domingo, 15 de fevereiro de 2015

Cornélio Procópio: origens históricas.

Texto publicado no Caderno Especial da Folha de Londrina em 15 de fevereiro de 2015.

FOLHA DE LONDRINA, Domingo, 15 de Fevereiro de 2015 – Ano 66 – Edição 20.112. CADERNO ESPECIAL CORNÉLIO PROCÓPIO 77 ANOS.  Pagina 12

Abaixo o texto original e a versão resumida (imagem) que foi publicada pelo jornal 


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Cornélio Procópio: origens históricas
Prof. Me. Roberto Bondarik
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
bondarik@utfpr.edu.br / profbondarik@gmail.com

Quando o Coronel Cornélio Procópio de Araújo Carvalho faleceu em 22 de outubro de 1909 talvez ele nunca imaginasse que seu nome fosse batizar um município com quase cinquenta mil habitantes no Norte Pioneiro do Paraná. Uma terra que nunca conheceu e muito menos foi proprietário. Cornélio Procópio nasceu em 06 de janeiro de 1857e Aiuruoca no Sul de Minas Gerais, foi fazendeiro e comerciante, encontra-se sepultado no Cemitério da Consolação em São Paulo. A história da cidade e município que leva seu nome possui raízes cravadas no tempo, seus registros remontam ao século XIX e são dignas de nota.
A região do sertão do Rio Congonhas foi mapeada e explorada em 1846 por Joaquim Francisco Lopes e John Henry Elliot, sertanistas sob as ordens do Barão de Antonina que era um fazendeiro dos Campos Gerais e dono de tropas de mulas. Buscavam eles os Campos do Paiquerê e uma rota para o Mato Grosso. Os dois exploradores firmaram naquele ano a “Posse do Congonhas” ou Fazenda Congonhas em nome do Barão. Foram eles que deram nome a esse rio em virtude da erva-mate (congonha) que havia em suas nascentes. Ela abrangia todas as terras em ambas as margens desde sua nascente até a foz no Rio Tibagi, englobava toda a bacia hidrográfica do Congonhas.  Não consta que essas terras foram colonizadas ou subdivididas naquele tempo. Em 1891 os herdeiros do Barão venderam grande parte de suas terras à Ildefonso Mendes de Sá. Nesta época os limites da Fazenda Congonhas são apontados nos mapas que mostram os lotes da Colônia Militar do Jatahy (Jataizinho). Olegário Rodrigues de Macedo e José Marcondes de Albuquerque compram a fazenda em 1893. Em 1900 Olegário tornou-se o único proprietário até vende-la à José Pedro da Silva Carvalho. Mesmo com tantos donos se revezando acredita-se que não houve ocupação efetiva das terras da Fazenda Congonhas. Situação que mudaria a partir da década de 1920.
A chegada da ferrovia a Ourinhos-SP em 1908 mudaram as perspectivas econômicas do Norte do Paraná. Surgiu um projeto de construção de uma estrada de ferro ligando Ourinhos até Assunção, capital do Paraguai, passando por Guaira. Em 1920 um grupo de empresários recebeu a concessão para a construção dessa ferrovia, faziam parte dele: Antonio Barbosa Ferraz e seus filhos Leovegildo e Braulio, Willie da Fonseca Brabazon Davis e Manoel da Silveira Corrêa. Receberam exclusividade da exploração, isenção para importação de equipamentos e componentes além de uma compensação de 28:800$000 (vinte e oito contos e oitocentos mil-reis) em terras ou o equivalente a 3.600 hectares por quilometro de estrada construída e em funcionamento. Em 1924 o primeiro trecho até Cambará ficou pronto mas por ali ficou até que empresários britânicos da Paraná Plantations adquirissem o controle da Ferrovia São Paulo – Paraná e a prolongassem até as terras da sua Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), de Londrina em diante. Construída pela empresa MacDonald, Gibbs & Co, de Londres a ferrovia atingiu Andirá em abril de 1930, Bandeirantes em Julho, Santa Mariana no Km 107 e Cornélio Procópio tiveram suas estações entregues em 1º de dezembro de 1930. Em 1931 chegariam às margens do Tibagi em Jataizinho e em 1934 com a conclusão da ponte ferroviário sobre esse rio seguiriam os trilhos pelo Norte do Paraná até ultrapassar Londrina.
O projeto da ferrovia e o seu traçado eram de conhecimento de muitos, aos ingleses interessava à estrada de ferro, cuja expertise dominavam, e as terras da CTNP. Por onde os trilhos passassem a possibilidade de valorização das terras era muito grande e isto atraiu a atenção de investidores paulistas que adquiriram as antigas posses e fazendas ainda de mata fechada pelo caminho. Assim Francisco da Cunha Junqueira, também fazendeiro e empresário em São Paulo adquiriu em 1923, terras da Fazenda Laranjinha, dando origem a gleba do mesmo nome. Eram terras por onde passaria a ferrovia e se estendiam das margens do Rio Laranjinha até o serro divisor de águas da bacia desse rio com o Congonhas. Cunha Junqueira era genro e ao mesmo tempo sobrinho de Cornélio Procópio e em suas terras projetou dois núcleos urbanos Santa Mariana, nome em homenagem a sua esposa e Cornélio Procópio em honra a seu falecido sogro. O projeto das duas futuras cidades já existia em 1924.
O envolvimento de Cunha Junqueira com o Partido Democrático de São Paulo, a Revolução de 1930, sua participação como Secretário da Agricultura e envolvimento com Revolução Constitucionalista de 1932 fizeram com que ele fosse exilado do Brasil. Sua esposa vendeu as terras e os projetos de colonização da Gleba Laranjinha para Francisco Moreira da Costa e Antônio Paiva Junior da Colonizadora Paiva & Moreira. Esta empresa que iria efetivamente conduzir a venda dos lotes urbanos e rurais das duas cidades e promover a sua colonização.
A outra parte do território do que hoje é Cornélio Procópio, a Fazenda Congonhas, foi adquirida em 1923 por Antônio Barbosa Ferraz e seus filhos da Companhia Agrícola Barbosa, de Cambará. Comprada de José Pedro da Silva Carvalho, a Fazendo Congonhas teve a sua posse contestada por herdeiros do Barão de Antonina em um processo judicial demorado mas ao final vencido pela Cia Barbosa que teve como advogado Francisco Morato. Os Barbosa possuíam influência junto ao Governo do Paraná, sendo que Bráulio Barboza Ferraz era prefeito de Cambará quando o Estado financiou e a prefeitura de Cambará construiu uma rodovia carroçável desde aquela cidade até Jataizinho, concluída em 1929. Foram construídas pontes com base de pedra e concreto sobre os rios das Cinzas e Congonhas, passando próximo a Carvalhopolis (Abatiá) e Santa Amélia, cruzava o rio Laranjinha e seguia pelo bairro Igarapava já em terras procopenses e atingia a Gleba Congonhas próximo à Casa João Paulo II já nos limites urbanos atuais de Cornélio Procópio. Em algum lugar ali foi erguido do “Armazém Velho” onde um representante da Cia Barbosa levava os compradores até seus lotes adquiridos. Às margens da rodovia e no centro da gleba foi planejado e instalado o centro urbano de Congonhas, o primeiro a ser levantado no que é hoje o município recebendo compradores desde a conclusão da estrada. A ferrovia chegaria a Congonhas em 1931.

As duas glebas, Congonhas e Laranjinha, deram origem ao Município de Cornélio Procópio, suas terras se limitavam no que hoje é a cidade sendo que cerca da metade da área urbana pertencia a cada uma delas. Sem a ferrovia e sem os investidores que vislumbraram possibilidades de negócio na região com certeza iria demorar um pouco mais para que o Norte do Paraná se integrasse de forma produtiva, gerando riquezas, ao Brasil.