A respeito do monumento da Praça Expedicionário Eurides Fernandes do Nascimento somente posso dizer o que sei. Não fui testemunha ocular de sua construção, porém a tradição da cidade afirma que ali foram depositados os ossos de seis combatentes mortos nos combates dos dias 12 e 13 de outubro de 1930 em Quatiguá. Lembro que o fato histórico torna-se realmente históprico pela ação do historiador que o recorta, define, interpreta e descreve.
Em que me baseio para afirmar isso de maneira peremptória?
- Primeiro, a própria tradição oral, conforme me contaram, mais especificamente, meu pai, minha mãe meus avós, meus amigos comentaram. Destaco o papel desempenhado pelo Panga (Adailton Ribas Lopes) na preservação da memória de Quatiguá, pessoa preocupada e comprometida com a municipalidade e com quem sempre tenho boas conversas;
- Segundo, em documentos, em 1984 o jornal Folha de Londrina publicou reportagem de uma pagina inteira com depoimentos de diversos moradores antigos de Quatiguá que aqui viviam por ocasião dos combates. Pois bem, um desses depoimentos é do senhor Izidoro Mocelim, que segundo o jornal participou do movimento que promoveu a construção do monumento e, segundo afirmação dele próprio ajudou a transladar os ossos dos soldados e a coloca-los sob o monumento no centro da Praça.
Não se tem noticias de que esses ossos tenham sido retirados do monumento após 1984, pois neste ano quando ocorreu uma cerimônia registrada pela TV COROADOS (GLOBO/RPC) de Londrina eles ainda estavam lá.
Para evitar maiores discussões reproduzo a seguir o trecho da reportagem com a respectiva referência bibliográfica:
MONUMENTO AOS MORTOS
As testemunhas não sabem precisar o número de mortos e feridos no choque armado em Quatiguá. “Foram muitos, a maior parte levada embora pelas tropas”- afirmam.Isidoro Mocelin diz ter presenciado o enterro em valas comuns e mortos em estado de decomposição, cinco cadáveres de cada vez. E de uma coisa ele tem certeza: SOB O MONUMENTO NA PRAÇA EURIDES NASCIMENTO ENCONTRAM-SE SEIS, DOS QUAIS CINCO PAULISTAS. O próprio Mocelin participou da trasladação, anos depois do choque, e foi um dos que tiveram a idéia da homenagem. O marco está no centro de uma área de 40 por 40 metros quadrados “doada pelo Lourenzon”.“Homenagem do povo de Quatiguá aos heróis tombados em 1930” – esta escrito na placa de bronze.
(FOLHA DE LONDRINA, Caderno 2 – Sexta-feira, 06/04/84 pág. 24)
Um equivoco que se pode ter ao ler umas das reportagens da Folha de Londrina, porém uma outra publicada em 1991, diz respeito aos mortos e a seu sepultamento. Os gauchos retiram todos os seus mortos, ao que tudo indica menos aqueles que ficaram perdidos pelos cafezais. Os mortos gauchos devem ter sido sepultados no cemitério de Siqueira Campos, mas não foram tantos quantos os mortos paulistas. Os sepultados proximos aos locais em que morreram foram os soldados paulistas, e alguns deles podem ter sido levados pela tropa que se retirou para São Paulo. No local proximo ao asilo, estadio e CTG haviam diversas sepulturas apagadas pelo tempo.
Os feridos após serem medicados pelo corpo de saúde do Destacamento Etchegoyen (Tropas gauchas) foram removidos a Colônia Mineira e de lá para Jaguariaíva e Ponta Grossa. No Hospital da Ferrovia São Paulo-Rio Grande, os feridos do Combate de Quatiguá, mesmo os paulistas foram visitados por Getúlio Vargas quando ele chegou àquela cidade.
A mesma Folha de Londrina fala sobre os sepultamentos dos mortos paulistas em Quatiguá, e o senhor Izidoro Mocelim também faz menção a isso na entrevista a TV COROADOS. Dona Gema Mocelim Shoinski deu entrevista a Folha de Londrina em 1991, sobre isso. Este jornal foi muito reproduzido e divulgado na cidade de Quatiguá:
Dona Gema Mocelim Shoinski conta que seu pai ajudou a enterrar muita gente. “Meu pai era curioso, aí pegaram ele pra enterrar defunto. Ás vezes era até mais de três numa cova. A gente encontrou soldado morto no cafezal e em várias partes da cidade. Alguns ainda foram levados de trem mas muitos ficaram esquecidos pelo meio da lavoura”.
(FOLHA DE LONDRINA, Domingo, 27 de outubro de 1991, p.16)
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