Artigo produzido em 02 de julho de 2021.
A Copa América no
Brasil da Pandemia
bondarik@outlook.com
Professor Titular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Cornélio Procópio
Anunciada de surpresa, a Copa América a ser disputada no
Brasil, suscita ponderações sobre eventos esportivos internacionais no Brasil. Em
tempos normais, dado os números de público, publicidade e valores sobre seus
direitos de transmissão, pode ser classificada como um megaevento esportivo. Ao
que pese serem organizados por entidades privadas, como FIFA e seus associados,
o COI, faz-se necessário o apoio de Estados organizados afim de garantir a
realização de um megaevento esportivo. Segurança para delegações, equipes e
visitantes, o acesso a meios de comunicação, transporte eficaz, proteção legal
aos contratos e as marcas dos parceiros comerciais associados aos
organizadores, são ações essenciais que somente podem ser oferecidas por um
Estado e seu sistema legal.
Se aos organizadores, patrocinadores, televisões e outros
meios de transmissão, objetiva um retorno financeiro da sua participação em uma
megaevento esportivo, fator que atrai também as equipes que disputam troféus,
medalhas, prêmios e remunerações, também os Governos buscam um retorno que
justifique sua participação. São inúmeros os benefícios ou legados materiais e
simbólicos que podem decorrer de um megaevento.
Como
legado material podemos elencar os investimentos em infraestrutura de
transporte, comunicação e energia, equipamentos esportivos, mobilidade urbana e,
novos aparelhos e roteiros turísticos. O legado simbólico ou intangível
aufere-se da visibilidade internacional que os países-sede dessas competições
conseguem obter, mostrando sua capacidade de organização, condução, economia ou
realizações políticas e sociais: em 1964 o Japão mostrou, com a organização dos
Jogos Olímpicos de Verão, os efeitos de seu soerguimento e superação da
destruição impingida pela Segunda Guerra Mundial; igualmente ocorreu com a
Alemanha em 1972 com as Olímpiadas e, em 1974 com a Copa do Mundo FIFA; em
2006, com a Copa do Mundo a Alemanha mostrou como estava perfeitamente
integrada após o processo de reunificação de sua parte Ocidental com a
Oriental; em 2010, a África do Sul, apresentou-se ao mundo como uma nação que
havia se conciliado racialmente e superado o regime do Apartheid e; o Brasil
que, com uma serie de megaeventos esportivos desejava mostrar-se
democraticamente organizado, economicamente desenvolvido, moderno, capaz e
confiável para receber investimentos internacionais e capaz de produzir legados
materiais.
O Brasil teve, em um período de uma década, cerca de seis
megaeventos esportivos, quase todos sediados no Rio de Janeiro: Jogos
Pan-Americanos em 2007; Jogos Mundiais Militares em 2011; Copa das
Confederações em 2013; Copa do Mundo FIFA em 2014; Olímpiadas e Paraolimpíadas
em 2016. O legado desses jogos todos foi pífio, a exemplo do que pode ser
auferido a respeito da Copa do Mundo de 2014, mesmo após uma preparação de
aproximadamente oito anos. Destaque-se que a escolha de um pais ou cidade-sede
é fruto de um longo processo de escolha onde diversos candidatos são testados quanto
as suas capacidades econômicas, culturais e políticas de cada um.
O anuncio intempestivo da Copa
América no Brasil frustra, em larga escala, todo o processo de sua organização como
megaevento : a ausência de torcida, aliada a limitação das viagens internacionais,
impede a atração de turistas e consequentemente dos seus gastos; a ausência de
planejamento e antecedência, pode não dar o retorno financeiro imaginado pelos
patrocinadores, detentores de marcas vinculas à competição e mesmo aos
detentores dos direitos de transmissão; as cidades, governos estaduais e
federal, apesar da sua colaboração com segurança, eventuais garantias legais
aos organizadores, não poderão colher legados dos seus investimentos. O legado
intangível, em virtude dos números da Covid-19 no Brasil, pode transmitir uma
imagem de irresponsabilidade dos governantes e organizadores, mesmo ocorrendo
competições assemelhadas no País e no Continente.
Os megaeventos esportivos são momentos
e espaços de congraçamento entre povos e nações, de celebração da organização e
da capacidade de um povo ou nação. Perguntamos assim: qual será o legado
simbólico e material da realização de uma Copa América, na atual conjuntura de
pandemia, no Brasil? Há o que celebrar?
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