Texto a respeito das consequências da Covid-19, em especial aquelas que afetam as cadeias de suprimento (componentes) para a indústria em diversos países.
O artigo foi publicado no jornal "Folha de Londrina" em 27 de Abril de 2022, a imagem da publicação está disponível ao final da página.
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Just in Time
Global, a arrumação econômica da Covid-19
Roberto
Bondarik
bondarik@outlook.com
Professor Titular da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio
O
sistema Toyota de produção, pensado por Taiichi Ohno, na década de 1950, a
partir de observações nos supermercados norte-americanos, onde os clientes
levavam consigo uma lista com os itens e quantidades que necessitavam comprar,
particularidade que fez surgir na mente de Ohno o princípio do kanban, essência
do just in time, em que a indústria solicitava a entrega de componentes aos
seus fornecedores apenas quando eles seriam utilizados na produção, eliminando
grandes estoques, capitais e mão de obra para a sua formação e manuseio. A
difusão desta filosofia de produção contribuiu com a redução dos custos, com a
produtividade, maior variedade de produtos, menores preços e maior consumo.
O processo de globalização
econômica, da década de 1990, expandiu as cadeias de fornecedores em escala mundial.
As facilidades nos transportes aéreo e marítimo, rápido manuseio e desembaraço
de cargas, tornaram o just in time planetário. Os baixos custos, as grandes
escalas e volumes de produção constante melhoria na qualidade e na evolução
tecnológica das suas fábricas, tornaram a China o fornecedor por excelência da
indústria mundial. A dependência de componentes chineses cresceu
exponencialmente neste século, com indústrias tradicionais se estabelecendo
naquele país, baixando custos, ampliando a dependência dos mercados produtivo e
consumidor mundial em relação ao que acontece com e na China. O just in time globalizou-se
e passou a falar mandarim, mesmo se comunicando em inglês. A pandemia de
Covid-19 colocou tudo isso em xeque.
Não se sabe ao certo ainda que
animal contaminou os primeiros doentes que desenvolveram a Covid-19, os
primeiros casos foram confirmados em dezembro de 2020, em um mercado de
alimentos em Wuhan, capital da província chinesa de Hubei, A cidade, com 11
milhões de habitantes, às margens do rio Yangtzé e do eixo ferroviário
Pequim-Hong Kong, é um centro da indústria automotiva, com forte presença
mundial, também é importante polo de pesquisa, desenvolvimento e fabricação de
veículos elétricos. Colocada em lockdown em 23 de janeiro de 2020, teve
bloqueio de rodovias, suspensão de trens e de voos. Em poucos dias outras
cidades e províncias também foram fechadas, atingindo bem mais de 54 por cento
do produto interno bruto da china. Portos foram fechados, fábricas paralisadas
e o transporte bloqueado. Antes que a Covid-19 se espalhasse pelo mundo, o just
in time globalizado foi vitimado com a com a falta de suprimentos e componentes
para a produção industrial.
O desenvolvimento de vacinas e sua
aplicação na população mundial, fizeram os números de mortes e de casos graves
reduzirem ao ponto de ensaiar-se uma retomada da produção industrial em escala
global, inclusive na China que manteve uma política sanitária rígida. Novos problemas
surgiram e prejudicaram o just in time global, faltaram contêineres e navios de
carga solta foram usados, dificultando o rápido manuseio das cargas, atrasando
cronogramas. Novos surtos recentes da doença na China levaram a novos lockdowns,
principalmente em Xangai, isolando cidades e fábricas que, mesmo mantendo seus
operários isolados, se viram sem motoristas de caminhão, operadores de carga em
portos etc. A falta de componentes que provoca o fechamento de fábricas, mesmo
no Brasil, até que ocorra uma normalidade no fornecimento ou que se encontrem,
localmente novos fornecedores, uma tendencia forte.
A pandemia de Covid-19, está
provocando uma reordenação das cadeias produtivas mundiais, com reflexos na
retomada da produção em nível nacional, com vantagens locais. Pode ser que
emerja uma nova economia, que nos beneficie mais, com novos arranjos produtivos,
desse caos e medo ao qual sobrevivemos após mais de dois anos.
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