domingo, 8 de julho de 2007

A BATALHA DE ITARARÉ

A Batalha de Itararé acabou entrando para a a história como a "Batalha Que Não Houve!!!". Exageros a parte pode-se afirmar que houve combates importantes naquele outubro de 1930 que fizeram parte de um conjunto ao qual a batalha final pela cidade de Itararé, em São Paulo se insere. O combate decisivo foi evitado pela decisão do Coronel Paes de Andrade que resolveu parlamentar com o General Miguel Costa, comandante revolucionário. Ocorreram combates em Quatiguá, Capela da Ribeira e na Fazenda Morungava. Em todos são registrados mortos.
Negar os combates em 1930 na divisa entre São Paulo e Paraná, é a negar a existencia da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder, e deve ser esse o intento da negação.

Uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo em 11 de julho de 1999 lança novas luzes sobre esse acontecimento. Reportagem de José Maria Tomazella

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Ossadas de Itararé podem mudar história de batalhas

Restos de soldados gaúchos mortos em combate mostrariam que cidade resistiu em 30 e 32.


ITARARÉ - O fotógrafo Gustavo Jansson, de 81 anos, guarda com cuidado, no meio de milhares de negativos e fotos, aquela que julga ser a prova de que a história foi injusta com Itararé, a 320 quilômetros de São Paulo, nas Revoluções de 1930 e 32. A foto mostra restos mortais de soldados gaúchos sendo retirados das sepulturas, em 1934, para o traslado para o Sul. É a prova de que Itararé resistiu aos invasores, segundo ele. A cidade ficou conhecida pela "luta que não houve" e pelas duas rendições às tropas gaúchas sob o comando de Getúlio Vargas.
Em 1930, pela história oficial, a batalha decisiva, anunciada com estardalhaço, não ocorreu e as tropas revolucionárias entraram em Itararé sem disparar um tiro. Dois anos depois, no mesmo lugar, os constitucionalistas amargaram nova derrota para as forças federais.
"Nossa cidade entrou para a história pelas portas do fundo e virou motivo de piada", diz o escritor da terra José Maria Silva, em seu livro As Batalhas de Itararé, editado em 1997.
A foto do arquivo de Jansson, filho de Claro Jansson, que fotografou as duas revoluções, fazem parte de uma campanha dos moradores de Itararé para contar sua versão das batalhas. O jornalista e pesquisador Hélio Porto identificou as ossadas recolhidas no cemitério local como de soldados do 8º Regimento de Passo Fundo (RS), mortos em 32.
No dia 18 de julho daquele ano, Vargas entrava vitorioso na cidade. "Mas a história não fala das baixas gaúchas e do sofrimento da nossa população naqueles dias de guerra, tanto que o armistício foi recebido com festa."
Túmulos - Em outro livro que será lançado no mês que vem, Memórias de Itararé - Revoluções de 30 e 32, as gêmeas Terezinha de Jesus Mello Martins e Maria Aparecida Silva Mello revelam a existência de quatro sepulturas de soldados gaúchos, mortos em combate na Revolução de 30, no local conhecido como Passo do Cypriano, na fazenda da família.
Os túmulos foram preservados pelo avô das gêmeas e os ossos não foram retirados. "Nas revoluções houve combate e mortes dos dois lados", diz Terezinha.
As irmãs contam que nasceram sob o tiroteio de 14 de outubro de 1930, data da chamada "batalha que não houve". Relatam histórias que ouviram de seus pais e avós, depoimentos de ex-combatentes vivos, como Valdomiro Marques e Manoel Luciano de Mello. Contam que os moradores tinham de entregar as casas para o aquartelamento dos soldados. Jansson, com 15 anos na época, ajudava o pai a fotografar.
"Eu ficava num abrigo construído embaixo da casa." Na Revolução de 32, segundo ele, soldados gaúchos foram mortos na Fazenda Morungava, usada como quartel pelas tropas federais. A vala onde estariam de 40 a 50 corpos foi localizada este mês pelo tenente Hélio Tenório dos Santos, da Sociedade Veteranos de 32. Ele espera confirmação do achado para comunicar o fato ao governo gaúcho.
Conforme Jansson, os soldados da Força Pública de Itararé mostraram mais coragem que o Batalhão Universitário Paulista (BUP), da capital. "Quando Vargas ordenou o ataque à cidade, eles gritaram em francês `salve-se quem puder' e bateram em retirada, mas os soldados ficaram na trincheira e resistiram até o fim."
Tabu - A repercussão que as duas derrotas tiveram no resto do País transformaram as revoluções em tabu em Itararé. "Até 1968, as rádios locais não tocavam músicas gaúchas e só nos últimos anos o Dia do Soldado Constitucionalista passou a ser lembrado", contou Porto. As trincheiras e os restos da batalha não foram preservados. Uma casa atingida por um tiro de canhão foi demolida.
Há cinco anos, o ex-vereador Marcos Tadeu Soares, assessor técnico da prefeitura, sugeriu a construção de um monumento ao soldado constitucionalista e enfrentou resistência. Mas a aceitação da obra foi o sinal verde para o projeto de resgate da memória das revoluções na cidade.
Este ano, 60 professores participaram de um curso de capacitação com duração de 12 horas, dado pelo tenente Santos. "Por meio desses profissionais, vamos tentar fazer os jovens e crianças entenderem melhor a nossa história."

21 comentários:

Unknown disse...

k, parabéns pelo seu blog e as valiosas informações contidas nele. Eu me identifico totalmente com sua luta, pois há anos também tento demonstrar as injustiças cometidas contra a História do Brasil, como se fôssemos uma nação suicida, que tenta eliminar o seu passado. O Barão de Itararé tem muito da culpa de popularizar a versão grotresca de que não houve batalhas em itararé. Mas veja bem: em julho de 1924, a cidade de São Paulo foi bombardeada por 15 dias, metade da população de 700 mil habitantes fugiu de qualquer jeito e, junto com o fim dessa batalha, nasceu a versão de que não houve bombardeio. Isso em São Paulo, em plena megalópole. Imagine no interior do Brasil. Um grande abraço e continue nessa luta, apesar da aparente indiferença da falta de comentários. Estás plantando poderosas sementes para o futuro da nossa História.

Unknown disse...

Ficou truncado o início do comentário. Comecei assim: Professor Bondarik...

Alceu A. Sperança disse...

Material histórico valioso.

Para passar a limpo a verdadeira história do Brasil o único jeito é começar pela micro-história.

Há coisas estranhíssimas cultivadas como se fossem verdades, e fatos ocultos que precisam ser revelados.

Ainda há gente acreditando que De Gaulle disse que o Brasil não é um país sério.

Acrditam que Maiakovski escreveu um poema do qual ele é personagem, enquanto o autor brasileiro do poema é ignorado.

São apenas alguns exemplos de como tudo ainda está em aberto da história do Brasil, aliás, a começar pelas torturas "oficiais" da ditadura fascista.

Unknown disse...

A batalha do Itararé não ficou conhecida como uma rendição, mas sim como um acordo de cavalheiros para que não houvesse briga entre irmãos brasileiros. Eu, como carioca, me orgulho muito dos meus conterrâneos paulistas e gaúchos que preferiram conversar a lutar.

Marcelo Zabrieszach Afonso

Unknown disse...

A batalha do Itararé não ficou conhecida como uma rendição, mas sim como um acordo de cavalheiros para que não houvesse briga entre irmãos brasileiros. Eu, como carioca, me orgulho muito dos meus conterrâneos paulistas e gaúchos que preferiram conversar a lutar.

Marcelo Zabrieszach Afonso

Unknown disse...

Oi, tudo bem?
Bem interessante esse fato. Estou pesquisando a História, especialmente arqueologia de Itararé para uma pesquisa que começo agora a realizar.
Poderia me citar a fonte bibliográfica desse texto??
Agradeço muito.
Fabio Grossi.
Historiador e Arqueólogo.

Unknown disse...

Oi,
Muito interessante esse fato.
Estou fazendo uma pesquisa sobre a História e Arqueologia de Itararé, por isso começo a agregar informações. Gostaria de saber, por favor, a fonte bibliográfica desse texto. Pode me informar?
Desde já agradeço.
Um abraço.
Fabio Grossi
Historiador e Arqueólogo.

Unknown disse...

É de lamentar como é tratada a História desta cidade,e a inércia das oligarquias locais em explorar a potencialidade turísticas e históricas de Itararé.
Quando falo a universitários, professores que sou desta pequena cidade da divisa do Estado,vem logo a curiosidade!
E as revoluções? como foi?

Roberto Alexandre( bacharel de Direito e Empresário) Tatuí SP.

Unknown disse...

É de lamentar como é tratada a História desta cidade,e a inércia das oligarquias locais em explorar a potencialidade turísticas e históricas de Itararé.
Quando falo a universitários, professores que sou desta pequena cidade da divisa do Estado,vem logo a curiosidade!
E as revoluções? como foi?

Roberto Alexandre( bacharel de Direito e Empresário) Tatuí SP.

Unknown disse...

É de LAMENTAR O DESCASO DAS OLIGARQUIAS DA CIDADE COM A HISTÓRIA E O POTENCIAL TURÍSTICO DE ITARARÉ!

QUANDO DIGO QUE SOU FILHO DA CIDADE A ESTUDANTES E PROFESSORES,LOGO VEM A CURIOSIDADE:
E AS REVOLUÇÕES?ITARARÉ DEVERIA EXPLORAR MAIS SUA HISTÓRIA E RESPEITAR MAIS SEU PASSADO!

ROBERTO ALEXANDRE SANTOS (BACHAREL DE DIREITO E EMPRESÁRIO)

Unknown disse...

parabéns pela postagem

sou arqueólogo e estou atrás dos sepultamentos de paulistas e gaúchos na região, você pode me ajudar? encontrei algumas antigas trincheiras da revolução no parque da barreira, precisava falar com você

Silvio

Antonio Nunes Rocha disse...

Em 30, meu pai era agente da Estação de Sengés, Município do Paraná na divisa com o de Itararé-SP. As tropas do sul (que não eram só gaúchas, pois tinha as do 13 RI de Ponta Grossa PR), parte dessas tropas à medida que chegavam em Ponta Grossa, local aonde foi instalado o Comando da Tropa, deslocavam-se para Sengés, com dificuldades em razão tempo reinante (chuvoso). Meu irmão mais velho tinha cerca de 7 anos de idade e, agora em novembro, se Deus quiser, completará 92. Face à gravidez de minha mãe que teve que voltar para Teixeira Soares em situação difícil ( a criança nasceu em 26/10/1930), quem ficou em Itararé com meu pai foi exatamente esse de 7 anos. Ele está bastante lúcido e, como como é assíduo internauta, sempre tem confirmado o que papai nos contava. Houve sim muita morte pela região. Acho que só não houve a grande batalha em função da chuva que reteve grande parte da tropa e o próprio Getúlio (que se acomodava num vagão ferroviário), em Ponta Grossa. A comunicação dos militares do Rio, informando que haviam deposto W.Luiz, foi recebido lá, por isso, na época, o chefe declarou a cidade como Capital Cívica .

Unknown disse...






QUERIDO IRMÃO NEZO.


AGRADEÇO MUITO VOCÊ TER CITADO MEU NOME NA HISTÓRIA DE I930...
TAMBÉM DIGITEI NA INTERNET TUDO QUE MUITO BEM ME LEMBRO DO ACONTECIMENTO À ÉPOCA... POIS, VIVI TUDO ISSO JUNTO DE PAPAI, POR SER O FILHO PRIMOGÊNITO, EU ERA ALÉM DE FILHO, AMIGO E COMPANHEIRO LIGADO EM TUDO QUE ELE FAZIA... E,PAPAI GOSTAVA MUITO TER EU AO SEU LADO... TANTO NAS PESCARIAS, BANHOS NOS RIOS NA IGREJA, NOS ESTUDOS JUNTAMENTE COM MAMÃE... NA FAZENDA DE VÔ TICO... O VÔ TICO ME PUNHA À CAVALO À PASSEAR NA CIDADE DE CASTRO... VÓ LUIZA FICAVA PREOCUPADA, MAS O VÔ TICO DIZIA PRA VÓ, QUE EU ERA UM HOMEM... E EU GOSTAVA MUITO... CAVALO LINDO BEM ENCILHADO, COM PEÇAS DE OURO E PRATA... TAMBÉM NA GRANDE FAZENDA TAQUARAL EM JAGUARIAIVA, ONDE PAPAI NASCEU, LEMBRO QUANDO ESTIVEMOS LÁ,E EU VI A LINDA FAZENDA, QUE HOJE PARA MIM PARECE SONHO... TENHO MUITO, MUITO MAIS LEMBRANÇAS DO PASSADO, QUE ME DEIXA SAUDOSO DE TODOS OS NOSSOS FAMILIARES, QUE TIVE ALEGRIA DE CONHECER.

BEM. DESCULPE EU SER PROLIXO E MACRÓBIO... QUALQUER HORA EU ESCREVO MAIS... MEUS NEURÔNIOS ESTÃO SUMINDO, AINDA BEM QUE AOS POUCOS,,,

BÊNÇÃOS DIVINAS.
FRATERNAL ABRAÇO
HORÁCIO E SAUDOSA DONAIDE.

Renato P. disse...

Houve batalha sim. E meu avô esteve in loco.

tania disse...

Sou neta. E houve uma injustiça muito grande. Meu avô nunca foi voluntário e como ele era analfabeto preencheram a carteira desta forma. Ele nunca recebeu nenhum beneficio por ter lutado. Retornou doente, com surtos frequentes, caiu no alcoolismo, e faleceu de derrame. Minha avó ficou com 8 filhos pequenos e penou para conseguir sustentar a família. Um absurdo, uma vergonha.

tania disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ben Adam disse...

Meu tio avô esteve ali presente lutando contra os paulistas, tropas gaúchas marcharam por Castro e faziam requisições de guerra por ali. Matavam os porcos, galinhas e bois.Houve um caso de punição com pena capital a um soldado gaúcho que violentou uma jovem na zona rural de Castro, episódio presenciado por meu avô. Também conheci um veterano de Jaguariaíva que desertou do lado gaúcho antes da temida batalha. Seu nome era Jorge Nida, ouvi de sua boca histórias da campanha.



Unknown disse...

Meu pai, Agostinho Giometti, pertenceu ao 6º RAM - Regimento de Artilharia Montada - sediado na cidade de ITU, SP, onde fazia parte de uma unidade de artilharia, que eu tinha uma foto em preto e branco, chegou a ser embarcado para um trem cujo destino era Itararé. Ele sempre afirmou que não chegou a entrar em combate, mas não sabia dizer mais nada sobre o seu regimento e seus companheiros. Ficou noventa dias desaparecido, e meu avô sem nenhuma informação sobre o seu paradeiro, até que ele e mais três soldados apareceram na casa de nossos parentes em Rebouças, hoje município de Sumaré. Porém, ele tinha verdadeiro pavor do som de metralhadoras, mesmo em filmes... Ele faleceu em 1981. Eu tinha o capacete, um projétil de revólver e uma baioneta...

Unknown disse...

Tentei postar um comentário, mas não sei se ele efetivou-se. Vou recolocar. Meu pai, Agostinho Giometti, nascido em 1907, pertencia o 6º RAM - Regimento de Artilharia Montada - de Itu, SP. Ele sempre contou que seu regimento foi embarcado num trem cujo destino era Itararé. Mas, afirmava, nunca sua unidade entrou em combate. Só que ele era assolado por verdadeiro terror ao ouvir o som de metralhadora, mesmo que fosse num filme. Na época, ele ficou desaparecido por noventa dias, reaparecendo junto com três companheiros, em Rebouças, hoje o município de Sumaré, onde alguns parentes residiam. Durante esse período, meu avô, Carlos Giometti permaneceu sem nenhuma informação sobre o seu paradeiro e os informes da Junta Revolucionária de SP apenas informava que estavam desaparecidos. Eu tinha um foto de meu pai sobre o canhão, que era puxado por cavalos, mas a perdi. Nós nunca soubemos exatamente o que aconteceu. Ele já faleceu, em 1981, então não tenho como recuperar outros relatos. Eu só soube do desaparecimento deles por relato de um tio, irmão dele, após a sua morte, em 1981.

Lex Stein disse...

Meu tio avô participou desta guerra pelo lado dos gaúchos, lembro dele mencionar que quando as suas tropas passavam os paulistas se rendiam ou fugiam, ele mesmo não houve participou de nenhuma batalha e que não conheceu ninguém que necessitou ficar entrincheirado ou batalhado. Acredito que estas histórias da "batalha de Itararé" sejam mais para criar um mito ou de tornar mais atrativa esta parte da história brasileira.

tania disse...

Alguém sabe informar se existem arquivos sobre os cidadãos requisitados para esta guerra, que permita reparar e buscar os direitos da família de ex combatente da guerra de itararé??