quarta-feira, 26 de agosto de 2009

História Militar: Fontes e Discussões

Dia 25 de Agosto de 2009, não por um acaso dia do soldado, foi publicado pelo jornal GAZETA DO POVO, um artigo da Professora Carmen Lúcia Rigoni, versando sobre a utilização de diários escritos por soldados como fontes para o estudo da história da Força Expedicionária Brasileira na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Mais que uma discussão sobre fontes históricas, esse artigo versa sobre a visão ideológica que conduz muitos historiadores, acadêmicos e professores universitários que no final irão formam os professores de História que atuarão nos Ensinos Medio e Fundamental no Brasil. Carmen Lúcia Rigoni toca no assunto do desprezo que esses historiadores dedicam a tudo que diz respeito ao Exercito, seus símbolos e representantes, resbalando inclusive nos valores cívicos e relativos à pátria que essa instituição cultua. A FEB é muito pouco citada nos livros de História, sendo que muitas vezes os professores lançam dúvidas sobre a sua atuação, e esta ação desdenhosa e preconceituosa foi formada nos bancos escolares da Universidade . O desprezo pelas Forças Armadas é ampliado quando estendido à valorização dos símbolos nacionais e a u sentimento que podemos chamar simplesmente de patriotismo que é fomentado no seio destas forças. Esse desdem trasformou-se em desprezo pelo próprio Brasil, e prejudica seu desenvolvimento presente e futuro, porém vamos ao artigo de Carmen Lúcia Rigoni, publicado na GAZETA DO POVO de 25 de Agosto de 2009. O texto original do jornal esta disponível neste endereço < http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=918001&tit=Diarios-de-guerra-fontes-da-historia >
---------------------------------------------------------

Diários de guerra, fontes da história

- Professora Carmen Lúcia Rigoni -

A participação brasileira na Segun da Guerra Mundial, combatendo nos campos da Itália entre 1944 e 1945, constituiu a maior experiência do Exército Brasileiro em nossa contemporaneidade. Mas poucos são os estudiosos que têm se debruçado sobre o verdadeiro universo da Força Expedicioná ria Brasileira (FEB). Fala-se de uma guerra que se desenrolou fora do país, da qual os mais velhos já não se lembram mais e que é totalmente desconhecida pelos mais jovens, uma vez que a FEB não está nos livros didáticos e parte dos estudiosos demonstra reticência em relação à pesquisa feita entre os historiadores militares. Também colaboram para esse esquecimento a posição política de muitos, além da arraigada disposição dos historiadores profissionais em não discutir temas militares, fruto das relações conturbadas entre o meio estudantil e o regime militar implantado em 1964.

Os diários de guerra dos soldados brasileiros foram, durante muito tempo, considerados ufanistas demais e, por isso, deixados de lado pelos pesquisadores. Mas uma leitura mais atenta pode ser reveladora sobre a história nacional, a declaração de guerra aos países do Eixo em 1942, a convocação dos soldados e o embarque para a Itália. Nessa visão, os diários podem se tornar fontes primeiras, pois estão longe da descrição fria do relatório meramente técnico, mostrando o cotidiano da guerra, o espírito de companheirismo, a visão do soldado sobre as patrulhas que partiam para o front, além da fragilidade ao sair pelos campos minados, no enfrentamento a um inimigo aguerrido e experiente em diversas frentes, seja no Norte da África ou na Rússia.

Em seus testemunhos, os soldados brasileiros registraram momentos de grandiosidade na guerra, especialmente pelo atendimento às populações italianas que a tropa ia encontrando pelo caminho, alimentando velhos, mulheres e crianças. Os expedicionários prestaram socorro médico aos menos assistidos, numa verdadeira ação humanitária, tão pouco praticada por outros exércitos. A vivência com a população rendeu diversos casamentos entre brasileiros e italianas, bem como laços de amizade que jamais foram esquecidos.

Na polifonia de vozes que se intercruzaram no cotidiano, mais as ações pela militarização dos jovens e a formação cívica dos cidadãos, buscaram os veteranos da FEB expressar em seus escritos um momento vivido.

Mas não é apenas o momento da guerra que está presente nesses diários; o perfil dos velhos guerreiros denota uma preocupação sobre os acontecimentos que afetam o país. O espírito cívico prevalece nas posturas e nos comentários, com grande preocupação pela cidadania. Pelos diários percebe-se uma crítica contundente, não somente ao comando, mas à ditadura imposta pelo Estado Novo e a censura do Departamento de Imprensa e Propaganda de Getúlio Vargas. Muitos se questionavam, pois combatiam no exterior por uma liberdade que não encontravam em seu próprio país.

Na onda que varre a memória do nosso país, buscaram os veteranos da FEB registrar suas memórias em busca de um sentido histórico, mostrando à juventude de hoje os ideais de ontem, expressos nos relatos dos acontecimentos, em uma missão que eles dizem ser permanente. Des cor tinam-se nos diários de guerra dos soldados brasileiros que combateram na Itália retalhos de histórias, fragmentos da me mória, na voz dos atores que ajudaram a engendrar suas histórias. São conexões da memória pública, abalizada pela me mória individual e coletiva, herdadas ou construídas pela memória nacional, que oferecem aos pesquisadores uma inesgotável fonte para a compreensão da história recente brasileira.




Nenhum comentário: