terça-feira, 3 de agosto de 2021

A Copa América no Brasil da Pandemia

 Artigo produzido em 02 de julho de 2021.

A Copa América no Brasil da Pandemia


Prof. Roberto Bondarik, Dr.
bondarik@outlook.com 
Professor Titular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio

 

            Anunciada de surpresa, a Copa América a ser disputada no Brasil, suscita ponderações sobre eventos esportivos internacionais no Brasil. Em tempos normais, dado os números de público, publicidade e valores sobre seus direitos de transmissão, pode ser classificada como um megaevento esportivo. Ao que pese serem organizados por entidades privadas, como FIFA e seus associados, o COI, faz-se necessário o apoio de Estados organizados afim de garantir a realização de um megaevento esportivo. Segurança para delegações, equipes e visitantes, o acesso a meios de comunicação, transporte eficaz, proteção legal aos contratos e as marcas dos parceiros comerciais associados aos organizadores, são ações essenciais que somente podem ser oferecidas por um Estado e seu sistema legal.

            Se aos organizadores, patrocinadores, televisões e outros meios de transmissão, objetiva um retorno financeiro da sua participação em uma megaevento esportivo, fator que atrai também as equipes que disputam troféus, medalhas, prêmios e remunerações, também os Governos buscam um retorno que justifique sua participação. São inúmeros os benefícios ou legados materiais e simbólicos que podem decorrer de um megaevento.

Como legado material podemos elencar os investimentos em infraestrutura de transporte, comunicação e energia, equipamentos esportivos, mobilidade urbana e, novos aparelhos e roteiros turísticos. O legado simbólico ou intangível aufere-se da visibilidade internacional que os países-sede dessas competições conseguem obter, mostrando sua capacidade de organização, condução, economia ou realizações políticas e sociais: em 1964 o Japão mostrou, com a organização dos Jogos Olímpicos de Verão, os efeitos de seu soerguimento e superação da destruição impingida pela Segunda Guerra Mundial; igualmente ocorreu com a Alemanha em 1972 com as Olímpiadas e, em 1974 com a Copa do Mundo FIFA; em 2006, com a Copa do Mundo a Alemanha mostrou como estava perfeitamente integrada após o processo de reunificação de sua parte Ocidental com a Oriental; em 2010, a África do Sul, apresentou-se ao mundo como uma nação que havia se conciliado racialmente e superado o regime do Apartheid e; o Brasil que, com uma serie de megaeventos esportivos desejava mostrar-se democraticamente organizado, economicamente desenvolvido, moderno, capaz e confiável para receber investimentos internacionais e capaz de produzir legados materiais.

            O Brasil teve, em um período de uma década, cerca de seis megaeventos esportivos, quase todos sediados no Rio de Janeiro: Jogos Pan-Americanos em 2007; Jogos Mundiais Militares em 2011; Copa das Confederações em 2013; Copa do Mundo FIFA em 2014; Olímpiadas e Paraolimpíadas em 2016. O legado desses jogos todos foi pífio, a exemplo do que pode ser auferido a respeito da Copa do Mundo de 2014, mesmo após uma preparação de aproximadamente oito anos. Destaque-se que a escolha de um pais ou cidade-sede é fruto de um longo processo de escolha onde diversos candidatos são testados quanto as suas capacidades econômicas, culturais e políticas de cada um.

            O anuncio intempestivo da Copa América no Brasil frustra, em larga escala, todo o processo de sua organização como megaevento : a ausência de torcida, aliada a limitação das viagens internacionais, impede a atração de turistas e consequentemente dos seus gastos; a ausência de planejamento e antecedência, pode não dar o retorno financeiro imaginado pelos patrocinadores, detentores de marcas vinculas à competição e mesmo aos detentores dos direitos de transmissão; as cidades, governos estaduais e federal, apesar da sua colaboração com segurança, eventuais garantias legais aos organizadores, não poderão colher legados dos seus investimentos. O legado intangível, em virtude dos números da Covid-19 no Brasil, pode transmitir uma imagem de irresponsabilidade dos governantes e organizadores, mesmo ocorrendo competições assemelhadas no País e no Continente.

            Os megaeventos esportivos são momentos e espaços de congraçamento entre povos e nações, de celebração da organização e da capacidade de um povo ou nação. Perguntamos assim: qual será o legado simbólico e material da realização de uma Copa América, na atual conjuntura de pandemia, no Brasil? Há o que celebrar?

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