quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

JESUÍTAS, MAPISTAS E EXPLORADORES DO SERTÃO DO TIBAGI: PÁGINAS DA HISTÓRIA DO NORTE DO PARANÁ

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Este texto foi enviado também ao jornal Folha de Londrina, segundo a resposta vaga que me deram ele não interessava para publicação. 
Ainda bem que existem blogs e internet, agora posso amplia-lo e acredito que ele possa ser utilizável ainda a alguem que queira saber mais um pouco sobre a história do Norte do Paraná.
Ele trata de John Henry Elliot, Joaquim Francisco Lopes e sua missão de explorar o Norte do Paraná buscando uma rota até o Mato Grosso em meados do século XIX.
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JESUÍTAS, MAPISTAS E EXPLORADORES DO SERTÃO DO TIBAGI: PÁGINAS DA HISTÓRIA DO NORTE DO PARANÁ 
Prof.Me. Roberto Bondarik
UTFPR - Cornélio Procópio
bondarik@utfpr.edu.br



                A reportagem sobre as Reduções Jesuíticas Espanholas no Paraná (FOLHA DE LONDRINA de 28 de Novembro de 2010), mostrou-nos uma página pouco lembrada da história paranaense, em especial do Norte do Estado, e que acabou nos levando à outras que encontram-se igualmente esquecidas. Recordei-me de um cartógrafo que em meados do séc. XIX explorou os sertões dos rios Tibagi, Ivai, Paranapanema e Itararé, e também buscou encontrar estas antigas missões espanholas. Tratava-se de John Henry Elliot, que sob o contrato e a mando de João da Silva Machado, conhecido como Barão de Antonina, a partir de 1846, conseguiu estabelecer uma rota terrestre e fluvial entre o litoral paranaense e a Província do Mato Grosso. De suas ações resultaram cidades como Tibagi e Jataizinho, reservas indígenas e os primeiros mapas detalhados do Norte do Paraná.
                John Henry Elliot nasceu em Filadélfia nos Estados Unidos, em 1809, aos dezesseis anos chegou ao Brasil a bordo da Fragata Cyane. Alistou-se na Armada Imperial, lutou na guerra de independência do Uruguai tendo ai sido aprisionado por dois anos. De retorno ao nosso país conheceu o Barão de Antonina, fazendeiro e tropeiro, engajado na emancipação do Paraná. Como empresário e político o Barão desejava estabelecer uma rota terrestre que ligasse o Paraná ao Mato Grosso, encurtando o caminho entre aquela província e o Rio de Janeiro, fugindo à passagem por Buenos Aires e Assunção. Elliot tornou-se o cartógrafo e piloto das expedições financiadas pelo Barão que desejava se assenhorear das terras ao longo da rota a ser traçada.
                Em 1846 Elliot e o sertanista Joaquim Francisco Lopes, o “Sertanejo”, parceiro e chefe do agrimensor norte-americano nas viagens , fizeram um reconhecimento do curso do rio Tibagi e exploraram seu sertão. Esta expedição foi bem documentada e relatada pelo norte-americano ao seu contratante, desta forma pode-se saber o que eles encontraram nesta região habitada àquela época por índios nômades e outrora pontilhada por reduções espanholas. Os exploradores buscavam um ponto da Serra do Apucarana para de seu topo observar a região. Esta serra já há muito fazia-se presente no imaginário brasileiro, os nativos a imaginavam como um local paradisíaco e terra de riquezas imaginárias para os bandeirantes paulistas. Hoje ela possui diversos nomes: Esperança, Cadeado, Santa Maria, etc. Encontrado o mirante almejado Elliot e Lopes puderam vislumbrar os sertões do Tibagi, Ivai e Paranapanema, com as suas matas de então, alguns campos e os cursos d`água, puderam escolher quais rotas deveriam seguir. A descrição que o cartógrafo faz da paisagem avistada, ainda hoje, emociona por sua beleza poética. Este momento foi eternizado e pode ser comprovado pela inscrição em uma pedra feita pelos dois exploradores, com as suas iniciais e o ano do feito: “JFL - JHE – 1846. Este marco da exploração pioneira do Norte do Paraná e do Sertão do Tibagi ainda se encontra no seu local original, o topo da elevação hoje conhecida por Pedra Branca, próximo a Ortigueira-Pr, nas nascentes do Ribeirão Apucaraninha. Esta pedra que ainda guarda a sua inscrição foi recentemente mostrada por uma equipe da Rede Paranaense de Comunicação, programa "Meu Paraná", era uma reportagem conduzida pela jornalista Francisca Aldunate da TV Coroados de Londrina. A Pedra Branca com o seu acesso encontra-se bem ao lado da Rodovia do Café onde esta instalada uma repetidora de telefonia.
                Ainda naquele ano de 1846 e em nova missão Elliot explorou a nascente e mapeou o curso do rio Congonhas, batizando-o com esse nome em virtude da grande quantidade de erva-mate que existia em suas margens. Estes mapas de John Henry, depositados hoje na Mapoteca do Itamaraty, podem ser os primeiros sobre o Norte do Paraná e o Sertão do Tibagi, um feito que poderia torná-lo de certa forma o “redescobridor” desta região no séc. XIX, depois dos Jesuítas, bandeirantes e é lógico dos indígenas que ai viveram sendo os  seus primeiros habitantes há milênios. Sua busca era pelo ponto onde o Tibagi tornava-se navegável e ai fundar uma colônia militar que viria a ser Jataizinho. Inicialmente ele pensou em instalar esse núcleo na foz do rio Congonhas, afim de proteger as embarcações e as construções das intensas e repentinas enchentes que faziam subir muito o leito do Tibagi invadindo suas margens. Posteriormente ele planejou o traçado urbano e ajudou a fundar a própria cidade de Tibagi.
                Em outras expedições Elliot esteve nas ruínas de Vila Rica do Espírito Santo, importante centro urbano espanhol que existiu próximo a Fênix, às margens do Ivai. Ele também identificou diversos vestígios dos jesuítas ao longo daquele rio, como os restos de mineração e lavras, ruínas e em especial as muitas árvores frutíferas: laranjeiras, limoeiros e marmeleiros entre outras, todos plantados em linha. Na ocasião em que trouxe índios para trabalharem como canoeiros na "Colônia Militar do Jatahy" (Jataizinho), Elliot encontrou a Redução de Nossa de Loreto e descreveu as suas condições . Exaustivamente buscou encontrar também a redução de Santo Inácio, porém não conseguiu realizar seu intento. Elliot imaginava que os sítios dessas reduções seriam bons pontos para a instalação de das colônias que deveriam dar apoio e segurança a nova rota para o Mato Grosso. Consta, conforme seu relato que ainda nessa expedição ele teria encontrado também sinais de moradores de um Quilombo que, dizia-se à época, existia no Pontal do Paranapanema.
                John Henry Elliot pintou paisagens e seria dele a primeira representação pictórica de Curitiba, escreveu um romance indianista “Aricó e Caocochée”, em 1844, ambientado na conquista dos Campos de Guarapuava, antes mesmo que José de Alencar lançasse “O Guarani”. O Cartógrafo morreu pobre em 1884 e esta sepultado em São Gerônimo da Serra, bem longe de sua terra natal e quase esquecido em uma história que ele ajudou a escrever no Paraná. Uma vida cujas ações merecem ser resgatadas e que aparentemente guardam semelhanças com a de alguns daqueles conterrâneos de Elliot que buscavam as nascentes do Mississipi, as Sete Cidades de Cibola e a passagem para o Oceano Pacífico. João Henrique Elliot, como gostava de ser chamado, foi um homem que vislumbrou a Serra do Mar a partir do Litoral, desejando enxergar além dela, partiu nesta aventura e descobriu o Norte do Paraná.

2 comentários:

lapis ecologico disse...

Eu uso nas embalagens do meu artesanato,uma imagem da representação pictórica da cidade de Curitiba feita
por J.Henry Elliot em 1855.

Agradeço pelas informações contidas no seu blog.

Grato,

Orlando Pereira de Sousa

solange disse...

Estou a procura de informaçoes sobre a familia de John Henry
Elliot e sua descendencia,se vc puder me ajudar a encontrar mais publicaçoes a respeito agradeço muito,pois estive em um cartorio em sao jeronimo da serra e me disseram que houve um incendio e alguns arquivos destruidos...obrigada!!!!