sexta-feira, 14 de abril de 2006

FORMAÇÃO HISTÓRICA DO NORTE PIONEIRO DO PARANÁ

Região de Cornélio Procópio.

Professor Roberto Bondarik

1. A Ocupação do Norte do Paraná:

Nas primeiras décadas do século XX, alguns fazendeiros paulistas e mineiros desejavam novas e férteis terras, para ampliarem suas propriedades. O Norte do Paraná surgiu como um rico filão a ser explorado, e abrandaria com sua terra vermelha, ou “rossa” como diziam os italianos, as mais diversas necessidades. Para viabilizar economicamente a exploração da região, como por exemplo a abertura de estradas, foi necessário muito capital.

Os capitais para os investimentos necessários aforam conseguidos em bancos estrangeiros, principalmente ingleses e também através do fracionamento das terras que haviam sobrado, após é lógico as melhores terem sido separadas. A área fracionada foi posteriormente vendida a colonos paulistas, mineiros e imigrantes, todos havidos por terra e pelos lucros provenientes do café, enormes desde que o “Convênio de Taubaté”, firmado em 26 de fevereiro de 1906, definiu as bases do que se chamaria política de valorização do café, e oficializou a intervenção estatal para proteger o comércio e a elevação dos preços do produto;

Este Convênio também limitava o plantio de novos cafezais nos Estados de São Paulo Minas e Rio de Janeiro, deixando livre para o plantio de novas lavouras, regiões ainda não desbravadas como o Norte do Paraná

Embora, saibamos que a colonização do Norte do Paraná, e o surgimento de suas mais importantes cidades, como Londrina e Maringá, tenha sido realizada em marcha ritmada e constante, ditada pela expansão do café, este produto não foi a única, nem a primeira atividade econômica a ser explorada na região.

Importante atividade foi também a criação de suínos, principalmente na região conhecida como Norte Velho , entre Ribeirão Claro e São José da Boa Vista. Essa criação era feita com base no sistema de safras, ou seja os porcos eram criados soltos em meio a plantação já em fase de colheita. Aquelas que praticavam essa atividade eram chamados de safristas.

Os safristas, por suas atividades necessitarem sempre de terras férteis e isoladas, agiram como novos bandeirantes, e legítimos desbravadores da região, para os futuros plantadores de café, a alternativa econômica seguida por muitos dos safristas após a decadência econômica de suas atividades.

A partir de 1920, o grupo econômico liderado pelo paulista Antônio Barbosa Ferraz, que já possuía cerca de um milhão de pés de café em Cambará, resolveu iniciar a construção de uma estrada de ferro, que a partir de um ramal da Ferrovia Sorocabana em Ourinhos -SP, passaria pelo Norte do Paraná, e atravessando fronteira atingiria o Paraguai. Esta ferrovia trouxe novo alento a colonização. Chegaram compradores, que se tornaram os novos proprietários, também trabalhadores que desprovidos de capital e de crédito vendiam sua força de trabalho nesta que era para a época, a nova fronteira agrícola brasileira. Eram principalmente da região norte do Estado de Minas Gerais e do Nordeste.

É importante destacar que projeto semelhante, envolvendo ferrovia, já havia sido elaborado e apresentado pelo Barão de Mauá, ainda no século XIX, a empresários e investidores ingleses. Coincidentemente, essa ferrovia acabou sendo comprada e construída por ingleses.

2. Km 125!

Uma pergunta pode povoar a mente dos menos avisados: "Que Km 125"? ... Da ferrovia podemos responder com toda a segurança!

A cidade de Cornélio Procópio surgiu e desenvolveu-se as margens da Ferrovia São Paulo/Paraná Ferrovia esta também detentora de interessante história que se confunde ou funde-se com a própria história do Norte do Paraná.

Projetada e iniciada nos anos de 1920, a "Ferrovia São Paulo/Paraná", fazia parte de um projeto de capitalistas de São Paulo, visando um objetivo maior de atrair para aquele Estado toda a produção de café que já se iniciava no Norte do Paraná, e também toda produção agrícola que porventura surgisse na região.

A ferrovia não se limitaria apenas ao Norte do Paraná, uma vez que cortaria todo o Estado de forma diagonal até Guaíra, as margens do Rio Paraná. Vale salientar que seu início é na cidade de Ourinhos (SP), como um ramal da ferrovia denominada Sorocabana. De acordo com os projetos e idéias originais, de Guaíra a ferrovia se prolongaria até Assunção, capital do Paraguai. Era como dissemos um projeto grandioso, e também caro e dispendioso. Vencer o sertão não era o principal problema, mas sim convencer investidores e angariar capitais.

Para a construção da ferrovia, havia necessidade de autorização ou concessão do Governo Federal, fator que não era problema, pois o mesmo era influenciado por São Paulo e Minas Gerais, dentro daquilo que se convencionou chamar "política do café com leite".

Quem obteve a concessão foi o grupo econômico liderado por Antônio Barbosa Ferraz, que fez construir o primeiro trecho da ferrovia ligando Ourinhos a Cambará, até uma importante fazenda do grupo. Devido a falta de capitais a construção ficou estacionada nessa localidade por um bom tempo.

A solução para a construção viria através da venda das ações da ferrovia para empresários ingleses, atraídos pela fertilidade e disponibilidades das terras no Norte do Paraná. Diga-se de passagem a possibilidade de bons lucros foi o melhor argumento.

3. Cornélio Procópio: origens do município.

A Cidade de Cornélio Procópio, e consequentemente o município, foram fundados em terras que pertenciam a Francisco da Cunha Junqueira, inseridas em uma gleba denominada Fazenda Laranjinha. Junqueira comprou essas terras em 1923. Era comum que fazendeiros paulistas e mineiros comprassem terras nessa região, quer fosse para projetos de loteamentos e colonização, quer fossem para esperar a valorização destas glebas para posterior venda a terceiros.

Francisco Junqueira era um político paulista, e como tal envolveu-se na Revolução Constitucionalista de 1932, ao lado de seu Estado. Como foram derrotados, Francisco Junqueira acabou sendo deportado pelo Governo de Getúlio Vargas para Portugal. Em dificuldades financeiras, vendeu suas terras aqui no Paraná para a empresa de loteamentos formadas pelo Coronel Francisco Moreira da Costa e Antônio de Paiva. Antes porém. Junqueira planejou o parcelamento das propriedades de deixou planejados dois núcleos urbanos, denominados Santa Mariana em homenagem a sua esposa, Mariana e Cornélio Procópio em homenagem a seu sogro.

No intervalo entre a venda das terras por Junqueira e a posse da empresa Paiva & Moreira, algumas ruas começaram a ser ocupadas sem obedecer qualquer planejamento, ou seja algumas construções rústicas começaram a ser erguidas, fugindo ao padrão urbanístico previamente estabelecido. Os novos proprietários reordenaram a ocupação urbana e com a chegada de Ferrovia a cidade passou a crescer e a desenvolver-se. Vale a oportunidade para lembrar que os primeiros lotes urbanos foram vendidos em torno da Praça Brasil, sendo que ali na esquina da Rua Quintino Bocaiúva e Av. XV de Novembro, encontra-se o marco inicial da cidade.

A população inicial, era originária principalmente de São Paulo e Minas Gerais. Os primeiros colonizadores e desbravadores eram atraídos principalmente pela fertilidade da terra, tida como umas das melhores do Brasil. Essa fertilidade era propagada em diversas regiões. Fato interessante dos primeiros tempos de Cornélio Procópio, foi a "propaganda enganosa", se é que podemos dizer, realizada pelos ingleses, que eram donos da Ferrovia São Paulo/Paraná e das terras a oeste do Rio Tibagi, onde desenvolveu-se a cidade de Londrina. Em seus panfletos de propaganda, os ingleses constantemente aumentavam a altitude de suas terras e baixavam a das terras vizinhas de seus concorrentes. Isso se dava pelo fato de que as terras aqui da região eram procuradas para o plantio de café, cuja geada, pior inimigo, ocorre mais forte em terras baixas.

Cornélio Procópio cresceu rapidamente, dependendo administrativamente de Bandeirantes. No ano de 1938, portanto a 62 anos, uma comissão formada por moradores resolveu pleitear a emancipação política e a criação de um novo município. Faziam parte dessa comissão entre outros: José Paiva, Oscar Dantas e Américo Ugorini, que utilizando-se de um documento onde se colocavam os motivos da criação do Município, elaborado por Benjamin Soto Maior, que era administrador da Cia Barbosa, foram a Curitiba ter uma audiência com o Interventor (Governador) do Estado naquela época, Manoel Ribas.

Portando credenciais e cartas fornecidas pelas Empresas Matarazzo de São Paulo, que possuíam uma Fazenda na região, e uma carta pessoal de apresentação da própria filha de Manoel Ribas, a comissão foi recebida e expôs seus motivos e intenções.

Desta maneira, o Município de Cornélio Procópio acabou sendo criado pelo decreto nº 6.212, de 18 de janeiro de 1938, sendo que a implantação do Município deu-se dia 15 de fevereiro daquele mesmo ano, mais ainda, no mesmo oportunidade, Manoel Ribas transferiu a sede da Comarca de Jataizinho para o novo município. Cornélio Procópio de simples povoado passou a sede de Município e sede de Comarca, tudo no mesmo dia.

Desde sua emancipação política Cornélio Procópio vem crescendo e se destacando no cenário regional, como o demonstra o fato de ser sede dos núcleos regionais de diversas secretarias estaduais, como a da Educação, da Agricultura, do Trabalho, da Saúde, bem como de serviços e agências também estaduais e federais.

4. Curdos no Norte do Paraná !

A História do Norte do Paraná, é cheia de curiosidades, algumas até esquecidas, ou pouco lembradas. Fato interessante foi o da tentativa inglesa de fixar povos curdos aqui na região. Os mesmos curdos que até hoje lutam para se tornar independentes da Turquia e do Iraque, cujo líder acabou preso recentemente provocando protestos desse povo por toda a Europa.

Na mesma época em que o grupo inglês liderado por Lord Lovat adquiria terras no Norte do Paraná, companhias inglesas descobriam petróleo no norte do Iraque. Esse pais era à época uma possessão britânica, e a região em questão habitada pelos curdos que eram um povo belicoso, guerreiro e inquieto que não aceitavam o domínio inglês, nem a exploração estrangeira das suas terras. Portanto para explorar o petróleo, havia necessidade de remoção dos curdos para outra região.

Para resolver o problema, o Príncipe de Gales, que era um dos acionistas da Companhia de Terras Norte do Paraná, e Lord Lovat ofereceram em 1933, de forma sigilosa, suas terras no Norte do Paraná à Liga das Nações, em forma de arrendamento. Atitude que logo seria também apoiada secretamente pelo governo brasileiro, chefiado à época por Getúlio Vargas, uma vez que o Brasil esta endividado com Bancos Ingleses.

No ano seguinte, 1934, o assunto foi parar nos jornais. Uma forte campanha contraria a essa imigração foi desencadeada pela imprensa curitibana, sindicatos, associações de operários, entidades de profissionais liberais pressionavam o governo de Getúlio Vargas, para que voltasse atrás. Houveram reações de intelectuais, principalmente a Ordem dos Advogados do Paraná, e também de alguns professores da Universidade do Paraná.

Os motivos alegados ou as idéias básicas utilizadas na “Campanha contra a imigração dos assírios”, eram os mais variados iam desde ataques ao imperialismo britânico até a manifestações do mais puro racismo

O governo brasileiro que através do Ministério das relações exteriores já havia dado seu aval para a imigração acabou por voltar atrás diante de tanta pressão. A própria Cia de Terras Norte do Paraná, desistiu do negócio, sob as alegações de que a localização daquela gente no coração de suas terras viria desvalorizar o restante da propriedade, mais de 400.000 alqueires.

Diante da situação de extrema pressão em que se encontrava, e com a possibilidade real de uma grande desvalorização financeira de seu projeto, a Cia de Terras Norte do Paraná retornou a seus antigos objetivos, ou seja, a venda de terras:

Quanto aos curdos, encontram-se ainda hoje sem o domínio efetivo de suas terras, divididos entre a Turquia o Iraque e a ex-União Soviética, sem poder constituir um Estado livre.

A Companhia de Terras Norte do Paraná, passou então a vender em regime de pequenas propriedades, os 13.166 quilômetros quadrados de terras que haviam sido adquiridas de particulares, grileiros e posseiros e do próprio patrimônio do Estado do Paraná, as chamadas “Terras Devolutas”.



3 comentários:

Anônimo disse...

Santa sociedade conservadora curitibana nos livrou dos curdos.

Sueli Gomes disse...

Olá profº Roberto Bondarik, fiquei muito contente ao saber da existência de seu blog, afinal, tudo que vemos nos livros didáticos é tão suscinto em se tratando da história de um povo... parabéns!

Natan Santos disse...

Parabens professor, sou estudante de historia e espero fazer parte um dia , colaborando com suas pesquisas...