Prof.Me. Roberto Bondarik
bondarik@utfpr.edu.br
A erva-mate é uma arvore nativa das florestas paranaenses, chamada em outros tempos de Congonha, a erva-mate (Ilex paraguariensis) é consumida pelos indígenas paranaenses e do Sul, em forma de “chimarrão” desde um período bem anterior à chegada dos brancos europeus. Conforme Gomes (1953) os índios a chamavam de “caa”, e os espanhóis já a conheciam quando fundaram as cidades guairenses de Ciudad Real Del Guairá e Vila Rica do Espírito Santo, ambas em território atualmente paranaense.
“O uso do mate é conhecido desde as chegadas dos colonizadores no Brasil e no Paraguai. As primeiras notícias concretas datam de 1541. os documentos falam de uma bebida usada pelos nativos na região do Guairá, como verdadeiro vício. (...) o hábito se generalizou desde o peru ao Rio da Prata.” (COSTA, 1995, p. 35)
A difusão do consumo da erva-mate, em forma de chimarrão pela região platina, ainda segundo Costa, deve-se a uma série de fatores, sendo que alguns podem ser apontados:
a) Necessidade de melhorar o sabor da água salobra (salgada) misturando-a com folhas da erva;
b) Ausência de outras culturas alimentares para atender o vaqueiro ou boiadeiro em longas caminhadas;
c) Pouca disponibilidade de alimentos, o consumo da erva-mate elimina a sensação de fome, devido aos seus nutrientes.
Os padres jesuítas das reduções espanholas do Guairá chamavam-na de “erva do diabo”, conforme Wachowicz (1988), devido ao fato de que os índios atribuíam-lhe influências consideráveis sobre as suas emoções inclusive sobre aspectos sexuais (erotismo e virilidade). É certo que os jesuítas espanhóis acabaram por proibir seu consumo por um considerável tempo. Porém a interdição religiosa não foi suficiente para diminuir o consumo e arrefecer os hábitos já seculares da população. O consumo da erva-mate, a exemplo do tabaco, foi um habito indígena que passou a fazer parte da rotina dos brancos, portugueses e espanhóis, conquistadores. Não havia casas de espanhóis nem ranchos de índios onde não fosse bebida. Os bandeirantes levaram seu consumo aos portugueses, o chimarrão tornou-se por tempos também, um hábito paulista. Há que se lembrar que o Paraná fez parte da Província de São Paulo até 1853. Paranaenses dos três planaltos aprenderam a fazer uso do chimarrão. Seu consumo hoje é considerável em diversos paises na região do Rio da Prata, Argentina, Paraguai, Uruguai, Brasil (consumo de diversas formas) e também Chile e Bolívia.
De acordo com Costa (1985) os ervais se estendem pelo Estado até o Rio Paraná, penetrando no Mato Grosso do Sul. Adentra por santa Catarina, sempre longe do litoral, atinge a região de serras no Rio Grande do Sul. Estende-se ainda pela Argentina e Paraguai.
A região do alto Paraná foi a primeira a produzir e negociar com a erva-mate, em especial devido à facilidade do transporte pelos rios Paraná, Paraguai e Prata. Devido à instabilidade política nessa região produtora, os consumidores começaram a se voltar para o atual Estado do Paraná e Santa Catarina. Os ervais nativos dessas regiões passaram a suprir as necessidades de consumo que existiam na Argentina, Uruguai e Chile, sendo que a extração ocorria já no Paraná desde o século XVIII, quando o governo português demonstrou seu interesse por essa atividade econômica.
A extração das folhas de erva-mate, não era muito complexa, porem exigia trabalho sistemático e pontual dentro da mata:
“O corte ou poda das erveiras é feito manualmente com facão ou foice. Existem arvores com mais de doze metros de altura. Geralmente o corte é realizado por homens, sendo que mulheres e crianças ficam reunindo os galhos cortados em feixes que serão levados para a operação do sapeco. O corte mutila, mas não prejudica a árvore que levará de até cinco anos para se regenerar e sofrer novo processo de corte. O sapeco é feito sobre fogo, a ação rápida das labaredas faz com que as folhas percam parte de sua umidade, evitando que ela escureça e adquira um sabor desagradável. Após isso a erva é submetida a uma secagem que dura de dez a doze horas, em instalações de calor intenso, como um forno e sem contato com a fumaça. Terminada a secagem, a erva é triturada e fragmentada, depois peneirada. A atividade do produtor local termina com o peneiramento da erva-mate, que assim se constitui na matéria-prima para os engenhos de beneficiamento”. (COSTA, 1995, p. 26-27).
O inicio das atividades industriais no Paraná será justamente com o beneficiamento desta erva-mate extraída e preparada nos ervais, nos engenhos que começaram a funcionar no século XIX.
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CALDEIRA, Jorge. Mauá, Empresário do Império, São Paulo, Companhia das Letras, 1ª edição, 1995;
COSTA, Samuel Guimarães da. A Erva-Mate. Curitiba: Farol do Saber, 1995;
2 comentários:
Oi Professor
No livro A Coluna da Morte, de João Cabanas há um relato dele sobre a CIA Mate Laranjeira, é bastante interessante, acredito que deveria ser relatado aqui.
Seu blog é ótimo, parabéns.
Bom, eu já havia lido este artigo durante o curso de "História do Paraná" na UTFPR, ministrado pelo prof. Bondarik. Agora o li novamente, e gostaria de fazer um breve relato a respeito do beneficiamento da erva-mate no sul do Brasil.
Modo de beneficiamento brasileiro moderno da erva-mate para Chimarrão:
A erva-mate após ser colhida, seja em ervais nativos em meio as matas ou em ervais cultivados, as folhas "in natura", após passarem por um processo de seleção, são levadas para o sapecador mecânico, onde são sapecadas sem o contato direto com o fogo, apenas o ar quente faz o trabalho. Logo após, as folhas são cortadas mecanicamente, para facilitar o processo de secagem, onde voltam para o sapecador mecânico, isso é feito para evitar sua decomposição. Depois desse processo, se obtém a erva-mate "Crioula" ou "Canchiada", podendo ser até consumida. Mas ainda a erva-mate não atingiu o padrão desejado pelo exigente consumidor. A erva-mate Crioula, é peneirada, para serem removidos os palitos das folhas. Os palitos são reservado. Já as folhas são moídas de acordo com o padrão que se deseja, podendo ser um padrão mais fino ou mais grosso. Após as folhas serem moídas, são adicionados os palitos previamente reservados, a quantidade se palitos a serem adicionados varia de acordo com o padrão comercial, podendo ser PNT 1(Mínimo de 70% folhas e máximo 30% palitos), PNT 2(Mínimo 60% folhas e máximo 40% palitos) e PNT 3(Mínimo 50% folhas e máximo 50% palitos). Após esse longo processo, a erva-mate é empacotada e distribuída para o consumo. Pelo fato do consumidor de erva-mate para chimarrão no sul do Brasil exigir uma erva nova, algumas ervateiras embalam a vácuo a erva, garantindo-a cor, aroma e sabor por muito mais tempo, sendo ideal para consumidores mais distantes. Sem querer fazer propaganda, a Erva-Mate Barão de Cotegipe, é um exemplo desse moderno processo produtivo, sendo umas das melhores do mercado nacional.
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