sábado, 23 de dezembro de 2006

O COMBATE EM QUATIGUÁ


Relatos sobre os combates aqui ocorridos em 1930 fazem parte do cotidiano de Quatiguá. Porém, os conhecimentos sobre os acontecimentos em si, apresentavam-se muito fragmentados e estão sendo lentamente esquecidos e modificados. Em 1984, a TV Coroados (Globo/RPC) de Londrina entrevistou moradores que testemunharam os combates ou os vivenciaram, o jornal Folha de Londrina fez trabalho semelhante. Estes foram trabalhos significativos, porém ficaram se restringiram ao fato de que “Gaúchos e Paulistas” aqui lutaram, sem se preocupar em apontam quem e quando combateram.
Em pesquisas recentes, encontrei maiores informações e inclusive imagens da época que indicam as forças que se enfrentaram em Quatiguá. As forças revolucionárias (gaúchos) eram compostas principalmente por soldados do exercito provenientes do Rio Grande do Sul, das cidades de Santa Maria (7º Regimento de Infantaria), Pelotas (9º Batalhão de Caçadores) e Cruz Alta (8º Regimento de Infantaria e 6º Regimento de Artilharia Montada). Havia ainda soldados da Policia do Paraná além de voluntários. As forças revolucionarias eram agrupadas em um destacamento comandado pelo Coronel Alcides Gonçalves Etchegoyen e formavam uma frente de combate que ia desde Jaguariaíva até diante de Ourinhos. As tropas que defendiam a então legalidade (paulistas), eram constituídas por soldados vindos de Quitaúna em Osasco, São Paulo (4° Regimento de Infantaria), reforçados por membros da Policia Paulista (Força Pública), seus comandantes eram o Coronel José Sandoval de Figueiredo e o Major Agnelo.
Os gaúchos chegaram em Quatiguá no dia 12 de outubro as seis e meia da manhã. Encontraram aqui uma guarnição da Policia do Paraná que havia trocado tiros com a legalidade próxima a Carlópolis. Uma patrulha montada foi enviada até Affonso Camargo (Joaquim Távora) para averiguar se ali havia chegado mesmo uma força paulista com mais de 80 caminhões, ela retornou por volta das 16horas, sob tiros da legalidade que já promovia e estava cercando a estação de trem de Quatiguá. A tropa revolucionária resistiu até as 22 horas quando os combates cessaram. Na madrugada de 13 de outubro o Coronel Etchegoyen trouxe reforços e artilharia, perfazendo mais de 1.800 homens e os preparou para o combate. Seu posto de comando era a estação ferroviária, onde foram instaladas metralhadoras pesadas. Os paulistas foram reforçados também e somaram mais de 1.200 homens em armas.
Às 5 horas da manhã do dia13 os combates recomeçaram, auxiliados pela artilharia do 6º RAM, os gaúchos avançaram sobre as trincheiras paulistas, fazendo-os recuar e fugir em debandada pouco depois das nove da manhã. A retirada teria sido desordenada sendo que muito material foi abandonado pra trás. Os gaúchos capturaram 300 fuzis, 80.000 projeteis, 22 caminhões, 7 automóveis, cavalos e muares além de muito material de campanha (remédios e alimentos). Foram feitos 185 prisioneiros paulistas, sendo 4 oficiais da Força Pública Paulista e 1 do Exercito. Todos foram levados para Ponta Grossa onde ficaram detidos.
Entre os mortos podemos apontar alguns homens jovens e já esquecidos, Malaquias Conceição, gaúcho de Alegrete, Latino Magalhães Bravo, voluntário vindo de Ponta Grossa, o Tenente Ivo Sampaio Ribeiro, cujo nome batizou uma rua da cidade. Entre os paulistas ainda não possuo dados mais detalhados. A sua lembrança se apaga da mesma forma como se apagaram os sinais da luta. Alguns ainda são lembrados, a “Cruz do Tenente”, onde uma senhora sempre vinha fazer visitas, colocar flores, velas e rezar. Quem seria ela, uma incógnita, esposa, noiva ou mãe?. O monumento da Praça, onde estão pelo menos seis ossadas retiradas dos cafezais.
O combate de Quatiguá foi o maior da Revolução, pelo numero de baixas, mais de 500 do lado da legalidade, pelo numero de soldados envolvidos e por ser a primeira luta. Não sei ainda, onde estão os relatórios paulistas e a maior parte dos gaúchos. Resgatar nossa história tem sido uma tarefa gratificante agradável, espero continuar com esse trabalho e vê-lo frutificar.