quarta-feira, 4 de julho de 2007

A Erva-Mate na economia do Paraná.

Escrevi este texto em 2006 e ele versa sobre a erva-mate e sua importancia para o desenvolvimento economico e industrial do Estado do Paraná nos séculos XIX e XX. Como este blog destina-se a História do Paraná acho oportuno publicar aqui algumas partes deste artigo. Uma versão dele foi apresentada no ADM-2006 da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Pode ser que ele seja útil para as questões sobre História do Paraná nos exames vestibulares do Estado.
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Origens do consumo e da produção de erva-mate
[Texto 01 de 03]

De acordo com Costa (1995) o perfume que pode ser considerado como característico do Paraná Tradicional é o aroma exalado pela erva-mate. Seria muito difícil considera como exagero a afirmação de que o ciclo representado pela erva-mate na História do Paraná, revestiu-se de uma importância bastante elevada. Esse ciclo conviveu com outro também importante que foi o do gado e do tropeirismo, vivenciado nos Campos Gerais.
A erva-mate é uma arvore nativa das florestas paranaenses, chamada em outros tempos de Congonha, a erva-mate (Ilex paraguariensis) é consumida pelos indígenas paranaenses e do Sul, em forma de “chimarrão” desde um período bem anterior à chegada dos brancos europeus. Conforme Gomes (1953) os índios a chamavam de “caa”, e os espanhóis já a conheciam quando fundaram as cidades guairenses de Ciudad Real Del Guairá e Vila Rica do Espírito Santo, ambas em território atualmente paranaense.

O uso do mate é conhecido desde as chegadas dos colonizadores no Brasil e no Paraguai. As primeiras notícias concretas datam de 1541. os documentos falam de uma bebida usada pelos nativos na região do Guairá, como verdadeiro vício. (...) o hábito se generalizou desde o peru ao Rio da Prata.” (COSTA, 1995, p. 35)


A difusão do consumo da erva-mate, em forma de chimarrão pela região platina, ainda segundo Costa, deve-se a uma série de fatores, sendo que alguns podem ser apontados:


a) Necessidade de melhorar o sabor da água salobra (salgada) misturando-a com folhas da erva;
b) Ausência de outras culturas alimentares para atender o vaqueiro ou boiadeiro em longas caminhadas;
c) Pouca disponibilidade de alimentos, o consumo da erva-mate elimina a sensação de fome, devido aos seus nutrientes.


Os padres jesuítas das reduções espanholas do Guairá chamavam-na de “erva do diabo”, conforme Wachowicz (1988), devido ao fato de que os índios atribuíam-lhe influências consideráveis sobre as suas emoções inclusive sobre aspectos sexuais (erotismo e virilidade). É certo que os jesuítas espanhóis acabaram por proibir seu consumo por um considerável tempo. Porém a interdição religiosa não foi suficiente para diminuir o consumo e arrefecer os hábitos já seculares da população. O consumo da erva-mate, a exemplo do tabaco, foi um habito indígena que passou a fazer parte da rotina dos brancos, portugueses e espanhóis, conquistadores. Não havia casas de espanhóis nem ranchos de índios onde não fosse bebida. Os bandeirantes levaram seu consumo aos portugueses, o chimarrão tornou-se por tempos também, um hábito paulista. Há que se lembrar que o Paraná fez parte da Província de São Paulo até 1853. Paranaenses dos três planaltos aprenderam a fazer uso do chimarrão. Seu consumo hoje é considerável em diversos paises na região do Rio da Prata, Argentina, Paraguai, Uruguai, Brasil (consumo de diversas formas) e também Chile e Bolívia.
De acordo com Costa (1985) os ervais se estendem pelo Estado até o Rio Paraná, penetrando no Mato Grosso do Sul. Adentra por santa Catarina, sempre longe do litoral, atinge a região de serras no Rio Grande do Sul. Estende-se ainda pela Argentina e Paraguai.
A região do alto Paraná foi a primeira a produzir e negociar com a erva-mate, em especial devido à facilidade do transporte pelos rios Paraná, Paraguai e Prata. Devido à instabilidade política nessa região produtora, os consumidores começaram a se voltar para o atual Estado do Paraná e Santa Catarina. Os ervais nativos dessas regiões passaram a suprir as necessidades de consumo que existiam na Argentina, Uruguai e Chile, sendo que a extração ocorria já no Paraná desde o século XVIII, quando o governo português demonstrou seu interesse por essa atividade econômica.
A extração das folhas de erva-mate, não era muito complexa, porem exigia trabalho sistemático e pontual dentro da mata:


O corte ou poda das erveiras é feito manualmente com facão ou foice. Existem arvores com mais de doze metros de altura. Geralmente o corte é realizado por homens, sendo que mulheres e crianças ficam reunindo os galhos cortados em feixes que serão levados para a operação do sapeco. O corte mutila, mas não prejudica a árvore que levará de até cinco anos para se regenerar e sofrer novo processo de corte. O sapeco é feito sobre fogo, a ação rápida das labaredas faz com que as folhas percam parte de sua umidade, evitando que ela escureça e adquira um sabor desagradável. Após isso a erva é submetida a uma secagem que dura de dez a doze horas, em instalações de calor intenso, como um forno e sem contato com a fumaça. Terminada a secagem, a erva é triturada e fragmentada, depois peneirada. A atividade do produtor local termina com o peneiramento da erva-mate, que assim se constitui na matéria-prima para os engenhos de beneficiamento”. (COSTA, 1995, p. 26-27).


O inicio das atividades industriais no Paraná será justamente com o beneficiamento desta erva-mate extraída e preparada nos ervais, nos engenhos que começaram a funcionar no século XIX.
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Bibliografia:


COSTA, Samuel Guimarães da. A Erva-Mate. Curitiba: Farol do Saber, 1995;
GOMES, Raul. Aspectos Gerais e Econômicos do Paraná. In: Guia Globo Paraná de Importação e Exportação (1953-1954). Porto Alegre: Clarim, 1953, p.103-206;
OLIVEIRA, Dennilson de. Urbanização e Industrialização no Paraná. Curitiba: SEED, 2001;
PASINATO, Raquel. Aspectos Etnoentomológicos, Socioeconômicos e Ecológicos Relacionados à Cultura da Erva-Mate (Ilex Paraguariensis) no Municipio de Salto do Lontra, Paraná. 112 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia de Agrossistemas). Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiros - Piracicaba, Universidade de São Paulo, 2003;
SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem Pela Comarca de Curitiba. Curitiba: Fundação Cultural, 1995;
SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. História da Alimentação no Paraná. Curitiba: Fundação Cultural, 1995;
_____________________ . Vida Material, Vida Ecconômica. Curitiba: SEED, 2001;
SIMONSEN, Roberto C. História Econômica do Brasil (1500/1820), São Paulo: Companhia Editora Nacional, 3ª edição, 1957 ;
WACHOWICZ, Ruy Chistowam. História do Paraná, Curitiba: Gráfica Vicentina, 6ª edição, 1988.