião! -encerrou Gouveia, apontando pro céu!
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Epifânio, por sua vez, foi eleito prefeito graças aos discursos inflamados do ex-deputado Santinho Furtado, falecido líder político do Norte Velho.
Na carroceria do Scania-Vabis, Santinho era um poeta:
- Quatiguá, é PMDB com três pês! P de Povo! P de PMDB! P de Pifânio!

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