sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Nove de Julho de 1932: A Revolução Constitucionalista no Norte Pioneiro do Paraná

Em 09 de julho de 1932 iniciava-se em São Paulo a Revolução Constitucionalista. A Guerra Paulista marcaria profundamente toda uma geração naquele Estado, mobilizando políticos, empresários, estudantes, homens e mulheres em um movimento que se estenderia até 03 de outubro daquele ano. Dias atrás uma personagem de novela de época lembrou sua atuação costurando uniformes e cachecóis para a tropa paulista.

Sob a reivindicação de uma constituição para o Brasil e o fim do Governo Provisório de Getúlio Vargas levantaram-se aqueles alijados por este do poder, aliados a outros que almejavam o controle do Estado de São Paulo e sentiam-se ludibriados pelos vencedores da Revolução de 1930. Foram meses de mobilização e mortes em várias frentes de combate.
Foi o Paraná palco dessas ações, a exemplo do que ocorrera na revolução anterior em 1930. A começar por forças do 5º RCD de Castro que se uniu aos paulistas em Itararé, como haviam feito em 1930. Outro fato a ser destacado foi o caso de acadêmicos de Curitiba que seguiram a pé pelo litoral e Serra do Mar, desde Antonina até São Paulo. Por fim as ações de combate verificadas no Norte Pioneiro do Estado, chamado à época de Ramal do Paranapanema em referência à ferrovia que corta a região de Jaguariaiva até Ourinhos-SP.

As ações no Norte Pioneiro ficaram sob o comando dos Generais João Francisco e ElisiárioPaim, sendo que este liderava uma coluna de provisórios da Brigada Militar Gaúcha. Estas tropas federais tinham o seu quartel-general em Wenceslau Braz enquanto os paulistas constitucionalistas ocupavam Ribeirão Claro, Jacarezinho e Cambará, invadidos a partir de Ourinhos e Xavantes. Tais informações encontram-se presentes em artigo de jornal escrito por Luiz Ignácio Domingues, documento preservado por mãos habilidosas e cuidadosas na Biblioteca Pública do Paraná. Intitulado "Centenas de Vidas Foram Sacrificadas na Aventura da Revolução Constitucionalista" o artigo foi publicado pelo  Jornal "O Estado do Paraná" em 1º de Dezembro de 1974. 

Domingues teria participado das ações das tropas federais na região. Segundo ele em 05 de agosto de 1932, próximo a ponte ferroviária sobre o Rio Jacaré, próximo a Jacarezinho, o General Paim enfrentou os paulistas e os fez recuar no final do dia 07 pela estrada de Ourinhos. Outros combates ocorreram ainda entre os dias 22 de setembro e 03 de outubro, como o da Fazenda Laranjal e Porto Maria Ferreira (hoje sob as águas represadas do Rio Itararé). As tropas federais, gaúchos em sua maioria, transpuseram Cambará, ultrapassaram o Rio Paranapanema chegando a Salto Grande onde bloquearam a ferrovia, fato que impediria a fuga do Estado Maior e lideranças constitucionalistas para o Mato Grosso e paises vizinhos, gerando isso um ataque mal sucedido de um trem blindado paulista.
Outras tropas ocuparam a região da Pedra Assassina diante de Ourinhos até que aquela cidade fosse também ocupada. Há que se lembrar que a passagem entre Riberão Claro – Xavantes continuava impedida pela Ponte Alves de Lima, destruída desde a Revolução de 1930.

Uma síntese do que foram os combates no Ramal do Paranapanema e o pelo que passaram os combatentes, pode ser conhecida pela ordem do dia da Coluna João Francisco e reproduzida por Domingues:
O que foi a marcha e travessia do Paranapanema, o que foram os dias de inquietação e de sacrifícios, sob a inclemência do tempo, sem calçados, sem agasalhos, quase nus, parcamente alimentados, sob intensa e violenta fuzilaria na defesa da ponte metálica para Ourinhos, não poderei eu dizer, que horas tais vivem-se, sentem-se, depois de se ter vivido, mas não se pintam, nem se descrevem”.

Fonte: DOMINGUES, Luis Ignácio. Centenas de Vidas Foram Sacrificadas na Aventura da Revolução Constitucionalista. Jornal "O Estado do Paraná", 1º de Dezembro de 1974. (Original disponível no acervo de recortes - pasta - de jornal do setor de Documentação Paranaense da Biblioteca Pública do Paraná - Curitiba)