sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

OS CAMPOS DO PAIQUERÊ: OS CAMPOS DO SENHOR

OS CAMPOS DO PAIQUERÊ:
 OS CAMPOS DO SENHOR


Prof.Me. Roberto Bondarik
UTFPR
bondarik@utfpr.edu.br



            Os Campos do Paiquerê eram para os indígenas paranaenses a materialização da felicidade e do bem estar. Conforme Josué Corrêa Fernandes em “Das Colinas do Pitangy” (2003), o Paiquerê estaria em toda a parte e em parte alguma, sua existência seria mítica, esotérica e espiritual, uma espécie de Xangri-lá brasileiro.
            O índio desprovido do tipo de visão de mundo econômica que o homem branco possuía, sem ter a sua cobiça material típica dos exploradores portugueses e espanhóis, enxergava o Paiquerê de uma forma muito diversa daquela dos portugueses e espanhóis que esquadrinharam o interior paranaense em busca desse paraíso perdido.
            Para o indígena o Paiquerê era como um imenso campo banhado permanentemente pelo Sol, com fartura de frutas, com caça e pesca em abundância. Imaginavam que esse paraíso terrestre no alto de uma serra ou em um planalto bem elevado, perto do céu, rico em nascentes, com riachos de águas mansas e puras que cortariam essa terra agradável e acolhedora. Campos e bosques completavam o quadro desse lugar maravilhoso.
            Portugueses, espanhóis e brasileiros buscaram exaustivamente os Campos do Paiquerê nos séculos XVII, XVIII e XIX, alguns desses exploradores chegaram a situar esses campos na Serra do Apucarana, esta cadeia de elevações foi outro lugar mitificado e tido por paradisíaco pelos indígenas do Sul do Brasil. Os bandeirantes paulistas acreditavam que a Serra do Apucarana teria em seu topo e encostas imensas jazidas minerais, ouro e pedras preciosas. Esta serra seria bem alta e dominaria com sua imponência toda uma região.
            Diversas expedições procuraram o Paiquerê que acreditava-se afinal deveria existir em algum lugar entre os rios Ivaí, Piquiri e Iguaçu.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

JESUÍTAS, MAPISTAS E EXPLORADORES DO SERTÃO DO TIBAGI: PÁGINAS DA HISTÓRIA DO NORTE DO PARANÁ

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Este texto foi enviado também ao jornal Folha de Londrina, segundo a resposta vaga que me deram ele não interessava para publicação. 
Ainda bem que existem blogs e internet, agora posso amplia-lo e acredito que ele possa ser utilizável ainda a alguem que queira saber mais um pouco sobre a história do Norte do Paraná.
Ele trata de John Henry Elliot, Joaquim Francisco Lopes e sua missão de explorar o Norte do Paraná buscando uma rota até o Mato Grosso em meados do século XIX.
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JESUÍTAS, MAPISTAS E EXPLORADORES DO SERTÃO DO TIBAGI: PÁGINAS DA HISTÓRIA DO NORTE DO PARANÁ 
Prof.Me. Roberto Bondarik
UTFPR - Cornélio Procópio
bondarik@utfpr.edu.br



                A reportagem sobre as Reduções Jesuíticas Espanholas no Paraná (FOLHA DE LONDRINA de 28 de Novembro de 2010), mostrou-nos uma página pouco lembrada da história paranaense, em especial do Norte do Estado, e que acabou nos levando à outras que encontram-se igualmente esquecidas. Recordei-me de um cartógrafo que em meados do séc. XIX explorou os sertões dos rios Tibagi, Ivai, Paranapanema e Itararé, e também buscou encontrar estas antigas missões espanholas. Tratava-se de John Henry Elliot, que sob o contrato e a mando de João da Silva Machado, conhecido como Barão de Antonina, a partir de 1846, conseguiu estabelecer uma rota terrestre e fluvial entre o litoral paranaense e a Província do Mato Grosso. De suas ações resultaram cidades como Tibagi e Jataizinho, reservas indígenas e os primeiros mapas detalhados do Norte do Paraná.
                John Henry Elliot nasceu em Filadélfia nos Estados Unidos, em 1809, aos dezesseis anos chegou ao Brasil a bordo da Fragata Cyane. Alistou-se na Armada Imperial, lutou na guerra de independência do Uruguai tendo ai sido aprisionado por dois anos. De retorno ao nosso país conheceu o Barão de Antonina, fazendeiro e tropeiro, engajado na emancipação do Paraná. Como empresário e político o Barão desejava estabelecer uma rota terrestre que ligasse o Paraná ao Mato Grosso, encurtando o caminho entre aquela província e o Rio de Janeiro, fugindo à passagem por Buenos Aires e Assunção. Elliot tornou-se o cartógrafo e piloto das expedições financiadas pelo Barão que desejava se assenhorear das terras ao longo da rota a ser traçada.
                Em 1846 Elliot e o sertanista Joaquim Francisco Lopes, o “Sertanejo”, parceiro e chefe do agrimensor norte-americano nas viagens , fizeram um reconhecimento do curso do rio Tibagi e exploraram seu sertão. Esta expedição foi bem documentada e relatada pelo norte-americano ao seu contratante, desta forma pode-se saber o que eles encontraram nesta região habitada àquela época por índios nômades e outrora pontilhada por reduções espanholas. Os exploradores buscavam um ponto da Serra do Apucarana para de seu topo observar a região. Esta serra já há muito fazia-se presente no imaginário brasileiro, os nativos a imaginavam como um local paradisíaco e terra de riquezas imaginárias para os bandeirantes paulistas. Hoje ela possui diversos nomes: Esperança, Cadeado, Santa Maria, etc. Encontrado o mirante almejado Elliot e Lopes puderam vislumbrar os sertões do Tibagi, Ivai e Paranapanema, com as suas matas de então, alguns campos e os cursos d`água, puderam escolher quais rotas deveriam seguir. A descrição que o cartógrafo faz da paisagem avistada, ainda hoje, emociona por sua beleza poética. Este momento foi eternizado e pode ser comprovado pela inscrição em uma pedra feita pelos dois exploradores, com as suas iniciais e o ano do feito: “JFL - JHE – 1846. Este marco da exploração pioneira do Norte do Paraná e do Sertão do Tibagi ainda se encontra no seu local original, o topo da elevação hoje conhecida por Pedra Branca, próximo a Ortigueira-Pr, nas nascentes do Ribeirão Apucaraninha. Esta pedra que ainda guarda a sua inscrição foi recentemente mostrada por uma equipe da Rede Paranaense de Comunicação, programa "Meu Paraná", era uma reportagem conduzida pela jornalista Francisca Aldunate da TV Coroados de Londrina. A Pedra Branca com o seu acesso encontra-se bem ao lado da Rodovia do Café onde esta instalada uma repetidora de telefonia.
                Ainda naquele ano de 1846 e em nova missão Elliot explorou a nascente e mapeou o curso do rio Congonhas, batizando-o com esse nome em virtude da grande quantidade de erva-mate que existia em suas margens. Estes mapas de John Henry, depositados hoje na Mapoteca do Itamaraty, podem ser os primeiros sobre o Norte do Paraná e o Sertão do Tibagi, um feito que poderia torná-lo de certa forma o “redescobridor” desta região no séc. XIX, depois dos Jesuítas, bandeirantes e é lógico dos indígenas que ai viveram sendo os  seus primeiros habitantes há milênios. Sua busca era pelo ponto onde o Tibagi tornava-se navegável e ai fundar uma colônia militar que viria a ser Jataizinho. Inicialmente ele pensou em instalar esse núcleo na foz do rio Congonhas, afim de proteger as embarcações e as construções das intensas e repentinas enchentes que faziam subir muito o leito do Tibagi invadindo suas margens. Posteriormente ele planejou o traçado urbano e ajudou a fundar a própria cidade de Tibagi.
                Em outras expedições Elliot esteve nas ruínas de Vila Rica do Espírito Santo, importante centro urbano espanhol que existiu próximo a Fênix, às margens do Ivai. Ele também identificou diversos vestígios dos jesuítas ao longo daquele rio, como os restos de mineração e lavras, ruínas e em especial as muitas árvores frutíferas: laranjeiras, limoeiros e marmeleiros entre outras, todos plantados em linha. Na ocasião em que trouxe índios para trabalharem como canoeiros na "Colônia Militar do Jatahy" (Jataizinho), Elliot encontrou a Redução de Nossa de Loreto e descreveu as suas condições . Exaustivamente buscou encontrar também a redução de Santo Inácio, porém não conseguiu realizar seu intento. Elliot imaginava que os sítios dessas reduções seriam bons pontos para a instalação de das colônias que deveriam dar apoio e segurança a nova rota para o Mato Grosso. Consta, conforme seu relato que ainda nessa expedição ele teria encontrado também sinais de moradores de um Quilombo que, dizia-se à época, existia no Pontal do Paranapanema.
                John Henry Elliot pintou paisagens e seria dele a primeira representação pictórica de Curitiba, escreveu um romance indianista “Aricó e Caocochée”, em 1844, ambientado na conquista dos Campos de Guarapuava, antes mesmo que José de Alencar lançasse “O Guarani”. O Cartógrafo morreu pobre em 1884 e esta sepultado em São Gerônimo da Serra, bem longe de sua terra natal e quase esquecido em uma história que ele ajudou a escrever no Paraná. Uma vida cujas ações merecem ser resgatadas e que aparentemente guardam semelhanças com a de alguns daqueles conterrâneos de Elliot que buscavam as nascentes do Mississipi, as Sete Cidades de Cibola e a passagem para o Oceano Pacífico. João Henrique Elliot, como gostava de ser chamado, foi um homem que vislumbrou a Serra do Mar a partir do Litoral, desejando enxergar além dela, partiu nesta aventura e descobriu o Norte do Paraná.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

John Henry Elliot e Joaquim Francisco Lopes: O Sertão do Tibagi e o Caminho Terrestre para o Mato Grosso no Sec. XIX

Aqui em breve um artigo sobre as explorações empreendidas por John Henry Elliot e Joaquim Francisco Lopes no Norte do Paraná, em busca da cidade espanhola de Vila Rica do Espirito Santo e das Reduções Jesuíticas na Provincia del Guayrá (Paraná Espanhol). A fundação da Colônia Militar do Jatahy (Jataizinho) e o estabelecimento do caminho do Paraná ao Mato Grosso - descobrindo o Norte do Paraná.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Combate de Quatiguá - 80 anos da Revolução de 1930

Há oitenta anos, em 12 de outubro de 1930, ocorria o maior combate da Revolução de 1930. Em Quatiguá se enfrentaram militares revolucionarios vindos diretamente do Rio Grande do Sul e tropas legalistas.
Os gauchos eram tropas regulares do Exercito e da Brigada Militar Gaúcha. Os legalistas eram também do Exército (unidades de São Paulo e do Rio de Janeiro) e da Força Pública de São Paulo (Policia Militar) além de legionários recrutados nas ruas da Capital paulista.
Foi o maior combate da Revolução e teve como repercussões a possibilidade definitiva de vitória militar daquele movimento e a retração da defesa legalista do Presidente Washington Luis.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

IV ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS DE DEFESA - BRASILIA

Irei participar do IV ENABED - Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa - em Brasilia entre os dias 19 e 21 de julho de 2010.

Irei apresentar um artigo, na mesa de História Militar,  sobre a Revolução de 1930 no Paraná, falando sobre o Combate de Quatiguá e o Destacamento Alcides Etchegoyen. Seu título é:  "O DESTACAMENTO ALCIDES ETCHEGOYEN EM AÇÃO NO COMBATE DE QUATIGUÁ: AS PERSPECTIVAS CONSTRUÍDAS PARA A VITÓRIA MILITAR DA REVOLUÇÃO DE 1930 A PARTIR DO ESTADO DO PARANÁ".

Depois de algumas idas e vindas acho que tudo dará certo. Estou contente em poder participar desse evento importante.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO - DA INGLATERRA AO BRASIL E AO PARANÁ

Prof.Me. Roberto Bondarik

 

            Conhecer as origens da indústria no Paraná é uma tarefa que passa necessariamente pela aquisição de melhores e mais pontuais informações sobre o inicio deste processo, que é chamado de industrialização. Deve-se procurar conhecer também as origens e começo desta atividade transformadora em solo brasileiro. Levando tudo isto em consideração, sendo assim registramos algumas informações norteadoras.

            Iniciado na Grã-Bretanha, no século XVIII, o processo de industrialização caracteriza-se basicamente pela utilização de máquinas na atividade de produção de bens e serviços. Ocorre uma intensa substituição sistemática da força e da habilidade humana por máquinas ou engenhos mecânicos e também a divisão da produção. O processo de mecanização da produção deu inicio a um processo que foi denominado de Revolução Industrial e acabou possuindo, conforme destacado por Iannone (1995), diversas fases sucessivas de desenvolvimento e progresso que puderam ser identificadas e que sofrem variações conforme o enfoque que é empregado pelos diveros autores: a primeira destas fases ficou restrita a Grã-Bretanha, entre os anos de 1760 até 1850, fez-se uso intenso da energia a vapor, do ferro como princioal material e concentrou principlamente na indústria têxtil de algodão; a segunda fase por sua vez, estabelece-se entre os anos de 1850 e estende-se até o inicio do século XX, foi caracterizada pela difusão do processo de industrialização pela Europa, América do Norte e Ásia, caracteriza-se pela produção e utilização de aço em substituição ao ferro, produção  e uso da eletricidade e do petróleo e seus derivados; a terceira fase, chamada de Terceira Revolução Industrial, ocorre em meados do século XX, apresenta-se pela intensificação e desenvolvimento da automação industrial, da informática, da robótica, da microeletrônica, da engenharia genética, e diversas outras inovações tecnologicas e métodos produtivos.

            A indústria tornou-se o objeto de desejo e o paradigma ideal de desenvolvimento econômico de diversas populações, empresários e governantes. Isto pode ser evidenciado no Brasil contemporâneo, em que industrialização passou a ser sinônimo de emprego.

            Em referência a industrialização brasileira, este processo teve inicio de forma sistematica, com as ações de Irineu Evangelista de Sousa, Barão e depois Visconde de Mauá, conforme exposto por Caldeira (1995). Mauá instalou o “Estaleiro de Ponta da Areia”, adquirido por ele em 11 de Agosto de 1846 e transformado na primeira industria moderna brasileira, construiu também a primeira ferrovia brasileira ligando o Rio de Janeiro até Petrópolis, estendeu o primeiro cabo submarino ligando o Brasil à Europa, entre tantas outras realizações. Ponta da Areia foi um marco na industrialização do Brasil, não somente construindo navios, mas colaborando coma mecanização da produção brasileira em diversos setores:

“(...) Não demorou muito para que dali começasse a sair algumas inovações que seu dono julgava adequadas ao mercado brasileiro: engenhos de açúcar completos movidos a vapor, bem mais produtivos que os toscos mecanismos tocados por bois e rodas d’água em uso no país; pontes de ferro que podiam ser montadas em pouco tempo mesmo nos rios mais largos; canhões de bronze para os navios de guerra; navios a vapor completos; fornos siderúrgicos e bombas de sucção (...) a Ponta da Areia provava o valor da iniciativa individual como caminho para o desenvolvimento.” (CALDEIRA, 1995, p.191-192)

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CALDEIRA, Jorge. Mauá, Empresário do Império, São Paulo, Companhia das Letras, 1ª edição, 1995;

COSTA, Samuel Guimarães da. A Erva-Mate. Curitiba: Farol do Saber, 1995;

IANNONE, Roberto Antonio. Revolução Industrial, São Paulo: Editora Moderna, 7ª ediçào, 1995;

 

segunda-feira, 28 de junho de 2010

ORIGENS DO CONSUMO E DA PRODUÇÃO DE ERVA-MATE

Prof.Me. Roberto Bondarik

bondarik@utfpr.edu.br

            De acordo com Costa (1995) o perfume que pode ser considerado como característico do Paraná Tradicional é o aroma exalado pela erva-mate. Seria muito difícil considera como exagero a afirmação de que o ciclo representado pela erva-mate na História do Paraná, revestiu-se de uma importância bastante elevada. Esse ciclo conviveu com outro também importante que foi o do gado e do tropeirismo, vivenciado nos Campos Gerais.
            A erva-mate é uma arvore nativa das florestas paranaenses, chamada em outros tempos de Congonha, a erva-mate (Ilex paraguariensis) é consumida pelos indígenas paranaenses e do Sul, em forma de “chimarrão” desde um período bem anterior à chegada dos brancos europeus. Conforme Gomes (1953) os índios a chamavam de “caa”, e os espanhóis já a conheciam quando fundaram as cidades guairenses de Ciudad Real Del Guairá e Vila Rica do Espírito Santo, ambas em território atualmente paranaense.
O uso do mate é conhecido desde as chegadas dos colonizadores no Brasil e no Paraguai. As primeiras notícias concretas datam de 1541. os documentos falam de uma bebida usada pelos nativos na região do Guairá, como verdadeiro vício. (...) o hábito se generalizou desde o peru ao Rio da Prata.” (COSTA, 1995, p. 35)

            A difusão do consumo da erva-mate, em forma de chimarrão pela região platina, ainda segundo Costa, deve-se a uma série de fatores, sendo que alguns podem ser apontados:
a)     Necessidade de melhorar o sabor da água salobra (salgada) misturando-a com folhas da erva;
b)     Ausência de outras culturas alimentares para atender o vaqueiro ou boiadeiro em longas caminhadas;
c)      Pouca disponibilidade de alimentos, o consumo da erva-mate elimina a sensação de fome, devido aos seus nutrientes.

            Os padres jesuítas das reduções espanholas do Guairá chamavam-na de “erva do diabo”, conforme Wachowicz (1988), devido ao fato de que os índios atribuíam-lhe influências consideráveis sobre as suas emoções inclusive sobre aspectos sexuais (erotismo e virilidade). É certo que os jesuítas espanhóis acabaram por proibir seu consumo por um considerável tempo. Porém a interdição religiosa não foi suficiente para diminuir o consumo e arrefecer os hábitos já seculares da população. O consumo da erva-mate, a exemplo do tabaco, foi um habito indígena que passou a fazer parte da rotina dos brancos, portugueses e espanhóis, conquistadores. Não havia casas de espanhóis nem ranchos de índios onde não fosse bebida. Os bandeirantes levaram seu consumo aos portugueses, o chimarrão tornou-se por tempos também, um hábito paulista. Há que se lembrar que o Paraná fez parte da Província de São Paulo até 1853. Paranaenses dos três planaltos aprenderam a fazer uso do chimarrão. Seu consumo hoje é considerável em diversos paises na região do Rio da Prata, Argentina, Paraguai, Uruguai, Brasil (consumo de diversas formas) e também Chile e Bolívia.
            De acordo com Costa (1985) os ervais se estendem pelo Estado até o Rio Paraná, penetrando no Mato Grosso do Sul. Adentra por santa Catarina, sempre longe do litoral, atinge a região de serras no Rio Grande do Sul. Estende-se ainda pela Argentina e Paraguai.
A região do alto Paraná foi a primeira a produzir e negociar com a erva-mate, em especial devido à facilidade do transporte pelos rios Paraná, Paraguai e Prata. Devido à instabilidade política nessa região produtora, os consumidores começaram a se voltar para o atual Estado do Paraná e Santa Catarina. Os ervais nativos dessas regiões passaram a suprir as necessidades de consumo que existiam na Argentina, Uruguai e Chile, sendo que a extração ocorria já no Paraná desde o século XVIII, quando o governo português demonstrou seu interesse por essa atividade econômica.
            A extração das folhas de erva-mate, não era muito complexa, porem exigia trabalho sistemático e pontual dentro da mata:
O corte ou poda das erveiras é feito manualmente com facão ou foice. Existem arvores com mais de doze metros de altura. Geralmente o corte é realizado por homens, sendo que mulheres e crianças ficam reunindo os galhos cortados em feixes que serão levados para a operação do sapeco. O corte mutila, mas não prejudica a árvore que levará de até cinco anos para se regenerar e sofrer novo processo de corte. O sapeco é feito sobre fogo, a ação rápida das labaredas faz com que as folhas percam parte de sua umidade, evitando que ela escureça e adquira um sabor desagradável. Após isso a erva é submetida a uma secagem que dura de dez a doze horas, em instalações de calor intenso, como um forno e sem contato com a fumaça. Terminada a secagem, a erva é triturada e fragmentada, depois peneirada. A atividade do produtor local termina com o peneiramento da erva-mate, que assim se constitui na matéria-prima para os engenhos de beneficiamento”. (COSTA, 1995, p. 26-27).

            O inicio das atividades industriais no Paraná será justamente com o beneficiamento desta erva-mate extraída e preparada nos ervais, nos engenhos que começaram a funcionar no século XIX.
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CALDEIRA, Jorge. Mauá, Empresário do Império, São Paulo, Companhia das Letras, 1ª edição, 1995;
COSTA, Samuel Guimarães da. A Erva-Mate. Curitiba: Farol do Saber, 1995;

domingo, 27 de junho de 2010

O TUMULO DE CREUZINHA

Túmulo de Creuzinha no Cemitério de Cornélio Procópio.

Com 4 ou 5 anos de idade Creuzinha foi violentada e morta há mais ou menos 45 anos por um andarilho.
A prisão do criminoso e uma entrevista concedida por ele a uma rádio local revoltou a população de Cornélio Procópio que ao final de uma tarde reuniu-se diante do prédio da Delegacia de Policia e exigia que os policiais entregassem o criminoso para ser justiçado e linchado pelo povo.
O delegado que já havia transferido o andarilho para Jacarezinho ou Cambará reagiu ao cerco e a pressão da população mobilizando a força policial que dispunha.
O desentendimento entre as pessoas na escadaria da Delegacia e os policiais fez com esses atirassem atingindo e matando diversos populares.
Foi um massacre que marcou a história da cidade. 
Houve repercussão inclusive em Brasilia, o Governador do Estado do Paraná àquela época, Ney Aminthas de Barros Braga, foi chamado à Capital Federal para explicar-se. Formou-se um movimento de opositores que queriam a sua destituição. 
Honrosamente o Deputado Federal por Cornélio Procópio, Dr. Paulo Pimenta Montans que era do partido de oposição a Ney Braga no Paraná, foi a tribuna da Câmara dos Deputados e explicou, com base nas informações de seus familiares que estavam em Cornélio e testemunharam o incidente, que o Governador nada poderia ter com o caso. 
Diante da situação os dois politicos opositores tornaram-se amigos e pelo menos nos aniversários de cada um trocavam efusivos telefonemas de congratulações.


Placas com mensagens de agradecimento

Com o tempo histórias sobre milagres atribuídos a menina assassinada, conhecida hoje apenas por Creuzinha começaram a ganhar corpo entre as pessoas. Graças lhe foram atribuídas e ex-votos começaram a ser deixados em seu pequeno túmulo localizado na parte baixa do Cemitério da Saudade em Cornélio Procópio.
Crianças que vão mal nos estudos lhe fazem promessas de ir rezar em sua sepultura e lá deixam material de escola como agradecimento e lembrança pelo sucesso alcançado e que atribuem a santinha procopense. Algum fiel reformou recentemente o tumulo, revestindo-o de granito, placas de bronze com agradecimentos foram nele afixadas, brinquedos e roupinhas de crianças também ali foram deixadas.
Estou juntando histórias sobre essa santinha procopense, sua vida, sua morte, o tumulto da Delegacia e em breve publico mais.

Que descanse em paz Creuzinha depois de tanto sofrer, rogai por todos nós degredados filhos de Eva!



JESUITAS E ÍNDIOS: MISSÕES IMPOSSIVEIS

Retirei este texto do site da Revista Aventuras na História, publicada pela Editora Abril. Ele trata das Missões dos Jesuítas no Paraná e no Rio Grande do Sul e a ação dos Bandeirantes Paulistas em conquistar essas reduções, capturando seus habitantes indígenas para vende-los como escravos. O original encontra-se neste endereço: http://historia.abril.com.br/religiao/jesuitas-indios-missoes-impossiveis-452275.shtml não deixem de conferir no site e também ler a edição de banca, impressa e bem feita.

 

JESUÍTAS E ÍNDIOS: MISSÕES IMPOSSÍVEIS

 

Durante 140 anos, no sul do Brasil, índios guaranis e padres jesuítas viveram uma experiência utópica que terminou com o massacre de 100 mil índios       em pleno século 17

 
por Luís Augusto Fischer

 

Você olha para o mundo de hoje e vê: montes de desempregados sem perspectiva de trabalho; crianças sem escola nem lugar para dormir, descartadas do mundo. Milhões sem acesso à mínima educação, menos ainda à arte e à cultura. Fome de um lado, superabundância do outro. Guerras em nome de interesses privadíssimos.

Dispondo de indignação moral, mesmo que de pouca, qualquer um tem vontade de fazer alguma coisa, nem que seja apenas sonhar com um mundo menos injusto. Por exemplo: uma sociedade de pleno emprego, em que não haja as vergonhosas filas nas madrugadas à procura de uma empreguinho humilhante. Escola e saúde para todo mundo, crianças bem tratadas, com sala de aula, roupa, atenção. Ninguém com fome e ninguém com riqueza acumulada para ostentação. Progresso tecnológico, desenvolvimento artístico, alfabetização para todos.

Todos nós brasileiros já ouvimos falar no colégio que essa utopia igualitária já existiu. Floresceu por décadas, antes de ser destruída em uma guerra pra lá de violenta, bárbara. Foi a realização dessa utopia, conhecida genericamente como Missões, que levou o historiador Décio Freitas a um de seus mais conhecidos livros, publicado pela primeira vez em 1982, quando a miséria brasileira nem era tão explícita quanto agora, quando mal saíamos da ditadura militar e buscávamos alternativas de futuro, quando fazia o maior sentido retomar experiências luminosas do passado para confrontar a obscuridade do presente.

Com o nome de O Socialismo Missioneiro, o livro fazia uma descrição engajada (nunca neutra) do passado das Missões. Eram os anos finais do regime militar instalado em 1964, dois antes da campanha por eleições diretas para presidente, eleição que só se realizaria muito depois, em 1989, e sete anos antes da queda do muro de Berlim, o fim simbólico da experiência comunista, que na época se chamava de “socialismo real”, em oposição ao socialismo teórico. Por mais estranho que isso possa parecer hoje, em 1982 a discussão sobre o socialismo estava viva. E, mais ainda, no Brasil ela era patrocinada em grande medida por grupos políticos nascidos dentro da Igreja Católica.

O livro de Décio entrava nessa disputa conceitual, mas a partir de uma experiência remotíssima – a ainda hoje impressionante – de organização social, econômica, política e cultural protagonizada por índios guaranis e por padres jesuítas, entre os anos 1610 e 1750, no sul do Brasil. Uma parceria que dera certo, segundo Décio, porque os índios encontraram nas Missões uma estrutura viável para sua sobrevivência, ao passo que os religiosos realizaram nelas uma das aspirações primitivas de todo o cristianismo – a restauração de certo modo solidário de viver e ser, em que todos trabalham e repartem as riquezas.

Longe de ser um consenso, essa visão causa arrepios a muitos historiadores e antropólogos dispostos a atacar os efeitos do trabalho dos padres, que aculturaram os guaranis, impondo-lhes modos de vida e pensamento estranhos à sua história. As Missões, também chamadas “reduções”, sujeitaram o índio, que passou a viver em vilas organizadas, a praticar a monogamia, a trabalhar em horários certos, a prover o futuro de médio prazo, a ser católico.

O outro lado lembra, porém, coisas positivas: se a questão era preservar a cultura dos índios, ele diz que os jesuítas fizeram isso: aprenderam seu idioma, descreveram sua gramática e, com ela, ensinaram futuras gerações. E mais: se as Missões sujeitavam os índios antes livres, caçadores, poligâmicos, que plantavam somente o que comeriam nos tempos imediatos, sem preocupação com o futuro, elas também significaram uma alternativa concreta de vida. Fora delas, o que aconteceu realmente com os guaranis e outros tantos povos indígenas? Foram exterminados, regra geral, ou se aculturaram na marra, passando a viver a vida dos brancos sem a menor chance de preservar o que quer que fosse.

Décio Freitas, comprador das boas brigas, sabia de tudo isso quando escreveu seu livro. Levando em conta toda essa polêmica, descreveu o processo histórico com cautela e estratégia. Assim, nos primeiros capítulos fez um detalhado cenário dos séculos 17 e 18, período em que as Coroas portuguesa e espanhola não tinham a menor idéia de quais eram realmente os limites de seus territórios no miolo da América do Sul. Depois descreve os personagens envolvidos na trama: a Coroa espanhola, os guaranis e os jesuítas.

À Coroa interessava expandir os limites das terras sob seu comando e, quem sabe, forjar uma saída para o Atlântico, passando sobre o que hoje são Santa Catarina e Paraná. Os guaranis, menos um povo e mais um “mosaico étnico”, eram coletores e caçadores, tendo pouca prática na agricultura permanente. Constituíam uma sociedade sem classes, vivendo num comunismo primitivo e ameaçados pela chegada dos espanhóis, de quem só podiam esperar a escravidão. Os jesuítas, de sua parte, queriam evangelizar os índios. Para isso, era preciso conservá-los livres. Nunca se confirmaram as suspeitas de que tivessem interesse econômico específico, como acumular riquezas em proveito próprio – embora a Companhia de Jesus tenha sido acusada, mais de uma vez, de acalentar o projeto de um Estado teocrático.

Com a instalação das Missões, a Coroa ganharia o território e os impostos, os jesuítas teriam sua prática catequética realizada e, mais ainda, os guaranis teriam três ganhos – viriam a experimentar um salto tecnológico extraordinário, nas práticas agrícolas e no aprendizado de técnicas artesanais e industriais, manteriam uma condição de liberdade superior à que teriam se fossem submetidos à escravidão e não precisariam mudar algumas marcas essencias de seu modo de vida, preservando sua língua, por exemplo. Com essa análise, Décio defende uma tese inquietante: feitas as contas, os guaranis não teriam sido um elemento passivo na concepção e na construção das Missões, pelo contrário. Sua vontade coincidiu com a dos padres e da Coroa espanhola, naquele momento.

Para entender melhor essa longa convivência, de quase um século e meio, é preciso voltar ao início, por volta de 1610, quando as primeiras reduções foram estabelecidas, no atual limite entre o Paraguai e o estado brasileiro do Paraná. Os índios das Missões, cujos humores guerreiros haviam sido abrandados pelo cristianismo, viraram presas fáceis dos bandeirantes oriundos de São Paulo que corriam o sul em busca de riquezas e de mão-de-obra escrava.

Para garantir segurança, era preciso ir mais longe. Os jesuítas arregimentaram os índios que sobraram e empreenderam uma longa jornada rumo ao sul, correndo ao longo do rio Paraguai. Chegando ao atual norte da Argentina e noroeste do estado do Rio Grande do Sul, guaranis e jesuítas fundaram e fizeram prosperar nada menos que 30 povoamentos, que alcançaram uma população espantosa para a época – em 1736, seriam mais de 102 mil indivíduos. Para comparar: em 1740, a maior cidade brasileira, Ouro Preto, tinha uma população de 50 mil pessoas e a maior cidade da América, o México, tinha 70 mil.

As terras ocupadas pelos 30 povos pertenciam à Espanha (apenas sete deles ficavam à esquerda do rio Uruguai, em território que viria a ser brasileiro), mas a perseguição dos bandeirantes não conhecia fronteiras. Em 1641, numa batalha perto do rio Mbororé, os guaranis resistiram com canhões feitos de grandes taquaras amarradas com couro e expulsaram os aventureiros.

A Coroa portuguesa mal sabia o que fazer, e na prática a única ação de gente lusa ali era a dos bandeirantes. Mas a civilização jesuítico-guarani começou a ser desmanchada não pelos bandeirantes, mas pelas Coroas, em 1750. Naquele ano, foi assinado o Tratado de Madri, pelo qual Portugal abria mão da Colônia de Sacramento, pequeno mas importante porto fundado em 1680 na beira do rio da Prata, exatamente em frente a Buenos Aires, e a Espanha cedia a região à margem esquerda do rio Uruguai – exatamente a localização dos sete famosos e malditos Povos que ficam em território hoje gaúcho. Era a primeira reconfiguração legal do já antigo Tratado de Tordesilhas, que ainda no século 15 tinha destinado a Portugal apenas o litoral atlântico.

Para Décio, a atitude da Espanha era criminosa em mais de um aspecto, mas especialmente porque as Missões não eram agrupamentos irregulares e, pelo contrário, recolhiam impostos adequadamente, prestavam subordinação ao rei, forneciam homens para tarefas as mais variadas (guerras, mas também construção de igrejas em outras partes do território hoje argentino etc.). Quer dizer: os guaranis, com os jesuítas, eram súditos leais à Coroa espanhola. Isso sem contar o fato trivial de que eram nativos da América, e portanto viviam aqui desde tempos remotíssimos.

Passados para domínio português, os padres e índios tiveram de deixar as Missões. Os índios resistiram ainda depois de os jesuítas terem aceitado a transferência imposta por Madri. Mas foram chacinados, em guerra sistemática e moderna, comandada por Gomes Freire de Andrade, figura que ganhou um enorme elogio literário em O Uraguai, poema épico de Basílio da Gama que perpetuou uma interpretação ufanista, pró-lusitana e antijesuítica. Décio diz que os padres “imaginaram erroneamente que a própria Companhia de Jesus, um dos baluartes do colonialismo, permitiria que ultrapassassem os limites dos interesses do colonialismo”. Em compensação, “as alternativas do colonialismo não deram melhor resultado: produziram, simplesmente, a genocida extinção dos guaranis”, escreveu.

A terceira edição do livro mudou de nome. Passou a chamar-se Missões – Crônica de um Genocídio. Já estávamos em 1997, e o autor sabia que não valia a pena reiterar nos mesmos termos o debate sobre a natureza eventualmente socialista utópica do episódio missioneiro. (Mas talvez pudesse ter acrescentado calor à conversa, lembrando que o último local nominalmente socialista, Cuba, é dirigido por um sujeito que aprendeu muito com os padres jesuítas.) Preferindo a denúncia do massacre desde o título, como a mostrar o crime histórico cometido ali contra uma população civil como noutros tempos ocorreria em Canudos, no Contestado ou em Palmares, Décio Freitas usa em seu ensaio da melhor verve de promotor público, mobilizando sua mais vibrante retórica para lembrar que a história não pode ser negligenciada.

 

JOHN HENRY ELLIOT

Estou pesquisando sobre esse norte-americano que trabalhou como mapista, piloto de expedições e explorador do “Sertão do Tibagi” para o Barão de Antonina bem na metade do século XIX.
Encontrei muita informações sobre ele. Um personagem da história paranaense que bem mereceria um livro ou algo mais.


 BBB11 - cenas censuradas talula 

sábado, 26 de junho de 2010

BLOG HISTÓRIA E INFORMAÇÃO ------ DE CARA E FORMATO NOVOS !!!!!!!!!!

Mudei o desenho, as letras, o projeto, as cores do Blog, acho que agora ele ficou mais moderno, espero que gostem!

Opiniões e questionamentos a respeito das postagens e do conteúdo podem ser direcionadas ao e-mail: bondarik@utfpr.edu.br

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A EFETIVAÇÃO DA REVOLUÇÃO DE 1930

Prof.Me. Roberto Bondarik
bondarik@utfpr.edu.br
            

           Iniciada em 03 de outubro de 1930 com a tomada do Quartel General do Exercito em Porto Alegre, a Revolução tomou conta da totalidade ds unidades do Exercito no Rio Grande do Sul. Segundo McCann (2007) o Exercito teve a sua cadeia de comando desestruturada e solapada. Cerca de oitenta e dois por cento dos oficiais aderiram ao movimento no estado. Um fator importante que deve ser levado em conta é que nos quartéis do Rio Grande a maioria dos soldados e sargentos que lá serviam era da própria região. Estes homens rejeitaram a idéia de lutar entre si e a idéia de vingar o ultraje a honra gaucha ofendida com a eleição presidencial, um desejo latente. Vitoriosos no rio Grande do Sul, resistindo em Minas Gerais e avançando pelo Nordeste a partir da Paraíba, os revolucionários passaram a visar a capital da República, a cidade do Rio de Janeiro. Do Rio Grande do Sul os revolucionários partiram em direção a São Paulo. Para Bueno (2003) a Revolução de 1930 não foi uma parada militar como havia sido a Proclamação da República.
            Pela Ferrovia São Paulo – Rio Grande do Sul os revolucionários gaúchos seguiram até Porto União. As unidades militares federais do Estado do Paraná se rebelaram e derrubaram o Governo Estadual. De Ponta Grossa os revolucionários, engrossados pelas unidades paranaenses do Exercito, Policia e voluntários seguiram para as divisas de São Paulo, região onde um impasse marcado por combates se manteve até 24 de outubro de 1930.
As tropas gauchas, partindo de trem e a cavalo de Porto Alegre, não conseguiram conquistar Florianópolis (que só se renderia em 24 de outubro), mas tomaram Joinville e, a seguir, Góis Monteiro instalou o quartel-general dos rebeldes em Ponta Grossa (BUENO, 2003, p.325).

            Em Minas Gerais, devido em parte às características especiais das tropas ali estacionadas, cujos soldados em sua maioria eram de fora do Estado, os revolucionários não obtiveram  o mesmo sucesso do Rio Grande do Sul. A condição mineira preocupava as lideranças revolucionárias envolvidas na região.
O veterano tenente Osvaldo Cordeiro de Farias coordenava a atividade rebelde naquele estado, mas como era apenas primeiro-tenente, o comando era exercido pelo irmão do falecido João Pessoa, tenente-coronel Aristarcho Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Não conseguiram trazer para o seu lado nenhuma das guarnições federais (MCCANN, 2007, p.376).

            Basicamente as forças revolucionárias em Minas Gerais eram formadas pela Força Pública do Estado (Policia Militar) e principalmente por civis que haviam sido recrutados e armados por chefes políticos locais. Mesmo assim os rebeldes obtiveram muitos sucessos e conseguiram manter a Revolução pelo tempo necessário para que obtivessem a vitória do movimento. Algumas unidades do Exercito resistiram por diversos dias até que as suas forças se esvaíssem.
            No Nordeste ocorreu sucesso semelhante e segundo McCann (2007) as resistências foram vencidas em três dias. Nesta região elem do Exercito, unidades dos Tiros de Guerra, como o do Recife, aderiram à Revolução rapidamente.
            Com posições consolidadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e na maior parte do Nordeste, Getúlio Vargas sentiu-se seguro para seguir ao teatro de operações deflagrado no Paraná. Partiu de Porto Alegre em 12 de outubro e chegou a Ponta Grossa no dia 17, acontecimentos celebrados apoteoticamente pela população. Segundo Bueno (2003) neste momento a Revolução ainda não estava ganha, a barreira representada por Itararé em São Paulo e pelo Vale do Paranapanema mais ao norte na divisa deste com o Paraná precisavam ser vencidas.
            O interesse do comandante do Estado Maior Revolucionário, Góis Monteiro, dos oficiais do exercito regular que aderiram ao movimento e dos Tenentes, não era, segundo McCann (2007) destruir materialmente o Exercito brasileiro. Suas intenções eram conquistar o completo controle sobre a força terrestre nacional. Desta forma Itararé revelou-se um impasse a ser subjugado e vencido.
Itararé (SP), na fronteira com o Paraná, mais de 6 mil soldados legalistas, comandados por Pais de Andrade e com o apoio de aviões e quatro canhões, aguardavam a hora do choque contra os 8 mil rebeldes, que tinham 18 canhões. Andrade, aquartelado num penhasco à beira de um rio, recebera as ordens de “defender a cidade a todo o transe”. Previa-se um terrível combate. No dia 24, porém, ao serem informados de que Washington Luís fora deposto, no Rio, os legalistas se renderam (BUENO, 2003, p.325).

            Se a batalha tivesse ocorrido, com grandes probabilidades a Revolução seria ainda assim, vitoriosa. Porém, o custo material, humano e político seria muito mais elevados, ao ponto de, segundo Bueno (2003) de mudar os rumos da história do Brasil de forma bastante diversa do que ocorreu.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

EM TEMPOS DE COPA DO MUNDO - O FUTEBOL EM UMA POESIA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE ...

A poesia completa está no livro “Quando É Dia de Futebol” (Ed. Record).

“Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.

A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas-de-pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.

São vôos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
- afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.”

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 1 de junho de 2010

Colégio Estadual "Cristo Rei" Ensino Normal - Cornélio Procópio - Estado do Paraná

Por muitos anos atuei como professor na rede estadual de educação do Paraná. Comecei em um já longínquo mês de Março de 1991, dando aula para uma turma de magistério, era um segundo ano a minha primeira turma de alunos. Agora em 31 de Maio de 2010 encerro minha participação nesta mesma rede, por coincidência também em um curso de magistério, um dos últimos a funcionar ainda no Estado do Paraná.
O Colégio Estadual "Cristo Rei" Ensino Normal, instalado em Cornélio Procópio é de longe a melhor instituição de ensino médio estadual nesta cidade, os exames do ENEM o provam de forma inconteste. Me orgulha muito ter participado da história desse Colégio que muito honra a educação pública, e a honra incutindo-lhe qualidade em prol de seu corpo discente, alunas em sua imensa maioria.

domingo, 30 de maio de 2010

Patria Redimida - Filme - Reportagem - Documentário da Revolução de 1930 no Paraná

No último sábado o programa de TV "Meu Paraná" da Rede Paranaense de Comunicação / Rede Globo, foi sobre o cinema paranaense. Nele foi mostrado um filme, "PÁTRIA REDIMIDA"  ou  "POR UMA PÁTRIA REDIMIDA", conforme encontrei na internet, o importante é que ele foi rodado pelo cineasta curitibano JOÃO BAPTISTA GROFF que procurou mostrar todos os aspectos da Revolução de 1930, aliás aspectos que ele próprio vivenciava como espectador e cidadão envolvido na realidade que o cercava.
Procurei no Youtube e encontrei o filme dividido em partes, copiei os links e os postei logo abaixo.
Trata-se de um documento histórico sem comparações, pois mostra os personagens históricos interagindo, as tropas se movimentando, algumas até fazendo simulações para o cineasta.
Sem duvidas Groff preparou um monumento para a história neste seu "cine jornal" de uma realidade sem par.

Pátria Redimida – Parte 01
Pátria Redimida – Parte 02
Pátria Redimida – Parte 03
Pátria Redimida – Parte 04
Pátria Redimida – Parte 05
http://www.youtube.com/watch?v=2DJp7pIBzgE
Pátria Redimida – Parte 06 - Final

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Expedicionário Eurides Fernandes do Nascimento

A principal Praça em Quatiguá, chamada durante muito tempo simplesmente de “Jardim”, foi batizada com o nome do Expedicionário Eurides Fernandes do Nascimento. Quatiguaense que fez parte da Força Expedicionária Brasileira (FEB), daí o termo “expedicionário”, que lutou durante a Segunda Guerra Mundial na Itália.
Monumento diante do Museu do Expedicionário em Curitiba-Paraná,
listando o nome de todos os militares paranaenses que morreram
em ação pela FEB na Itália nos anos de 1944-45
(Foto: Prof.Me. Roberto Bondarik) 

A FEB combateu os alemães nazistas nos anos de 1944 e 1945, após ser preparada para isso por um bom tempo.

Eurides Fernandes do Nascimento era filho Manoel Fernandes do Nascimento e Eugenia M. de Jesus. Como soldado do Exercito, classe de 1921, foi incorporado ao 6º Regimento de Infantaria de Caçapava, Estado de São Paulo, também chamado de Regimento Ipiranga. Diga-se de passagem foi a unidade que enfrentou as piores situações, o maior número de missões e teve dentro da FEB as maior es baixas.
O Regimento de Eurides embarcou para a Itália com o Primeiro Escalão da FEB em 30 de junho de 1944. O 6º RI lutou no Vale do Rio Serchio em setembro e outubro daquele ano. Em novembro atingiram o Vale do Rio Reno (Itália). Em 09 de Novembro o General Mascarenhas de Moraes assumiu o comando de toda a FEB, em Marano. Apesar da crônica militar ter registrado que aquele foi um dia calmo, foi nele que faleceu o expedicionário quatiguaense.
Eurides Fernandes do Nascimento identidade militar IG-289976, morreu em ação próximo a Marano, era o dia 09 de Novembro de 1944. Recebeu postumamente as Medalhas de “Campanha da Itália”, como todo expedicionário que participou da luta, “Sangue do Brasil” entregue àqueles que receberam ferimentos e por fim a “Cruz de Combate de 2ª Classe”.

É esta ultima medalha que nos faz imaginar como teria sido a ação que resultou em sua morte. O decreto que a concedeu registra que esta condecoração foi lhe dada “Por uma ação de feito excepcional na Campanha da Itália”. A Cruz de Combate de 1ª Classe era atribuída a feitos individuais e a de 2ª Classe a feitos coletivos. Morreu combatendo junto com sua tropa. Ainda não possuo maiores informações sobre como isso se deu, pretendo levantar esses dados nos arquivos pertinentes.
Museu do Expedicionário em Curitiba, ao lado dos mastros
das bandeiras o monumento com a lápide dos nomes
dos paranaenses mortos em combate na Itália
(Foto: Roberto Bondarik - Janeiro de 2010)


O corpo de Eurides foi sepultado no Cemitério da FEB em Pistóia, local de onde seriam transladados anos depois para o monumento construído no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro.
A Praça em Quatiguá não possui então os restos mortais desse expedicionário, sendo apenas o seu nome uma homenagem a ele. No monumento no centro do Jardim estão sepultadas as ossadas de combatentes paulistas e gaúchos que lutaram em morreram em Quatiguá nos dias 12 e 13 de Outubro de 1930.