quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A REVOLUÇÃO DE 1930: O PARANÁ E O NORTE PIONEIRO

Texto que publico a seguir foi produzido para ser usado como material didático (FOLHAS) para a Secretaria de Estado da Educação do Paraná, dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). A Autoria é minha, Roberto Bondarik (bondarik@utfpr.edu.br) e produzi este trabalho sob a orientação do Professor Doutor José Miguel Árias Neto, docente da Universidade Estadual de Londrina.
A reprodução deste texto é permitida desde que devidamente referenciado. A referência deve ser feita da seguinte forma:
[BONDARIK, Roberto. Revolução de 1930: O Paraná e o Norte Pioneiro. Disponivel em < http://robertobondarik.blogspot.com/ > Acesso em 05 de Dezembro de 2008.]


A REVOLUÇÃO DE 1930:
O PARANÁ E O NORTE PIONEIRO

Prof. Ms. Roberto Bondarik (bondarik@utfpr.edu.br)

O PARANÁ EM 1930

Em 1930 o Estado do Paraná sentia os efeitos da crise econômica que atingia naquele momento quase que a totalidade do mundo ocidental. Iniciada nos Estados Unidos da América com a quebra da Bolsa de Valores em Nova York, esta crise provocou uma enorme diminuição do consumo, provocando falências de empresas e gerando desemprego. O comércio mundial reduziu-se a níveis extremos. A exportação de erva-mate, principal atividade econômica do Paraná naquele período também sentiu os efeitos da economia mundial.

[Cartaz da campanha das eleições presidenciais de 1930. Getúlio Vargas candidatou-se pela Aliança Liberal - Imagem: Revista do Globo-PUC-RS]

Havia na década de 1920 um contraste entre as regiões que formam o Paraná: nos Campos Gerais destacava-se a pecuária extensiva; no Sul, a exploração da madeira baseada na Araucária (Pinheiro do Paraná) e também a extração da erva-mate nativa; em Curitiba concentravam-se as atividades voltadas ao beneficiamento da madeira e da erva-mate extraídas no interior; No Norte Pioneiro vicejavam diversas atividades econômicas que iam do cultivo de café em Cambará e Ribeirão Claro, passando pela criação extensiva de suínos (safra) em diversas cidades da região, chegando a extração de carvão mineral em Siqueira Campos e Ibaiti. O Norte Novo de Londrina e Maringá ainda estavam despontando no cenário paranaense.

A REVOLUÇÃO DE 1930

O movimento revolucionário de 1930 consolidou-se a partir do rompimento entre as oligarquias paulista e mineira, ambas ligadas a produção e a exportação de café. Desde fins do século XIX, com a consolidação da República, um acordo tácito entre os governantes destes dois estados garantia a alternância de ambos na Presidência da Republica, uma pratica denominada “Política do Café-Com-Leite”, pois seus interesses eram bastante semelhantes ou homogêneos como tal mistura. A crise econômica de 1929, atingindo a economia cafeeira, espalhou seus efeitos no Brasil.
Com altos e baixos a depressão americana se estendeu até 1938, levando à violenta retração do comercio internacional, à queda acentuada dos preços e à suspensão de empréstimos e investimentos. As exportações brasileiras de café diminuíram muito, a partir de 1929-1930 num momento em que os estoques internos eram altos. O mercado norte-americano, nosso principal comprador de café, praticamente fechou. Com isso os preços internacionais do produto caíram para um terço dos preços normais, e não havia capital para o financiamento das exportações (TEIXEIRA, 1991, p.162).

A crise econômica cafeeira brasileira, ocorrendo em um momento político bastante delicado, quando se realizavam os procedimentos eleitorais para a escolha do sucessor do Presidente da República, Washington Luiz. Conforme os princípios da política do café-com-leite, quem deveria indicar o próximo presidente seria a oligarquia mineira, seu candidato era o presidente de Minas Gerais, Antonio Carlos. Porém, alegando a necessidade da continuidade de políticas econômicas especificas visando a recuperação do país, Washington Luiz indicou como seu candidato oficial a sucessão o presidente de São Paulo, Júlio Prestes. Os políticos paulistas alegavam que mantendo o governo federal sob seu controle poderiam enfrentar melhor a crise.
A Aliança Liberal com a candidatura de Getúlio Vargas para Presidente da República e de João Pessoa para vice, colocava-se contra o “coronelismo” e o “voto de cabresto”, defendiam ainda a implantação do voto secreto e a modernização da sociedade e da economia do Brasil. Diante da ação dos coronéis da política, a Aliança Liberal acabou sendo derrotada em Abril de 1930, à exceção dos estados que a apoiavam: Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul. A derrota aliancista aumentou a frustração política e as aspirações insurgentes em todo o Brasil.
Na Republica Velha, as opções para os candidatos derrotados eram amargas: reconhecer a vitória do adversário, contentando-se com uma fatia menor no bolo do poder, ou continuar na oposição, arrostando uma perseguição implacável. Em 1930, porém, os derrotados controlavam três governos estaduais. Era menos que o suficiente para eleger um presidente, porém mais que mera influência civil (CALDEIRA, 1997, p.259).
Liderado pelo secretario do governo do Rio Grande do Sul, Oswaldo Aranha, a partir de maio de 1930 organiza-se um movimento conspiratório visando impedir a posse de Júlio Prestes e o afastamento de Washington Luiz do governo do país. Lideres tenentistas das rebeliões militares durante a década de 1920 foram contatados e muitos deles aceitaram aderir e mesmo a auxiliar no planejamento e condução do movimento. Foi este o caso, dentro do Estado do Paraná, do Major Plínio Tourinho, oficial de Artilharia do Exercito, servindo em Curitiba e simpatizante do tenentismo.
[...] o Paraná pela sua situação geográfica, pelo civismo de seu povo, não poderia ficar indiferente a essa ação coletiva de reivindicação dos direitos nacionais. A conspiração revolucionária espalhava-se por todos os recantos do país. Urgia acelerar a reação o quanto antes para impedir a posse do novo governo. No dia 14 de junho de 1930, por intermédio do Capitão Djalma Dutra, recebi as credenciais verbais do meu antigo companheiro de Escola Militar dr. GetúlioVargas, para organizar no Paraná um movimento de apoio ao que ia se realizar no Sul, Minas e Norte do país. Embora se tratasse de uma missão árdua e de alta responsabilidade, e já decepcionado com os fracassos sucessivos de tantas reações, aceitei essa pesada incumbência, conseguindo o apoio de alguns oficiais da guarnição [...] (TOURINHO, 1980, p.80).
A data para o inicio do movimento foi estabelecida para o dia 03 de outubro de 1930, uma sexta feira. Movimentos sincronizados seriam levados a efeito em todo o Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Paraíba. As 17h30m deste dia forças da Brigada Militar Gaucha, Guarda Civil, rebeldes do Exercito e voluntários civis comandados por Oswaldo Aranha e Góes Monteiro, tomam de assalto o edifício do Quartel General do Exercito em Porto Alegre. O comandante da Região Militar, General Gil de Almeida foi preso durante essa ação. Imediatamente deflagra-se por todo o estado a ação dos rebeldes que tomam, com poucas exceções, os quartéis e guarnições do Exercito. Iniciava-se de maneira prática o movimento que alçaria Getúlio Dorneles Vargas à Presidência da República.
O PARANÁ NO CAMINHO DA REVOLUÇÃO
Com o Rio Grande do Sul sob controle, os revolucionários precisavam atravessar quatro estados (Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro) até atingir a então capital da República, a cidade do Rio de Janeiro. O caminho mais rápido por terra era seguir pela Ferrovia São Paulo – Rio Grande.
[Foto da "Pequena 53", Locomotiva com a qual os revolucionários invadiram Santa Catarina e tomaram a Estação Rio Uruguai naquele Estado, dando inicio na tarde de 03 de outubro de 1930 à esperada Revolução. Imagem: Revista do Globo-PUC-RS]
Ainda no dia 03 de outubro, horas antes dos eventos em Porto Alegre, forças rebeldes seguiram de trem pelo interior de Santa Catarina, seu objetivo era chegar rapidamente até Porto União na divisa com o Paraná. Garantir-se-ia assim, o controle sobre a antiga área do Contestado, preservando a segurança e o deslocamento dos rebeldes. A vanguarda revolucionária estava preparada para usar suas armas, como de fato o fez, na tomada das estações ferroviárias ao longo do trajeto. A resistência mesmo assim foi mínima, pois a liderança do movimento havia, através de agentes especiais, trabalhado os ânimos das lideranças políticas (especialmente de oposição) e principalmente das diversas guarnições do Exercito até a divisa entre Paraná e São Paulo.

Quando o comando e as forças revolucionárias chegam a Porto União, o Batalhão de Caçadores vindo de Joinville e ai estacionado já havia se rebelado e aderido prontamente à Revolução. Neste mesmo dia, 04 de outubro, o 13º Regimento de Infantaria também se rebelara e tomava conta da cidade de Ponta Grossa, sua base. Em Curitiba, capital do Estado o Major Plínio Tourinho, em acordo com os gaúchos, lidera o conjunto de ações que leva a adesão da guarnição federal, da Policia Militar e Corpo de Bombeiros ao movimento revolucionário. O Presidente do Estado do Paraná, Affonso Camargo, sem apoio militar, retira-se para Paranaguá e daí para São Paulo, via Cananéia.

Em 05 de Outubro Curitiba encontrava-se sob um governo revolucionário, seu chefe era o General da Reserva Mário Tourinho (irmão do Major Plínio):
A adesão do Paraná foi quase a vitória da Revolução. Pela sua situação geográfica e pela unidade de vistas do povo e da guarnição militar do Exercito, o seu concurso à causa foi dos mais inestimáveis. Após a vitória da manhã de 05 de outubro [de 1930] às 13 horas desse dia, entrei em franca ligação pelo telégrafo com o chefe da revolução, dr. Getúlio Vargas, dando-lhe conta das ocorrências mais importantes e das medidas tomadas para garantia do movimento revolucionário. Dele recebi o primeiro telegrama, que dizia: “Porto Alegre, 5 – Major Tourinho. Curitiba. Paraná. Bravo! Bravo! Marcho com o Rio Grande ao vosso encontro. Vamos todos. Exercito e povo. Abraços. Getúlio Vargas” (TOURINHO, 1983, p.83).
Com a adesão paranaense, as tropas gaúchas avançam pelo estado, chegam a Ponta Grossa no dia 06 de outubro. Um impasse envolvendo o 5º Regimento de Cavalaria divisionária, sediado em Castro, nos Campos Gerais, atrasa o avanço rebelde. O 5º R.C.D. permanece fiel a Legalidade e em seu recuo em direção a São Paulo e a cidade de Itararé, destruiu trechos da ferrovia e danificou pontes. Em Itararé, junto a divisa com o Paraná, organizavam-se as forças que pretendiam barrar o avanço rebelde vindo do Sul.

As primeiras forças rebeldes que seguem rumo a Itararé eram formadas pelo 13º Regimento de Infantaria e pela Policia Militar do Paraná. Estas forças perseguiam o 5º Regimento de Cavalaria,legalista, passaram por Jaguariaíva e seguiram para Sengés, à época uma vila diante de Itararé. Os rebeldes paranaenses foram seguidos pelos gaúchos que em Jaguariaíva adentraram pelo Ramal Ferroviário do Paranapanema, atingindo sem dificuldades o Norte Pioneiro do Paraná. Outras forças seguiram de Curitiba para o Vale da Ribeira onde ocorreram também combates.

Formavam-se conforme Young (1979), as três frentes de enfrentamento entre os rebeldes revolucionários e as forças defensoras da legalidade formadas por unidades do Exercito sediadas em São Paulo e Rio de Janeiro e pela Força Pública Paulista (atual Policia Militar do Estado de São Paulo). As frentes de combate eram Vale da Ribeira, Sengés-Itararé e Norte Pioneiro e Norte Pioneiro.
[...] houve um impasse militar na fronteira com São Paulo [e Paraná], perto da cidade de Itararé. A batalha ai travada teve características aparentemente modernas, com trincheiras em toda a frente de combate, arame farpado, ninhos de metralhadoras e artilharia (YONG, 1979, p.26).
Localizando-se Itararé a meio caminho entre o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro e controlando com sua posição a entrada para São Paulo, estado que sustentava politicamente o poder de Washington Luiz, o domínio desta região era essencial para ambas as forças oponentes. O Norte Pioneiro do Paraná e o Vale da Ribeira, situados nos lados (flancos) de Itararé, possibilitavam com o seu controle uma proteção essencial ao avanço gaúcho ou a resistência legalista.
O NORTE PIONEIRO PARANAENSE DEFLAGRADO

Devido a sua importância no contexto do avanço gaúcho, tropas vindas diretamente do Rio Grande do Sul trataram de asseguram o seu controle. No dia 08 de outubro, contando com apoio local, um comboio ferroviário transportando um esquadrão da Brigada Militar chega até Colônia Mineira, atual Siqueira Campos e daí seguindo até Affonso Camargo, atual Joaquim Távora, nos dias seguintes.
[...] seguindo para Porto União, de onde marchamos na segunda composição para a Colônia Mineira, onde junto com o Cap. Marinho empossamos as autoridades ficando nossa composição em Colônia Mineira e seguindo a primeira para Affonso Camargo sob o comando do Cap. Marinho (PRADO, 1931, p. 000).
Estas foram as primeiras forças gaúchas que se avizinharam da divisa de São Paulo. Pelo Norte Pioneiro poderiam chegar por via férrea até diante de Ourinhos-SP, poderiam atravessar o Rio Paranapanema pela Ponte Pênsil “Manuel Alves de Lima”, em Ribeirão Claro ou transpor o Rio Itararé em Porto Maria Ferreira ou em Carlópolis, adentrando assim ao Estado de São Paulo.
Foram os primeiros combatentes revolucionários que se aproximaram da fronteira. Por isto, os que primeiro se mediram com os que desceram de São Paulo. Atingindo a estação férrea de Jaguariaíva, onde a estrada se bifurca, deixaram a direção de Itararé para a direita e rumaram para Colônia Mineira [Siqueira Campos-PR], à esquerda. Atingiram-na sem tropeço. E não perderam tempo. Continuaram avançando, sempre pela via férrea. Transpuseram a estação Catiguá [Quatiguá-PR] e prosseguiram para Affonso Camargo [Joaquim Távora-PR]. Afinal aqui [...] tiveram contato com os primeiros adversários (LEITE, 1931, p.151).

A força legalista era composta por elementos do Exercito, Força Pública Paulista e voluntários civis, chamados legionários, recrutados por Ataliba Leonel, deputado federal e chefe político em Pirajú-SP. Diante da oposição encontrada, o Esquadrão Marinho recuou para a estação Quatiguá onde permaneceu, era o dia 11 de outubro. Este episódio foi noticiado em São Paulo, no dia seguinte como uma grande vitória da Legalidade:
Em Jacarezinho, no Paraná, a columna de patriotas que alli se encontrava, sob o commando do major Agnello de Souza infligiu decisiva derrota nos rebeldes que se aprestavam em atacal-a, avançando até Colônia Mineira (O ESTADO DE SÃO PAULO, 12 out. 1930, p.1).

Em Quatiguá o Esquadrão Marinho aguardou o “Destacamento Etchegoyen”, comandado pelo Coronel Alcides Gonçalves Etchegoyen, no amanhecer de 12 de outubro, uma essencialmente gaúcha. As forças legalistas atacam Quatiguá neste mesmo dia, ao final da tarde.
[Estação Ferroviaria de Affonso Camargo, atual Joaquim Távora em 1928 - Imagem: http://www.estacoesferroviarias.com.br]

As tropas situacionistas paulistas atravessaram a fronteira paranaense, ocuparam Ribeirão Claro, Joaquim Távora [Affonso Camargo] e [...] Quatiguá. Ali foi o foco da pegada. Travou-se ali o maior combate da Revolução de 30 (WACHOWICZ, 1987, p.128).
O combate transcorreu por parte da noite ainda. Ambos os contendores receberam reforços e foi se desenhando aquele que seria um dos mais violentos combates da Revolução de 1930, superior mesmo aos da frente de Sengés. O relatório de Nelson Etchegoyen, comandante da artilharia rebelde completa as informações sobre o combate que transcorreu até as nove horas da manhã de 13 de outubro.

DIA 13 – Às 2 horas tivemos ordem de seguirmos imediatamente para Quatiguá a fim de reforçarmos o restante do [1º] Destacamento, que seria atacado por forças paulistas, que durante toda a noite recebiam reforços, procurando envolver a estação, onde se achava tropa amiga; seguimos e apenas desembarcamos a nossa última peça de artilharia foi desencadeado violento ataque com tropas regulares da Força Pública Paulista. Nesse combate nossas tropas, fiéis às tradições de bravura dos seus antepassados, se portou com extraordinário heroísmo e sangue frio, derrotando de modo absoluto e formal, o inimigo [...] (ETCHEGOYEN, 1931).

A tropa legalista retirou-se, após ser derrotada, em direção à divisa de São Paulo. O relatório do Coronel Alcides Etchegoyen, levando-se em conta a sua visão particular dos acontecimentos, resume as condições da retirada dos legalistas.
O seu dispositivo esfrangalhou-se, o pânico se manifestou em suas fileiras, veiu a desordem e a confusão. A ninguém mais seria dado conter aquella tropa cheia de terror, cujo pensamento único era fugir e cuja fuga era cortada pelo fogo das nossas metralhadoras pesadas que a fusilava em massa. As populações das cidades e villas, ao longo da via férrea Quatiguá - Jacaresinho, são testemunhas do estado de desmantello e desmoralisação das tropas adversárias em fuga, as quaes tomadas de pavor e viajando em caminhões incendiavam, com auxilio de gazolina, as pontes e pontilhões ao longo da estrada, afim de evitar a perseguição de nossa tropa e destruindo a dinamite de uma maneira bárbara as pontes lançadas sobre o Paranapanema e incendiando todas as balsas, botes e canoas existentes nos diversos passos daquele rio, abandonando em definitivo naquella região, o Estado do Paraná. (VÉRAS, 1933, p. 34).
Os legalistas destruíram as pontes sobre o Rio Paranapanema, a ponte ferroviária da Viação São Paulo-Paraná que ligava a Ferrovia Sorocabana também ao Ramal do Paranapanema, a ponte pênsil rodoviária (Ponte Pênsil Manoel Alves de Lima) em Ribeirão Claro foi também destruída com dinamite. O intento legalista era impedir o avanço gaúcho sobre São Paulo.

Encerrado a situação em Quatiguá os rebeldes ocuparam a região dando combate aos remanescentes legalistas. Em 15 de outubro exploram Carlópolis, cidade que ocupam em definitivo no dia seguinte. Em 19 de outubro chegam Ribeirão Claro e Jacarezinho onde dão posse a novas autoridades municipais.

Vitoriosa em Quatiguá, a revolução tomou posse de Jacarezinho, a principal cidade da região, ali designando o médico Gustavo Lessa ''Governador Provisório do Município'' e o major Guiomar de Assis Moreira, delegado de polícia. ''Dada à retidão de caráter das ilustres novas autoridades, temos certeza que o povo de Jacarezinho jamais viu tão bem garantidos os seus direitos'', proclama o comandante do 1º Batalhão de Caçadores, major Alcides Araújo, em A Revolução. (SCHWARTZ, 2007).

Em Carlópolis os militares gaúchos exploraram as margens do Rio Itararé até o Porto Maria Ferreira. Construiram barcas para a travessia do rio. Porém era o dia 24 de outubro, e no Rio de Janeiro os Generais e Almirantes em um Golpe de Estado depõem e prendem o presidente Washington Luiz alegando evitar maior derramamento de sangue. Após negociações estava vencida a Revolução de 1930.

CONCLUSÃO

A derrota das forças da legalidade em Quatiguá chamou a atenção do Cônsul Geral dos Estados Unidos da América em São Paulo, que em telegrama datado do dia 18 de outubro alertou o Secretario de Estado daquele país sobre os resultados desse combate.

Coluna governista avançando de Ourinhos seriamente derrotada há poucos dias atrás. Governo agora na defensiva. Estrada de ferro São Paulo-Paraná transportando bens requisitados e todas as pontes destruídas pelo governo. Toda a estrada de ferro São Paulo-Rio Grande do Sul cooperando com revolucionários (YOUNG, 1979, p.27)

É possível que esta derrota, colocando os legalistas na defensiva como afirma o cônsul americano, tenha convencido os generais no Rio de Janeiro a repensarem suas posições políticas. Considerando-se essa hipótese poderíamos afirmar que os acontecimentos desenrolados no Norte Pioneiro durante a campanha militar da Revolução tiveram, sopesados juntos ao seu respectivo contexto, importante contribuição ao sucesso do movimento iniciado no Rio Grande do Sul em 03 de outubro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E FONTES:

CALDEIRA, Jorge. Viagem Pela História do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997;
LEITE, Aureliano. Memórias de um revolucionário: A Revolução de 1930, Pródromos e conseqüências. lª edição. s/l. 1931;
MEIRELLES, Domingos. 1930: Os Órfãos da Revolução. Rio de Janeiro: Record, 2005;
PRADO, Hermínio. “Acção da Legião Garibaldi do Commando do General Elisiário Paim Filho”. In: Revolução de 1930: Imagens e Documentos, Revista do Globo – Edição Especial, Fevereiro de 1931, Porto Alegre: Barcellos, Bertaso & CIA, p. 257-261;
SCHWARTZ, Widson. Quatiguá no Diário da Revolução. Caderno Cidades, Folha de Londrina, 13 de Junho de 2007;
TEIXEIRA, Francisco M. P.; TOTINI, Maria Elisabeth. História Econômica e Administrativa do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Ática, 1991;
TOURINHO, Plínio. Depoimento. In: Cinqüentenário da Revolução de Trinta no Paraná. 2ª Ed. Curitiba: Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, 1980, p.78-83;
WACHOWICZ, Ruy Christovam. Norte Velho, Norte Pioneiro. Curitiba: Gráfica Vicentina, 1987;
YOUNG, Jordan. “Aspectos Militares da Revolução de 1930”. In: Os Militares e a Revolução de 30. FIGUEIREDO, Eurico (Org). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p.15-35;


sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Nove de Julho de 1932: A Revolução Constitucionalista no Norte Pioneiro do Paraná

Em 09 de julho de 1932 iniciava-se em São Paulo a Revolução Constitucionalista. A Guerra Paulista marcaria profundamente toda uma geração naquele Estado, mobilizando políticos, empresários, estudantes, homens e mulheres em um movimento que se estenderia até 03 de outubro daquele ano. Dias atrás uma personagem de novela de época lembrou sua atuação costurando uniformes e cachecóis para a tropa paulista.

Sob a reivindicação de uma constituição para o Brasil e o fim do Governo Provisório de Getúlio Vargas levantaram-se aqueles alijados por este do poder, aliados a outros que almejavam o controle do Estado de São Paulo e sentiam-se ludibriados pelos vencedores da Revolução de 1930. Foram meses de mobilização e mortes em várias frentes de combate.
Foi o Paraná palco dessas ações, a exemplo do que ocorrera na revolução anterior em 1930. A começar por forças do 5º RCD de Castro que se uniu aos paulistas em Itararé, como haviam feito em 1930. Outro fato a ser destacado foi o caso de acadêmicos de Curitiba que seguiram a pé pelo litoral e Serra do Mar, desde Antonina até São Paulo. Por fim as ações de combate verificadas no Norte Pioneiro do Estado, chamado à época de Ramal do Paranapanema em referência à ferrovia que corta a região de Jaguariaiva até Ourinhos-SP.

As ações no Norte Pioneiro ficaram sob o comando dos Generais João Francisco e ElisiárioPaim, sendo que este liderava uma coluna de provisórios da Brigada Militar Gaúcha. Estas tropas federais tinham o seu quartel-general em Wenceslau Braz enquanto os paulistas constitucionalistas ocupavam Ribeirão Claro, Jacarezinho e Cambará, invadidos a partir de Ourinhos e Xavantes. Tais informações encontram-se presentes em artigo de jornal escrito por Luiz Ignácio Domingues, documento preservado por mãos habilidosas e cuidadosas na Biblioteca Pública do Paraná. Intitulado "Centenas de Vidas Foram Sacrificadas na Aventura da Revolução Constitucionalista" o artigo foi publicado pelo  Jornal "O Estado do Paraná" em 1º de Dezembro de 1974. 

Domingues teria participado das ações das tropas federais na região. Segundo ele em 05 de agosto de 1932, próximo a ponte ferroviária sobre o Rio Jacaré, próximo a Jacarezinho, o General Paim enfrentou os paulistas e os fez recuar no final do dia 07 pela estrada de Ourinhos. Outros combates ocorreram ainda entre os dias 22 de setembro e 03 de outubro, como o da Fazenda Laranjal e Porto Maria Ferreira (hoje sob as águas represadas do Rio Itararé). As tropas federais, gaúchos em sua maioria, transpuseram Cambará, ultrapassaram o Rio Paranapanema chegando a Salto Grande onde bloquearam a ferrovia, fato que impediria a fuga do Estado Maior e lideranças constitucionalistas para o Mato Grosso e paises vizinhos, gerando isso um ataque mal sucedido de um trem blindado paulista.
Outras tropas ocuparam a região da Pedra Assassina diante de Ourinhos até que aquela cidade fosse também ocupada. Há que se lembrar que a passagem entre Riberão Claro – Xavantes continuava impedida pela Ponte Alves de Lima, destruída desde a Revolução de 1930.

Uma síntese do que foram os combates no Ramal do Paranapanema e o pelo que passaram os combatentes, pode ser conhecida pela ordem do dia da Coluna João Francisco e reproduzida por Domingues:
O que foi a marcha e travessia do Paranapanema, o que foram os dias de inquietação e de sacrifícios, sob a inclemência do tempo, sem calçados, sem agasalhos, quase nus, parcamente alimentados, sob intensa e violenta fuzilaria na defesa da ponte metálica para Ourinhos, não poderei eu dizer, que horas tais vivem-se, sentem-se, depois de se ter vivido, mas não se pintam, nem se descrevem”.

Fonte: DOMINGUES, Luis Ignácio. Centenas de Vidas Foram Sacrificadas na Aventura da Revolução Constitucionalista. Jornal "O Estado do Paraná", 1º de Dezembro de 1974. (Original disponível no acervo de recortes - pasta - de jornal do setor de Documentação Paranaense da Biblioteca Pública do Paraná - Curitiba)

domingo, 27 de julho de 2008

Puxando o Norte Para o Nosso Coração

Escrevi este artigo há algum tempo, em 13 de Abril de 2005, mas seu conteudo é bastante atual. Mais um que enviei a Folha de Londrina e acabou não sendo publicado, devia ter coisa melhor na frente! Bem vamos ao texto:
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Puxando o Norte para o nosso coração! Duplicação Já!
Prof. Ms. Roberto Bondarik
bondarik@utfpr.edu.br

Puxando o Norte para o nosso coração”, este era o objetivo de Manoel Ribas ao mandar construir a Estrada do Cerne, ligando o Norte do Paraná a Curitiba. Passando por Pirai do Sul e chegando até Jataizinho, a estrada tinha por objetivo puxar para o coração do Paraná aquelas que eram consideradas as mais férteis do mundo, o Norte do Paraná, procurando afastar a influência de São Paulo. E assim o fez.

Alem da fertilidade das terras, percebemos ainda o grande potencial de crescimento econômico que Norte do Paraná. Contatamos ainda aquilo que ele não possui e atrasa seu desenvolvimento. Um desenvolvimento e crescimento que depende cada vez mais de boas e seguras estradas. Independente de aumentarmos a discussão sobre a natureza da gestão das estradas, devemos ponderar que nossas rodovias nos afastam do coração do Paraná, nos afastam de uma integração maior e de melhores oportunidades de negócios.

Temos diferenças históricas e culturais com outras regiões do Paraná, diferenças que não nos afastam. Aquilo que realmente nos afasta do coração do Paraná é a constatação de que em uma economia que se fez dependente de caminhões, de ônibus e de automóveis, ainda não exista uma rodovia corretamente duplicada ligando Londrina e Maringá até Ponta Grossa. Que igualmente não existam rodovias adequadas ligando Jacarezinho, Santo Antonio da Platina, Ibaiti e Wenceslau Braz ao coração do Paraná. Até Cascavel e Guarapuava estão isoladas.

O Norte do Paraná foi construído com o trabalho arduo de pessoas que conseguiram transformar esta região em um celeiro de oportunidades. Não desejo cobrar apenas da classe política, que sozinha, não terá nunca condições para trazer o progresso. É chegada a hora da sociedade, organizada, conduzir ações para o nosso desenvolvimento. A sociedade somos nós, escolas, faculdades, universidades, organizações não governamentais, Cooperativas, Igrejas, Clubes de Serviço, Sindicatos, Associações Comerciais e Industriais, Sociedades Rurais, Lojas Maçônicas, etc, onde tenha alguém com o pé-vermelho. Precisamos de pessoas com a visão de negócios necessária para iniciar uma campanha para duplicação de nossas estradas, queremos estar juntos ao coração do Paraná, como paranaenses que somos esse é um sentimento enobrecedor, com dignidade para progredir. Se nos derem o mínimo, corremos atrás do máximo, alcançamos e venceremos como sempre. Com justiça e perfeição. Duplicação Já! Na Rodovia do Café, no Cerne e na PR-092.




sexta-feira, 11 de julho de 2008

O Dia da Industria

Este texto foi enviado para publicação em jornal, porém não o acharam adequado ou sei lá o que acharam pois o ignoraram. Mesmo assim toco em assuntos relacionados a industria brasileira e paranaense em especial, com certeza pode servir a alguem.
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25 de Maio - Dia da Industria e A Industria no Paraná

(Por Roberto Bondarik)
Neste dia da Industria (Decreto Nº 43.769 de 21 de Maio de 1958), cabe-nos lembrar que a sociedade brasileira é urbana e industrial, significando isto que boa parte de sua riqueza é gerada pela industria (35% do PIB) e que a maioria da população vive nas cidades e não mais no campo. A industria torna-se assim a mais viável opção para a geração de empregos e também uma promessa predileta momentos de crise e eleições pelo Brasil afora.
Iniciada na Grã-Bretanha em meados do séc. XVIII (Primeira Revolução Industrial), as origens da indústria estão ligadas ao desenvolvimento e utilização de máquinas que substituíam a força e a habilidade humanas e à necessidade de produzir cada vez mais e com menos custos. No Brasil o primeiro industria moderna foi o Estaleiro de Ponta da Areia pertencente ao Visconde de Mauá, em Niterói-RJ. Irineu Evangelista de Sousa foi o primeiro industrial e capitalista brasileiro.
No Paraná falamos em industria principalmente após a abertura da Estrada da Graciosa e da construção da Ferrovia Curitiba-Paranaguá (metade final do séc. XIX), quando ocorre uma melhoria na produção de erva-mate. Surgem inúmeros engenhos para beneficiamento da erva tanto no Planalto em Curitiba como no litoral, representando nossa primeira experiência industrial. Houve a exploração de madeira (araucárias), seu beneficiamento e exportação. Surgem empresas voltadas à utilização da madeira em diversas cidades.
A cafeicultura, praticada no Norte do Paraná a partir de 1860, comportou inúmeras atividades suplementares industriais, ligadas a seu beneficiamento, transporte e embalagem. Na década de 1920 a fazenda de Antonio Barbosa Ferraz, em Cambará, era considerada o maior estabelecimento industrial do Estado. Havia ali maquinas de beneficiamento, oficinas e outras atividades correlatas.
Com a decadência do café, na década de 1970, soja e trigo ocupam o seu lugar mudando o perfil da agricultura do Estado. Decorrentes da nova atividade agrícola surgem industria de transformação desses produtos, ligadas em sua maioria à cooperativas agrícolas, como em Campo Mourão, Maringá, Carambei e Rolandia. Industrializar a produção agrícola demonstra ser um caminho para agregar maior valor e renda ao campo e gerar empregos nas cidades.
Em 1972 foi oficializada a Cidade Industrial de Curitiba, uma ampla parte da Capital do Estado foi reservada para a implantação e ampliação de indústrias. Terrenos com infraestrutura e urbanizados eram vendidos com subsídios aos interessados. É realizada a construção da Refinaria de Araucária e a instalação de empresas como a Volvo.
Na década de 1990, assistimos a instalação de montadoras de automóveis em Curitiba e região. Isso decorreu de uma conjuntura internacional favorável, do afastamento do Estado de setores da economia (privatizações) e sobremaneira da existência de vantagens fiscais, tributarias e de financiamentos oficiais decorrentes do regime automotivo. Pode-se afirmar que ocorreu pelo menos uma mudança no perfil econômico do Estado do Paraná ao longo de todo esse tempo. Lembramos que a industria para germinar e dar bons frutos depende da boa vontade de todos, muito trabalho, investimentos e maior e melhor educação e qualificação profissional da população.

Geada Negra de 1975 - Erradicação da Cafeicultura Paranaense

Outro texto que publiquei na FOLHA DE LONDRINA em 2005. Ele versa sobre a "Geada Negra de 1975", responsavel pela erradicação total da cafeicultura paranaense naquele ano e com conseqüências profundas nos campos social, politico e econômico do Norte do Paraná ainda hoje.
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A Geada Negra de 1975
(Por Roberto Bondarik)

No domingo (19/06), a Folha de Londrina relembrou um o mais traumatizante evento de nossa história. Em 18 de Julho de 1975, há trinta anos, ocorria a Geada Negra, que erradicou a cafeicultura no Estado do Paraná. Naquela ocasião muitos não tiveram discernimento da amplitude dos problemas causados e das conseqüências que seriam geradas por esta geada, talvez ainda hoje muitos ainda não tenham essa compreensão.


Revistas e jornais daqueles dias mostram o frio europeu que atingiu o sul do Brasil. Em Curitiba ainda se relembra e comemora a neve daquela ocasião. No norte, onde o café era a principal atividade econômica, o frio intenso assumiu ares de tragédia, não sobrou espaço lembranças alegres. Haviam ocorrido geadas fortes em 1963, 1964 e 1966, prenúncios da maior de todas. No dia seguinte, a Folha afirmava que os cafeicultores estavam de luto, mas os órfãos, a história mostra isso, eram a população do Norte, em especial os colonos, os pequenos proprietários, os comerciantes, as cidades, todos aqueles que se relacionavam direta ou indiretamente com a cafeicultura. Foram todos atingidos em seu modo e no seu estilo de vida, tivemos de reaprender a viver.


Com as lavouras destruídas era preciso recuperar os prejuízos. As terras eram caras, precisavam continuar lucrativas, plantou-se soja, trigo e milho, principalmente. A mão-de-obra necessária era a mínima possível para as novas atividades. As colônias das fazendas começaram a se desfazer, os não proprietários passaram a se fixar nas cidades da região, muitos viraram bóias-frias. Londrina era sempre a melhor opção, surgiram bairros imensos, grandes conjuntos habitacionais como o “Cincão”. Outros foram para Curitiba e São Paulo. Próximo a Campinas, existem bairros inteiros habitados por gente que se orgulha e chora de saudade, por ser do Paraná. Para aqueles que já eram proprietários, optaram em vender o que possuíam e comprar novas terras em regiões livres do frio, assim hordas de paranaenses rumaram a Mato Grosso, Rondônia e Acre. Rapidamente Rondônia virou um Estado. Mato Grosso virou dois, no do norte estão muitos dos nossos antigos vizinhos.


Dizem que foi o maior fluxo migratório em tempos de paz, o êxodo rural norte-paranaense retirou do Estado quase 2,5 milhões de pessoas na década de setenta e 1,6 milhão na década de 1980, segundo dados do IBGE. Não é surpresa, cidades da região perderem lugar no ranking das mais populosas da região Sul.


Talvez tenha sido a Geada Negra de 1975, o maior golpe da história na economia e na sociedade do Paraná, um acontecimento que precisa ser estudado, explicadas as suas conseqüências. Buscamos, tateando, ainda hoje uma nova identidade econômica. Pessoalmente acredito que a solução de nossa economia e a construção de nossa riqueza se encontra na terra, em novas culturas e atividades, com a industrialização derivando, também, dessas atividades.



quarta-feira, 9 de julho de 2008

Sessenta Anos do Fim da Segunda Guerra Mundial

Publiquei esse texto no Jornal Folha de Londrina no 60º aniversario do fim da Segunda Guerra Mundial, em 2005. Como não irei publicar mais por uns tempos textos sobre a Revolução de 1930, até que possa terminar o livro preciso manter esse blog ativo. Como ficou um texto gostoso acho que vale a pena publicar novamente.
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Os Sessenta Anos do Dia da Vitória na Europa

Há sessenta anos, em 08 de Maio de 1945, oficialmente quando a Alemanha Nazista se rendia de maneira incondicional. Iniciada em 01 de Setembro de 1939, quando os nazistas invadiram a Polônia, a Segunda Guerra Mundial moldou o mundo como o conhecemos hoje.

Após seis anos de conflitos cerca de 60 milhões de pessoas perderam a vida, dentre os quais seis milhões de judeus nos campos de extermínios (um milhão e meio de crianças). O Holocausto dos judeus sempre permanecerá como a lembrança mais terrível deste conflito, dizem que sua lembrança poderá nunca ser apagada, pois ocorreu não nos grotões esquecidos e primitivos do mundo atrasado, mas sim na civilizada e requintada Alemanha.

O nazismo com a sua ameaça de destruição reuniu do mesmo lado os “liberais capitalistas” norte-americanos, os “imperialistas” ingleses e os “comunistas” soviéticos, estavam lado a lado, apesar de se repelirem mutuamente. Os Aliados representam a melhor prova daquilo que o ser humano é capaz quando se sente ameaçado em sua existência. Forjada da necessidade e do desespero surgiu a Vitória na Europa, e dela o mundo que viveu a Guerra Fria, que apesar das crises, assistiu a uma convivência entre Estados Unidos da América de um lado, e União das Republicas Socialistas de outro, conduzindo seus aliados.

Parece repugnante a idéia de que progressos foram obtidos com a Guerra, porem, os alicerces do mundo contemporâneo surgiram desse conflito. As idéias de ajuda humanitária entre as nações, o auxilio econômico internacional, os Fóruns Globais para discussão entre as nações dos mais diversos temas (da educação a condição feminina), a idéia de economia internacional e mercado global e o principal, a criação de tribunais internacionais para punir crimes de guerra.

Muitos avanços tecnológicos também puderam ser obtidos Destacamos: o Radar que hoje auxilia na aviação civil; a Penicilina, produzida em serie na guerra; o avião a jato, desenvolvido pelos alemães; a energia nuclear; o helicóptero; o computador, sem qual hoje nossa realidade seria no mínimo diferente e; o foguete. O Brasil conseguiu a construção e a tecnologia para a produção de aço necessária para operar a Usina Siderúrgica Nacional de Volta Redonda-RJ (CSN).

O ser humano é capaz de aprender, ou não, com seus erros. Hoje um conflito com as proporções da Segunda Guerra Mundial, seria bem mais difícil de acontecer, não impossível. Porém seus resultados seriam muito mais catastróficos. Esperamos que a lembrança daqueles sacrificados nos campos de batalha, nas câmaras de gás, nas águas do oceano, sirva para que possamos construir um mundo mais justo e mais perfeito.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Força Expedicionária Brasileira: de Santo Antonio da Platina para a Itália

O Senhor Nery Corrêa do Prado, de Santo Antonio da Platina lutou na Força Expedicionária Brasileira, um exemplo de cidadão do Norte Pioneiro que cumpriu seu dever. A Gazeta do Povo contou a sua história. Reportagem completa no site: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=760295&tit=O-professor-que-deu-uma-licao-nos-alemaes

Manutenção de Equipamentos Mecânicos Pelo Exercito Norte-Americano na Segunda Guerra Mundial

Escrevi este artigo há muito tempo atrás quando fazia a Especialização em Gestão Industrial, era o tempo ainda do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR), atual Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Como ele é um artigo produzido para conclusão da disciplina de Gestão da Manutenção, ele possui alguns erros de concordancia e até mesmo de ortografia, mas não esta disponível em nenhum outro site e é um assunto bélico, de certa forma esse blog acaba falando sobre guerra. Enfim espero que o achem interessante.
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Manutenção: Diferencial de Sucesso do Exército Norte-Americano na Segunda Guerra Mundial *
Roberto Bondarik
Rui Francisco Martins Marçal

Resumo: O presente artigo demonstra a importância atribuída ao serviço de manutenção dos exércitos mecanizados, em especial ao do Exército dos Estados Unidos da América, durante a Segunda Guerra Mundial, como diferencial de seu sucesso em comparação com outras forças no mesmo conflito.
Palavras Chave: Manutenção; Treinamento; Segunda Guerra Mundial; História Contemporânea.

Introdução:

Desde que a Revolução Industrial teve seu início na Inglaterra do século XVIII, as máquinas tornaram-se uma presença constante no cotidiano da humanidade[1]. A identificação das suas necessidades, a elaboração e adequação do seu projeto, por fim a etapa de construção e aplicação de uma máquina ás necessidades humanas[2], sempre demandaram uma boa disponibilidade de capitais, tanto financeiro como humano.
Uma das causas e motivações que tornaram a Revolução Industrial uma realidade, foi justamente a considerável disponibilidade de capitais e recursos, existentes na Grã-Bretanha. Esta disponibilidade foi conseguida em virtude de diversos fatores, principalmente graças ao domínio britânico do comércio mundial[3] naqueles tempos. A construção do Império Britânico se deu em constante marcha ritmada pelo crescimento e ampliação deste comércio que foi se estendendo pelas mais distantes e diversas regiões do mundo.
Uma vez construída e instalada uma máquina, que normalmente possuiu um custo considerável, há que se colocar a mesma para trabalhar, produzindo bens ou serviços, recuperando desta maneira o capital investido. Devido a esta necessidade de recuperação dos investimentos e a maneira rápida que os industriais procuraram implementá-la, resultaram muitas das críticas à exploração a que os trabalhadores foram submetidos neste período. As interrupções e a diminuição no ritmo do funcionamento das máquinas, certamente representam seguramente prejuízos que precisam ser evitados, revertidos e recuperados.
O bom funcionamentos das máquinas e equipamentos de uma indústria depende da eficiência e da agilidade dos serviços de manutenção, serviços estes que devido a sua eficiência, poderão contribuir para com o sucesso ou para com o fracasso de uma organização. Sucesso ou fracasso, que em tempos atuais podem ser traduzidos em uma maior ou menor competitividade e esta em lucratividade, conjugada com a manutenção do nível e da qualidade da empregabilidade da empresa. Empregabilidade que podemos indicar como sendo de interesse primordial para os trabalhadores.
Não apenas as atividades produtivas civis dependem de um bom serviço de manutenção, as organizações militares também se acabaram por se inspirar no ambiente fabril, para a efetivação e dos seus diversos serviços, missões e estratégias. Procurar demonstrar como a manutenção foi importante às organizações militares, em especial àquelas que atuaram durante a Segunda Guerra Mundial, torna-se portanto, o objetivo deste breve trabalho, realizado com base em uma pesquisa bibliográfica e eletrônica, que pretende apenas apresentar-se como uma reflexão de caráter histórico, sem maiores preocupações descritivas ou mesmo técnicas. Procuraremos apresentar a manutenção militar como um paradigma para a ação das empresas contemporâneas.

Os Serviços de Manutenção no Exercito Norte-Americano:

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)[4], que foi considerada o maior conflito bélico internacional de toda a hsitória da humanidade, o Exército dos Estados Unidos da América, cuja dependência e a utilização de equipamentos mecânicos foi enorme, sendo que, podemos defini-lo como um exército praticamente mecanizado em sua totalidade. O Exercito Norte-americano teve apontado como um dos seus muitos diferenciais de sucesso, além da disponibilidade quase que ilimitada de recursos materiais, equipamentos e pessoal, a implantação de um sistema de manutenção que foi considerado extremamente ágil, competente e eficaz.

Os norte-americanos utilizavam como o seu principal veículo blindado de combate, os tanques Sherman, de fabricados pelos próprios Estados Unidos. O Tanque Sherman era considerado bastante ágil e rápido, para poder manter estas que eram suas qualidades ele era também muito mais leve e frágil diante dos grandes e pesados tanques alemães, como o Tigre. O Alto Comando dos Estados Unidos, resolveu utiliza-los, principalmente porque em primeiro lugar eles conseguiam produzi-los em grande número e quantidade; em segundo lugar as dimensões do Sherman facilitavam o transporte ultramarino entre a América do Norte e a Europa[5]. Além do mais, o Sherman poderia ser facilmente consertado e recuperado em caso de avarias. (AMBROSE: 2002, p 58).

Sobre este assunto utilizamos como principal base de referência para a nossa reflexão a obra “Soldados Cidadão: do desembarque do Exercito Americano nas praias da Normandia, à Batalha das Ardenas e à rendição da Alemanha ”, escrita pelo norte-americano Stephen E. Ambrose, que relatou a história da Segunda Guerra Mundial vista pela perspectiva dos soldados e sub-oficiais[6]. Ambrose procurou destacar a extrema rapidez e eficiência com que os reparos eram feitos nos veículos danificados, quer seja por combates, quer seja pelas dificuldades apresentadas pelo terreno, ou ainda por defeitos mecânicos que eram considerados e classificados como comuns ou rotineiros:

"(...) Os (norte) americanos eram também infinitamente melhores na recuperação e no conserto dos tanques danificados, para fazer que voltassem a entrar em operação; os alemães não tinham nada que se assemelhasse aos batalhões de manutenção dos americanos (...)” (Idem, p.71)

Devido ao potencial produtivo de seu enorme parque industrial automobilístico, que originalmente destinado a produção de bens para uso civil, havia sido rapidamente convertido para a produção indústrial bélica. Os norte americanos supriram o seu Exercito, Marinha e a Força Aérea e também as forças dos seus muitos aliados[7], com um sortimento considerável de armas e veículos:

"(...) Pelo fím de 1944, a indústria alemã produziria 24.630 tanques (...) a produção britânica desse tipo de veículos, chegaria a 24.843. Mas os americanos entregariam aos militares, por essa época, o espantoso número de 88.410 blindados (...)” (Ibidem)

Apesar de sua superioridade no campo da produção, os americanos tinham a necessidade de transportar os seus equipamentos e suprimentos por todo o Atlântico, em uma viagem que era considerada muito arriscada, até que por fim chegassem aos campos de batalha na Europa, ou como chamavam no jargão militar, TOGE[8]. Apesar de eficaz, a reposição desses equipamentos avariados possuia um custo bastante elevado, fatorres estes que tornavam a ação dos batalhões de manutenção extremamente necessária, essencial e imperiosa.
Uma grande responsabilidade pelo suprimento e pela reposição de materiais estava centrada, portanto, nos serviços de manutenção das forças norte-americanas. Cabia aos mecânicos e engenheiros além da manutenção dos equipamentos, garantindo então o seu funcionamento, a manutenção na prática do poderio e da supremacia material do próprio exército. Os componentes destas unidades, especialmente convocados e selecionados demonstravam toda a sua competência e habilidade, aprendida nas atividades e organizações industriais e também nas áreas de prestação de serviços:

"(...) Aliás nenhum exercito do mundo tinha essa competência. Dois dias depois de terem sido postos fora de combate por bombas alemãs, por volta da metade dos Shermans[9] danificados era reparada pelos batalhões de manutenção e voltava para a linha de frente. Jovens que tinham trabalhado em postos de gasolina e oficinas mecânicas dois anos antes haviam trazido suas habilidades de mecânica para a Normandia, onde substituíram lagartas de tanques danificadas, soldaram placas de blindagem em tanques perfurados e consertaram motores. Mesmo sem condições de conserto, os blindados eram rebocados pelo s americanos para os galpões de manutenção, a fim de que se lhes aproveitassem as peças. Os alemães simplesmente abandonavam os seus, donde, por motivos os mais dispares, não podiam sair por si mesmos(...)". (Ibidem).

Os aliados dos norte americanos, não dispunham porém, de toda a organização destes, sendo que acabaram por reduzir um pouco daquilo o que poderiam ter conseguido com a utilização em combate de suas forças motorizadas na totalidade. Os soviéticos apresentam-se como um exemplo disso, freqüentemente abandonavam os seus veículos danificados e os substituíam por um novo:

"(...) O Exército Vermelho[10], tinha os seus próprios tanques, os T-34 (de concepção norte-americana e talvez o melhor tanque da guerra). Ele (o Exército Vermelho) precisava era de caminhões. O programa de empréstimos e arrendamento do governo americano forneceu-lhes milhares de caminhões Studebaker (...) quando as velas de ignição entupiam, o que, de fato, ocorria rapidamente nas estradas de terra, os soviéticos simplesmente abandonavam os caminhões (...)". (Ibidem).

O exemplo das velas nos é bastante elucidador e conclusivo, ao se compararmos o planejamento de ação e até mesmo do espírito de improviso e empreendimento destes dois exércitos: Vermelho e Norte-Americano.

“(...) as guarnições de manutenção das divisões americanas eram compostas por homens que trabalhavam dia e noite limpando velas com jatos de areia. Quando se lhes esgotava o meterial usado nessas limpezas, enviavam homensàs praias para colher mais. A Areia tinha então de ser secada e peneirada antes de poder ser usada, mas lhes servia
Todo esse trabalho era feito como se o pessoal estivesse nos Estados Unidos, consertando carros e caminhões – ou seja, os homens no pisoda oficina tomavam suas próprias decisões, pegavam as ferramentas e iam cuidar do seu trabalho (...)". (Ibidem).

Conclusões:

Pode se concluir que a rapidez e eficácia dos serviços de manutenção do Exercito dos Estados Unidos foi um fator decisivo para a construção e a sustentabilidade de seu poderio, resultante na vitória sobre a Alemanha em 08 de Maio de 1945. Cabe ressaltar ainda, que existem poucos trabalhos a respeito de tais serviços e de sua importância, sendo o seu estudo ainda um fertil campo para a atuação de futuros pesquisadores.
Um paralelo pode e deve ser traçado entre as ações que descrevemos e a atuação das empresas na atualidade, um eficaz serviço de manutenção pode reduzir consideravelmente a possibilidades de ficarmos a mercê dos inimigos, uma metáfora bastante agressiva, mas necessária para compreendermos o atual nível de competitividade que tem sido incutido ao mercado e nele detectado.
Bibliografia:

KOSHIBA, Luiz. História: origens, estruturas e processos. São Paulo: Atual, 2000
HOBSBAWN, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
CHURCHIL, Winston S.; Memórias da Segunda Guerra Mundial. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995;
AMBROSE, Stephen E. Soldados Cidadãos: do desembarque do Exercito Americano nas praias da Normandia, à Batalha das Ardenas e à rendição da Alemanha. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002;

* Artigo produzido, como exigência parcial de conclusão da Disciplina de Gestão da Manutenção, ministrada no Curso de Especialização em Gestão Industrial (I ESPGI). do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Unidade de Cornélio Procópio.
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[1] A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolução, em função do enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação acompanhado por notável evolução tecnológica.
A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução burguesa iniciada na Inglaterra no século XVII. (KOSHIBA, Luiz. História: origens, estruturas e processos. São Paulo: Atual, 2000);

[2] Mecanização da Produção: As invenções não resultam de atos individuais ou do acaso, mas de problemas concretos coloca­dos para homens práticos. O invento atende à necessidade social de um momento; do contrário, nasce morto. Da Vinci imaginou a máquina a vapor no século XVI, mas ela só teve aplicação no ,século XVIII.
Para alguns historiadores, a Revolução Industrial começa em 1733 com a invenção da lançadeira volante, por John Kay. O instrumento, adaptado aos teares manuais, aumentou a capacidade de tecer; até ali, o tecelão só podia fazer um tecido da largura de seus braços. A invenção provocou desequilíbrio, pois começa­ram a faltar fios, produzidos na roca. Em 1767, James Hargreaves inventou a spinning jenny, que permitia ao artesão fiar de uma só vez até oitenta fios, mas eram finos e quebradiços. A water frame de Richard Arkwright, movida a água, era econômica mas produzia fios grossos. Em 1779, S Samuel Crompton combinou as duas máquinas numa só, a mule, conseguindo fios finos e resistentes. Mas agora sobravam fios, desequilíbrio corrigido em 1785, quando Edmond Cartwright inventou o tear mecânico.
Cada problema surgido exigia nova invenção. Para mover o tear mecânico, era necessária uma energia motriz mais constante que a hidráulica, à base de rodas d’água. James Watt, aperfeiçoando a máquina a vapor, chegou à máquina de movi­mento duplo, com biela e manivela, que transformava o movimento linear do pistão em movimento circular, adaptando-se ao tear. (KOSHIBA: op. cit. p

[3] Os capitais também vinham do tráfico de escravos e do comércio com metrópoles colonialistas, como Portugal. Provavelmente, metade do ouro brasileiro acabou no Banco da Inglaterra e financiou estradas, portos, canais. A disponibilidade de capital, associada a um sistema bancário eficiente, com mais de quatrocentos bancos em 1790, explica a baixa taxa de juros; isto é, havia dinheiro barato para os empresários. (KOSHIBA: op.cit)

[4] A Guerra iniciou-se 1° de setembro de 1939, quando as tropas nazistas invadiram a Polônia, utilizando-se das ofensivas - relâmpago (blitzkrieg), com aviões Stuka da Luftwaffe e tanques blindados, que, em menos de um mês derrotaram as forças polonesas.
A invasão alemã pretendia retomar o “corredor polonês” e o porto de Dantizg, considerado estratégico e um direito alemão. Interessava também à Alemanha a região da Alta Silésia, com importantes reservas carboníferas
Seguindo a política anglo-francesa, a polônia havia retardado a mobilização de suas tropas. Embora na semana precedente ao ataque alemão tivessem tomado as medidas preliminares, elas não foram suficientes para garantir a resistência. a eficácia do ataque aéreo alemão foi devastadora e total. O bombardeio das estradas de ferro da Polônia desorganizou completamente os transportes e comunicações e tornou difícil a coordenação. Os ataques às bases aéreas polonesas, eliminaram qualquer possibilidade de reação por ar.
Em 17 de setembro o país também foi invadido pela URSS. As tropas poloneses foram massacradas pelos dois exércitos, que dividiram o país em dois, conforme já definido no pacto assinado em agosto. (www.historianet.com.br);
A Guerra Alemã durou de 1° de setembro de 1939, quando os exércitos de Hitler invadiram a Polônia, até 8 de maio de 1945, quando eles se renderam. Na verdade, ela foi uma continuação da "Guerra do Kaiser" de 1914-1918: foi a segunda tentativa alemã de alcançar suas aspirações nacionais - a hegemonia da Europa e, talvez, posteriormente do mundo.
A Guerra Japonesa durou de 7 de dezembro de 1941 (data do ataque contra Pearl Harbor) até a rendição em 15 de agosto de 1945, apesar de que a assinatura oficial tenha sido feita a 2 de setembro, no couraçado Missouri. Sua meta consistia simplesmente em estabelecer o domínio japonês no Extremo Oriente. (http://adluna.sites.uol.com.br)

[5] Um exemplo clássico de um produto que tem o seu projeto desenvolvido ou continuado tendo-se levado em conta os meios de transporte disponíveis. (N.A.)

[6] AMBROSE, Stephen E. Soldados Cidadãos: do desembarque do Exercito Americano nas praias da Normandia, à Batalha das Ardenas e à rendição da Alemanha. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002;

[7] Entre os diversos países aliados dos Estados Unidos da América que receberam equipamentos, armas e munições destes, destacam-se: URSS, Inglaterra, Brasil, França Livre, China e vários outros. (N.A.);

[8] TOGE: sigla que significa – Teatro de Operações de Guerra Europeu;

[10] Exercito regular da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

PONTE “ALVES DE LIMA” E A REVOLUÇÃO DE 1930 NO NORTE PIONEIRO DO ESTADO DO PARANÁ

Prof. Ms. Roberto Bondarik*

bondarik@utfpr.edu.br


A Ponte “Alves de Lima”, ligação rodoviária entre as localidades de Ribeirão Claro, no Estado do Paraná, e Chavantes, no Estado de São Paulo, foi construída na década de 1920 com objetivo de escoar a produção de café do Norte do Paraná. Os estudos visando s a sua construção foram realizados em 1918, conforme histórico do Município de Chavantes-SP, publicado pelo IBGE:

1918 - São feitos os estudos para a construção da Ponte "Alves Lima" - PONTE PÊNSIL DE CHAVANTES". (IBGE, 2008)[1]

Outra referência a esta obra, encontra-se na Mensagem do Presidente do Estado do Paraná ao Poder Legislativo, em 1920[2]. Há neste documento o comunicado do Presidente Dr. Affonso Alves de Camargo referente a esta construção e o acordo feito entre os Estados do Paraná e de São Paulo, referente ao financiamento e autorização da condução da obra.


Attendendo[3] ao auxilio pedido por vários moradores dos Municípios de Jacarésinho e Ribeirão Claro, o Governo autorizou a construcção de uma ponte pencil de 77m10 de vão livre sobre o Rio Paranapanema no Porto Emygdão, na estrada de Ribeirão Claro a Chavantes. Para a execução desse melhoramento cujos serviços estão em andamento, o Paraná concorrerá com 50:000$000 [cinqüenta contos de réis] e São Paulo com 40:000$000 [quarenta contos de réis], correndo o resto das despesas por conta dos demais interessados (MENSAGEM PRESIDENCIAL DO ESTADO DO PARANÁ 1920, p.59)

Confirma-se portanto o início da construção da Ponte Alves de Camargo no ano de 1919, uma vez que a mensagem referida foi apresentada em 1920. A construção foi conduzida pelos dois governos estaduais mais a iniciativa privada, formada por fazendeiros do Município de Ribeirão Claro.

A mensagem presidencial de 1921, apresentado pelo Presidente do Estado do Paraná, Dr. Caetano Munhoz da Rocha, apresenta os valores totais do orçamento da construção desta ponte, que se encontrava em andamento. O valor total da obra estava orçado em 103:270$000 (cento e três contos, duzentos e setenta mil réis), como relatado pelo Presidente:


Em execução: Ponte pênsil sobre o Rio Paranapanema na estrada de Ribeirão Claro a Chavantes, auxilio á Comissão constructora 50:000$000 [cinqüenta contos de réis]. O Estado de São Paulo contribue também com 40:000$000 [quarenta contos de réis] para essa construcção que esta orçada em 103:270$000 [cento e três contos, duzentos e setenta mil réis], cabendo aos fazendeiros do município de Ribeirão Claro, o pagamento da quantia restante de 13:270$000. (MENSAGEM PRESIDENCIAL DO ESTADO DO PARANÁ 1921, p.55)

A mensagem apresenta ainda os valores pagos e a pagar até aquele momento (1921):

Valor total dos serviços 77:760$013

Importância paga 27:760$013

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Saldo a pagar 50:000$000

(MENSAGEM PRESIDENCIAL DO ESTADO DO PARANÁ 1921, p.55)

Com a sua conclusão e uso, a Ponte “Alves Lima” tornou-se um importante elo de ligação entre o Norte do Paraná e o Estado de São Paulo, permitindo o escoamento da produção agrícola da região e o fluxo crescente de pessoas. Devido a sua importância logística, a ponte foi alvo de especial atenção durante a Revolução de 1924 em São Paulo e principalmente na Revolução de 1930, que alçou Getúlio Vargas ao poder.

Após a eclosão da Revolução de 1930 no Rio Grande do Sul e a conseqüente adesão das forças militares federais e estaduais no Estado do Paraná, o Governo Federal e do Estado de São Paulo deslocaram forças para esta região. Devido à importância do Norte Pioneiro do Paraná, forças militares vindas diretamente do Rio Grande do Sul trataram também de assegurar o seu controle.

Tropas legalistas (paulistas) e revolucionarias se enfrentaram em Quatiguá-Pr, nos dias 12 e 13 de Outubro de 1930. Derrotados os paulistas se retiram em direção ao Estado de São Paulo.

O inimigo tenta então fazzer uma retirada em ordem, a qual não pode ser levada a effeito, como pretendia o adversário, em virtude da acção immediata da nossa infantaria que, apoiada pela artilharia e pelos fogos da companhia de metralhadoras pesadas desarticulou logo as suas linhas, rompendo-as com tal impetuosidade que o adversário desorganisado empreende uma fuga desastrosa. (VÉRAS, 1933, p. 00)

Ana Godoy[4] relata que seu pai, no dia 13 de outubro, logo após o fim do combate em Quatiguá, recebeu em sua casa um oficial paulista que lhe relatou que haviam sido derrotados, o comandante da coluna legalista havia dado a ordem de debandar e fugir em direção ao Estado de São Paulo. O próprio Coronel Alcides Etchegoyen, comandante do Destacamento Revolucionário, citado por Véras (1933), menciona a fuga das forças legalistas em direção às divisas de São Paulo e a suposta segurança nas margens paulistas dos rios Itararé e Paranapanema. A destruição das pontes que ficavam pelo caminho demonstram o quanto o combate deve ter sido traumatizante e também apontam que as forças legais não se encontravam preparadas para dar combate às tropas regulares e profissionais como as que se deslocavam a partir do Rio Grande do Sul e agora se espraiavam pelo Norte Pioneiro do Paraná.

No relatório sobre a sua columna dia o bravo coronel Etchegoyen, referindo-se a fuga do adversário: “O seu dispositivo esfrangalhou-se, o pânico se manifestou em suas fileiras, veiu a desordem e a confusão. A ninguém mais seria dado conter aquella tropa cheia de terror, cujo pensamento único era fugir e cuja fuga era cortada pelo fogo das nossas metralhadoras pesadas que a fusilava em massa. As populações das cidades e villas, ao longo da via férrea Quatiguá-Jacaresinho, são testemunhas do estado de desmantello e desmoralisação das tropas adversárias em fuga, as quaes tomadas de pavor e viajando em caminhões incendiavam, com auxilio de gazolina, as pontes e pontilhões ao longo da estrada, afim de evitar a perseguição de nossa tropa e destruindo a dinamite de uma maneira bárbara as pontes lançadas sobre o Paranapanema e incendiando todas as balsas, botes e canoas existentes nos diversos passos daquele rio, abandonando em definitivo naquella região, o Estado do Paraná.” (VÉRAS, 1933)

Desta forma destruíram a forças paulistas e federais, leais ainda ao Presidente da República, Washington Luiz, a ponte ferroviária em frente à Ourinhos-SP e Jacarezinho-PR, e a ponte pênsil rodoviária (Alves de Lima) defronte a Chavantes-SP e Ribeirão Claro-Pr. O Jornal a Gazeta do Povo publicou um relato de um morador de Jacarezinho, para quem a retirada das forças paulistas e do Governo Federal do Norte do Paraná teria se constituído em uma verdadeira fuga. O relato de Candido Berttrer, foi publicado no dia 24 de Outubro de 1930.

O sr. Cândido Berttrer Fortes, fazendeiro e commerciante em Jacarezinho, é um velho amigo da GAZETA DO POVO, e um dos nossos muitos assignantes naquella região.

Testemunha dos últimos acontecimentos desenrolados em Jacarezinho, o sr. Cândido Fortes, veio a nossa reducção, afim de narrar pormenorisadamente, para os leitores da GAZETA DO POVO, tudo quanto se passou, naquella localidade, nestes últimos dias.

Disse-nos que na madrugada de 12 para 13 do corrente[5], as forças paulistas, que haviam dado combate em Quatiguá, sob o commando dos coronéis Sandoval e Agnello passaram por Jacarezinho, em verdadeira debandada, apavorados com a perseguição de tropas revolucionárias.

As forças governistas – disse-nos o nosso informante – entraram pelas ruas de Jacarezinho, trazendo cada soldado, na ponta do fuzil uma bandeira branca. Chegaram completamente desmoralizados, dizendo que haviam combatido durante 15 horas.

Qual era o efectivo dessa tropa?

Mais ou menos, mil e duzentos homens – respondeu-nos o sr. Candido Fortes.

No dia 14 – continuou nosso entrevistado – as tropas governistas começaram a abandonar a cidade. Nessa retirada commeteram uma série enorme de depredações, causando innumeros damnos à cidade. Incendiaram duas pontes do Ribeirão “Fartura”. Mais adeante, na ponte “Mello Peixoto”, sobre o rio Paranapanema, deitaram grande quantidade de gazolina, incendiando-a também. A ponte metallica da E. de ferro S. Paulo-Paraná também foi bastante dannificada. Dynamitaram os pilares que ficam em território paulista, destruindo grande parte da linda ponte. (GAZETA DO POVO, 24 de Outubro de 1930, p.01)[6]

A destruição da ponte pênsil provocou inúmeros problemas aos habitantes do Norte do Paraná, pois o transporte rodoviário ficava desta forma interronpido, sendo feito por balsas. Em dezembro de 1930, a Gazeta do Povo publicou noticia de sua sucursal em Jacarezinho, referente a acidente com um caminhão transportado por balsa no Rio Paranapanema, que cheio devido a chuvas torrenciais apresentava perigoso à navegação e travessia. Comenta-se também a sobre os autores da destruição da ponte:

Ainda não fizemos nesta sessão nenhum commentário sobre a covardia das forças que se intitulavam legalistas e que tiveram a desfaçatez de incendiar a Ponte da Estrada de Rodagem sobre o Rio Paranapanema, que nos ligava a praça de Ourinhos, de onde recebe o nosso comercio a maioria de suas mercadorias.

Covardes e asquerosos esses assalariados tiveram ainda o desplante de fazer ruir a parte paulista da ponte da Estrada de Ferro sobre o mesmo rio.

Resultado desse crime, estamos soffrendo nós agora, pois ficamos sem ponte para a passagem de automóveis, sujeitando-nos a perigosa travessia em balsas.

Ultimamente com as chuvas torrenciais que tem cahido, o leito do rio Paranapanema esta muito cheio e caudaloso, apresentando um grave perigo a sua travessia em balsa como se vem fazendo.

No sábado ultimo, 20 do corrente, um caminhão da firma Eduardo Salgueiro, de Cambará, carregado de mercadorias, tombou da balsa e afundou no rio, numa profundidade de 8 metros.

O chauffeur depois de ter cahido juntamente com o vehiculo, conseguiu submergir.

O caminhão trazia 2 tambores de gazolina que já foram salvos, perdendo-se o restante das mercadorias, inclusive 500 saccos vasios. (GAZETA DO POVO, 28 de Dezembro de 1930, p.08)[7]

Os prefeitos da região, inclusive de Ourinhos, procuravam os governos de seus Estados para conseguir a reconstrução das pontes destruídas.



* Professor e Pesquisador. Mestre em Engenharia de Produção, Especialista em História e em Gestão Industrial, Graduado em História e Geografia. Docente da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

[1] Disponível em <> Acesso em 15 de Janeiro de 2008;

[2]Mensagem Dirigida ao Congresso Legislativo do Estado pelo Dr. Affonso Alves de Camargo, Presidente do Estado do Paraná, em 1º de Fevereiro de 1920, p.59;

[3] Foram mantidas em todas as citações a ortografia original da época;

[4] Entrevista não gravada com o autor em 08 de setembro de 2007, em sua residência em Quatiguá-Pr;

[5] È possível que um equivoco de datas tenha ocorrido quando da publicação ou da referência dada por Cândido Berttrer. A data correta deve ser a madrugado dos dias 13 para 14 de outubro. A derrota da força legalista em Quatiguá ocorreu na manhã do dia 13 de outubro de 1930. (Nota do Autor);

[6] A DEBANDADA DAS FORÇAS PAULISTAS E SUA PASSAGEM POR JACAREZINHO. Dia 24 de Outubro de 1930 – Nº 4.179 – Ano XI – p.01;

[7] DESASTRE NO RIO PARANAPANEMA. Dia 28 de Dezembro de 1930 – Nº 4.245 – Ano XI – p.08;