quinta-feira, 5 de junho de 2008

Manutenção de Equipamentos Mecânicos Pelo Exercito Norte-Americano na Segunda Guerra Mundial

Escrevi este artigo há muito tempo atrás quando fazia a Especialização em Gestão Industrial, era o tempo ainda do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR), atual Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Como ele é um artigo produzido para conclusão da disciplina de Gestão da Manutenção, ele possui alguns erros de concordancia e até mesmo de ortografia, mas não esta disponível em nenhum outro site e é um assunto bélico, de certa forma esse blog acaba falando sobre guerra. Enfim espero que o achem interessante.
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Manutenção: Diferencial de Sucesso do Exército Norte-Americano na Segunda Guerra Mundial *
Roberto Bondarik
Rui Francisco Martins Marçal

Resumo: O presente artigo demonstra a importância atribuída ao serviço de manutenção dos exércitos mecanizados, em especial ao do Exército dos Estados Unidos da América, durante a Segunda Guerra Mundial, como diferencial de seu sucesso em comparação com outras forças no mesmo conflito.
Palavras Chave: Manutenção; Treinamento; Segunda Guerra Mundial; História Contemporânea.

Introdução:

Desde que a Revolução Industrial teve seu início na Inglaterra do século XVIII, as máquinas tornaram-se uma presença constante no cotidiano da humanidade[1]. A identificação das suas necessidades, a elaboração e adequação do seu projeto, por fim a etapa de construção e aplicação de uma máquina ás necessidades humanas[2], sempre demandaram uma boa disponibilidade de capitais, tanto financeiro como humano.
Uma das causas e motivações que tornaram a Revolução Industrial uma realidade, foi justamente a considerável disponibilidade de capitais e recursos, existentes na Grã-Bretanha. Esta disponibilidade foi conseguida em virtude de diversos fatores, principalmente graças ao domínio britânico do comércio mundial[3] naqueles tempos. A construção do Império Britânico se deu em constante marcha ritmada pelo crescimento e ampliação deste comércio que foi se estendendo pelas mais distantes e diversas regiões do mundo.
Uma vez construída e instalada uma máquina, que normalmente possuiu um custo considerável, há que se colocar a mesma para trabalhar, produzindo bens ou serviços, recuperando desta maneira o capital investido. Devido a esta necessidade de recuperação dos investimentos e a maneira rápida que os industriais procuraram implementá-la, resultaram muitas das críticas à exploração a que os trabalhadores foram submetidos neste período. As interrupções e a diminuição no ritmo do funcionamento das máquinas, certamente representam seguramente prejuízos que precisam ser evitados, revertidos e recuperados.
O bom funcionamentos das máquinas e equipamentos de uma indústria depende da eficiência e da agilidade dos serviços de manutenção, serviços estes que devido a sua eficiência, poderão contribuir para com o sucesso ou para com o fracasso de uma organização. Sucesso ou fracasso, que em tempos atuais podem ser traduzidos em uma maior ou menor competitividade e esta em lucratividade, conjugada com a manutenção do nível e da qualidade da empregabilidade da empresa. Empregabilidade que podemos indicar como sendo de interesse primordial para os trabalhadores.
Não apenas as atividades produtivas civis dependem de um bom serviço de manutenção, as organizações militares também se acabaram por se inspirar no ambiente fabril, para a efetivação e dos seus diversos serviços, missões e estratégias. Procurar demonstrar como a manutenção foi importante às organizações militares, em especial àquelas que atuaram durante a Segunda Guerra Mundial, torna-se portanto, o objetivo deste breve trabalho, realizado com base em uma pesquisa bibliográfica e eletrônica, que pretende apenas apresentar-se como uma reflexão de caráter histórico, sem maiores preocupações descritivas ou mesmo técnicas. Procuraremos apresentar a manutenção militar como um paradigma para a ação das empresas contemporâneas.

Os Serviços de Manutenção no Exercito Norte-Americano:

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)[4], que foi considerada o maior conflito bélico internacional de toda a hsitória da humanidade, o Exército dos Estados Unidos da América, cuja dependência e a utilização de equipamentos mecânicos foi enorme, sendo que, podemos defini-lo como um exército praticamente mecanizado em sua totalidade. O Exercito Norte-americano teve apontado como um dos seus muitos diferenciais de sucesso, além da disponibilidade quase que ilimitada de recursos materiais, equipamentos e pessoal, a implantação de um sistema de manutenção que foi considerado extremamente ágil, competente e eficaz.

Os norte-americanos utilizavam como o seu principal veículo blindado de combate, os tanques Sherman, de fabricados pelos próprios Estados Unidos. O Tanque Sherman era considerado bastante ágil e rápido, para poder manter estas que eram suas qualidades ele era também muito mais leve e frágil diante dos grandes e pesados tanques alemães, como o Tigre. O Alto Comando dos Estados Unidos, resolveu utiliza-los, principalmente porque em primeiro lugar eles conseguiam produzi-los em grande número e quantidade; em segundo lugar as dimensões do Sherman facilitavam o transporte ultramarino entre a América do Norte e a Europa[5]. Além do mais, o Sherman poderia ser facilmente consertado e recuperado em caso de avarias. (AMBROSE: 2002, p 58).

Sobre este assunto utilizamos como principal base de referência para a nossa reflexão a obra “Soldados Cidadão: do desembarque do Exercito Americano nas praias da Normandia, à Batalha das Ardenas e à rendição da Alemanha ”, escrita pelo norte-americano Stephen E. Ambrose, que relatou a história da Segunda Guerra Mundial vista pela perspectiva dos soldados e sub-oficiais[6]. Ambrose procurou destacar a extrema rapidez e eficiência com que os reparos eram feitos nos veículos danificados, quer seja por combates, quer seja pelas dificuldades apresentadas pelo terreno, ou ainda por defeitos mecânicos que eram considerados e classificados como comuns ou rotineiros:

"(...) Os (norte) americanos eram também infinitamente melhores na recuperação e no conserto dos tanques danificados, para fazer que voltassem a entrar em operação; os alemães não tinham nada que se assemelhasse aos batalhões de manutenção dos americanos (...)” (Idem, p.71)

Devido ao potencial produtivo de seu enorme parque industrial automobilístico, que originalmente destinado a produção de bens para uso civil, havia sido rapidamente convertido para a produção indústrial bélica. Os norte americanos supriram o seu Exercito, Marinha e a Força Aérea e também as forças dos seus muitos aliados[7], com um sortimento considerável de armas e veículos:

"(...) Pelo fím de 1944, a indústria alemã produziria 24.630 tanques (...) a produção britânica desse tipo de veículos, chegaria a 24.843. Mas os americanos entregariam aos militares, por essa época, o espantoso número de 88.410 blindados (...)” (Ibidem)

Apesar de sua superioridade no campo da produção, os americanos tinham a necessidade de transportar os seus equipamentos e suprimentos por todo o Atlântico, em uma viagem que era considerada muito arriscada, até que por fim chegassem aos campos de batalha na Europa, ou como chamavam no jargão militar, TOGE[8]. Apesar de eficaz, a reposição desses equipamentos avariados possuia um custo bastante elevado, fatorres estes que tornavam a ação dos batalhões de manutenção extremamente necessária, essencial e imperiosa.
Uma grande responsabilidade pelo suprimento e pela reposição de materiais estava centrada, portanto, nos serviços de manutenção das forças norte-americanas. Cabia aos mecânicos e engenheiros além da manutenção dos equipamentos, garantindo então o seu funcionamento, a manutenção na prática do poderio e da supremacia material do próprio exército. Os componentes destas unidades, especialmente convocados e selecionados demonstravam toda a sua competência e habilidade, aprendida nas atividades e organizações industriais e também nas áreas de prestação de serviços:

"(...) Aliás nenhum exercito do mundo tinha essa competência. Dois dias depois de terem sido postos fora de combate por bombas alemãs, por volta da metade dos Shermans[9] danificados era reparada pelos batalhões de manutenção e voltava para a linha de frente. Jovens que tinham trabalhado em postos de gasolina e oficinas mecânicas dois anos antes haviam trazido suas habilidades de mecânica para a Normandia, onde substituíram lagartas de tanques danificadas, soldaram placas de blindagem em tanques perfurados e consertaram motores. Mesmo sem condições de conserto, os blindados eram rebocados pelo s americanos para os galpões de manutenção, a fim de que se lhes aproveitassem as peças. Os alemães simplesmente abandonavam os seus, donde, por motivos os mais dispares, não podiam sair por si mesmos(...)". (Ibidem).

Os aliados dos norte americanos, não dispunham porém, de toda a organização destes, sendo que acabaram por reduzir um pouco daquilo o que poderiam ter conseguido com a utilização em combate de suas forças motorizadas na totalidade. Os soviéticos apresentam-se como um exemplo disso, freqüentemente abandonavam os seus veículos danificados e os substituíam por um novo:

"(...) O Exército Vermelho[10], tinha os seus próprios tanques, os T-34 (de concepção norte-americana e talvez o melhor tanque da guerra). Ele (o Exército Vermelho) precisava era de caminhões. O programa de empréstimos e arrendamento do governo americano forneceu-lhes milhares de caminhões Studebaker (...) quando as velas de ignição entupiam, o que, de fato, ocorria rapidamente nas estradas de terra, os soviéticos simplesmente abandonavam os caminhões (...)". (Ibidem).

O exemplo das velas nos é bastante elucidador e conclusivo, ao se compararmos o planejamento de ação e até mesmo do espírito de improviso e empreendimento destes dois exércitos: Vermelho e Norte-Americano.

“(...) as guarnições de manutenção das divisões americanas eram compostas por homens que trabalhavam dia e noite limpando velas com jatos de areia. Quando se lhes esgotava o meterial usado nessas limpezas, enviavam homensàs praias para colher mais. A Areia tinha então de ser secada e peneirada antes de poder ser usada, mas lhes servia
Todo esse trabalho era feito como se o pessoal estivesse nos Estados Unidos, consertando carros e caminhões – ou seja, os homens no pisoda oficina tomavam suas próprias decisões, pegavam as ferramentas e iam cuidar do seu trabalho (...)". (Ibidem).

Conclusões:

Pode se concluir que a rapidez e eficácia dos serviços de manutenção do Exercito dos Estados Unidos foi um fator decisivo para a construção e a sustentabilidade de seu poderio, resultante na vitória sobre a Alemanha em 08 de Maio de 1945. Cabe ressaltar ainda, que existem poucos trabalhos a respeito de tais serviços e de sua importância, sendo o seu estudo ainda um fertil campo para a atuação de futuros pesquisadores.
Um paralelo pode e deve ser traçado entre as ações que descrevemos e a atuação das empresas na atualidade, um eficaz serviço de manutenção pode reduzir consideravelmente a possibilidades de ficarmos a mercê dos inimigos, uma metáfora bastante agressiva, mas necessária para compreendermos o atual nível de competitividade que tem sido incutido ao mercado e nele detectado.
Bibliografia:

KOSHIBA, Luiz. História: origens, estruturas e processos. São Paulo: Atual, 2000
HOBSBAWN, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
CHURCHIL, Winston S.; Memórias da Segunda Guerra Mundial. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995;
AMBROSE, Stephen E. Soldados Cidadãos: do desembarque do Exercito Americano nas praias da Normandia, à Batalha das Ardenas e à rendição da Alemanha. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002;

* Artigo produzido, como exigência parcial de conclusão da Disciplina de Gestão da Manutenção, ministrada no Curso de Especialização em Gestão Industrial (I ESPGI). do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Unidade de Cornélio Procópio.
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[1] A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolução, em função do enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação acompanhado por notável evolução tecnológica.
A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução burguesa iniciada na Inglaterra no século XVII. (KOSHIBA, Luiz. História: origens, estruturas e processos. São Paulo: Atual, 2000);

[2] Mecanização da Produção: As invenções não resultam de atos individuais ou do acaso, mas de problemas concretos coloca­dos para homens práticos. O invento atende à necessidade social de um momento; do contrário, nasce morto. Da Vinci imaginou a máquina a vapor no século XVI, mas ela só teve aplicação no ,século XVIII.
Para alguns historiadores, a Revolução Industrial começa em 1733 com a invenção da lançadeira volante, por John Kay. O instrumento, adaptado aos teares manuais, aumentou a capacidade de tecer; até ali, o tecelão só podia fazer um tecido da largura de seus braços. A invenção provocou desequilíbrio, pois começa­ram a faltar fios, produzidos na roca. Em 1767, James Hargreaves inventou a spinning jenny, que permitia ao artesão fiar de uma só vez até oitenta fios, mas eram finos e quebradiços. A water frame de Richard Arkwright, movida a água, era econômica mas produzia fios grossos. Em 1779, S Samuel Crompton combinou as duas máquinas numa só, a mule, conseguindo fios finos e resistentes. Mas agora sobravam fios, desequilíbrio corrigido em 1785, quando Edmond Cartwright inventou o tear mecânico.
Cada problema surgido exigia nova invenção. Para mover o tear mecânico, era necessária uma energia motriz mais constante que a hidráulica, à base de rodas d’água. James Watt, aperfeiçoando a máquina a vapor, chegou à máquina de movi­mento duplo, com biela e manivela, que transformava o movimento linear do pistão em movimento circular, adaptando-se ao tear. (KOSHIBA: op. cit. p

[3] Os capitais também vinham do tráfico de escravos e do comércio com metrópoles colonialistas, como Portugal. Provavelmente, metade do ouro brasileiro acabou no Banco da Inglaterra e financiou estradas, portos, canais. A disponibilidade de capital, associada a um sistema bancário eficiente, com mais de quatrocentos bancos em 1790, explica a baixa taxa de juros; isto é, havia dinheiro barato para os empresários. (KOSHIBA: op.cit)

[4] A Guerra iniciou-se 1° de setembro de 1939, quando as tropas nazistas invadiram a Polônia, utilizando-se das ofensivas - relâmpago (blitzkrieg), com aviões Stuka da Luftwaffe e tanques blindados, que, em menos de um mês derrotaram as forças polonesas.
A invasão alemã pretendia retomar o “corredor polonês” e o porto de Dantizg, considerado estratégico e um direito alemão. Interessava também à Alemanha a região da Alta Silésia, com importantes reservas carboníferas
Seguindo a política anglo-francesa, a polônia havia retardado a mobilização de suas tropas. Embora na semana precedente ao ataque alemão tivessem tomado as medidas preliminares, elas não foram suficientes para garantir a resistência. a eficácia do ataque aéreo alemão foi devastadora e total. O bombardeio das estradas de ferro da Polônia desorganizou completamente os transportes e comunicações e tornou difícil a coordenação. Os ataques às bases aéreas polonesas, eliminaram qualquer possibilidade de reação por ar.
Em 17 de setembro o país também foi invadido pela URSS. As tropas poloneses foram massacradas pelos dois exércitos, que dividiram o país em dois, conforme já definido no pacto assinado em agosto. (www.historianet.com.br);
A Guerra Alemã durou de 1° de setembro de 1939, quando os exércitos de Hitler invadiram a Polônia, até 8 de maio de 1945, quando eles se renderam. Na verdade, ela foi uma continuação da "Guerra do Kaiser" de 1914-1918: foi a segunda tentativa alemã de alcançar suas aspirações nacionais - a hegemonia da Europa e, talvez, posteriormente do mundo.
A Guerra Japonesa durou de 7 de dezembro de 1941 (data do ataque contra Pearl Harbor) até a rendição em 15 de agosto de 1945, apesar de que a assinatura oficial tenha sido feita a 2 de setembro, no couraçado Missouri. Sua meta consistia simplesmente em estabelecer o domínio japonês no Extremo Oriente. (http://adluna.sites.uol.com.br)

[5] Um exemplo clássico de um produto que tem o seu projeto desenvolvido ou continuado tendo-se levado em conta os meios de transporte disponíveis. (N.A.)

[6] AMBROSE, Stephen E. Soldados Cidadãos: do desembarque do Exercito Americano nas praias da Normandia, à Batalha das Ardenas e à rendição da Alemanha. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002;

[7] Entre os diversos países aliados dos Estados Unidos da América que receberam equipamentos, armas e munições destes, destacam-se: URSS, Inglaterra, Brasil, França Livre, China e vários outros. (N.A.);

[8] TOGE: sigla que significa – Teatro de Operações de Guerra Europeu;

[10] Exercito regular da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS.

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